Quando a BMW apresentou a R 18, ainda em 2020, houve quem achasse que a moto era uma resposta ao ataque da Harley-Davidson, que tinha intenções de ir para cima da R 1250 GS com a Pan America. Até pode ser, mas a grandalhona estradeira é mais uma homenagem às motos originais da marca alemã no início de sua história muitas décadas atrás.
Seu visual foi inspirado pela R5, de 1936, moto da BMW que marcou época e ligou a história da marca com os motores de cilindros contrapostos desde então. A BMW R 18 chegou ao Brasil apenas em agosto de 2022 e custando R$ 139.990. Com produção limitada e importada diretamente de Berlim (ALE), nunca tínhamos conseguido andar nesta homenagem da BMW à sua história, até agora, pois a moto já está esgotada por aqui.
O visual da BMW R 18 é clássico de motos custom, com linhas alongadas, grande tanque e perfil baixo. Além de lembrar as motos do passado da marca e ainda tem finas linhas contornando as laterais do tanque e dois escapamentos ao melhor estilo "rabo de peixe". O maior, literalmente, atrativo de todas as configurações da BMW R 18 é seu motor boxer. Apelidado carinhosamente de "Big Boxer", é simplesmente o motor de dois cilindros contrapostos mais potente já construído na história da marca.
Com 1.802 cm³ de capacidade, ele tem arrefecimento a ar auxiliado por radiador de óleo e entrega 91 cv de potência a 4.750 rpm e impressionantes 16,1 kgfm de torque a 3.000 rpm. A transmissão final é feita por eixo cardã, que tem o funcionamento exposto, enquanto o câmbio mecânico tem 6 marchas. A moto conta com 3 modos de condução: Rock, Roll e Rain.
A moto utiliza garfo telescópico na dianteira com 120 mm de curso, enquanto a traseira tem amortecedor único sob o assento com 90 mm de curso. As rodas são raiadas com aros pretos. Na dianteira, são dois discos de freio, enquanto a traseira tem disco único. Para o Brasil, a moto já vem de série com assento para garupa, item opcional em outros mercados.
De série, a moto já traz painel de instrumentos analógico com pequena tela digital para o computador de bordo e destaque para o "Berlim Built", indicando a origem da moto. A BMW R 18 ainda conta com iluminação completa por LED, chave presencial, partida remota, controle de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa e controle de cruzeiro.
O contato com a BMW R 18 foi inusitado, breve e numa situação completamente errada. Mas como se trata de uma moto tão especial, foi impossível não agarrar a oportunidade. Estávamos no lançamento da F 900 R nacional, dentro do campo de provas da Pirelli no interior paulista. A R 18 estava lá apenas caso alguém tivesse curiosidade de andar, não era a estrela do evento.
E eu estava bem curioso para andar na moto. Ao vivo, a R 18 parece ainda mais especial que nas fotos. Ela é longa, baixa e larga. E nem tenta disfarçar, suas linhas são para aparecer e parecer com as motos originais da BMW. Cada detalhe cromado, cada listra pintada e até o painel único de instrumentos com o mínimo de informações necessárias, tudo é intencional.
Olhando a BMW R 18 passar à sua frente é como assistir uma obra de arte em movimento, principalmente pelo lado que se vê o eixo cardã girando. E também é como ver uma moto orgulhosa de sua própria história que nem pensa em dar satisfações a ninguém. Compará-la com as motos da Harley-Davidson beira o absurdo, pois evoluíram por décadas para chegar ao ponto em que estão. A R 18 foi feita do zero para ser do jeito que você. Ela simplesmente é.
Sentar no banco da R 18 já é uma aventura. A moto impõe respeito antes de subir. Com o assento baixo, é tranquilo manter os pés no chão. Tirá-la do descanso lateral, movendo seus 345 kg, não. Ela usa plataformas no lugar das pedaleiras, que ficam atrás dos enormes cilindros e seu guidão é tão largo que te obriga a guiar com os braços muito abertos.
Ligar a moto é outra questão. Imaginem o que é dar partida em dois cilindros de 900 cm3 cada que estão pendurados um pra cada lado. É tão amedrontador quanto parece. Ao dar a ignição, a moto inteira se inclina para lá e para cá você tem que segurar firme no guidão. Ao acelerar, a moto oscila para o lado também, mesmo quando está parada.
A saída com a BMW R 18 é relativamente dócil, a embreagem não é tão pesada e você só precisa se acostumar com a alavanca de câmbio em pêndulo, com as marchas para cima acionadas da forma normal, mas as reduções sendo feitas com o calcanhar. É uma necessidade em motos que usam plataforma no lugar de pedaleiras.
A postura também é estranha, com os braços abertos e para frente, mas as pernas ficam atrás dos cilindros, dobradas como em uma cadeira. Não tem como usar um comando avançado na R 18. Logo nos primeiros metros, o grande motor 1.800 se faz presente, seja vibrando ou seja empurrando a moto com o mínimo de rotação.
Só que, lembrando, estávamos em pista. A R 18 lá era como levar um elefante para uma loja de cristais. Já na segunda curva, o primeiro susto: as plataformas raspam no chão com grande facilidade. A moto em si não exige muito esforço na hora de deitar para as contornar, mas fica o aviso para não largar as caras plataformas no asfalto.
O comportamento do motor em acelerações surpreendeu, entregando mais em médias rotações. E por entrega digo performance e ronco. Em lenta, os dois cilindros são comedidos e um tanto embaralhados, em média e alta, começa a emitir um som rasgado e metálico.
Enrolar o cabo da BMW R 18 e levá-la ao corte de giro antes de trocar de marcha é algo mais emocionante até os 140 km/h do que levar uma esportiva aos 300 km/h. Com o giro subindo, o motor 1.800 começa a ganhar ronco, vibrar, parece que tudo fica no limite de seu controle. O som rasgado, a vibração e assistir ao ponteiro do velocímetro vibrando junto com o resto da moto parece mais algo vindo de um caça da Segunda Guerra do que de uma moto.
As voltas foram poucas, mas já foi o necessário para poder dizer que "eu já andei de BMW R 18", e será algo que vou repetir sempre que me perguntarem a respeito. Tanto esforço para guiar, tanto barulho e tanta vibração podem ser vistos como defeitos, mas como qualquer dono de carro velho vai te dizer: não é defeito é charme. Se quisesse, a BMW poderia ter eliminado todas estas características, tem habilidade para isso. Se estão lá, foi intencional.
Você vai levar uma BMW R 18 para casa não porque é a melhor opção objetiva do segmento. Mas porque você quer e não vai se desculpar por isso, assim como a moto. Eu detesto quando o marketing usa a palavra "experiência" para qualquer coisa. Mas o que passei em 15 minutos a bordo da R 18 é um exemplo de como usar a palavra experiência da forma certa.
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