Teste Fiat Fastback 1.3T Limited Edition: O terceiro longe dos populares
Depois de Toro e Pulse, SUV-cupê posiciona a marca em patamar superior para te fazer esquecer Palio e Uno
Casa de Uno e Palio, a Fiat não quer mais ser conhecida por seus populares. Ao mesmo tempo, não vai em rumo a modelos que não podem ser comprados por uma boa parcela da população. O Fiat Fastback, depois de Toro e Pulse, coloca novas regras dentro da marca italiana e tem a missão de afastar a aura de carro simples que por tanto tempo foi o principal negócio da empresa, mas não pode afastar os clientes das lojas.
O Fastback acena para clientes com mais dinheiro e mais exigentes. Este, o Fastback Limited Edition (que não é limitado...) by Abarth, tem motor 1.3 turbo de Jeep Renegade, Compass e Commander, carroceria SUV-cupê e acabamento para chamar compradores de outras marcas e que, provavelmente, há tempos não pensam em ter um Fiat. Faz isso com maestria, mas não deixou sua origem de carro compacto de lado.
De origem humilde, mas só a origem
A Fiat precisava de uma plataforma para esses modelos mais caros, mas sem gastar demais a ponto de ter que os precificar muito acima. A engenharia brasileira criou a MLA, que evolui o que está no Argo e Cronos, com diversas mudanças em construção, materiais, arquitetura eletrônica e suspensão, por exemplo. Estreou no Pulse e o Fastback foi além, crescendo com o balanço traseiro avançado.
A engenharia da Stellantis apareceu com o Fastback pela primeira vez antes mesmo de colocar o Pulse nas lojas. Ainda um pacotão lotado de camuflagens, chamou a atenção pelo balanço traseiro consideravelmente maior e chegou-se a falar inclusive em um novo Cronos. De fato, é o que mais muda estruturalmente ao lado do Pulse, além do trabalho de design para dar o estilo cupê.
As dimensões finais mostram isso. O Fastback tem 4.427 mm de comprimento, maior até mesmo que o Jeep Compass, de 4.404 mm, mas o restante das medidas revela lado compacto. A largura de 1.774 mm é a mesma do Pulse. Entre os eixos, os 2.533 mm são quase os mesmos do irmão menor - o 1 mm a mais é por ajuste de suspensão. Sem os racks no teto, chega a ser mais baixo, com 1.545 mm.
A equipe de design queria um caimento cupê do teto. Para ser suave, tiveram que alongar o balanço traseiro de forma com que ficasse algo bonito, sem exageros ou quedas bruscas demais, proporcional. Enquanto o balanço dianteiro chega a ser curto, com o para-choque bem reto para passar a sensação de carro robusto, o traseiro é longo e é ele quem dá esse comprimento ao Fastback. Na linha dos ombros, um vinco na traseira se destaca e dá uma musculatura do SUV, que faz toda a diferença no visual.
Os grandes apliques laterais ficam mais condizentes no Fastback que no Pulse pelo tamanho geral do carro. As rodas de 18" preenchem melhor as caixas de rodas, apesar de finas para o tamanho do espaço. A própria Fiat apresentou um carro customizado com rodas de 19", mais largas e com pneus mais largos, que casou bem melhor com o conjunto todo, mas a homologação não permitiu isso nos carros finais.
A traseira lembra a do BMW X6? As lanternas finas em LEDs e até mesmo os vincos no topo da tampa, já no teto do carro, nos levam diretamente ao SUV premium, com certeza. Na dianteira, os faróis full-LEDs são diferentes do Pulse, já que ele integra as luzes de direção também em LEDs no conjunto do DRL, enquanto o menor usa uma lâmpada halógena, e o para-choque é a peça que veremos no Pulse Abarth, com uma grade colmeia, faróis de neblina bem baixos e entradas de ar laterais.
Sensação de algo superior, ainda um compacto
Não adiantaria nada fazer um carro bonito, que passa uma boa sensação, se por dentro, onde está quem comprou, fosse simplório. O Fastback não nega as origens e nem sua missão principal, de ainda ser acessível a um cliente que não chega aos premium, mas não economizou totalmente com as equipes de design e materiais.
Já desde o Argo que a Fiat aprendeu a trabalhar com plásticos. No Fastback, como já tinha apresentado no Pulse, o jogo de desenhos e texturas com esse material faz um conjunto interessante, apesar de saber que é uma forma de economizar nos materiais mais nobres. Aliás, a linha básica do interior do Fastback é do Pulse, uma receita bem aceita, que teve que ser melhorada para subir um degrau.
A parte superior do painel é a mesma do Pulse. Existe um casamento entre o painel, que interliga as portas. Uma peça em cinza quebra o preto do interior e, nesta versão, recebe uma plaqueta "by Abarth", que explico o sentido dela daqui pouco parágrafos. O painel de instrumentos com a tela de 7" e o sistema multimídia elevado, com 10,1", dão o toque de modernidade, assim como o preto brilhante em detalhes, como as saídas de ar e maçanetas.
E como dar um ar superior ao Fastback? O console central é uma peça única, mais alta, que divide a parte dianteira em dois ambientes. Para isso, aplicaram, pela primeira vez em um Fiat nacional, o freio de estacionamento eletrônico com função autohold, que permitiu criar um baú escondido e colocar as saídas de ar-condicionado para o banco traseiro. Com isso, o conjunto de comandos de climatização e funções do carro está mais inclinado para cima e, logo abaixo, um carregador por indução com refrigeração e duas portas USB-C.
Sabe a frase "não esqueça suas origens"? O Fastback não esqueceu. No interior, peças que conhecemos do Argo e Cronos, como para-sol sem iluminação, botões de vidros e retrovisores elétricos, botão de partida, até mesmo o volante, que muda o revestimento mas é o mesmo dos modelos mais baratos. No "by Abarth", tudo recebe um acabamento em preto, com peças que encontrávamos nas antigas versões mais caras do Argo, como o finado HGT ou até nas versões de entrada, como alguns comandos. Se não fosse a partida remota e o novo logo, seria a chave presencial dos sedã e hatch compactos.
É na hora de ver o espaço interno que lembramos a origem do Fastback. No porta-malas, os 516 litros de capacidade são a maior jogada para um vendedor convencer um comprador de SUV compacto a levar o Fastback para casa. É profundo e de fácil acesso pela grande tampa traseira, um agrado a quem tem filhos pequenos e que ainda usam carrinhos de transporte, por exemplo, ou casais que viajam bastante e levam "a casa" junto.
O vendedor terá que ter jogo de cintura quando os clientes abrirem as portas. No banco traseiro, o espaço para as pernas não é um destaque, sendo ainda menor se os ocupantes da frente tiverem mais de 1,70 m de altura. Não sobra muito e, o ocupante do meio, ficará bem apertado nos ombros e terá que brigar com o console, que abriga os difusores de ar-condicionado, e um túnel relativamente alto.
A engenharia da Stellantis pegou o banco traseiro do Pulse e mudou o ângulo de assento e encosto para compensar o caimento do teto. O espaço para a cabeça acomoda uma pessoa até 1,80 m no limite e o assento é curto mesmo para pessoas mais baixas. Não é o mais confortável, devendo até para alguns hatches e sedãs compactos do mercado nesse ponto. O estilo prejudicou a usabilidade? Sim. E os encostos de cabeça quando levantados atrapalham a visibilidade traseira quase que totalmente.
By Abarth, mas não um Abarth
O Fastback é, por enquanto, o menor modelo a usar o motor 1.3 turbo T270. A assinatura "By Abarth" veio por causa da chegada da divisão esportiva no Brasil, que acontece com o Pulse em breve. O Fastback não carrega o pacote completo Abarth, apenas o motor 1.3 turbo e alguns ajustes de programação e de transmissão.
Para ser um Abarth completo precisaria de tratamentos no sistema de escape e suspensão, mas já serve como uma prévia do que veremos em breve. São 180/185 cv e 27,5 kgfm em um motor que conta com injeção direta, variador de fase no escape e MultiAir na admissão, como o que já encontramos na Fiat Toro e nos Jeep nacionais, com o câmbio automático de 6 marchas.
É um carro de 1.304 kg com um motor potente. No uso diário, é força de sobra desde as baixas rotações, com a transmissão aproveitando para fazer as trocas cedo. Um pouco mais de acelerador e ele ganha velocidade sem nem mesmo reduzir marchas de forma com que você se pega fazendo isso com uma certa frequencia. O consumo urbano de 8,3 km/litro tem a ajuda do start/stop, que desliga o carro antes mesmo da parada total, e por esse trabalho do câmbio com trocas em baixas rotações. Sentimos a direção elétrica um pouco mais pesada em manobras que no Pulse, mas colocamos isso na conta das rodas de 18" e pneus maiores.
O Fastback tem um bom acerto de suspensão. Como o Pulse, o SUV cupê tem molas e amortecedores com uma ampla capacidade de absorver os impactos, mesmo quando colocado em situações mais extremas, como aquela lombada que você não viu no caminho - que aconteceu comigo com o carro cheio. Em locais mais esburacados, irá sentir pelos pneus de perfil baixo que repassam mais para o volante, além de exigir mais cuidado para não danificá-los.
O botão no volante com o escorpião da Abarth ativa o modo Sport do Fastback. Motor e câmbio ficam mais ligadões e a direção mais pesada. Não tem um controle de largada, mas jogou o 0 a 100 km/h para 8 segundos, enquanto o Renegade 1.3 turbo FWD fez isso em 9 segundos. O câmbio segura mais as marchas e o acelerador mais sensível faz com que o T270 cresça ainda mais com uma bastante fôlego para ultrapassagens, com retomadas na faixa dos 5 a 6 segundos. O consumo rodoviário de 12,6 km/litro é bom.
Lembra que falei que ele não é totalmente um Abarth? Exato. Em "gás total", o Fastback cresce bem, mas é perceptível que a suspensão com foco em conforto faz o SUV parecer que tem mais potência do que o necessário em alguns momentos. A frente levanta e prejudica um pouco a comunicação entre motorista e carro. Não é algo exagerado, mas uma suspensão mais firme, como o esperado para o Pulse Abarth, faz falta. Ele deixa a carroceria dobrar, apesar do vetorizador de torque colocar o SUV no rumo certo nas curvas mais fechadas e as saídas de frente serem bem contidas para um carro desse tamanho.
O sistema de freios, com discos na dianteira e tambor na traseira, é bem sensível. O pedal, a qualquer toque, é até chato de achar uma modulação para o uso diário, ficando um pouco exagerado. Em nosso teste, os 40,4 metros de 100 km/h a 0 é um bom número, que poderia ser melhor com uma suspensão mais firme pelo mergulho da dianteira. Os tambores traseiros tem um sistema de refrigeração a ar, com aletas, e não deu fadiga mesmo depois de uma volta em pista bem empolgada.
O que falta? O que deu certo?
O Fiat Fastback é um projeto que divide opiniões. Um design de carro maior em uma carroceria compacta acabou nos dando um espaço interno apenas "OK", mas que não o destaca. No porta-malas, uma capacidade digna dos sedãs compactos e que chama a atenção diante dos concorrentes mais tradicionais.
Em equipamentos, faltaram itens como airbags de cortina e controle de cruzeiro adaptativo para o alinhar melhor no segmento. Na sua faixa de preço, temos Hyundai Creta Platinum 1.0 turbo, Volkswagen T-Cross Comfortline 1.0 turbo, Honda HR-V EXL 1.5 aspirado e Chevrolet Tracker Premier 1.0 turbo - o único que tem o mesmo nível de potência é o seu primo de Stellantis, o Jeep Renegade Longitude. É uma boa forma de afastar a Fiat dos populares sem se afastar, totalmente, dos clientes de um segmento.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com) e divulgação Fiat
Agradecimento: Motor Park Haras Tuiuti
Fiat Fastback T270
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