Teste Hyundai Creta Limited 1.0T: Intermediária competente
Versão intermediária do SUV evoluiu muito, mas é claramente mais simples que as versões acima
Eu estava lá em 2017 quando a Hyundai finalmente entrou no concorrido segmento dos SUVs compactos. O Creta chegou de carona após o sucesso de modelos como o Jeep Renegade e o Honda HR-V. Naquela época, a abordagem foi muito similar à do HB20, o primeiro carro nacional da marca: conservador, mas competente.
Em agosto do ano passado, o Hyundai Creta finalmente recebeu uma repaginação profunda após anos de pequenas atualizações. Desde as primeiras notícias sobre o novo visual, similar ao do modelo indiano, o carro prometia causar polêmica. Agora, com alguns meses de mercado e já testado aqui no Motor1.com na versão Platinum - mais completa com o motor 1.0 turbo, o SUV já deixou para trás o "ar de novidade", ainda mais com a recente reestilização do Jeep Renegade.
E é agora que a evolução do conjunto tem que falar mais alto, com a mescla de preço, pacote de equipamentos e desempenho ganhando um papel fundamental na hora de conquistar mais compradores. Para entender esse novo momento do Hyundai Creta, testamos a versão Limited que, apesar do nome, é a intermediária do SUV com o novo motor 1.0 turbo e sai por a partir R$ 131.490.
Aparelhagem parelha
A lista de equipamentos de série do Hyundai Creta Limited é ampla. Inclui computador de bordo com tela de 3,5”, direção elétrica, controle de cruzeiro, start-stop, central multimídia de 8” com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, sistema Bluelink, faróis de neblina, rodas de liga leve de 17” diamantadas, volante em couro, sensor de estacionamento traseiro, ar-condicionado automático, carregador wireless para smartphone, paddle-shift no volante para troca de marcha, chave presencial, partida por botão, saída de ar para a fileira traseira e retrovisores laterais com rebatimento elétrico.
A parte de segurança é coberta por controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, seis airbags, monitoramento de pressão dos pneus, câmera de ré, luz diurna de LED e acendimento automático dos faróis. Muito legal, não é mesmo? Pena que um Jeep Renegade Sport, versão de entrada do rival, tem um pacote maior de itens de série por um preço semelhante.
O concorrente tem mimos que os compradores gostam, como faróis de LEDs e freio de estacionamento eletrônico. O Creta Limited ainda deve em equipamentos de segurança como frenagem autônoma de emergência e assistente de permanência em faixa. A vantagem do Hyundai é a tela da multimídia, 1 polegada maior.
A mecânica foi uma das novidades do Hyundai Creta repaginado. Aqui, ele entrou no território Volkswagen, com um 1.0 turbo de três cilindros e injeção direta de combustível. Flex, ele entrega até 120 cv de potência a 6.000 rpm e 17,5 kgfm de torque a 1.500 rpm. E se a ideia é jogar "Super Trunfo" com Nivus e T-Cross, sai perdendo, pois eles entregam até 128 cv e 20,4 kgfm de torque.
A única opção de câmbio para o Creta 1.0 turbo é automático de 6 marchas, algo que é comum no segmento, exceto pelos equipados com caixa CVT. A tração é só dianteira e o Renegade segue como o único a oferecer tração integral na categoria, mesmo que cobrando bem mais por isso.
Tudo bacana, porém...
Como sempre, contexto: rodei 700 km com o Hyundai Creta Limited graças a uma oportunidade de visitar Paraty (RJ). Quem já fez este trajeto a partir de São Paulo (SP) ou é da região conhece as condições, digamos, "desafiadoras" do caminho, principalmente entre Cunha (SP) e Paraty após um trecho considerável pela BR-116. A região de serra entre as cidades tem pista simples, pouco ou nenhum acostamento e um estado lastimável de conservação. A prova seria de fogo para o SUV.
Para ajudar, peguei a estrada à noite, com chuva e neblina, afinal problema pouco é bobagem. Começando pela Dutra, ficou claro que o novo motor 1.0 anulou a morosidade do antigo 1.6 e mantendo os 110 km/h regulamentares da via, o carro chegou a marcar 11 km/l de consumo com etanol.
A princípio, o carro se comportou bem, sem sinais de falta de fôlego e provendo retomadas rápidas para ultrapassagens, que são constantes em um rodovia dominada por caminhões. O silêncio a bordo estava dentro do que eu esperava na categoria, deixando vazar para a cabine apenas um pouco do ruído de rolagem dos pneus. Com tempo atrás do volante, comecei a apreciar o bom trabalho da Hyundai na renovação da cabine. Ela está mais ampla e com maior uso de linhas e texturas diferentes, dando um ar mais premium para o carro que, no passado, era simples neste aspecto.
O espaço dianteiro é amplo e o traseiro, bom. Apenas o porta-malas, maior que o do Renegade no papel, é raso e fundo. Estava esperando mais pela litragem informada. As horas foram passando a bordo do Creta, sempre com o controle de cruzeiro ligado. Lá pela segunda hora de estrada, a coluna mandou um salve. Muito tempo no banco do motorista faz você perceber que o suporte para a lombar poderia ser melhor.
No começo do trecho de serra, saindo de Cunha, fica nítido que o câmbio do Creta não é dado à esportividade. Afinal, é um carro para os grandes centros e, nesse sentido, trocas nem tão rápidas assim são aceitáveis, até porque elas acontecem de maneira muito suave. Mais de 30 km de curvas depois, o acerto de suspensão e de direção do Creta está mais do que aprovado. Pouca inclinação da carroceria nas idas e vindas contornando a serra e um volante com bom peso e respostas rápidas deram uma sensação de segurança.
Mas aí vieram alguns "soluços". No pior trecho de descida da serra, com limite de velocidade de 20 km/h, usei o modo manual da alavanca para segurar o carro em primeira marcha e aproveitar o freio motor sem abusar dos 4 discos de freio do carro. A rotação chegou a 4.000 rpm e o câmbio simplesmente jogou marcha para cima sem aviso. Em um trecho de curvas fechadas, descida e velocidade baixa, fez-me ficar mais tenso atrás do volante.
Já em Paraty após um motociclista caído, um ônibus atravancado e uma picape que quase rolou morro abaixo, estava na hora de conhecer a região de praias. Com muitas ruas de terra e areia batidas, o maior vão livre em relação a um hatch foi bem-vindo, mas o Creta sacolejou como qualquer veículo de proposta citadina.
Na hora da volta, o câmbio voltou a exigir minha atenção. No modo automático e subindo a serra aos mesmos 20 km/h, ele deixa a rotação cair abaixo dos 1.500 rpm, seu pico de torque. A demora para redução de segunda para primeira marcha pode ser justificada pelo acerto buscando conforto e economia de combustível, mas deixa transparecer a natureza vibratória do tricilíndrico. Quando ocorre a mudança, o turbo enche rápido e o Creta dispara. Ótimo em condições normais, nem tanto quando acontece no meio de uma curva fechada e ascendente.
De volta na BR-116, que já inspirou tantas músicas e é uma das veias vitais que ligam as duas maiores capitais do país, o Hyundai Creta voltou à sua zona de conforto. Lá, o câmbio trabalha bem com a faixa de entrega do motor e posso dizer que, não fosse a condição adversa da Cunha-Paraty, jamais teria percebido tal comportamento do conjunto. Mas estamos aqui para testar, não é mesmo? E fique tranquilo. Se a ideia não é se aventurar, o SUV permanece sendo uma forma competente de transporte.
Conclusão: melhorou muito, mas não é protagonista
Desde o lançamento, o Hyundai Creta sempre esteve entre os mais vendidos e chegou a ser o líder do segmento. Agora, trouxe um visual bastante diferenciado, uma grande evolução de qualidade na cabine e na dirigibilidade, incluindo um motor mais competente. Porém, deve alguns equipamentos até mesmo na comparação com a versão de entrada do grande nome do segmento, respondendo com um preço um pouco menor.
Hyundai Creta 1.0T
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Novo Hyundai Creta ganha versão elétrica com até 473 km de autonomia
Mercedes-Benz Classe C 2025 é lançado no Brasil; veja os preços
Teste Hyundai Creta Ultimate 1.6T: evolução, polêmicas e liderança
Uruguai: carros e picapes brasileiros dominaram vendas em 2024
México: Hyundai Creta supera Nissan Kicks e entra no top 10
Fiat Mobi 2025: preços, versões, motorização e equipamentos
Hyundai Creta N Line pode receber motor 1.6 turbo se mercado pedir