Nem sempre um oásis precisa ser um pedaço de verde e água no meio de um deserto para fazer alguém delirar. Para mim, aquela estrada com asfalto melhor que de uma autobahn alemã cruzando os arredores de Marrakesh, no centro-oeste do Marrocos, era muito mais alucinante. Ela própria, quase desértica, me intimou a descobrir do que aquele 5.0 V8 de 510 cavalos era capaz. Chegar aos 220 km/h foi fácil, e se manter lá mais ainda. Passados cinco minutos e o ponteiro continuava nos 220 km/h. Dez minutos depois...220 km/h. Quinze...220 km/h. Nada de barulho de vento, temperatura elevada ou oscilações nas curvas. Não, não estou a bordo de um cupê ou de um supersedã. Bem-vindo ao novo Land Rover Range Rover Vogue.
O que é?
Eis a quarta e mais revolucionária geração do utilitário esportivo lançado em 1970. É também o segundo produto de um nova fase da Land Rover, inaugurada com o Evoque há pouco mais de um ano. Ser o primeiro carro lançado após o Evoque tem lá suas vantagens. Foi graças ao crossover que o jipão pôde ousar mais no estilo, arredondando um pouco mais os faróis e lanternas, que agora chegam a invadir as laterais. Mas o Range continua, para a alegria dos puristas, com as linhas clássicas que carrega há 42 anos, embora modernizadas. Pelo resto de sua vida, o veterano Range Rover será grato ao novato Evoque pelo visual que tem hoje.
Internamente, foi mantido o alto nível de luxo. Quem viaja na frente encontra os mimos já comuns para essa categoria: ar-condicionado de duas zonas, bancos ajustáveis eletricamente e com massagem, etc. Mas o novo Range Rover surpreende de verdade é quem vai atrás. Além de mais espaço – graças ao entreeixos alongado em 4 cm – o jipão oferece bancos com ajuste elétrico e memória, massageadores e ar com saída individual. Ter isso lá na frente todo mundo tem, mas lá atrás não é pra qualquer um.
Uma melhora interessante foi, segundo a marca, a redução de 50% na quantidade de botões e interruptores pelo interior. De fato, a antiga geração parecia uma cabine de avião, com tantos botões. Agora, o visual está mais limpo e os comandos, mais fáceis de operar.
Como anda?
Melhor do que nunca. A quarta geração não é uma evolução da terceira, e sim um carro desenvolvido do zero. A principal inovação é sua construção em alumínio no lugar do aço: além da carroceria, que por si só emagreceu 180 kg, o material agora também é usado na suspensão (que manteve as molas a ar) e no powertrain. A dieta tirou do jipão respeitáveis 420 kg na versão TDV6 e 300 kg nas configurações TDV8 e Supercharged.
Portanto, se o motor 5.0 V8 sobrealimentado (510 cv e 63,7 kgfm de torque) já brilhava no modelo anterior, aqui ele se firma como um dos melhores propulsores da categoria. Esse “monstro” arrasta um SUV de 5 metros e 2.330 kg como se fosse um hatch compacto. Isso faz do Range Rover um carro ágil e afiado, que ignora toda sua massa e tamanho. Chegar aos 100 km/h requer pouco mais que 5 segundos. Para completar, há um novo câmbio da ZF de oito velocidades – com tantas opções de marcha, não tem como não haver sintonia entre ambos. As trocas são certeiras, e a 120 km/h o motor “dorme” a 1.800 rpm. Mas basta uma cutucada mais forte no acelerador e o Range salta fácil para os 200 km/h.
Quando o asfalto acaba, o Range Rover mostra que não serve só para ir ao shopping. Com a reduzida acionada, cada duna é sobreposta com a facilidade que um elefante sobe o degrau de uma escada, enquanto os rios (respeitando a altura de 90 cm de submersão) são atravessados como um Hyundai VeraCruz passa por cima de uma possa d’água. Depois de quase 500 km pelo deserto do Marrocos, a impressão (verdadeira) é que o Range te leva para qualquer lugar.
E tudo com extremo conforto. Isso é que o que verdadeiramente dá para chamar de versatilidade: ao mesmo tempo, o Range é o carro do executivo, do jovem aventureiro e do motorista com desejo de acelerar.
Quanto custa?
Como o Brasil é um mercado estratégico (não só para a Land Rover, como para qualquer marca), o intervalo entre seu lançamento global e a chegada ao país será mínimo. O SUV mais luxuoso da marca britânica desembarca por aqui em fevereiro. Os preços ainda não foram definidos, mas devem ultrapassar a barreira dos R$ 500 mil, considerando que hoje os valores vão de R$ 426 mil a R$ 499 mil no modelo antigo.
O que está definida é a oferta de motores: vão para o Brasil o 4.4 V8 turbodiesel (339 cv) e o 5.0 V8 Supercharged a gasolina (510 cv). Ficam pela Inglaterra o 3.0 V6 diesel (258 cv) e o 5.0 V8 a gasolina aspirado, de 375 cv. Todos são equipados com a transmissão ZF de oito marchas.
Podemos afirmar sem medo que não há concorrentes diretos no mercado nacional. Os SUVs que chegam perto no porte e emparelham na potência e no preço (Mercedes ML 63 AMG, BMW X5 M e Porsche Cayenne Turbo) têm propostas diferentes, e certamente encalhariam no primeiro facão ou pirambeira que pintasse pela frente.
Por Ramón Velásquez, de Marrakesh (Marrocos), especial para o CARPLACEFicha Técnica – Land Rover Range Rover 5.0 V8 Supercharged
Motor: dianteiro, oito cilindros em V, 32 válvulas, comando variável, gasolina; Potência: 510 cv; Torque: 63,7 kgfm; Transmissão: câmbio automático de oito marchas, tração integral; Direção: elétrica; Suspensão: Independente McPherson na dianteira e multilink na traseira, com molas a ar; Peso: 2.330 kg; Porta-malas: 600 litros; Dimensões: comprimento 4,999 mm, largura 2,073 mm, altura 1,835 mm, entreeixos 2,922 mm; Aceleração 0 a 100 km/h: 5,4 s; Consumo: 7,2 km/l (médio).
Galeria: Volta rápida: Land Rover Range Rover Vogue 5.0 V8 Supercharged - No topo do mundo