Teste Peugeot 2008 GT 2025: justiça seja feita
Finalmente a marca francesa terá como brigar em uma acirrada categoria?
Se você não vê muito Peugeot 2008 nas ruas, a culpa não é do carro. Como diversos bons modelos da marca, eles pagam por erros do passado, como um pós-vendas falho e decisões erradas que defasaram os catálogos locais do que era visto no exterior. Depois de muitos anos, as coisas mudam.
No caso do Peugeot 2008, ele sempre teve qualidades e defeitos, como o acerto da versão com motor 1.6 turbo, mas o erro de ter apenas câmbio manual; ou o bom custo/benefício das versões automáticas, mas uma caixa de quatro marchas com a imagem manchada por problemas. Isso foi corrigido com o tempo da geração anterior, mas que ficou ultrapassada diante da concorrência renovada.
Motor turbo, carro quase europeu
Em 2019, esta geração do Peugeot 2008 foi apresentada na Europa, o que deixou o então nosso 2008 desatualizado. Por lá, foi reestilizado em 2023 e cá está, produzido na Argentina e com os toques para a nossa região. Primeiro, no lugar do motor 1.2 turbo europeu, de até 102 cv e 20,9 kgfm, a opção foi o 1.0 turbo de 125/130 cv e 20,4 kgfm de torque.
Como o hatch 208, o 2008 vem com a plataforma CMP, a base modular que é um ponto alto da dupla. Já conhecíamos um pouco do SUV pela sua versão elétrica, importada da França, e o bom é que não há algo que o diferencia em qualidade de construção deste carro europeu comparado ao argentino. A economia aparece em outros pontos, como o acabamento com mais plásticos rígidos e a ausência de um piloto automático adaptativo, por exemplo.
Isso pois a Peugeot sabe a importância do 2008 em sua estratégia de crescimento. Aprendeu com o 208 que não adiantava não entregar o que o consumidor encontrava na concorrência achando que apenas o visual venderia o carro na concessionária. Invocado, o design do SUV é chamativo e elegante ao mesmo tempo, como as lanternas em LEDs interligadas por uma barra preta com o nome da marca e a dianteira com os faróis em LEDs e as luzes diurnas formadas por arranhados das patas do leão.
O que pode colocar uma questão em um comprador de SUVs compactos é o porte do Peugeot 2008, que não é culpa do projeto nacional, mas sim o que a Europa vê em um carro dessa categoria. Por lá, eles não são tão voltados a um uso familiar e, por isso, o 2008 é menor que um Hyundai Creta, VW T-Cross ou Chevrolet Tracker, por exemplo.
Em comprimento, o 2008 tem 4.309 mm, até maior que Creta, T-Cross e Tracker. Seus 2.612 mm de entre-eixos é menor que os 2.651 mm do VW, quase empatado com os 2.610 mm do Hyundai e maior que os 2.570 mm do Chevrolet. Só que por dentro, o espaço principalmente no banco traseiro não é tão amplo e, em altura para cabeça e largura para os ombros, é mais apertado. Vai dois adultos tranquilo no banco traseiro, mas as pernas ficarão mais apertadas dependendo de quem está na frente. No porta-malas, são 419 litros, um dos maiores e que explica o fato dele ter um bom comprimento, mas espaço interno menor.
Mais uma vez, a perua do 208...ainda bem!
Sim, sempre chamei o 2008 de perua do 208. Pelo lado positivo, segue muito similar ao hatch para dirigir, com a carroceria esticada, que lembra mais uma Station Wagon levantada que um SUV em si. E olha que tenho uma station wagon de verdade na garagem...
Primeiro, a posição de dirigir é a mesma do 208. Não tem uma elevação criada para passar a sensação de estar mais alto, comum dos SUVs. Você pode subir o banco, de forma manual, e ter essa sensação, mas pode usufruir também de uma posição mais baixa, aproveitando a arquitetura i-Cockpit tão famosa da Peugeot.
Um volante menor acompanha um painel de instrumentos elevado que, aqui no 2008 GT, é uma tela com efeito 3D bem interessante de se ter no dia a dia. As informações são personalizáveis e o efeito tridimensional separa o fundo dos escritos, o que impacta quem usa pela primeira vez. Você terá uma posição de dirigir diferente do que está acostumado, com o volante mais baixo e perto de você para aproveitar tudo direito.
O casamento dessa base com o conjunto T200 da Stellantis é um dos melhores trabalhos da Stellantis. É melhor que quando colocado em Pulse, Fastback e Strada, por exemplo, justamente pela CMP ter sido projetada para este tipo de motor na Europa, mesmo que não dessa família. Consegue isolar bem as vibrações e ruídos da cabine com um bom trabalho de coxins e materiais fonoabsorventes. Isso tem um reflexo no conforto geral do 2008.
No dia a dia, o 2008 responde bem. Tem uma certa demora para arrancar mais pelo câmbio CVT que pelo motor em si, que também é claramente capado nas saídas por questões de emissões. Ainda assim, é um carro esperto nas baixas rotações, aproveitado pelo CVT que não joga rotações altas para desenvolver velocidade. O som característico de um tricilíndrico turbo aparece de leve na cabine e até agrada sem exageros.
A suspensão tem a assinatura da Peugeot com toques de Fiat. A carroceria dobra pouco em curvas e a direção elétrica é direta, reforçado pelo pequeno volante. Curiosamente, tem o freio a disco na traseira, único da Stellantis com esse motor que recebeu esse sistema. Pise mais e o 2008 vai corresponder tanto em desempenho quanto em dinâmica e, mesmo assim, tem uma boa dose de conforto e não reclama mesmo em pisos mais acidentados.
O consumo de 8,3 km/litro na cidade, com etanol, está dentro do segmento de SUVs com este tipo de motor. Só que sem um start stop, perde bastante em marcha lenta e poderia melhorar esse número. Na estrada, os 12,4 km/litro também não fogem do segmento, mesmo com o câmbio CVT jogando a rotação para uma faixa mais baixa. É o preço de ter 130 cv em um 1.0 turbo.
Em teste, ativo o modo Sport por um botão quase escondido no lado esquerdo do painel. Nisso, o 2008 vai de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos e retoma na faixa dos 7 segundos tanto de 40 a 100 km/h quanto de 80 a 120 km/h. Mais uma vez, dentro do esperado, melhor do que com o antigo 1.6 aspirado, mas pior que o finado 1.6 turbo THP que estavam na geração anterior. Como referência, o THP chegava aos 100 km/h em 8,2 segundos com retomadas na faixa dos 5 segundos.
Tudo perfeito? Não, ainda não
Interessante que a Peugeot estreou uma nova interface para o sistema multimídia, que ainda tem os espelhamentos sem fios para Apple CarPlay e Android Auto e a tela de 10,3”. É mais fácil de usar e intuitiva, mas o grande avanço foi trazer do carro europeu um conjunto de botões touch abaixo das saídas de ar, que facilitam o acesso a home e comandos da climatização, por exemplo, além do botão físico de volume.
Apesar de não ter os comandos de climatização físicos, você abre isso com um toque na tela e pode retornar para a tela que estava com o mesmo toque. É pior que o botão físico, mas melhor que anteriormente que exigia muita atenção nessa operação. Nesta versão, o ar-condicionado é automático com uma zona.
Todos os comandos estão em fácil acesso – a não ser o botão do modo Sport e o que desliga o alerta de saída de faixas. O freio de estacionamento eletrônico veio em boa hora, mas não tem autohold, assim como mesmo essa versão, não temos um piloto automático adaptativo, apesar de ter até o espaço para o radar na dianteira.
O Peugeot 2008 GT é o topo de linha e custa R$ 169.990 – a marca o vende em seu site por R$ 149.990 em forma promocional. Tem teto-solar panorâmico, alerta de colisão com frenagem automática, alerta de saída de faixa, alerta de ponto-cego e câmera com efeito 3D. É um bom pacote, mas há ausência, como esse piloto automático adaptativo que concorrentes já trazem nesta faixa.
E sim, dessa vez a Peugeot tem um bom carro para a briga deste segmento. Tem a desvantagem do espaço interno e porte menores que Creta e T-Cross, por exemplo, mas é um carro bonito e moderno para quem valoriza isso. A Peugeot não errou na escolha do motor e câmbio dessa vez e esperou para poder ter a reestilização no tempo certo, alinhando os catálogos entre Brasil e Europa. Só resta mostrar aos consumidores que não é a mesma Peugeot que errou no passado.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
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