Ninguém compra uma Ducati Scrambler racionalmente. Pelos R$ 37.900 pedidos pela italianinha com estilo vintage, você pode optar por motos maiores, mais potentes, equipadas, confortáveis, esportivas... Mas, se você é daqueles (ou daquelas) que se deixa levar pelo lado emocional na hora de assinar o cheque do seu próximo brinquedo (confesso que sou assim), melhor então nem fazer test-ride nesta Ducati. A chance de você fechar negócio é grande!
A marca de Borgo Panigale chacoalhou o mundo das duas rodas ao apresentar, no final de 2014, a releitura moderna da Scrambler dos anos 1960. Uma moto simples, despojada e divertida, que valoriza o andar de moto pura e simplesmente pelo prazer de pilotar. E não dá para negar que ela ficou linda: repare bem no formato de gota do tanque com acabamento em aço escovado, no farol redondo, no desenho do banco, nas rodas, no escape curtinho, na traseira compacta. Veja que bacana o guidão aberto e elevado, ao melhor estilo easy rider. Só que o estilo retrô também esconde modernidades, como os feixes de LED no contorno do farol, a lanterna de LED e o painel com visor de LCD. O que a gente queria saber, no entanto, era se a Scrambler é tão divertida de pilotar quanto é descolada no visual.
É. Ponto. Sabe o MINI Cooper, que é tão charmoso quanto bom de dirigir? Então, a Scrambler é a versão duas rodas dele. A Ducati dispõe até de uma série de acessórios para personalizar a moto e vestir o piloto e garupa, como a MINI faz. Você pode trocar o guidão por um mais baixo, colocar uma grade protetora no farol, colar adesivos, substituir o banco e ainda comprar uma jaqueta de couro alusiva ao modelo (da marca Dainese), um capacete e até uma bota especial para combinar com a moto. Faça bonito, pois nas ruas a Scrambler é o centro das atenções e todo mundo fica olhando para você em cima dela.
Na cidade, a baixa altura do banco (790 mm) e o baixo peso do conjunto (170 kg a seco) deixam a pilotagem fácil e descontraída, no que também contribuem a pedaleira não muito recuada e o guidão elevado. Com essa sacada, ela parece uma trail ao passar no corredor, com o guidão acima dos retrovisores dos carros. Os comandos são leves, o ângulo de esterço é grande e a embreagem tem acionamento macio, facilitando o uso cotidiano. Por conta da proposta meio off-road (com curso de 150 mm nas suspensões Kayaba e pneus de uso misto), porém, esperava uma moto mais macia nos buracos e valetas. Na verdade a Scrambler é bem durinha, lembrando mais uma naked neste aspecto. Os pneus vão bem na terra e na areia, mas não conte com a ajuda da suspensão ao deixar o asfalto.
O motor bicilíndrico em "L" de 803 cc é uma versão daquele usado na antiga Monster 796, ainda com refrigeração a ar. Mas não precisa torcer o nariz, pois a Scrambler nem precisava de tanto: são 75 cv e 6,9 kgfm de torque - rendimento semelhante ao de uma Yamaha MT-07. As válvulas desmodrômicas (sem molas no acionamento para melhor rendimento em altos giros) deixam o funcionamento em baixa meio brusco, com o motor respondendo até forte demais quando a ideia é passear. Sim, o instinto Ducati fala mais alto e o bicilíndrico quer logo ganhar giro para fazer a Scrambler disparar. Se você sair com tudo e segurar a vontade de ela empinar, dá pra chegar aos 100 km/h em 5,2 segundos (como comprovamos em nossas medições). As retomadas são igualmente fortes, com mostram os 4,2 s de 80 a 120 km/h em quarta marcha.
Como esperado, o motor "L-Twin" vibra um pouco em marcha lenta, mas conforme o giro sobe ele vai "limpando" e não chega a incomodar na estrada. Já o ronco é esportivo quando giramos a manete com vontade (aquela batida típica das Ducati), mas se torna discreto em uso normal. O motor faz calor na perna? Sim, mas nada muito diferente de outras motos de cilindrada semelhante. Só não escale a Scrambler para viagens muito longas, pois a posição de pilotagem deixa o peito aberto contra o vento, o banco duro cansa depois de algum tempo e o tanque tem capacidade para somente 13,5 litros.
O negócio da Scrambler é curtir passeios sem compromisso, de preferência em estradinhas sinuosas. A suspensão de garfos invertidos na dianteira e monoamortecida na traseira (com regulagem) se mostra bem estável na curvas, ajudada pela boa rigidez do chassi. Basta apontar na tangente, inclinar e acelerar que ela inspira confiança. Apesar da banda de uso misto, os pneus oferecem bom grip e a capacidade de inclinação é quase de uma naked - até raspar a pedaleira dá para se divertir bastante. O câmbio também não dá trabalho, sendo apenas um pouco impreciso na redução de sexta para quinta marcha. Os freios com ABS de série são suficientes, mas um segundo disco na dianteira não faria mal ao conjunto - a moto levou 34,1 metros até parar completamente quando vindo a 80 km/h.
Andando forte, a posição de pilotagem "aberta" gera alguma instabilidade, principalmente se a roda dianteira topar com algum obstáculo. Mas lembre-se que a Scrambler está longe de invocar esportividade - se você quer uma Ducati mais nervosa fique com a Monster 821. Se andar de boa, no entanto, a Scrambler pode recompensar com consumo baixo: chegamos a fazer média de 25 km/l na estrada. Em trecho de curvas travadas e exigindo mais do motor, a média caiu para 18 km/l - ainda assim uma boa marca para uma "oitocentas".
Por conta da baixa autonomia, é preciso ficar atento ao painel de instrumentos, pois só há uma luz de reserva em vez do marcador de combustível. Também não há indicador de marcha e a posição do visor reflete o sol nos olhos do piloto dependendo da incidência da luz solar. Mas, apesar de compacto para combinar com o estilo da moto, o painel concentra velocímetro, conta-giros, relógio, hodômetros e as luzes espia - estas na borda do visor.
Aguardada por aqui desde que foi apresentada pela primeira vez na Itália, a Scrambler tem a missão de não só conquistar clientes como também atrair a atenção do público para a Ducati - cuja operação brasileira ainda ganha força. Pena o dólar em alta ter acabado com as previsões iniciais de preço para a Scrambler montada em Manaus (AM), que era na faixa de R$ 32 mil. Tabelada a quase R$ 38 mil, ela completa de vez a semelhança com o MINI Cooper. Você compra pela emoção. Texto e fotos: Daniel Messeder
Segunda opinião: Diversão foi o meu primeiro pensamento ao ver a Ducati Scrambler pela primeira vez. Lembrou-me as antigas Yamaha DT, que nos anos 1970 eram sonho de consumo dos jovens. Ver um modelo semelhante atualizado foi bacana, e pilotá-lo foi melhor ainda. Seus comandos curtos e precisos, sua aceleração imediata e poderosa, sua suspensão eficiente nas lombadas e firme num circuito sinuoso, e sua eficaz frenagem me propiciaram momentos do puro prazer ao guidão. Um senão apenas para a direção: senti instabilidade e uma dor no braço direito depois de pilotar, talvez por excesso de comando. Uma verdadeira fun bike! - Eduardo Silveira, consultor técnico
Motor: dois cilindros em "L" inclinados a 90º, 2 válvulas desmodrônicas por cilindro, 803 cm3, injeção eletrônica, gasolina, refrigeração a ar; Potência: 75 cv a 8.250 rpm; Torque: 6,9 kgfm a 5.750 rpm; Transmissão: câmbio de seis marchas, transmissão por corrente; Quadro: treliça tubular de aço; Suspensão: garfo telescópico Kayaba invertido na dianteira (150 mm de curso) e monoamortecedor Kayaba com pré-carga ajustável na traseira (150 mm de curso); Freios: discos simples na dianteira (320 mm) e na traseira (245 mm), com ABS; Rodas: aro 18" na dianteira com pneu 110/80 R18 e 17" na traseira com pneu 180/55 R17; Peso: 170 kg (seco); Capacidades: tanque 13,5 litros; Dimensões: comprimento 2.100 mm, largura 840 mm, altura 1.150 mm, altura do assento 790 mm, entreeixos 1.430 mm; Preço: R$ 37.900 (fevereiro 2016)
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 2,7 s | |
0 a 80 km/h | 4,1 s | |
0 a 100 km/h | 5,2 s | |
Retomada | ||
40 a 80 km/h em 3a | 3,3 s | |
80 a 120 km/h em 4a | 4,2 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 52,6 m | |
80 km/h a 0 | 34,1 m | |
60 km/h a 0 | 19,9 m | |
Consumo | ||
Mínimo | 25,0 km/l | |
Máximo | 18,0 km/l |
Galeria de fotos:
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