O segmento de SUVs são o carro-chefe da grande maioria das marcas no mundo, um caminho que parece sem volta. E apesar de parte dos entusiastas torcerem o nariz para eles, marcas como a Porsche puderam seguir sua história graças ao sucesso obtido com o Cayenne há 20 anos. Em 2014 a marca lançou seu segundo SUV, o Macan, que chega ao Brasil com uma segunda reestilização na linha 2023.
Vendido em quatro versões no país (Macan, T, S e GTS), o Macan GTS figura no alto da gama e assim herda as novidades visuais na carroceria e cabine das demais configurações, mas logicamente as adaptando à sua maneira. A atualização visual é a última do SUV antes de ganhar sua nova geração prevista para o ano que vem, que contará ainda com uma inédita versão 100% elétrica. Mas enquanto a geração seguinte ainda está no forno, adiantamos que o papel de SUV realmente esportivo é cumprido com maestria pelo Macan GTS.
O Macan GTS traz as mesmas mudanças visuais das demais versões da linha 2023. Ou seja, mudam as entradas de ar frontais que ficam mais integradas e o desenho do para-choque, porém toda a parte central dessa região é pintada de preto – uma das principais características da linha GTS. A configuração soma ainda saias laterais e rodas de liga-leve de 21 polegadas, que no caso da versão testada é o modelo Exclusive Design Sport pintado de cinza e que custam R$ 8.751. Na traseira, a diferença é a lanterna em cinza, spoiler maior em preto e quatro saídas de escape na mesma tonalidade.
Quando vamos para a cabine, o Macan GTS 2023 também traz o console com os botões sensíveis ao toque como as demais versões, novidade que disfarça muito bem os 8 anos de projeto do Macan e que acabou deixando o interior mais refinado. Já a central multimídia com tela de 10,9 polegadas de boa resolução segue igual antes, mas não é das mais intuitivas, já que é necessário fazer vários toques para acessar algumas funções.
Embora o painel de instrumentos seja bastante completo e traga a clássica configuração de três mostradores com o conta-giros central com o logo GTS, o equipamento também denuncia a idade do Macan pela pequena tela colorida da direita com resolução aquém do nível do SUV esportivo.
De contrapartida, todo o interior mantém o alto nível de acabamento, com revestimento suave ao toque no painel e nas portas, além de detalhes em alumínio escovado escurecido e o belo relógio na parte superior central do painel, que deixa o ponteiro em posição central automaticamente quando o carro é desligado. No caso desse Macan GTS, eis uma bela configuração de revestimento interno em couro com costuras vermelhas com partes em camurça, no qual a marca chama de vermelho Carmine com partes em Race Tex. Gostou? Esse acabamento traz ainda logos GTS nos bancos e conta-giros em vermelho, um adicional de R$ 29.258.
Para mover o menor SUV da Porsche, que não é tão pequeno assim com seus 4.726 m de comprimento, 1.927 de largura e peso de 1.960 kg, eis o já conhecido motor V6 de 2,9 litros biturbo, mesmo conjunto mecânico que equipa o Audi RS 4. Mas como é de se esperar, no Macan GTS este motor tem calibração própria da Porsche. De tamanho compacto, o V6 2.9 conta com turbocompressores alocados entre as bancadas de cilindros. Na prática, o caminho dos gases de combustão até às turbinas fica mais curto, o que leva a uma resposta mais ágil do turbo e assim garante respostas mais rápidas, algo que podemos ver na prática e que vamos contar adiante.
Usado desde o GTS do primeiro facelift, o motor V6 2.9 biturbo da família EA839 rende agora nada menos do que 440 cv de potência e 56,08 kgfm de torque, o que significa um aumento de 60 cv e 4,08 kgfm em relação ao Macan GTS anterior graças a uma atualização feita pela marca. É um bom rendimento para um seis-cilindros, gerenciado pela transmissão PDK automatizada de dupla embreagem banhada a óleo, despachando a força para a tração integral sob demanda, que pode enviar parte dos 440 cv para as rodas traseiras com uma calibração exclusiva no GTS. Comparado ao Macan S, que usa o mesmo motor com calibração mais "mansa", o GTS tem 60 cv a mais.
O SUV ainda conta com barras estabilizadoras mais grossas, além de suspensão pneumática com ajuste de altura, que pode ser rebaixada em 10 mm com o toque de um botão no lado esquerdo do console central, além do famoso sistema PASM (Porsche Active Suspension Management) que consiste em amortecedores adaptativos eletrônicos. De acordo com a marca de Sttutgart, as molas dianteiras dessa safra do Macan GTS são 10% mais rígidas, enquanto as molas do eixo traseiro são 15% mais firmes.
Ao abrir a porta do Macan GTS, já me deparo com a cabine tradicional dos Porsche onde o motorista é o protagonista. Tudo está a mão com sua boa ergonomia, enquanto tradições do histórico da marca nas pistas, como a ignição do lado esquerdo, se mantêm de forma um pouco diferente: não é mais preciso encaixar a bela chave em formato de 911 no nicho da ignição, pois ali existe uma espécie de chave fixa para ser girada e assim colocar o V6 para funcionar. Motor ligado e o ronco é abafado. Experimente apertar o botão com o símbolo de escapamento no console para abrir as válvulas e assim ouvir um ronco mais alto e grave.
Ajusto o banco de 18 vias que mais parece tipo concha, mas com a vantagem dos apoios laterais serem eletricamente ajustáveis (com direito a ajuste de lombar e na parte central do encosto), te apertando ou lhe deixando mais “folgado” caso deseje. O volante também eletricamente ajustável também permite achar uma posição milimétrica para dirigir. Dia encerrado de trabalho na redação, é hora de ir embora para casa. Alavanca de câmbio colocada em Drive, é hora de ver como o Macan GTS se comporta no dia a dia.
Apesar da cavalaria, ele pode ser usado de forma civilizada. Vantagens da tecnológica atual onde carros acima de 400 cv são totalmente usáveis com seus modos de condução e suspensões que se adaptam a qualquer via. Disponível com quatro modos de condução selecionáveis por um botão giratório no volante (Normal, Sport, Sport Plus e Individual, esse último configurável) o Macan GTS roda no modo Normal como um utilitário tradicional, absorvendo com maestria os buracos e valetas e trocando rapidamente as marchas de forma imperceptível para manter o consumo um pouco mais baixo, que na cidade ficou na casa dos 7 km/litro em nosso teste.
No uso na estrada, a média de consumo aumenta para 10 km/litro em uso moderado em velocidades de cruzeiro, ou seja, sem abusar das ultrapassagens na faixa da esquerda ou mesmo sair um pouco mais empolgado do pedágio. Caso você faça isso, os números no computador de bordo vão despencar, mas quem liga para isso em SUV de 440 cv, não é mesmo?
Subindo o modo de condução para o nível Sport, o SUV alemão sobe mais a rotação e fica mais arisco, além da suspensão ganhar maior rigidez, mas jogue para o modo Sport Plus e veja a mágica acontecer. A carroceria baixa 1 centímetro e a suspensão alterna para sua capacidade máxima de rigidez. Pronto, o Macan GTS está pronto para jogar os 440 cv para o chão com trocas rápidas de marcha como manda a tradição do PDK – e fez isso de forma exemplar.
Em nossos testes, o SUV foi de 0 a 100 km/h em nada menos do que 4,1 segundos, ou 0,4 s a menos do que o declarado pela Porsche com o SUV equipado com o pacote Sport Chrono. Para a retomada de 80 km/h a 120 km/h ele leva só 2,9 s. A velocidade máxima declarada pela fábrica fica em 272 km/h.
Para os fãs de números, os 440 cv podem parecer pouco em tempos de SUVs que já ultrapassam os 600 cv, mas a questão aqui é que o Macan GTS entrega toda a potência e torque para o chão. Fica a sensação de que não há nenhuma perda de força no meio do caminho, principalmente quando o controle de largada é ativado e literalmente cola as costas no banco. O V6 tem o torque máximo já em 1.900 rpm, mas o motor é bem elástico e o torque se mantém em até 5.600 rpm, enquanto a potência máxima é atingida entre 5.700 rpm e 6.600 rpm.
Apesar das quase 2 toneladas de peso, chama a atenção como o Macan GTS não parece um SUV na dinâmica, se aproximando muito mais de um hatch esportivo, pois o motorista mal sente a transferência de carga em mudanças de direção. O clichê de parecer rodar sobre trilhos também se encaixa muito bem, pois sua velocidade de contorno em curvas surpreende e a carroceria praticamente não oscila, fora que a direção é bem direta.
Você acaba lembrando que está em um utilitário por conta da posição de dirigir mais vertical (como se tivesse sentado em uma “cadeira”), sem que as pernas fiquem esticadas, como seria em um 718 Boxster, por exemplo. Porém comparado aos SUVs da categoria, o Macan tem uma posição até baixa de guiar.
Como um modelo premium que se preze com preço a partir de R$ 669.000, o Macan GTS traz um pacote de equipamentos completo como seis airbags, teto solar panorâmico, banco com regulagem elétrica de 8 vias com memória (o banco de 16 vias é opcional por R$ 2.369), assistente de estacionamento automático, bancos dianteiros aquecidos, ar-condicionado automático de três zonas, faróis full-LED, freios com revestimento de carboneto de tungstênio e pinças vermelhas, estepe aro 19, pacote Sport Chrono com seletor de modos de condução, central multimídia com tela de 10,9” com suporte a Apple CarPlay, sistema de som Bose e mais.
O Macan GTS é a escolha para quem quer ter um Porsche versátil na cidade, sem ter que apelar para o grandalhão Cayenne, que acaba sendo menos prático. Além disso, o SUV atende aquele cliente que almeja ter um carro da marca alemã, mas não quer sacrificar em nossas ruas um 718 Boxster ou um 911 para uso diário. Além disso, não é todo dia que você encontra um utilitário capaz de andar num trackday num domingo de manhã e na volta carregar aquela despesa de última hora no supermercado.
Porsche Macan GTS
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