Quando eu estava pesquisando um carro para alugar durante uma viagem de família entre o Chile e a Argentina, dois pontos eram imprescindíveis. O primeiro era a possibilidade de cruzar a fronteira chilena em direção ao país vizinho – atualmente, são poucas as locadoras locais que permitem a travessia. Em segundo lugar e tão importante quanto, era necessário um porta-malas espaçoso para as bagagens de um percurso de quase duas semanas.
Identificada uma locadora que atendia ao primeiro requisito, era o momento de selecionar o veículo que atenderia ao segundo critério. Chegamos, então, a um modelo (ainda) não disponível no Brasil. Uma oportunidade única para avaliar os pontos fortes e fracos da geração do Tucson lançada no mercado internacional no 2º semestre de 2020 e ver como o Hyundai se posicionaria diante de SUVs médios concorrentes por aqui.
De cara, o Tucson chama atenção pelo design pouco convencional, notadamente na parte frontal, e que aparenta um porte maior do que os seus 4,64 metros de comprimento. Ao vivo, o conjunto - reforçado por bonitas rodas de liga leve de 18" - agrada bastante. Pela quantidade de unidades em circulação no mercado chileno, o modelo parece ser bastante apreciado pelo consumidor local.
Na hora de guardar as bagagens, uma primeira surpresa positiva: as quatro malas e as mochilas foram organizadas sem qualquer dificuldade e ainda havia espaço para guardar mais coisas – pela ficha técnica, a capacidade é de 539 litros, maior do que qualquer um dos principais SUVs médios à venda por aqui. Já acomodados para iniciar a viagem, era hora de começar a avaliar outros pontos que seriam bem importantes numa convivência de nove dias.
É inegável o quanto o Tucson deixa todos os passageiros muito à vontade. Com quase 2,76 m de distância entre os eixos, o espaço interno é bastante amplo – colocando o assento em posição confortável para mim, que tenho 1,73 m de altura, era possível cruzar as pernas no banco de trás. Quem segue na parte traseira conta com saídas de ar e duas entradas USB para carregamento de celulares.
Bancos confortáveis, direção bem leve e precisa e suspensão macia com Multi-Link na traseira contribuem para uma condução relaxada, mas sem grandes emoções – o motor 2.0 de 154 cv desta versão intermediária, combinado com um câmbio automático de 6 marchas com conversor de torque, não permite mais do que um desempenho honesto para um carro desse porte. Em subidas, com o carro carregado, nitidamente falta um pouco de fôlego. Para uma condução normal, é mais do que suficiente.
Durante o passeio na Argentina, precisamos pegar alguns trechos fora de estrada para acessar algumas atrações turísticas e a tração 4x4 desta versão foi uma “mão na roda”. Nos pouco mais de 1.200 quilômetros que rodamos no período, a média de consumo entre cidade e rodovias foi de aproximadamente 12,5 km/l, resultado bastante razoável para um carro grande e pesado como ele. O silêncio a bordo e a qualidade construtiva merecem notas elevadas: num carro de locadora e com mais de 40 mil quilômetros rodados, nenhum ruído interno, algo pouco comum.
Mas nem tudo são flores. O acabamento desta versão, embora correto e sem rebarbas, é basicamente todo de plástico - similar ao que encontramos num VW Taos, por exemplo - e quase todo monocromático, sem qualquer sensação de requinte. Na comparação com um Jeep Compass ou com um Caoa Chery Tiggo 7, claramente o Tucson fica devendo. O tecido dos bancos é de qualidade bem mediana, parecido com o que vemos em modelos na casa dos R$ 100 mil vendidos por aqui.
Além disso, os faróis dianteiros com lâmpadas halógenas e o painel de instrumentos simples, que lembra o dos primeiros Caoa Chery Tiggo comercializados no Brasil, não ajudam a melhorar a sensação de refinamento. Os vidros elétricos não contam com função um toque sequer para o motorista, inexistem sensores de chuva e crepuscular e não há qualquer pacote de segurança além do essencial (seis airbags + controles de estabilidade e tração).
Em black piano, o painel central fica sujo com enorme facilidade - durante o dia, chega a incomodar ver as inúmeras marcas de dedos deixadas sobre a tela do (bom) sistema multimídia. Para completar, o freio de mão é... de pé! Embora para mim não seja um aspecto negativo, muitas pessoas têm sérias restrições, vide as críticas tão comuns a modelos como o Toyota Corolla Cross e o Nissan Sentra.
No conjunto da obra, o atual Tucson é um modelo bastante competente, com vários pontos positivos e poucas críticas que em nada o desabonam. Aqui no Brasil, vendido a um preço compatível com os principais SUVs intermediários, o Hyundai teria chances concretas de, pelo menos, lançar algumas boas dúvidas na cabeça do cliente interessado em comprar um veículo do segmento.
Fotos por Thiago Parísio
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