Primeiras impressões VW Delivery Express+: Pra ficar na liderança
Preço de picape e usabilidade de caminhão para atender os pequenos negócios
A pandemia fez disparar a demanda por serviços de entrega. Com isso, uma legião de comerciais leves começou a aparecer mais e mais nas ruas. São modelos que vão desde um Fiat Fiorino até caminhões pequenos, como Hyundai HR ou versões chassi cabine da Mercedes-Benz Sprinter, por exemplo.
No entanto, enquanto tais veículos derivam muitas vezes de plataformas de automóveis, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) viu uma oportunidade no segmento ao apresentar o Delivery Express, feito com os mesmos padrões dos caminhões da marca, mas em um pacote menor e podendo ser conduzido por motoristas com CNH B, já que seu Peso Bruto Total (PBT) está dentro do limite da categoria, de 3,5 toneladas. Somente em 2021, o número de motoristas profissionais com carta B, subiu 32,9%, segundo a marca.
Por conta disso, o Delivery Express é uma caminhonete aos olhos do governo, pagando pedágio de carro, respeitando os mesmo limites de velocidades e não sendo alvo de restrições de circulação a veículos de carga. Isso oferece um diferencial interessante para quem trabalha com transporte nos grandes centros. Tanto que o menor caminhão da Volkswagen no Brasil acumulou 3.545 emplacamentos no ano passado, superando o Hyundai HR (3.298) e sendo o comercial leve do tipo chassi cabine mais vendido do país. Vale lembrar ainda que o modelo tem até versão elétrica, a e-Delivery.
Porém, o Delivery Express também é um novo desafio para a VWCO, pois a fabricante de caminhões e ônibus precisou atender às normas de emissões e segurança para automóveis de passeio, que ficaram mais restritas no início de 2022. Por conta disso, a marca renovou o modelo, que passou a se chamar Delivery Express+, e ganhou novo propulsor e mais equipamentos de série para se adequar às mesmas normas que um Renault Kwid, por exemplo. Agora, ter um VW Delivery Express+ não sai por menos de R$ 257.000, o que - convenhamos - é preço de picape média diesel de entrada hoje em dia.
O que mudou?
Você não perceberá as alterações do Delivery Express+ só olhando. Você vai literalmente sentado sobre a principal mudança. É o novo propulsor que está abaixo da cabine. Sai de cena o 2.8 da Cummins que o acompanhava o caminhãozinho desde o lançamento e entra um 3.0 turbodiesel de quatro cilindros, que passa a ser fornecido pela Fiat Powetrain e pertence a conhecida família F1C da empresa. No entanto, tem acerto específico para a Volkswagen e a tampa do motor traz o emblema VW.
Ele é capaz de entregar 156 cv de potência a 3.300 rpm e, o mais importante, 36,7 kgfm de torque. A força está disponível entre 1.300 rpm e 2.900 rpm. Pode parecer uma faixa curta de entrega, mas considerando que se trata de um motor a diesel com deslocamento considerável e que ele não passa de 4.000 rpm, é um propulsor bastante elástico. Na comparação com o antigo, manteve o torque, mas ganhou 6 cv.
Com a adoção do novo motor, a VWCO diz ter conseguido reduzir a emissão de óxidos de nitrogênio (NOx) em 75% e de materiais particulados em 65%. Para chegar nesse número, o propulsor utiliza tanto o EGR (sistema de recirculação de gases de escape) quanto o SCR, sistema de tratamento dos gases de escape que utiliza ARLA32.
O novo propulsor da Fiat Powertrain utilizado no VW Delivery Express+ segue acoplado apenas a uma transmissão Eaton manual de 6 velocidades, que teve os engates retrabalhados. A força chega sempre ao eixo traseiro, que é fornecido pela Dana e tem relação final de 4,56:1.
Isso fez o caminhão passar no Proconve L7, mas e as regras de segurança? Isso foi resolvido com o acréscimo de alguns itens. Antes, o Delivery Express tinha duas versões, a básica e a Prime, mais equipada. Agora, o Express+ tem versão única e agregou itens como controles de tração e estabilidade e assistente de partida em rampa.
O caminhãozinho já contava com duplo airbag frontal e ABS com distribuição eletrônica. Por conta da proposta de trabalho mais pesado, ele sempre saiu de fábrica com freios a disco de acionamento hidráulico nas quatro rodas, que são de aço e têm 16 polegadas de diâmetro e calçadas por pneus de medida 225/75 R16C. Aproveitando o ensejo, ar-condicionado passa a ser item de série, somando-se a direção hidráulica, trio elétrico, rádio com Bluetooth e até piloto automático.
Entre outras alterações, vale ressaltar que o Volkswagen Delivery Express+ recebeu ainda bancos com acabamento de tecido sintético, marcador de nível da ARLA32 e sensor de desgaste das pastilhas de freio. O único opcional é o sistema RIO de telemetria e conectividade.
Indo para os itens de ordem prática que não foram mudados, o Delivery Express+ tem duas opções de entre-eixos: 3 metros ou 3,60 m. Respectivamente, o comprimento chega a 5,44 m e 6,24 m. A altura é de 2,37 m, com 2,04 m de largura. No caso do chassi maior, o espaço para o implemento, seja caçamba ou baú, chega a 4,28 m. Nesse caso, um baú de carga geral pode ter até 18,5 m³ de volume, sendo essa uma das grandes vantagens para o transporte urbano.
No demais, o Delivery Express+ tem suspensão dianteira independente com molas helicoidais, com a traseira tendo uma solução mais convencional, com eixo rígido e feixe molas semielípticas. Para ser conduzido com CNH B, seu PBT é de 3.500 kg, o que lhe confere 1.400 kg de carga útil. No entanto, a VWCO diz que ele aguenta até 4.600 kg de PBT. O que você vai fazer com essa informação fica a seu critério. O peso em ordem de marcha do caminhão é de 2.165 kg e 2.275 kg, respectivamente para o entre-eixos menor e o maior.
O plano de manutenção é um pouco diferente de um carro. As revisões são feitas a cada 20.000 km, mas, ao se comprar o veículo, escolhe-se entre 5 planos oferecidos pela VW. Eles cobre o veículo por 5 anos e/ou 300.000 km, incluindo apenas trocas de óleo e filtro ou até bateria, elementos do sistema de controle de emissões, módulos e outros itens de manutenção corretiva. No plano PREV, um acima do mais barato que cobre ainda os itens de revisão periódica o custo mensal chega a R$ 572,50. Já no plano PRIME, que cobre até os itens de emissões, tem um custo por mês de R$ 1.321,50.
Como anda?
Olhando pela dianteira, o Delivery Express+ até lembra o maior caminhão da VWCO, o Meteor, principalmente por conta da faixa cromada na grade superior e os faróis retangulares. No entanto, a novidade é exatamente um meio de caminho entre um comercial leve e um caminhão de fato.
Você ainda precisa subir um degrau para chegar a cabine, enquanto o volante fica quase na horizontal e a coluna de direção depara os pedais de freio e de embreagem, como em uma Kombi. O banco do motorista tem amortecimento como em um caminhão, mas o restante da cabine lembra mais os carros de passeio da Volkswagen, principalmente nos comandos.
A posição de dirigir é mais alta que em qualquer SUV ou picape 0km, mas a VWCO, sabendo que são pequenos empresários que compram o Delivery Express+, tomou alguns cuidados para que essa transição entre carro carro e caminhão seja simples. Por exemplo, a cabine tem mais de 20 porta-trecos espalhados e ao menos duas tomadas 12V. O quebra-sol do motorista tem até espelho.
Todos os comandos têm uma ergonomia similar aos de um carro, como setas, vidros e espelhos. Até mesmo a alavanca de câmbio e a de freio de mão estão nos mesmos lugares. Para se acessar o motor, nada de capô, você tem que bascular a cabine inteira. Parece complexo, mas o Delivery Express+ você puxa uma alavanca na cabine, fecha as portas, puxa outra alavanca do lado de fora e a cabine inteira vai para frente com o auxílio de amortecedores hidráulicos.
Porém, imaginei que não teria muito como escapar da natureza de "caminhão" do Express+. Mas esse sentimento durou 5 minutos no trânsito da Grande São Paulo. Como você senta mais alto, o campo de visão é maior, enquanto os grandes espelhos (duplos em ambos os lados) facilitam o posicionamento do caminhão nas faixas mais estreitas.
O caminhão que testei tinha um baú de carga geral, mas não estava carregado. E sim, a embreagem é mais pesada que a de um carro de passeio, enquanto os engates demandam mais curso e um pouco mais de força do que você está acostumado. Com um pouco de prática, tornam-se naturais. Como até o banco do motorista tem amortecimento, o caminhão tem um nível de conforto similar ao de uma picape média, mesmo nos buracos. Fica o destaque para o isolamento acústico do Delivery Express+, que é similar ao de um carro mesmo.
Apesar de estar vazio, o teste-drive pela Avenida do Estado cruzando São Caetano do Sul, Santo André e Diadema estava pesado e jogando contra o consumo. Uma olhada no computador de bordo revelou a primeira surpresa: o caminhão estava fazendo 8,9 km/l. E não é como se comprometesse o desempenho, pois o motor 3.0 enche rápido. O conta-giros possui uma faixa verde entre 1.500 rpm e 2.300 rpm, indicando a faixa de maior eficiência do propulsor.
Nas ladeiras, o assistente de partida em rampa é um alívio, pois, com o baú, é difícil saber se há alguém colado na traseira, mas em termos de usabilidade, o Delivery Express é praticamente uma caminhonete com a cabine avançada sobre o eixo dianteiro, e só. Até mesmo no trecho rodoviário, não houve dificuldades para acelerar de 50 km/h e 90 km/h. Mas nessa velocidade a aerodinâmica pega e o consumo começa a cair. Ainda é um veículo alto e largo e não dá para brigar com a física.
No final do teste veio o verdadeiro desafio, entrar de ré na garagem. Ajudado pelo diâmetro de giro similar a de um carro (12,9 m) e um bom campo de visão dos espelhos, não foi nada complexo manobrar o Delivery Express+. Mas somente ao descer da cabine que se tem uma noção de que a tarefa em si não é tão simples, mas o caminhão ajudou muito.
Conclusão
Pelos R$ 257.000 iniciais, é difícil bater a proposta de valor do novo Volkswagen Delivery Express+. Basta lembrar que uma Mercedes-Benz Sprinter Street 314 furgão teto alto (que também pode ser conduzida com carta B), que avaliamos recentemente, custava R$ 20 mil a menos, mas tinha um volume de carga bem menor (10,5 m³). O caminhãozinho, arrisco a dizer, concorre com vantagens até mesmo com as picapes médias de cabine simples. No final das contas, entrega a robustez do caminhão com boa parte do conforto e simplicidade de uso de um carro. Não é a toa que está vendendo bem.
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