Mesmo nos novos tempos, potência é um dos principais argumentos de vendas de automóveis. Em qualquer segmento, desde populares 1.0 até elétricos, esse número atrai compradores que, na maioria das vezes, nem vão usar tudo o que o carro tem. Olhe para o Jeep Compass, um líder de segmento que já estava nas lojas com seus 185 cv no 1.3 turbo, e chega na linha 2025 com um novo 2.0 turbo de 272 cv. 

O Jeep Compass Blackhawk pode até ser chamado de versão esportiva. Além dessa potência, tem ajustes em suspensão e freios e algumas pequenas diferenças visuais para quem procura um pouco disso no dia a dia. Por R$ 279.990, é R$ 43 mil mais caro que um Compass S, com o 1.3 turbo e pacote semelhante de equipamentos, o que nos leva a uma clássica pergunta: vale a pena?

Aumente a potência para aumentar as vendas

Chamado de Hurricane 4, esse motor já estava há um tempo no Jeep Wrangler e ganhou mais uso nos últimos anos, como o próprio Compass norte-americano, que trocou o 2.4 aspirado por ele em uma calibração de 203 cv e 30,5 kgfm. No Brasil, em teoria, ele não seria tão necessário, já que o SUV usa o 1.3 turbo de até 185 cv e 27,5 kgfm, mas alguém no marketing achou que isso aumentaria as vendas simplesmente para alguém poder falar que tem um Compass de 272 cv.

Como equipa as versões mais caras do Compass, o 2.0 turbo não poderia ter só 18 cv a mais que o 1.3 turbo. São 272 cv (5.200 rpm) e 40,8 kgfm (3.000 rpm), ou 87 cv e 13,3 kgfm extras, algo que já empolga quem os compara na hora da compra. Para isso, tem turbo de duplo fluxo, variadores de fase nos comandos e injeção direta. O conjunto de transmissão é bem conhecido, com o câmbio automático de 9 marchas e sistema de tração integral automática, mais do que testado nesta plataforma. Na traseira, a dupla saída de escape identifica os carros com este motor. 

Visualmente, o Compass Blackhawk é similar a um Compass S, com detalhes externos pintados na cor do carro. O que ele trocou foram as rodas de 19", com um design mais aberto, e a grade dianteira com um desenho interno diferente e mais aberto, para melhorar o arrefecimento do motor que pede mais ar. Por dentro, detalhes nos bancos e no acabamento e um layout diferente no painel de instrumentos na tela de 10,25". No fundo, engana muita gente que acha que ali está só um Compass 1.3T.

Precisa? Não, mas tem

Com o 1.3 turbo, o Jeep Compass já é um carro que anda bem. Entre seus principais concorrentes a combustão, é o mais potente - no teste de 2022, cravou um 9,1 segundos para ir de 0 a 100 km/h - e seus números de vendas não mostravam uma real necessidade de alguma mudança mecânica. Mas já que a Stellantis estava com o conjunto pronto para picape Ram Rampage, por quê não colocar nos Jeep com quem compartilha a plataforma?

Primeiro, é perceptível que o 2.0 turbo entra bem apertado nesse cofre. A proteção do capô teve até que ser modificada para não encostar na alta caixa de ar do Hurricane 4 e pela forma com que ele está ali, é explicada a necessidade das aberturas extras na dianteira para a entrada de ar e radiador maior, por exemplo. 

Dá para entender os motivos pelos quais vimos tantas vezes o Compass em testes camuflado com este motor. A suspensão foi retrabalhada e precisava tanto segurar a carroceria como um carro de quase 300 cv, mas não perder conforto de um SUV familiar e nem pensar em amortecedores adaptativos, consideravelmente caros. 

O Compass Blackhawk é mais firme que as demais versões, mas longe de causar desconforto. A rolagem da carroceria é menor e as curvas, mesmo mais rápidas, não assustam - o sistema de tração integral tem parte nisso, jogando força no eixo traseiro quando se faz necessário, mas totalmente desacoplável quando não é preciso para economizar (?) combustível. A dinâmica do Compass como um todo sempre foi elogiável, mas aqui ganhou um toque bem interessante.

Para poder atacar essas curvas, o 2.0 turbo cresce com vontade e se aproveita do câmbio de nova marchas, que na verdade trabalha como oito na maior parte do tempo - a primeira faz um papel de reduzida de tão curta que é sua relação. No dia a dia, esse extra pouco faz diferença pra um Compass T270, ainda mais em tráfego ou ciclo urbano, nem mesmo pela troca do câmbio de 6 para 9 marchas. Se seu uso for esse, melhor ficar mesmo no Compass mais "lento" - ainda mais com um consumo urbano de 7,4 km/litro de gasolina.

 A diferença aparece quando o caminho se abre. Um pouco mais de ânimo no pé direito e o 2.0 turbo realmente mostra pro que veio. O Compass (assim como o Commander) não tem um modo Sport, como a Rampage, então basta acelerar. Joga os 40,8 kgfm de torque tão rápido em alguns momentos que nem a tração integral percebe e destraciona a dianteira, que logo é resolvido pelo conjunto. O câmbio em si ás vezes se perde em que marcha vai ou volta, principalmente em retomadas, além de alguns trancos em baixas velocidades - inegável que o melhor parceiro desse conjunto ainda é o 2.0 turbodiesel...

Na estrada, não passa vontade mesmo quando carregado. Se lidar com o consumo de 13,2 km/litro, tem nas mãos um carro com um belo conjunto para viajar ao mesmo tempo que entrega estabilidade e segurança. No nosso teste, foi de 0 a 100 km/h em 6,3 segundos, o mesmo declarado pela marca, mas o melhor é a retomada na faixa dos 4 segundos tanto de 40 a 100 km/h quanto de 80 a 120 km/h. Se precisar frear, os freios tem discos maiores, pinças flutuantes e atuadores mais preparados para essa força e, de fato, não há fadiga mesmo se o colocar para andar rápido em uma boa estrada em serra. Confia que eu testei.

Estados Unidos contra China

Mesmo com o novo motor, o Compass ainda é o que conhecemos há tantos anos. O espaço interno já não o destaca mais, assim como o porta-malas, fruto de um projeto de 2016 e reestilizado em 2021. O pacote ADAS agora tem assistente ativo de direção, um pedido antigo ainda mais para um modelo que vira opção até aos premium depois que estes ficaram bem mais caros - e aqui custa R$ 280 mil.

Ir na contramão da eletrificação é uma aposta curiosa da Stellantis. Olha para um cliente que não confia nas novas chinesas e muito menos entrará na eletrificação neste momento. Na verdade, é um segmento de compradores que querem desempenho mais puro e fazem parte de um grupo um pouco mais tradicionalista quando falamos em carros. Conheço muita gente assim que, com certeza, teriam um Blackhawk na garagem depois que formaram suas famílias e largaram os hatches e sedãs.

Está na mesma faixa de, por exemplo, GWM Haval H6 PHEV34 (R$ 279 mil), que tem 393 cv e 77,7 kgfm combinados, mas uma dinâmica não tão boa quanto o Compass Blackhawk e depende de recarga externa para realmente valer a pena. Não quer necessariamente brigar com as mesmas armas, mas não dá pra negar que esse Compass 2.0 turbo nasceu para marcar território diante dessa nova concorrência, que já foi além de Corolla Cross e Taos faz um tempo.

Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com) 

Jeep Compass Hurricane4

Motor dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.995 cm3, duplo comando de válvulas com variador na admissão e escape, injeção direta, turbo, gasolina
Potência e torque 272 cv a 5.200 rpm / 40,8 kgfm a 3.000 rpm
Transmissão câmbio automático de 9 marchas, tração integral
Suspensão McPherson na dianteira; Multilink na traseira; rodas de 19" com pneus 235/45
Comprimento e entre-eixos 4.404 mm; 2.636 mm
Largura 1.819 mm
Altura 1.640 mm
Peso 1.729 kg em ordem de marcha
Capacidades porta-malas: 476 litros; tanque: 55 litros
Preço como testado R$ 279.990 (Blackhawk)
Aceleração 0 a 60 km/h: 3,1 s; 0 a 80 km/h: 4,6 s; 0 a 100 km/h: 6,3 s
Retomada 40 a 100 km/h (em D): 4,4 s; 80 a 120 km/h (em D): 4,0 s
Consumo de combustível cidade: 7,4 km/litro; estrada: 13,2 km/litro (gasolina)
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