Comparativo JAC Hunter vs. Fiat Titano: pelo custo a todo custo

Com os preços das picapes médias mais completas ultrapassando facilmente a barreira dos R$ 300 mil, o espaço na faixa dos R$ 250 mil que lhes pertencia foi liberado. Primeiro veio a Fiat Titano, aproveitando uma parceria da Stellantis com a chinesa Dongfeng que se tornou um caso de sucesso da engenharia de emblema, dando origem também à Peugeot Landtrek e Ram 1200 fora do Brasil.

Agora, a JAC também quer aproveitar esse "vácuo de poder" entre as médias que subiram no proverbial telhado de custo e as intermediárias que não têm a mesma capacidade como benefício. A Hunter HD chegou por R$ 259.900, o que a coloca a míseros R$ 90 de diferença para a Titano Ranch (R$ 259.990). Até mesmo o valor promocional da JAC, de R$ 239.900 para as primeiras 1.000 unidades, é próximo ao de uma Titano Volcano (R$ 239.990). Colocadas frente à frente, quem leva (a) melhor?

Obs: a Titano nas fotos externas é a Volcano. As fotos internas são Ranch e consideramos o pacote de equipamentos e preço da versão mais cara.

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Espaço interno, caçamba e modularidade

Idênticas no comprimento (5.330 mm) e próximas no entre-eixos (3.180 x 3.110), a única diferença entre o espaço interno da Titano e o da Hunter é que o encosto do banco traseiro da JAC é menos vertical que o da Fiat e a destaca até diante de outras médias . No demais, as picapes acomodam 4 ocupantes com relativo conforto, com um quinto indo mais apertado ao centro. Nenhum sofre com falta de espaço lateral, mas a JAC oferece mais porta-trecos e o painel mais horizontalizado passa uma sensação de que a cabine é mais arejada. A Titano tem pequenos porta-trecos sob o assento traseiro como diferencial.

Na caçamba, a Titano tem 1.630 mm de comprimento, 1.925 mm de largura e 500 mm de altura. Já a da JAC é um pouco menor, tendo respectivamente 1.520 mm, 1.590 mm e 470 mm. Porém, ambas contam apenas com alguns pontos de ancoragem, sem gavetas ou compartimentos extras. Nas duas, não há amortecimento para a abertura ou fechamento da tampa, um sistema bem rústico e que, no conforto do dia a dia, não é mais algo tão aceitável. 

O grande diferencial da JAC é que, como usou o chassi da versão elétrica na diesel, a Hunter acaba levando bem mais peso. São 1.400 kg de carga útil, contra apenas 1.020 kg da Fiat. Outra atividade comum às picapes que realmente trabalharão e puxar reboque. Nesse caso, o melhor que a Titano faz é conseguir rebocar trailers de até 3.500 kg, desde que equipado com freio próprio. Na Hunter, são 4.200 kg de capacidade de reboque sem freio, ou 5.250 kg com freio.

Vantagem: JAC Hunter

Acabamento e ergonomia

Ao olhar, ambas tentam fazer algo diferente sem gastar muito. A Titano tem uma multimídia horizontal e teclas tipo piano para alguns comandos físicos, sem esconder as heranças da Peugeot Landtrek. Já a Hunter opta por um painel mais horizontalizado e com linhas retas, contando com uma multimídia maior e na vertical.

A  herança do projeto da Peugeot ajuda a evitar o uso constante da multimídia para controlar funções como ar-condicionado, algo que acabamos fazendo bastante na Hunter e seus comandos quase todos na tela que, quando está espelhado algum sistema de smartphone, não mostra informações como temperatura, apesar dos botões físicos logo abaixo.

No demais, as funções do carro se concentram em sua maioria em botões, sejam no console ou no painel, e estão em posições razoavelmente lógicas em ambas as picapes. Aqui, a Hunter leva pequena vantagem por ter o freio de estacionamento eletrônico, o que libera espaço no console central e deixa a organização dos comandos mais simples. Em termos de acabamento, a JAC se diferencia material emborrachado no painel, mas ela e a Fiat usam plástico rígido no restante do interior. Por outro lado, a montagem das peças na Titano é melhor.

Vantagem: empate

Equipamentos e conectividade

Em equipamentos de série, Titano e Hunter são bem parelhas. Ambas contam com ar-condicionado de duas zonas automático, acabamento em couro, acendimento automático de faróis, acionamento automático dos limpadores de para-brisa, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, chave presencial, controle de cruzeiro, saída de ventilação para os bancos traseiros e central multimídia com Android Auto e Apple Car Play, com fios em ambos os casos.

A Hunter tem algumas vantagens, como o painel totalmente digital (apenas para o computador de bordo na Titano) e a tela da multimídia maior (13" contra 10"). A JAC ainda leva a melhor por trazer teto-solar de fábrica e vidros elétricos com função um toque em todas as janelas, enquanto a picape da Fiat tem um toque apenas para descida do vidro do motorista. 

A usabilidade dos sistemas multimídia são bem semelhantes. Ambas são bem genéricas em suas interfaces, e não são as telas mais rápidas do segmento. Atendem com os espelhamentos por fios, mas aqui vemos uma boa parte da economia feita para as picapes custarem o que custam, inclusive na resolução da tela e das câmeras, no caso da JAC, em 360. 

Vantagem: JAC Hunter

Segurança e assistências

As rivais ainda se equivalem até certo ponto em segurança, com ambas trazendo 6 airbags, assistente de partida em rampa e controle de estabilidade como itens de série. O último é item obrigatório por lei, então não é diferencial. Nenhuma traz itens de auxílio à condução, como alerta de colisão frontal ou monitor de ponto cego, por exemplo. Pelas faltas e nada a mais, empate, mas algo bastante negativo para quem paga mais de R$ 200 mil em seus carros. 

Vantagem: empate

Dirigibilidade, desempenho e consumo

Aqui mostra-se a maior evolução de modelos como Ranger, Hilux e Chevrolet S10. O trio de ferro das médias já conseguiu resolver algumas questões que eram comuns há 10 anos. São coisas como o "pula-pula" do eixo traseiro nos buracos com a caçamba vazia. Titano e Hunter ainda apresentam esse comportamento, mas a da Fiat é um pouco melhor que a da JAC.

Ambas têm condução segura para a proposta do veículo, mas a Hunter permite regular a intensidade de assistência da direção elétrica. A Titano, com direção hidráulica, é mais pesada. Além disso, a picape da JAC exige menos voltas na direção de batente à batente, facilitando as manobras no uso diário.

O acerto de motor e câmbio da Fiat ainda é melhor, com respostas mais lineares e previsíveis do acelerador. Na JAC, é bem perceptível o lag do turbo, principalmente por ser um componente maior que o da Titano para dar a tal vantagem em potência em um motor de cilindrada menor. Isso também entra pelos desafios de normas de consumo e emissões. 

No papel, a picape da Fiat poderia levar uma vantagem no desempenho, já que traz um turbodiesel 2.2 de quatro cilindros, contra um 2.0 turbodiesel da rival. Mas os números contam uma história diferente. A Hunter leva vantagem em potência e torque: são 191 cv e 46,9 kgfm de torque contra 180 cv e 40,8 kgfm. O modelo da italiana ainda conta com transmissão automática de 6 marchas, contra um câmbio automático de 8 marchas ZF da chinesa.

As duas contam com tração nas quatro rodas com caixa de redução e seletor por botão rotativo. A Titano tem uma vantagem no off-road por trazer itens como bloqueio de diferencial traseiro e controle de velocidade em descida, não encontrados na Hunter.

A solução para a suspensão é praticamente a mesma em ambas, com eixo dianteiro independente com molas helicoidais e traseiro rígido com feixes de molas. A Fiat Titano cai em uma redução de custo comum em picapes médias de todos os valores: os freios traseiros são a tambor. A JAC Hunter já conta com discos ventilados nas quatro rodas.

A JAC Hunter pode ter mais potência e torque, mas essa vantagem não se traduziu nos números de desempenho. O 0 a 100 km/h é cumprido em 13,1 segundos, atrás dos 11,9 s registrados pela Fiat Titano. Se você olhar nossa tabela comparativa com testes mensurados de retomada, verá que a JAC Hunter fica para trás também. Em termos de consumo, o urbano é bem similar: 9 km/l na Titano e 8,9 km/l para a Hunter. No rodoviário, respectivamente, são 10,7 km/l e 11,6 km/l.

Vantagem: Fiat Titano

Custo/benefício

Com Fiat Titano Ranch e JAC Hunter HD separadas por meros R$ 90 de diferença no preço e a última trazendo mais equipamentos e números de força, além da capacidade extra, este poderia ser um tópico em que a JAC poderia levar com facilidade. Mas a realidade exige um pouco mais de atenção.

Mesmo tendo expandido a rede de oficinas credenciadas para o interior, a marca chinesa ainda tem bem menos pontos de atendimento que a Fiat. Além disso, a JAC deve começar a faturar a Hunter para pessoas jurídicas e outros casos de isenção somente no início de 2025. As vendas diretas são um campo que a Fiat conhece muito bem e, dependendo do humor da Stellantis, a Titano pode ter descontos que já chegaram a R$ 55 mil no passado.

Considerando os valores de tabela, a JAC leva. Lembrando que tabela é uma coisa e a realidade é outra, a Fiat Titano fica atraente. Mas apenas se a marca italiana lançar mão de promoções e se você tiver como comprar uma por meio de vendas diretas. Então fica o empate técnico.

Vantagem: Empate

Conclusão

Ponto a ponto, a JAC Hunter vence. Entrega mais capacidade e mais equipamentos, enquanto se equipara à Fiat Titano no acabamento e na dirigibilidade. Claro, se você priorizar desempenho e consumo, a Titano pode te atender melhor. 

Apesar de levar, a JAC merece atenção na compra, pois a rede de atendimento é consideravelmente menor que a da Fiat, um ponto que pode impactar na decisão de um carro de trabalho tanto por atendimento quanto por disponibilidade de peças. Elas não nasceram para brigar com S10, Hilux e Ranger, mas para um cliente que ainda não chega nesta turma que ficou bem mais cara ou que, nesta faixa de preço, não são tão equipadas.

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)

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