Entre crise de suprimentos e logística, demanda maior que a oferta e todos os problemas que o brasileiro que quer comprar um carro 0km enfrenta hoje, a realidade é que não sobrou mais nenhum carro novo em nosso mercado por menos de R$ 65 mil. Se é que existe um lado positivo nessa história é que pelo menos os carros de entrada estão bem mais modernos, seguros e econômicos que no passado.
Para investigar esse novo normal, o Motor1.com avaliou o Renault Kwid, um dos carros menos caros do Brasil, em sua versão intermediária Intense. Você vai ter que assinar uma dívida de R$ 69.490? Sim, mas o hatch ao menos entrega o que apelidei de "kit dignidade plus", pois vai além de "ar, direção, vidro e trava". A modernidade também veio na forma de consumo, pois, testado com gasolina, fez algumas motocicletas passarem vergonha, como vocês verão abaixo.
O novo Renault Kwid apareceu em janeiro, com uma mudança visual que o colocou mais a par do século XXI. Por mais que eu pessoalmente prefira a simplicidade de propósito do modelo anterior, não tem como negar que o carro mais barato da marca ficou bem mais moderno. Falando nisso, também ganhou equipamentos extras e, principalmente para o intuito deste texto, modificações no motor.
Apesar de não adotar o motor 1.0 SCe do Sandero, manteve o 3 cilindros com comando duplo que recebeu uma nova calibração, mas sem variador de fase, além de nova central eletrônica e novo sensor de fase. Além de melhorar o consumo, com a ajuda do sistema start-stop, o Kwid chegou aos 68 cv e 9,4 kgfm de torque com gasolina (2 cv extras) e 71 cv e 10 kgfm com etanol, uma melhora de 1 cv e 0,2 kgfm, mesmo com as novas normas.
Até mesmo o alternador mudou. O Kwid 2023 recebe um sistema pilotado para a peça. Ao invés de recarregar a bateria nas acelerações, aproveita as desacelerações e tira o peso no momento das arrancadas, onde o consumo de combustível é mais prejudicado. O câmbio de cinco marchas também foi mantido.
O grande susto mesmo que o "novo normal" do Renault Kwid Intense impõe, principalmente pra quem já teve carro 1.0 dos anos 1990 onde tampa de porta-luva era opcional, é a lista de equipamentos de série. Mesmo não sendo a mais completa, a configuração já traz itens importantes como direção com assistência elétrica, ar-condicionado, luzes diurnas de LEDs, painel de instrumentos digital, computador de bordo e abertura interna do porta-malas.
Ao contrário dos populares do passado, o Kwid não deixou a segurança de lado, mesmo porque a Renault é obrigada por lei a entregar algumas coisas de série, mas foi além. Dois airbags dianteiros mandatórios são complementados por mais 2 laterais e o pequeno hatch já conta com controle de estabilidade, controle de tração, assistente de partida em rampa e monitoramento da pressão dos pneus .
Na versão Intense, as maçanetas são pintadas na cor do carro. Um pequeno toque para não parecer tão básico. A configuração também é a primeira a receber chave canivete, central multimídia com Android Auto e Apple Car Play, lanternas traseiras com lâmpadas de LED, câmera de ré e controles de áudio na coluna de direção. A única ode ao passado é que as rodas de 14 polegadas ainda são de ferro e disfarçadas por calotas. As de liga leve são opcionais, também em 14".
Algumas características do Renault Kwid já exploramos amplamente em nossas avaliações passadas da versão de entrada Zen e da completa Outsider. Mas não foge muito do que você provavelmente já sabe: é um carro com acabamento e comportamento básico. O plástico rígido é predominante na cabine e a dirigibilidade do carro não empolga, mas é segura, valendo destacar apenas que a suspensão é um tanto firme nos buracos e as pancadas secas mais fortes acabam chegando aos passageiros.
Só que 30 anos de evolução dos carros fizeram milagres para os modelos mais simples que você pode (ou não) comprar. O Kwid Intense consegue conciliar uma carroceria pequena por fora com espaço para 4 adultos por dentro. Além disso, contar com uma boa central multimídia e uma câmera de ré não só está anos-luz à frente de um Corsa Wind 1995, como se transformou em algo esperado pelos compradores na medida que os preços subiram. Daí o termo dignidade plus, porque ninguém merece andar em um carro sem ar-condicionado ou mais que o mínimo de segurança.
A ideia aqui era mais testar o comportamento do motor tricilíndrico do Kwid com gasolina, afinal, são poucos os estados no Brasil onde o etanol vale a pena. No uso, a diferença de desempenho beira o imperceptível, com a maior mudança que notei sendo o carro respondendo melhor na fase fria apenas.
Grande parte do esforço que o Motor1.com coloca em seus testes instrumentados vem de nossa realidade onde os combustíveis sempre são caros e, por mais que os valores pareçam controlados agora, nada impede que essa realidade mude no próximo mês, por exemplo. Ter um carro que é comprovadamente econômico é uma segurança de longo prazo para o bolso.
E veio do consumo a maior surpresa do Renault Kwid Intense abastecido com gasolina. Em nosso ciclo urbano, o carro cravou 15,3 km/l, número que se manteve na minha realidade: moro em região com muitas ladeiras, pego trânsito constantemente para ir ao trabalho e o ar-condicionado ficou ligado boa parte do tempo.
Para nossa metrificação de consumo rodoviário, colocamos o Kwid para rodar a 120 km/h constantes. Nesse caso, sem o ar-condicionado ligado, o carro fez 15,7 km/l. Confesso que o número me decepcionou um pouco por ser muito próximo do uso urbano. Mas como nosso editor de testes Leo Fortunatti havia adiantado, carros de uso urbano não são tão eficientes na estrada pelo escalonamento do câmbio e aerodinâmica.
Cumpridos os compromissos com nossos testes instrumentados, fiz o que boa parte das pessoas que estão com um carro novo na garagem fazem: uma boa farofa com a família e amigos. Usei o Kwid Intense em uma viagem pessoal com a família e amigos. Quatro adultos e bagagem para um final de semana na praia não me deram esperança de que o carro ia ter um consumo melhor que no ciclo de testes.
Pesado, com ar-condicionado ligado e indo e voltando do litoral com pesados trechos de subida de serra na volta, nem me preocupei mais em fazer um consumo bom, o que viesse era lucro. Ao contrário dos antigos 1.0 que mal chegavam em nos 50 cv, o Kwid deu conta de pegar a estrada sem sustos, sobrando até um pouco de fôlego para uma eventual ultrapassagem na subida da serra, mesmo que fosse necessário esticar as marchas. Ainda é um carro 1.0 aspirado...
O que mais impressiona para quem vem de um velho carro popular é o conforto. Os ruídos de vento e rolagem dos pneus estão lá, mas não impedem uma conversa normal na cabine. Com o ar ligado e a música rolando na multimídia, a experiência foi até confortável para um carro que se presta a ser um dos mais baratos do Brasil. Mesmo os passageiros que não eram tão ligados em carro, passado o susto inicial com o valor do Kwid Intense, entenderam que o "baratinho" da Renault não decepcionava ao entregar mais que o mínimo.
Na volta, além da subida da serra no litoral paulista, o Kwid ainda pegou mais ladeira para deixar os amigos na região do Pico do Jaraguá, na capital paulista, e também de volta para a minha casa. Ao guardar o carro na garagem veio o susto, um bom susto: o computador de bordo do carro acusou um consumo de 18,1 km/l.
Estudando melhor o trajeto, claro que a descida da serra ajudou na ida, mas foi compensada pela subida na volta. Lembram que nossos testes de estrada são a 120 km/h? No trajeto que fiz, ao menos metade do caminho tinha estradas cujo o limite de velocidade não passava de 100 km/h. Para manter 120 km/h, o câmbio curto do Kwid deixa o giro se aproximar dos 4.000 giros. A 100 km/h, a rotação é bem mais baixa e o carro fica mais econômico, esse é o segredo. Particularmente, já testei e fui proprietário de motos que gastavam mais gasolina que o Kwid na estrada.
E se você ainda está pensando em comprar o modelo de entrada da Renault no Brasil porque é o que suas condições permitem, pode ir tranquilo que você estará mais seguro e confortável que no passado. A versão Intense compensa os R$ 2.900 sobre a versão básica por seus itens extras e, com um pouquinho de paciência, vai deixar até os conhecidos de moto com inveja do consumo com gasolina do Kwid.
Renault Kwid
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