Na história do automóvel, muitos nascem de necessidades militares. Um dos mais luxuosos SUVs do mundo foi criado assim, atendendo um pedido do Rei do Irã em 1972, e que se tornou um veículo civil em 1979. Aos 44 anos, o Classe G é um dos Mercedes-Benz mais importantes do catálogo e ainda tem muito o que fazer por muitos anos.
No Brasil, o G-Wagon chega como Mercedes-AMG G 63, assinado pela divisão esportiva como um monstro de 585 cv em um V8 4.0 biturbo, o mesmo que equipa outros topo de linha da empresa e o Aston Martin DBX. Mas não se engane com o visual quadrado, como seus antecessores, pois há muita evolução neste que é um dos ícones da indústria.
O Classe G chega nas mãos dos consumidores normais depois que foi desenvolvido em uma parceria da Mercedes-Benz com uma empresa da Áustria - inclusive, ele é produzido por lá até hoje. Erroneamente, há quem ache que é o mesmo carro até então, mas em 2018 foi apresentada esta geração, mais refinada, mas mantendo muitas características do passado por uma questão de robustez.
O W463 mantém a construção chassi-carroceria. Segundo a marca, a escolha foi pela maior rigidez no uso fora-de-estrada e proteção de componentes, mas a construção da carroceria é refinada para ter gaps de carroceria e isolamento dignos de um carro de luxo, com mais alumínio e materiais leves e resistentes. Apesar do visual, apenas as maçanetas, lavadores dos faróis e o estepe na tampa traseira são peças compartilhadas.
Naquele momento, o G-Wagon já era uma sensação entre os modelos de luxo - preste atenção em músicas de rap norte-americano e nas garagens de celebridades para entender o quão esse carro se tornou cool nos últimos anos. Para atender esse público (e poder cobrar por isso), a engenharia também trocou a caixa de direção por uma elétrica com relação variável e mais precisa, além da suspensão dianteira em duplo-A, mais refinada que o eixo rígido, que ainda está na traseira com o fivelink.
E o G 63 carrega muita tecnologia, como os assistentes de condução, painel de instrumentos em tela configurável, mas tem o reflexo dos Mercedes-Benz de 2018: a tela central não é sensível ao toque e não tem espelhamentos sem fios, por exemplo. Mas, na boa, não sei se isso afetará sua decisão depois de colocar as mãos no volante do G 63.
Se você for mais do que um comentarista de site e tem o mínimo de curiosidade por automóveis, com certeza vai compartilhar comigo que o Classe G é um dos automóveis que mais desperta curiosidade para se dirigir. As formas quadradas se misturam com o V8 biturbo da Mercedes-AMG e temos diversos pontos bem curiosos.
Por exemplo, as maçanetas vem diretamente do passado, assim como a força que as portas pedem para fechar com um barulho seco, mas por dentro há um acabamento de primeira, com couro, Alcantara e fibra de carbono. Em uma construção chassi-carroceria, suspensão com amortecedores adaptativos e, com o motor V8, um sistema de tração com três diferenciais blocantes individualmente por botões no painel.
Aos 44 anos, o G 63 tem mais fôlego que você aos 35. São 585 cv e 86,7 kgfm de torque no V8 4.0 biturbo, o M177, tão famoso na AMG como um dos motores assinados pelo engenheiro que o montou - neste caso, o Rafael Birjac, em Affalterbach. Os turbos estão entre as duas bancadas de cabeçotes, reduzindo o turbolag e melhorando as respostas, e até mesmo a central de controle tem arrefecimento a líquido para não perder velocidade de processamento.
Não é a configuração mais potente deste V8, mas é um dos roncos mais belos que (ainda) temos. As duplas saídas de escape estão abaixo da porta traseira e o borbulhar do V8 encanta os ouvidos. Dá para ouvir a marcha-lenta, quando ele ativa ou desativa o sistema de desligamento de cilindros, e quando ele assume um ronco mais agressivo com pé embaixo, principalmente em cada troca de marcha em alta rotação.
Apesar desse conjunto de tração vindo do mundo fora-de-estrada, o G 63 usa um câmbio automatizado de dupla embreagem e 9 marchas, outro ponto que contrasta com esse visual quadradão, mas é um ponto que precisa justificar o fato de ser, sim, um legítimo AMG.
Na prática, dá para entender os motivos para pagarem tão caro no G 63. Para quem dinheiro não é problema, será recompensado com um SUV bem diferente de qualquer coisa que seu dinheiro pode comprar, mesmo que seja um Porsche Cayenne Turbo GT ou um Aston Marton DBX. Depois de ter que bater forte a porta para fechar, o acabamento e como as coisas estão distribuídas no interior vão muito bem.
Não há suspensão pneumática, mas os amortecedores se ajustam aos modos de condução e estuda diversos parâmetros, como velocidade e inclinação de carroceria, para encontrar os melhores ajustes. Apesar das rodas 22", ele é confortável e, mesmo com o estilo rústico, tem a direção bem precisa e relativamente rápida - é algo bem diferente do que encontramos em um Jeep Wrangler, por exemplo. Em baixa carga de acelerador, ele desativa metade de seus cilindros e ajuda a poupar um pouco de combustível - na cidade, os 4,8 km/litro até que não são exagerados para esse carro. Na estrada, os 6,5 km/litro não animam e agradeça a aerodinâmica e o peso.
Libere os 585 cv e nem parece que é um SUV de 4,87 m de comprimento e 2.595 kg. Não há um controle de largada e mesmo assim ele arranca mais rápido que muito esportivo ou pseudo-esportivos por aí. Em nosso teste, chegou aos 100 km/h em 5,2 segundos e vai até os 240 km/h, limitados eletronicamente, com muita saúde. O conjunto de suspensão e direção te passa segurança para ir além de onde você acha que um SUV assim consegue ir. Ele aponta em curvas e, com um sistema de embreagens, distribui a tração em até 40% na dianteira e 60% na traseira.
Chega a ser interessante como ele muda de comportamento. É suave no dia a dia, nem parece ser tão potente, e as trocas de marchas são quase imperceptíveis e calmas. Se não fosse pelo ronco do sistema de escape valvulado, passaria quase despercebido - ou não, se for verde - e ainda leva um sistema de som Burmester de alta definição, vidros duplos para isolamento acústico e uma boa dose de assistentes de condução. Pé embaixo e é um AMG, com trancos nas trocas e muita força para engolir o que está na frente.
Aos que torcem o nariz para o G 63, ele é incrivelmente afiado para andar rápido. Dá para usá-lo também para levar uma carretinha com um esportivo para a pista sem fazer feio, ou usar no dia a dia sem problemas. Ele chama a atenção pelo visual, mas ainda mais por quem sabe que carro é aquele e ao menos um pouco de sua história.
Off-Road? Tem caixa de redução, além dos diferenciais com bloqueios mecânicos, mas você não vai querer estragar a pintura do seu carro de quase R$ 2 milhões, certo? Afinal, o que ele faz no asfalto já vai muito bem e deixa no passado seu lado militar. Mas eu sei que tem uma coisa que você pode não ter gostado...
Confesso que gostei dessa unidade que a Mercedes-Benz configurou para sua frota. A pintura verde fosco com as rodas de 22" chamam a atenção, mas tudo isso tem um preço. O G 63 está tabelado em R$ 1.869.900, um dos mais caros do país, mas prepare mais R$ 77.400 pelo Green Hell Magno, R$ 22.700 pelas rodas monobloco e R$ 30 mil pelo AMG Night, que escurece diversos detalhes por dentro e por fora. Tudo isso é customizável e, se quiser, não terá outro G 63 igual ao seu.
Aos 44 anos, é um carro de respeito e para poucos. Quem compra precisa entender sua história e seu charme. Terá um elétrico em 2024, mas já vimos que essa alma se manterá mesmo nos novos tempos. Que dure muito ainda e, se der com esse belo motor V8.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Mercedes-AMG G 63
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