VW Fusca Itamar: o retorno do clássico para ser um carro popular em 1993
E dirigimos a unidade 001, a mesma que foi utilizada pelo então Presidente do país
O VW Fusca é um dos automóveis mais importantes no Brasil e no mundo. Por aqui, sua história é dividida em duas fases, sem contar sua era importada ou com a montagem em CKD em um galpão no Ipiranga, São Paulo (SP), antes da inauguração da fábrica da empresa alemã em São Bernardo do Campo (SP).
De janeiro de 1959 a dezembro de 1986, o Fusca foi produzido no Brasil sem interrupções, mesmo quando ele deixa de ser feito na Alemanha ainda em meados dos anos 1970. Com a chegada de projetos mais modernos ao nosso mercado, como o Fiat Uno e, anos depois, o próprio Gol, o Fusca perdeu espaço no mercado e saiu de linha. Mas isso durou até 1993, quando volta a ser produzido na mesma fábrica de onde saiu por décadas.
A busca do carro popular de Itamar Franco
No fim de 1992, Itamar Franco assume a presidência do Brasil após o Impeachment de Fernando Collor, curiosamente o responsável pela abertura das importações para o Brasil em 1990. Itamar encontra um país em crise e começa a buscar soluções para aquecer a economia e indústria. Como incentivo para os automóveis, nascem os carros populares.
Representantes da indústria pediram a Itamar Franco incentivos para produzir mais carros. O Fusca poderia despontar como o mais barato do país e acelerar as vendas e produção, mas o programa do carro popular foi além. Na época, quatro marcas tinham as fábricas no Brasil: Fiat, Chevrolet, Ford e VW, estas últimas na época da Autolatina, união válida para a América do Sul. Basicamente, os incentivos era o IPI de apenas 0,1% para motores até 1.000 cm3 e, mesmo assim, o Fusca conseguiu entrar na proposta por ter sido um pedido do próprio Itamar Franco, mesmo com o motor 1.600.
A concorrência começou a aproveitar os incentivos, assinados em fevereiro, em abril de 1993, com Fiat Mille, Chevrolet Chevette Junior, Ford Escort Hobby e, dentro da própria VW, o Gol 1000. Os preços precisavam estar abaixo dos 7.200 dólares, o que aqueceu o mercado - como o Fusca, a Kombi também aproveitou do incentivo, mesmo com motor maior, por um projeto mais antigo.
O Fusca Itamar, seus concorrentes e a briga interna
A engenharia da Volkswagen precisou correr. Todo o maquinário do Fusca já tinha sido desmontado e parte vendido para indústria de autopeças depois do seu fim em 1986, o que gerou uma movimentação dentro da empresa. O Fusca Itamar é apresentado em 23 de agosto de 1993, meses depois de seus concorrentes, inclusive o próprio Gol 1000. No dia, Itamar Franco usou um Fusca prata, chassi 001, para desfilar pela fábrica de São Bernardo do Campo.
O Fusca tinha uma concorrência mais moderna e com a eficiência do motor 1.0. A engenharia recalibrou o 1600 a ar do Fusca, com dupla carburação e catalisador, o que obrigou a mudança da posição do escape. Lançado no primeiro momento apenas a álcool, tinha 58,7 cv (4.300 rpm) e 11,9 kgfm (2.800 rpm), com o câmbio de quatro marchas e tração traseira. Em segurança, freios hidráulicos de circuito duplo, discos dianteiros, barra estabilizadora na dianteira e traseira, parabrisa laminado e pneus radiais.
Por dentro, o Fusca teve que receber mudanças na fixação dos bancos, agora vindos do Gol, e cinto de segurança de três pontos retrátil automaticamente. Elementos como um novo volante e mudanças em tecidos e materiais também marcam o Fusca Itamar. Recebeu novas fechaduras de portas, capô e porta-malas, limpador com duas velocidades e um refinamento em sua construção, com pintura de chassi e carroceria juntos e melhor isolamentos acústico e térmico. A própria produção foi modernizada e melhorada, mesmo mantendo muito do que era até o fim da sua primeira fase.
O Fusca Itamar 001
O chassi 001 desta nova fase do Fusca, apelidado como Fusca Itamar, está guardado na fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo. Nunca foi emplacado e poucas pessoas o dirigiram desde então. Do dia 23 de agosto de 1993 até hoje, ele rodou cerca de 340 km e tive o privilégio de poder dar uma volta este carro, mesmo que dentro da enorme planta da marca.
Além das diferenças já citadas, esta unidade tem alguns opcionais, como os borrachões nos para-choques e as lanternas escurecidas. Com o 1.600 a álcool, liga com bastante facilidade e todos os seus comandos e componentes estão em estado de novos. Básico, custava US$ 7.200, mas hoje é um carro de valor inestimável por sua carga histórica.
Tem as particularidades de um Fusca. Os pedais montados no assoalho, os engates do câmbio de 4 marchas e a posição de dirigir sempre foram marcas do Fusca em toda a sua história. Barulhos e até cheiros nos levam ao passado que, mesmo que o Itamar seja modernizado, manteve do clássico na época. A ficha técnica indica um 0 a 100 km/h em 14,5 segundos, com máxima de 140 km/h, e consumo de 8,1 km/litro na cidade e 10,9 km/litro na estrada, números que eram maiores que os dos populares 1.0, mas que o Fusca dava em troca melhor desempenho.
Mas dá para entender onde o Fusca perdeu espaço para os projetos mais novos. Alguns já estavam com injeção eletrônica, um sistema mais estável de funcionamento e uso, além do aproveitamento de espaço, como um porta-malas verdadeiro, além dos próprios comandos e como eram mais fáceis e suaves para se dirigir. E o preço do Fusca não era muito diferente dos demais.
Mercado, concessionários e o fim definitivo em 1996
O Fusca Itamar tinha prazo de validade e unidades a serem produzidas. A previsão era de 100 unidades por dia, 20.000 por ano, mas os concessionários já tinham o Gol, na época líder de mercado, e era um produto mais atual, moderno e interessante que o Fusca. Na época, já se falava que ele duraria 3 anos e 50.000 unidades de produção, principalmente após o incentivo chegar a outros modelos, inclusive dentro da Autolatina.
De fato, em 11 de julho de 1996, o Fusca chegava ao fim de forma definitiva, com 47.700 unidades feitas nessa nova era. O Fusca segue em produção no México até 30 de julho de 2003. Em números, o Fusca brasileiro teve 3.321.251 unidades produzidas na primeira fase, 47.700 na segunda e, com o fim no México, chegou a 21.529.464 unidades no mundo inteiro.
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