No fim dos anos 60, a Volkswagen adquiriu a empresa NSU, e junto um projeto para substituir o Ro 80, um interessante sedã equipado com motor rotativo Wankel, mas que não teve sucesso e precisava ser substituído. Então, a marca lançou em 1970 o K70, que trazia novos conceitos mecânicos e o motor refrigerado a água. Após o lançamento, o impacto não foi o esperado e a Volkswagen foi buscar inspiração na sua divisão de luxo, a Audi, para criar um novo carro com os mesmos conceitos mecânicos. Nascia então o Passat, com carroceria fastback e derivado do moderno Audi 80.
Desenhado por Giorgetto Giugiaro, o Passat agradou logo de início. Era moderno, com tração dianteira e motor dianteiro refrigerado a água, abrindo novos horizontes para a marca, que passaria a utilizar essas soluções em seus lançamentos seguintes: Golf, Polo e posteriormente Scirocco.
Lançado em 1973, ele foi batizado com o nome de um vento que sopra na Europa. De início, foi lançado nas versões duas e cinco portas com faróis redondos. Dois anos depois, ele ganhava a versão perua na Europa.
No Brasil, o Passat chegou em 1974 e causou uma revolução dentro da marca e junto aos consumidores. Era o carro nacional mais moderno da época e trazia um motor 1.5 de 65 cv líquidos, longitudinal, refrigerado a água, com comando de válvulas no cabeçote e radiador com ventilador elétrico. Era o mesmo motor oferecido na Europa (MD260), e aliava desempenho e economia. O câmbio era manual de quatro marchas, com engates difíceis no começo, mas que seria sanado pela marca algum tempo depois.
Tudo era completamente diferente do que a Volks tinha por aqui. O visual era bonito e moderno, com a grande grade preta que abrigava o logotipo da VW. No começo o carro foi até criticado e chamado de anti-volks. E ele ainda trazia suspensão dianteira McPherson com juntas homocinéticas e freios com duplo circuito em diagonal (ambos inéditos em um carro nacional).
Além das inovações mecânicas, o Passat era espaçoso por dentro e possuía bom acabamento, sendo bem superior aos demais VW da época, e devido a sua construção e aos novos conceitos adotados na suspensão, a dirigibilidade estava em um nível jamais visto.
Com o motor 1.5 ele acelerava de 0 a 100 km/h em 17 segundos e atingia 150 km/h de velocidade máxima. Estava bem posicionado diante dos concorrentes. Em 1975, ele ganhava versão quatro portas e no ano seguinte a de três portas. A tampa traseira abria completamente, o que era mais prático, mas devido a suspensão rígida, o local era fonte de ruídos.
No mesmo ano chegava a versão TS, que tornaria o Passat um clássico. O visual contava com quatro faróis e uma faixa lateral preta que se elevava até a coluna traseira. No interior, volante de três rais, bancos reclináveis com apoio integral para a cabeça, painel com o pequeno conta-giros ao centro, e no console, os três instrumentos: manômetro, voltímetro e relógio analógico.
Mas a melhor parte era o motor: 1.6 de 80 cv líquidos, passava a adotar carburador duplo, acelerava de 0 a 100 km/h em 14 segundos e atingia 160 km/h de velocidade máxima. Ele já possuía o melhor desempenho para o segmento, sem contar a estabilidade, também superior aos concorrentes e consumo médio de bons 12 km/l de acordo com a marca.
Além das já existentes versões L e LS, em 1978, o Passat ganha a versão mais luxuosa LSE, que tinha ar-condicionado, melhor acabamento, encostos de cabeça traseiros, vidros verdes e os duplos faróis como no esportivo TS. Ainda nesse ano era lançada a versão Surf, mais despojada e equipada com o motor 1.5 litros.
O Passat passou pela primeira reestilização em 1979, e novamente o visual era inspirado no Audi 80. Os faróis passaram a ser retangulares, os para-choques ganhavam ponteiras plásticas e as lanternas também foram sutilmente modificadas. Pouco tempo depois, ele ganhava versões 1.5 e 1.6 a álcool, sendo o segundo carro nacional com esta opção.
Na Europa, era lançada a segunda geração do Passat (plataforma B2) em 1981. O visual era bastante modificado, e por aqui ele só chegaria em 1985 com o nome Santana/Quantum com as duas gerações convivendo juntas até 1988.
Em 1983, o visual era novamente atualizado, e a frente contava com quatro faróis retangulares com molduras espelhadas, grade mais estreita e luzes de direção no para-choque. O Passat TS passava a se chamar GTS, e surge também a versão GLS. No ano seguinte elas passariam a se chamar GTS Pointer e GLS Village respectivamente.
Nesse ano, a Volkswagen também lançou a edição limitada Passat Sport, que contava com rodas de liga leve aro 13", para-choques, molduras dos faróis e friso lateral na cor preta. No interior, conta-giros, bancos Recaro e volante esportivo.
A Volkswagen se esforçava para manter o Passat competitivo frente à concorrência, principalmente o Chevrolet Monza, lançado em 1982 e que caia no gosto do consumidor brasileiro e começava a ameaçar o carro médio da VW.
O motor 1.6 recebia diversas atualizações e ganhava a denominação MD270 (Motor torque), a potência com gasolina era de 72 cv e o torque máximo de 12,0 kgf/m, acoplado ao um câmbio que passava a ser do tipo 3+E, com a quarta marcha overdrive, para economia em estrada. Era uma solução temporária até o lançamento do câmbio de cinco marchas. Nesse ano, esse motor 1.6 passou a equipar todas as versões, descaracterizando a versão esportiva GTS, mas a Volks iria corrigir essa falha em pouco tempo.
Nessa época, o Passat produzido no Brasil era exportado para alguns países. Entre 1983 e 1986, muitos modelos na versão quatro portas foram exportados para o Iraque.
No ano de 1984, o Passat GTS Pointer finalmente ganhava um motor 1.8. Era o mesmo que já equipava o recém lançado Santana e Gol GT. O Pointer ganhava ainda, rodas de liga leve aro 14", bancos Recaro com regulagem de altura, descansa braço no banco traseiro, para-brisa com faixa degradê e teto solar.
Devido às melhorias recebidas, o Pointer podia ser considerado um dos melhores carros nacionais disponíveis na época, e se tornaria um clássico, aliando desempenho e conforto raramente vistos em modelos nacionais da época.
Para o ano de 1985, mais mudanças: o modelo ganha para-choques envolventes em plástico, lanternas com frisos, câmbio de cinco marchas e a versão três portas deixa de ser produzida. No interior, um belo painel de instrumentos semelhante ao do Santana.
No ano seguinte, o motor 1.8 passa a ser da série AP-800 S. Com álcool, eram 99 cv de potência e torque máximo de 14,9 kgf/m (dizia-se que a potência era superior, mas divulgava-se "apenas" 99 cv por causa da tributação acima dessa faixa de potência). O Pointer andava muito bem para sua época, 0 a 100 km/h em 11 segundos e velocidade máxima de 175 km/h.
A série especial "Flash" foi lançada em 1987. Com motor 1.8, ela adicionava volante esportivo, rodas de aço com calotas integrais (rodas de liga leve opcionais), molduras dos vidros e maçanetas na cor preta, além dos frisos externos e emblema Flash. Ele estava posicionado entre a versão GL e a top de linha Pointer.
Em 1988, a Volkswagen já dava total atenção à família BX e o Santana, e o Passat foi perdendo o folego diante dos concorrentes, como o Chevrolet Monza, que já estava consolidado no mercado. Dessa forma, no fim desse mesmo ano a produção do Passat era encerrada no Brasil.
O modelo foi responsável por apontar uma nova direção a marca alemã. Ele foi o pioneiro em utilizar as tecnologias derivadas da Audi e inaugurou a fase dos motores refrigerados a água e diversas inovações que rompiam definitivamente com os antigos conceitos da marca, como tração traseira e motores refrigerados a ar.
No mesmo ano em que a produção se encerrava por aqui, era apresentada a terceira geração do modelo na Europa, com visual bem moderno e apenas nas variações sedã e perua. O Passat somente retornaria ao nosso mercado a partir de 1994, já na quarta geração e importado.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=78mMGG4F5xg
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=iw2MMBNrdeg
Galeria: Carros para sempre: Volkswagen Passat - A Volks na era do motor refrigerado a água