A subida pela Cuesta de Lipán é de tirar o fôlego, literalmente. Vou ficando meio zonzo não só pelos incontáveis ziguezagues da Ruta 52 como — principalmente — pela altitude. E, mesmo com o turbocompressor, a perda de potência do motor a 2.0 a diesel fica evidente. Pudera: numa parada no mirante de Abra de Potrerillos, um marco indica que estamos a 4.170 metros acima do nível do mar!
A cabeça volta mais de 40 anos, ao “decoreba” das aulas de Geografia:
— Qual o ponto culminante do Brasil?
— O Pico da Neblina, no Amazonas, com 2.995 metros de altitude.
Pois é, professora Leda…agora seu aluno está no Noroeste da Argentina e 1.175 metros mais alto que o Pico da Neblina. É o clímax de uma viagem de mil quilômetros com a Rampage pelas províncias de Salta e Jujuy, quase na tríplice fronteira com a Bolívia e o Chile.
Na baixa pressão atmosférica, a respiração fica ofegante e tenho a impressão de que vou apagar a qualquer momento. Por sorte, no mirante, está o Mario. Que Mario? É um indígena quéchua que tem uma banquinha para vender ponchos, gorros e outros recuerdos aos turistas que param por ali.
Comento sobre a tontura e o Mario me oferece um punhado de folhas de coca.
— Ponha algumas folhas entre a gengiva e a bochecha e você se estabiliza novamente — ensina.
O ponto alto da viagem com a Rampage Laramie - Cuesta del Lipán, Purmamarca, em Jujuy - 4.170 m
Muito falante, o quéchua também aparece com um saquinho plástico com pupusa, uma erva medicinal. Caso sinta náuseas ou dor de cabeça, o cheiro da pupusa irá me curar. Sigo os conselhos e, num instante, já estou cheio de energia.
Para a Rampage Laramie, porém, não há cultura pré-colombiana que ajude. No ar rarefeito, há menos oxigênio. A eletrônica faz o que pode para tentar equilibrar a proporção ar/combustível: para que a mistura não fique rica demais, injeta menos diesel nas câmaras de combustão. Daí que a picape vai perdendo o vigor à medida que sobe — e isso se torna bem perceptível a partir dos 3.500 metros acima do nível do mar.
Existe até uma continha que estima uma queda de 1% na potência a cada 100 metros de altitude. Daí que, a 4.170 metros acima do nível do mar, a Rampage já teria perdido, teoricamente, 41,7% dos 170 cv que constam na ficha técnica. Por esse cálculo, restariam apenas 99 cv para levar os 1.942 quilos da picape montanha a cima.
Como temos um turbocompressor aumentando a densidade do ar que vai para as câmaras de combustão, a perda de potência por conta da altitude não chega a ser tão grande quanto na estimativa acima (lembre-se que, antes de chegar aos automóveis, os turbocompressores já eram amplamente utilizado nos aviões com motor a pistão, justamente para compensar a altitude). Ainda assim, a Rampage a diesel sente o baque. Para atenuar, vamos reduzindo marchas por meio das aletas atrás do volante e mantendo o motor em rotação um pouco mais alta. Avançamos devagar e sempre, redobrando a prudência nas ultrapassagens da pista de mão dupla.
Já os colegas que estavam nas Rampage a gasolina afirmaram não ter sentido diferença de desempenho nessa expedição andina. Pudera: o motor Hurricane T4 ciclo Otto rende 272 cv (102 cv a mais que o diesel!). Mesmo com a altitude, ainda sobra potência.
Vale dizer que os turbocompressores nas versões a diesel e a gasolina são diferentes, sendo que na versão diesel é um turbo de geometria variável (VGT) com pressão máxima de 1,8 bar e, na versão gasolina, é um turbo twin scroll (ou seja: o fluxo dos gases de escape é dividido em dois canais), com 1,6 bar de pressão máxima e válvula wastegate elétrica.
Chegamos a um planalto no meio da cordilheira, com um deserto de sal a 3.450 metros de altitude. São as Salinas Grandes, uma espécie de amostra grátis do Salar de Uyuni, que fica mais ao Norte, já na Bolívia. Ainda que menor em tamanho, Salinas Grandes já impressiona um bocado.
Todo mundo pega um pedacinho do chão e prova na ponta da língua: é sal mesmo, e muito mais concentrado que o usado em nossas cozinhas. O piso é duro, liso, e sua imensidão branca de 212 km², cercada de montanhas, reflete a luz do sol, criando o ambiente perfeito para fotografar automóveis — especialmente se tiverem um visual clássico, cheio de cromados, como a Laramie. E há aquela sensação de se estar pilotando um carro de recordes na Bonneville Speedway, em Utah (em nosso caso, uma daquelas picapes que rebocam os carros de recordes nos salt flats…).
Rampage Laramie a diesel em Salinas Grandes, Argentina
Pra baixo, todo santo ajuda. Na descida de volta a Purmamarca (2.300 m acima do nível do mar) e Salta (a 1.200 m), nossa cidade de pernoite, a picape vai recobrando sua força a cada curva pela montanha cheia de cores. Como se estivesse com um balão de oxigênio, a Rampage recupera sua saúde num instante. Parece mesmo feliz serpenteando pela montanha multicor. E mais animado ainda vai este motorista curtindo o bom acerto de chão da picape com suspensão traseira independente e tração integral.
Já não há mais falta de fôlego e, além disso, temos o silêncio. O isolamento acústico da cabine é excelente e o motor a diesel Multijet II 2.0 “Pratola Serra” (o mesmo da Fiat Toro, e dos Jeep Compass e Commander) pouco vibra. Nem mesmo o ruído de rolagem dos pneus Pirelli Scorpion 235/60 R18 chega a atrapalhar a paz ambiente.
Na viagem, não chegamos a pegar nenhum trecho de trilha realmente acidentado mas, em uma parada para fotos, resolvemos experimentar o bom curso da suspensão. Não há reduzida, mas sim um botão AWD low que mantém engatadas a primeira marcha (bem curta) e a tração no eixo traseiro. De resto, é só deixar o seletor giratório em drive. No plano, em uso normal, a transmissão já parte em segunda marcha. Na reta, em ritmo descansado, o cardã e o diferencial traseiro são desacoplados.
Os comandos são leves e a picape é muito fácil e gostosa de guiar. Nas curvas mais rápidas morro abaixo, não balança nem ameaça, passando muita segurança. A suspensão justinha é equilibrada no ponto, nem mole, nem dura demais, tornando a viagem confortável mesmo sobre caminhos de rípio. A capacidade de carga é de 1.015 quilos mas, mesmo com a caçamba vazia, a traseira não fica saltando sobre as imperfeições do terreno.
O volante tem diâmetro enxuto e é forrado com material agradável às mãos. Os assentos dianteiros são amplos e um dos destaques da Rampage Laramie é o capricho no acabamento. Por toda parte há revestimentos suaves ao toque, enquanto bancos e laterais de portas são forrados com material sintético que imita couro marrom. Isso dá à picape um jeitão country.
No começo foi difícil encontrar a posição ideal de dirigir, apesar dos ajustes elétricos no banco e regulagem de altura e distância do volante. Mas, finalmente, achamos o ponto certo e não sentimos dores nas costas ao fim dos 600 quilômetros do primeiro dia de viagem.
Entre Salta capital e Cafayate (1.700 m de altitude), não pegamos tanta subida. Quem já viu o filme argentino “Relatos Selvagens” (2014) deve se lembrar do episódio em que os motoristas de Audi A4 e um velho Peugeot 504 se enfrentam numa estrada deserta. O cenário é a Ruta Nacional 68, nosso caminho no segundo dia de viagem — e os destroços do Peugeot ainda estão por lá, atraindo turistas a um bar.
Aqui dá para usar mais o controle de cruzeiro adaptativo. A 110km/h, com o câmbio automático ZF 9HP em sua 9ª e última marcha, o ponteirinho do conta-giros indica 1.800 rpm, o que explica a economia. Na véspera, mesmo com toda a subida, a picape havia feito 12,1 km/l de diesel. Agora no plano, de pé leve, chegou a bater nos 18,1 km/l. O quadro de instrumentos é uma grande tela digital 10,3", que simula instrumentos analógicos. Complementado pela tela multimídia de 12,3", o conjunto pode ser lido e operado com facilidade.
A jornalista Rafaela Borges, minha companheira de direção nesta viagem, providencia uma trilha sonora de rock e blues dos anos 50 e 60. Com cânions (como “La Garganta del diablo”) ao fundo e viajando numa cabine decorada à moda americana, parece até que estamos no Arizona — mas, por lá, a Rampage seria considerada uma picape anã.
A falta de espaço no banco de trás é o calcanhar de aquiles dessa cabine dupla, que tem a mesma plataforma Small Wide e os mesmos 2,99 m de entre-eixos da Fiat Toro. Por causa da caçamba, o encosto traseiro é muito vertical e, certamente, seria bem desconfortável percorrer mil quilômetros sentado ali.
Falando em caçamba, o compartimento tem revestimento interno de plástico, muitos ganchos de amarração, iluminação por Led e tampa com abertura remota e amortecimento, mas carece de uma simples capota marítima — uma falta indesculpável quando lembramos que uma simples Fiat Strada Freedom traz o equipamento de série.
Chegando a Cafayate, houve tempo para uma voltinha de uns 30 quilômetros dirigindo uma Rampage, também Laramie, mas movida a gasolina. Os 102 cv a mais do motor Hurricane T4 (o mesmo do Compass e do Commander) fazem a picape parecer levinha. O desempenho é entusiasmante, com 0 a 100 km/h na casa dos 7,1s e máxima de 210 km/h. Essa esportividade, contudo, cobrará seu preço no consumo — em torno de 10 km/l na estrada — e na autonomia.
Volta e meia, ao longo da expedição, era preciso abastecer as Rampage a gasolina, com seu tanque de 55 litros, enquanto o marcador da “nossa” Laramie a diesel — com tanque de 60 litros e consumo médio de 13,3 km/l na viagem — ainda estava bem acima de ¼, com o computador de bordo indicando folgados 210 quilômetros de autonomia. Se não estivéssemos acompanhando as Rampage a gasolina, poderíamos rodar mais que 700 quilômetros com a Laramie a diesel sem pôr combustível.
No Noroeste da Argentina, o sol demora a nascer. É no escuro que faremos boa parte dos 280 km entre Cafayate e o aeroporto de Salta, trecho final de nossa viagem. Os faróis full led iluminam muito bem. Os de neblina têm função “cornering”, ou seja: conforme se gira o volante, um dos faróis se acende, clareando a parte interna da curva.
No preço, uma curiosidade: a Rampage Laramie a diesel custa R$ 266 mil, enquanto a Laramie a gasolina sai por R$ 275 mil. É um raro caso em que a versão a diesel custa menos que sua equivalente a gasolina.
Se fosse para escolher entre uma e outra, não pensaríamos duas vezes. Iríamos de diesel pela autonomia maior e consumo menor (mesmo levando em conta que hoje o litro do diesel S10 pode custar mais caro que a gasolina). Daí que, atualmente, 55% das Rampage vendidas no Brasil têm motor a diesel.
São 102 cv a menos? São… Mas para as velocidades de cruzeiro normais em nossas rodovias, os 170 cv do 2.0 turbodiesel já são suficientes para uma viagem tranquila e confortável. Afinal, não é todo dia que vamos subir a 4.170m de altitude.
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