Teste: Fiat Pulse Abarth faz jus aos esportivos do passado com toque SUV
Definitivamente não foi só colocar um motor de Jeep Compass no compacto...
Pegar um Fiat Pulse, o motor do Jeep Compass com 185 cv, fazer alguns ajustes e está pronto um esportivo o suficiente para ser assinado como Abarth. Sim, eu mesmo fiquei um pouco desconfiado que isso poderia dar certo e não estava acreditando que ele seria o suficiente bom para honrar 500 Abarth, Punto T-Jet e Tempra Turbo. Mas algo aconteceu.
Há tempos que eu não ficava tão curioso por um carro como esse Pulse Abarth. Quando chegou, passei alguns minutos tentando me entender com esse visual um pouco carregado cheio de escritos e logos da Abarth espalhados (e considerando quais arrancaria se o carro fosse meu). Mas confesso que ele me ganhou quando dei a primeira partida.
Ronquinho de esportivo...
Poucos dias antes, me despedi do BMW X6 M Competition, que vocês lerão o teste completo em breve. Sair dele para o Abarth parecia algo até difícil (e é), mas é assim que a profissão funciona. Por outro lado, quando acionei o botão de partida, o Pulse Abarth me recepcionou com um ronco encorpado e que faz questão de mostrar que "to acordado, vamos embora!". Não é o mesmo que o do BMW e seu V8 4.4, mas vamos com calma nas comparações, minha gente...
Na era dos ecologicamente corretos, aquele sistema de escape era um gracejo. A engenharia da Stellantis casou o 1.3 turbo com um conjunto de abafadores e programação para dar esse ronco ao Pulse. Mantém os 180/185 cv e 27,5 kgfm de torque dos demais modelos que usam esse motor, assim como o câmbio automático de 6 marchas, mas a recalibração de todos os sistemas eletrônicos mudam o comportamento do Abarth.
Mas não adiantaria nada só jogar esse motor reprogramado no Pulse. Primeiro, precisavam criar um esportivo que fizesse curva como um hatch sem perder a altura de SUV. Molas e amortecedores foram recalibrados e são até 13% mais firmes que de um Pulse normal. Barra estabilizadora é mais grossa, com 20 mm, o que reduziu a rolagem da carroceria sem reduzir muito a altura de 217 mm - no Pulse Impetus é de 224 mm. O eixo traseiro é 15% mais rígido, exclusivo para o Abarth.
A direção elétrica é mais direta e comunicativa e o vetorizador de torque ajuda a entrar - e sair - das curvas com a ajuda de um controle de tração e estabilidade um pouco mais permissivo que o normal, mesmo quando ligado. Você comprou um esportivo, vai levar um esportivo para casa. Até as rodas de 17" são mais leves e largas (17x7" versus as 17x6" no Pulse Impetus) e veste pneus mais largos, 215/50 contra os 205/50 da versão normal.
Um pouco afobado, mas boa companhia
Já dirigi todos os modelos da Stellantis que usam esse motor no Brasil: Jeep Renegade, Compass e Commander e os Fiat Toro e Fastback. E o Pulse Abarth se desloca de todos eles, até mesmo do Fastback que é um by Abarth, justamente pela proposta esportiva. Isso pode ser bom ou não, dependendo do seu humor naquele momento.
Mesmo no uso normal, o Abarth insiste que ele é diferente de seus irmãos e primos. Enquanto nos demais 1.3 turbo o câmbio tende a aproveitar o torque de baixas, o Pulse Abarth insiste em marchas mais baixas, mesmo com pouca carga no acelerador. Está sempre acordado, pronto para o abate, e acaba incomodando um pouco pelo certo exagero. O acelerador tem uma programação também mais direta e responsiva, que pede um pouco de costume do motorista.
O sempre acordado Pulse Abarth mostra ao motorista que ele não é apenas uma roupinha esportiva. Mesmo assim, com boa parte do torque disponível em baixas e um peso de 1.281 kg, consegue ter um consumo bom na cidade, marcando 8,3 km/litro com etanol. Não tem um modo Eco de condução, o que poderia amansar um pouco o Pulse Abarth e melhorar essa média - que foi a mesma do Fastback com este motor.
Se você assinou o cheque por um esportivo, não espera necessariamente conforto. Essa suspensão especial do Pulse Abarth deixou o pequeno SUV um pouco mais duro, que não necessariamente significa desconfortável. É perceptível a diferença entre ele e os Pulse comuns, como principalmente na direção mais pesada e a carroceria que copia mais o que passa por baixo das rodas de 17" com pneus de perfil 50, mas chega a ser mais confortável que alguns SUVs compactos em suas versões normais.
Esqueça que sou um SUV, mas lembre que sou um SUV
Me peguei em alguns momentos abrindo a janela do Pulse Abarth para ouvir a mistura de ronco do escape e do turbo enchendo nas faixas intermediárias de rotação. Ele ganha velocidade e, nas trocas, dá até alguns pipocos - e nem entramos no modo Poison ainda. Não poucos momentos acabei costurando no trânsito das marginais de São Paulo empolgado com as respostas e pelo fato de não ser um carro grande, que permite isso.
Na estrada, é um pouco complicado manter o limite de 120 km/h para um teste de consumo, que ficou em 11,5 km/litro com etanol. Sabe aquele câmbio que gosta de reduzir as marchas? A média não foi melhor pela insistência dele. Assinou um esportivo, lembra?
Botão Poison acionado, o painel de 7" assume outra configuração, com direito a pressão do turbo e nível de potência. O acelerador está ainda mais sensível e o ronco ainda mais encorpado. O Pulse Abarth já chega com 0 a 100 km/h em 7,5 segundos em nosso teste e retomadas na faixa dos 5 segundos, respeitáveis para seus 185 cv. O câmbio, apesar de um automático tradicional, faz as trocas rápidas e com trancos, só pensando em baixar esse número. Imagina se tivesse algum dupla embreagem...
Nas curvas, a carroceria realmente dobra pouco e os pneus, Dunlop SP Sport, agarram o asfalto. O vetorizador de torque faz o restante do trabalho de puxar o Pulse Abarth para dentro da curva e faz um certo milagre, com pouca saída de frente e uma traseira bem equilibrada. O câmbio reduz as marchas (aqui sim, útil) nas entradas das curvas para ter força no contorno e sair já com bastante força. A direção é mais direta e comunicativa, mas talvez eu colocasse ainda mais um pouco de carga no Poison.
Os freios valem uma menção. Mesmo com tambores na traseira, os 37,6 metros de 100 km/h a 0 não o colocaram em fadiga, nem mesmo quando abusei um pouco mais do sistema para as fotos. O câmbio reduz as marchas sozinho para ajudar nas frenagens, mas o tambor traseiro com refrigeração a ar forçada garantiram que o Pulse Abarth não perdesse eficiência mesmo depois de diversas chamadas no pedal seguidas.
Não foi só isso que chamou minha atenção no Pulse Abarth. No dia a dia, conto com um sistema multimídia de 10,1" com espelhamento sem fio, freio de estacionamento eletrônico com o útil autohold, ar-condicionado automático, faróis em LEDs, alerta de colisão, alerta de saída de faixa, chave presencial com partida remota e partida por botão, listando os principais equipamentos. As pedaleiras em alumínio são bonitas e completam o toque de esportivo.
Ao mesmo tempo que tenho um carro com tocada esportiva, tenho as vantagens do SUV, como passar por valetas e lombadas sem tanta preocupação com o bodykit e até mesmo fugir de um alagamento na chuvosa São Paulo no verão, como realmente aconteceu enquanto pensava como seria ter um hatch com aquele ajuste. Bancos confortáveis e que abraçam o corpo, espaço traseiro bom com saídas de ar e porta-malas suficiente para um casal com filho, por exemplo. Faltaram itens como um piloto automático adaptativo e um sistema de som assinado, por exemplo, pela faixa de preço.
No fim das contas, o Pulse Abarth me surpreendeu. Não acreditava que ele seria capaz do que é. Se eu tivesse os R$ 149.990 pedidos por ele, só escolheria o Preto Vulcano para ser mais discreto, além de eliminar alguns dos Abarth espalhados pela carroceria e os detalhes vermelhos. Algumas mudanças no motor? Quem sabe em busca de um pouco mais de ronco e potência, já que o restante do carro deve suportar bem.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fiat Pulse Abarth T270 AT6
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