Ao criar esta nova geração do C3, a Citroën focou em fazer um produto barato para atender uma parcela maior de clientes. No Brasil, colocou o motor 1.0 aspirado nas versões de entrada para justamente trabalhar com preço e o 1.6 aspirado com câmbio automático na posição superior. Mas quanto mais caro um carro, mais exigente se torna o cliente.
Só para relembrar, nosso primeiro teste foi com o C3 Feel 1.0, a versão mais completa com o motor menor do hatch compacto. Seu preço fica entre os hatches compactos tradicionais, como Hyundai HB20 e Chevrolet Onix, e os subcompactos como o Renault Kwid. Dessa vez, o C3 Feel Pack 1.6 AT está com quase o mesmo preço dos hatches automáticos. Ainda convence?
O projeto do novo Citroën C3 é assumidamente para um carro mais acessível, com maior probabilidade de volume em todos os mercados onde for vendido. Usa a plataforma CMP, de origem PSA, a mesma que está no Peugeot 208, e se aproveitou do que o grupo aprendeu com seu irmão para adotar os mesmos motores: 1.0 aspirado e 1.6 aspirado, este último com câmbio manual de 5 marchas ou automático de 6 marchas.
O C3 Feel Pack é o topo da gama (desconsiderando a First Edition, de tiragem limitada) e tem esse conjunto do 1.6 aspirado de 113/120 cv e 15,4/15,7 kgfm de torque, com duplo comando e variador na admissão, em par com o já conhecido câmbio automático de 6 marchas fornecido pela Aisin e que equipa uma série de modelos em diversas montadores - ou seja, não é a caixa conhecida por problemas da era PSA.
Por R$ 96.990, são R$ 14.500 a mais que o Feel 1.0, o mais completo com o motor menor. Além do conjunto mecânico, recebe as rodas de 15" com acabamento diamantado, faróis de neblina, câmera de ré, volante em couro e o modo ECO para condução, que muda respostas de motor e câmbio.
A não ser os detalhes, o C3 Feel Pack é idêntico aos demais da linha. Seus 3.981 mm o coloca entre o Renault Kwid (3.680 mm) e o Hyundai HB20 (3.940 mm), por exemplo, mas aposta no entre-eixos de 2.540 mm para brigar com os compactos como o Chevrolet Onix (2.551 mm), além da altura de 1.586 mm e o estilo aventureiro que, ainda bem, a Citroën não vende como SUV.
Isso deu ao C3 um bom espaço interno. No banco traseiro, espaço para as pernas de dois adultos, mas um terceiro ao centro já se sentirá mais apertado nos ombros. No porta-malas, 315 litros são bons, mas o parachoque traseiro atrapalha na hora de colocar ou retirar objetos mais pesados, formando um "muro". Não fica devendo nesse sentido aos hatches compactos tradicionais, acomodando bem ocupantes e bagagem.
Mas não tem como fugir de um carro que nasceu para ser barato. No acabamento, plástico em tudo. Tecido, apenas nas portas, com uma faixa em azul no painel para disfarçar um pouco a simplicidade do C3. A montagem é boa, mas ainda encontramos algumas rebarbas em alguns pontos - isso ainda foi aceito no teste do 1.0 aspirado, mas quando o C3 chega perto dos R$ 100 mil, essa simplicidade já não é tão bem vista.
Quando fiz o teste do C3 1.0, gostei bastante de como ele se comporta no dia a dia. O Firefly responde bem em baixas rotações e o conjunto de direção elétrica e suspensão elevada o transforma em um bom carro para uso diário urbano, leve e fácil de usar com bom conforto. O que eu esperava do 1.6 automático? Mais do que isso.
No Feel Pack, o C3 mantém a suspensão com curso longo, com 180 mm de altura do solo, e a direção elétrica bem leve. Coloque na conta que você não precisa trocar de marcha e teríamos tudo para o C3 Feel Pack ser uma ótima opção de compra. Com gasolina, chegamos aos 9,6 km/litro de consumo na cidade, um bom número para um motor com a idade desse 1.6, mas há um porém nesse jogo.
Todo o teste de consumo foi feito no modo ECO, que deixa transmissão e motor focados em economizar, como diz o próprio nome. Só que diferente dos motores mais modernos, este 1.6 gosta de girar para dar seus números de potência e torque - o pico de torque aparece a 4.500 rpm, enquanto potência está em 6.000 rpm. Só que o câmbio faz as trocas bem mais cedo que isso, deixando o C3 1.6 com respostas bem fracas e lentas.
Você pode desligar o modo ECO, mas isso irá prejudicar o consumo. A transmissão vai esticar mais as marchas para o 1.6 render o que realmente pode, mas não chegará nas médias que conseguimos. Na estrada, os 16,4 km/litro aparecem com o modo econômico, mas manter os 120 km/h exige paciência e algumas reduções de marcha para ter força e seguir o ritmo de uma rodovia.
Para o teste de desempenho, o modo ECO está desligado. O 0 a 100 km/h foi feito em 11,8 segundos (com gasolina), um número dentro do esperado para sua potência. As retomadas em 8,7 segundos mostram como esse motor gosta de girar em aceleração máxima, um comportamento que os novos motores turbo vão sentido contrário: mais em baixas para melhorar consumo.
O câmbio acaba se perdendo em algumas situações por esse comportamento de motor, chegando a alguns trancos durante essas indecisões. Em diversas situações, fez a troca para cima, mas logo reduziu em seguida. Ele mesmo não sabe se vai pro lado do consumo ou do desempenho e discute com o 1.6 aspirado - se fosse algum 1.0 turbo ou até mesmo o 1.3 aspirado da Stellantis com o CVT, o comportamento em uso comum seria bem melhor a julgar pelos modelos que já os usam.
Por R$ 96.990, ainda é um dos carros automáticos mais baratos do Brasil, mas vamos com calma. Lembra que falei que ele era um projeto para ficar entre os subcompactos e os compactos? Além do acabamento, o painel de instrumentos extremamente simples e sem conta-giros até pode ser relevado no 1.0 aspirado, mas perto dos R$ 100 mil, difícil não achar isso um pouco demais para economizar.
Isso passa pelo acabamento e pelo pacote de equipamentos. Há uma moderna tela de 10" com espelhamento sem fios, mas não há mais que os dois airbags obrigatórios, além dos controles de tração e estabilidade. Como referência, o Peugeot 208 usa o mesmo conjunto de motor e câmbio na versão Active pelos mesmos R$ 96.990, mas com maior refinamento e mais equipamentos, como os 4 airbags. Ou o Fiat Cronos Drive 1.3 CVT, um sedã com maior espaço interno e pacote de equipamentos parecido ao do C3, por R$ 98.990. Um HB20 Comfort, 1.0 turbo e automático, está R$ 100.390.
Não é um carro ruim, mas nesse preço, esperamos um pouco mais em pontos como equipamentos e acabamento, mesmo sendo um dos automáticos mais baratos do país. Se for pra valer a pena ter um C3, ainda seria um 1.0 aspirado. Se a Stellantis tivesse colocado o 1.3 aspirado com o CVT, o comportamento seria melhor, mas o preço poderia também ser maior. Nem sempre ter mais é melhor.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Citroën C3 1.6 AT6
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