Não tem jeito, quando se fala em Jaguar logo vem à mente aquele sedã grande com o felino em posição de ataque preso na ponta do capô sendo dirigido por um aristocrata. Veja bem, isso é quando se fala. Hoje, quando se encara o Jaguar XF, as coisas começam a ser enxergadas de forma diferente.
Para começar, aquele felino foi capturado e agora está vermelho de raiva enjaulado no emblema cercado pela grade em formato de colmeia. Os cromados aristocratas também foram abandonados em favor de molduras pretas. A dianteira bicuda acomoda faróis mais rasgados amparados pelas luzes de rodagem diurna em LED. A imponência está mantida, mas com aspecto bem mais esportivo.
As linhas gerais das laterais não negam a raça deste Jaguar, mas também traz a moldura preta ao redor dos vidros. O entre-eixos amplos e as rodas de liga leve com ato de 18 polegadas casam bem com o perfil de toque mais esportivo. Na traseira, as lanternas de LEDs disputam a atenção com as duas generosas saídas de escape.
Por dentro a coisa fica séria. Ao abrir a porta se sente o cheiro do couro britânico que está presente por toda a cabine, o que inclui a forração do painel. O cluster de instrumentos é sóbrio com grafismos elegantes, sem firulas. O mesmo vale para o volante que traz comportados, mas refinados, botões integrados. No console, começamos a notar os laços da família Jaguar Land Rover. No lugar da manopla de câmbio está o mesmo botão seletor da transmissão dos SUVs britânicos. Ao seu lado está o botão de ignição, o qual literalmente pulsa em vermelho esperando pelo momento de despertar a fera embaixo do capô.
Ainda na parte interna, vemos a mesma central multimídia com GPS do Evoque e família. O sistema de som, como esperado, é de excelente qualidade fornecido pela Meridian. Os bancos dianteiros, com ajuste elétrico e duas posições de memória, acomodam tão bem e oferecem o conforto de uma poltrona, mas ficam devendo um sistema de aquecimento. O volante também é ajustável eletricamente em coluna e profundidade e traz paddle-shifts. Teto-solar elétrico, ar-condicionado digital de duas zonas, freio de estacionamento elétrico no console além das entradas USB e auxiliar no porta-objetos central são algumas das comodidades.
"É um V6 patrão?", questiona o frentista quando parei para abastecer. Balanço a cabeça dizendo que não e explico que debaixo do capô há mais um pouco do DNA da Range Rover. O motor é o mesmo 2.0 SI4 Turbo de 254 cv de potência e 35 kgfm de torque que equipam o Evoque e familiares. O câmbio também é o mesmo, um automático de oito marchas fornecido pela ZF. Para não deixá-lo desgarrar, o XF conta com sistemas de controles de tração e estabilidade. Se mesmo assim o motorista tirar o felino do sério, a Jaguar conta oito airbags espalhados pela cabine (frontais, laterais e de cortina).
Refinado, luxuoso, confortável. Até agora, estas são as características esperadas de um Jaguar. Enfim, mas será que atendo ao clamor do botão e dou a partida no motor. Vou confessar que gosto de carro com apelo esportivo e por isso não tinha muita expectativa com o XF. Não tinha. Bastou atiçá-lo de forma mais convincente para que a sua real personalidade viesse à tona.
Na cidade, o instinto acaba sendo bem mais pacato para aproveitar todo o silêncio e conforto à bordo. O rodar é suave, mas se precisar de um pouquinho de agilidade para aquela troca de faixa, basta acionar o acelerador. Na prática, basta desfilar e desfrutar da paisagem.
No entanto, animais selvagens gostam de espaço aberto. E foi exatamente isso que fiz. Levei o XF para um ambiente mais agradável, com quatro faixas de rolamento e bom pavimento. Apesar de ser britânico, ele gosta de velocidades germânicas. É difícil manter o velocímetro a apenas 120 km/h, mas é preciso respeitar a lei. Sabe aquele botão giratório igual do Evoque? Então, basta o pressionar para colocá-lo no modo S (Sport). Agora a coisa ainda mais divertida. Os 34,7 kgfm de torque disponíveis a partir de 2.000 rpm deste motor 2.0 turbo, que também dispõe de injeção direta, propiciam respostas e retomadas extremamente interessantes, isso considerando que estamos a bordo de um sedã que pesa 1.660 quilos. Segundo a Jaguar, com este motor o XF acelera de 0 a 100 km/h em bons 7,9 segundos.
Seguindo por trechos mais sinuosos, a condução fica bem divertida, reflexo do impulso dado pela tração traseira. Quer entrar de forma mais contundente nas curvas? Pode ir sem medo. O XF foi um dos carros mais grudados no chão que frequentou nossa garagem. Até mesmo nossa "curva particular de teste", um trecho com uma curva de praticamente 180 graus que passamos com todos os carros de forma mais acintosa, não foi páreo para este Jaguar. Com rolagem mínima da carroceria, os pneus nem se deram ao trabalho de emitir qualquer ruído.
É um concorrente aos alemães mesmo com motor de quatro cilindros? Sim, sem dúvida. E pelos R$ 199.900 pedidos pela Jaguar é uma opção interessante neste momento. Contudo, vale lembrar que uma versão atualizada do modelo deve ser anunciada no Brasil entre o fim deste ano e início de 2016. O problema é que um leve retoque no visual e avanços no acabamento interno devem salgar bem o preço, o deixando por volta dos R$ 250 mil.
Ficha Técnica: Jaguar XF Sport 2015Motor: dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16 válvulas, 1.999 cm³, injeção direta, turbo e intercooler, gasolina; Potência: 240 cv a 5.500 rpm; Torque: 34,7 kgfm a 2.000 rpm; Transmissão: câmbio automático de oito marchas, tração traseira; Direção: elétrica; Suspensão: independente McPherson na dianteira e Multilink na traseira; Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS, EBD, ESP; Rodas: aro 18″ com pneus 245/45 R18; Peso: 1.660 kg; Capacidades: porta-malas 500 litros, tanque 70,1 litros; Dimensões: comprimento 4.966 mm, largura 1.939 mm, altura 1.468 mm, entreeixos 2.909 mm.
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