O clima frio e nevado daquela manhã em Dearborn ficou para trás assim que adentramos pela porta do centro de desenvolvimento da Ford. Não só por conta da calefação do lugar, mas sim porque lá estavam todos empolgados com uma novidade pra lá de quente: o Mustang 2018, versão atualizada da atual geração lançada em 2015. Mas o melhor era o motivo de estarmos ali em primeira mão para conhecer o carro. A partir deste modelo, o Mustang passa a ser vendido em 146 países, 6 a mais que o atual. E o Brasil finalmente está na rota desta vez.
Câmeras confiscadas na porta e papelada de embargo assinada, adentramos numa grande sala com diversos sketches do carro reestilizado, além de uma série de componentes do novo Mustang, como faróis, lanternas, quadro de instrumentos, bancos, peças do acabamento e todas as 10 opções de roda do esportivo. Coberto, o carro final ainda aguardava pela revelação.
Antes, um rápido workshop nos mostrou as principais novidades. Na parte mecânica, o engenheiro-chefe Carl Widann não escondia a animação de fazer parte do projeto. "Você sonha com isso a vida inteira. Um dia acorda e, opa, você é engenheiro-chefe do Mustang! Eu ainda preciso acostumar com isso", brincou, enquanto contava que o motor 5.0 V8 ganhou injeção direta e maior taxa de compressão, para melhor rendimento. Os dados de potência e torque, no entanto, só serão divulgados na época do lançamento oficial, que deverá acontecer em meados do ano nos EUA. O motor 2.3 Ecoboost, que surpreendentemente responde por 40% das vendas do Mustang mundo afora, foi melhorado em torque com a adoção de um overboost. Mas seus números também só serão conhecidos futuramente.
Para acompanhar a alteração nos motores, a Ford trouxe uma nova transmissão automática de 10 marchas (antes era de 6) para as duas versões, além uma nova embreagem de disco duplo para a versão V8 com câmbio manual. Segundo Widdan, isso permite suportar maior torque e ainda deixar o pedal mais leve - o que de fato percebemos, mesmo com o carro parado.
Do trem de força para a dinâmica, o Mustang recebeu novas juntas de suspensão, barra estabilizadora e amortecedores. Como opcional, a Ford passará a oferecer amortecedores magnéticos, que ajustam a rigidez de acordo com o modo de condução. Na versão GT performance, o esportivo passa a contar com pneus especiais da Michelin, mais aderentes. Por fim, a aerodinâmica também recebeu atenção especial, incluindo até mesmo a parte inferior do veículo e uma grade ativa que só abre quando necessário.
Além dos componentes expostos, a sala da "clínica" contava com um tablet e um fone de ouvido para que escutássemos o ronco do V8 nas versões 2015 e 2018, incluindo o novo modo com a válvula de escape variável. Isso mesmo, o Mustang 5.0 agora pode ficar com o ronco mais nervoso, como nos Jaguar, só que no Ford não há uma tecla específica para a mudança. O som muda de acordo com o modo de condução escolhido: normal, sport ou track (pista). Já é mais nervoso que o antigo no modo normal, e fica incrivelmente borbulhante no track!
O que também muda de acordo com esses modos é o novo quadro de instrumentos totalmente digital, como nos Audi. Com tela TFT de 12", permite diversos ajustes de visualização, podendo se optar pelo modo track mesmo quando o carro estiver no modo normal de condução. Neste último, o conta-giros ganha destaque especial na parte de cima do mostrador (em formato de barra), como nos carros de corrida. Na parte de tecnologia, o Mustang 2018 ainda trouxe a central multimídia Sync 3 e os sistemas de segurança conhecidos dos Fords mais caros, como frenagem automática de emergência na cidade, piloto automático adaptativo e alerta de saída de faixa, entre outros recursos.
Quanto ao design, a grande atração ficou por conta da dianteira mais agressiva, que abandonou aquela carinha de "Fusion" em favor de faróis com desenho mais vincado e iluminação toda em LEDs - farol baixo, alto e setas. A inspiração veio da atual versão Shelby GT 350, que tem a dianteira mais baixa. "As pessoas gostaram no GT 350, então por que não trazer esse efeito para todos os Mustang?", conta o chefe de design Melvin Betancourt. Dito e feito: o Mustang 2018 traz uma frente com o bico mais baixo, o que lhe deu uma cara de mau. Atrás, as lanternas também são novas, com desenho mais vincado na divisão tripla das lanternas, para lembrar o Mustang dos anos 1960. Para completar, há três novas cores para a carroceria.
Por dentro, o muscle da Ford foi aprimorado em materiais e acabamento, recebendo novos painéis de porta e maçanetas, além de mudanças no console e o já comentado painel digital. Tudo para se manter como o esportivo mais vendido do mundo. E a partir de 2018 com uma "ajudinha" do mercado brasileiro.
O Mustang teve sua importação anunciada no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro, ocasião na qual ele ainda foi mostrado na versão atual. Mas o primeiro modelo a chegar por aqui será o reestilizado, o que também ajudou a explicar um pouco mais da demora do esportivo. "Não valia a pena lançar um carro que ia mudar apenas um ano depois", conta um interlocutor da Ford.
A filial brasileira ainda não definiu como será a venda do Mustang no Brasil - se será em todas as concessionárias ou lojas específicas. As encomendas, se tudo der certo, poderão ser feitas a partir de novembro. E os preços deverão ficar na faixa do arquirival Chevrolet Camaro, ou seja, na casa dos R$ 300 mil.
Por Daniel Messeder, de Detroit (EUA)
Viagem a convite da Ford
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