Teste Mercedes-AMG CLA 35: esportivo (e sorrisos) na medida certa
Com 306 cv, a versão é a porta de entrada para divisão esportiva AMG a R$ 444.900
O avanço da tecnologia propiciou muitas regalias para o mundo moderno como poder assistir séries e filmes a qualquer hora via streaming, pedir carro por aplicativo e poder dirigir esportivos no dia a dia. Sim, embora isso pareça banal nos dias de hoje, até a década de 1990 alguns esportivos eram carros nada práticos e voltados para pequenos passeios aos finais de semana. E felizmente o Mercedes-AMG CLA 35 quebra totalmente essa lógica.
Em dezembro você viu aqui no Motor1.com Brasil o teste com o Mercedes-AMG CLA 45S, a versão mais potente da família AMG com seus 421 cv originados do motor quatro cilindros 2.0 turbo, o mais potente do mundo produzido em série. Mas a segunda geração o CLA com a grife esportiva AMG ganhou a nova versão 35, que é consideravelmente um tanto mais mansa com seus 115 cv a menos. Mas não se engane: esse cupê de quatro portas sofreu uma dieta de potência e torque, mas ainda garante diversão.
Entrada para o mundo AMG
Para quem não acompanha muito a marca, o Mercedes-AMG CLA 35 acabou virando a porta de entrada para a divisão esportiva da marca da estrela de três pontas. Esse papel anteriormente era cumprido na primeira geração pelo CLA 45, que contava com 381 cv de potência em sua última atualização, mas ainda assim existia uma lacuna grande entre o Mercedes CLA 250 tradicional e o Mercedes-AMG CLA 45. Nesse meio termo existia uma diferença gigantesca, tanto de potência quanto de preço. E é nesse sentido que o CLA 35 chegou para compor a gama do menor sedã-cupê da fabricante alemã.
Enquanto o CLA 45S traz uma preparação mais visceral e com direto a plaqueta assinada pelo engenheiro responsável pela montagem completa do motor, o CLA 35 não tem toda essa pompa de exclusividade, já que seu motor é produzido em série. Por isso ele não ostenta esse detalhe, digamos, de “grife”. Assim podemos resumir que, enquanto o CLA 45S briga diretamente com o Audi RS3 Sedan, o CLA 35 fica encarregado de disputar mercado com o S3 Sedan – isso ao menos na Europa, pois os dois modelos da Audi ainda não são vendidos no Brasil.
Ou seja, é uma linha de base para o universo AMG, que briga atualmente no Brasil com o BMW M235i Gran Coupé, que coincidentemente também tem os mesmos 306 cv do CLA 35. E apesar de se tratar de um modelo de base da divisão AMG, não pense que o sedã-cupê não traz bons predicados ou é sem sal, muito pelo contrário.
O que tem sob o capô?
Apesar de não ser assinado por um engenheiro como o CLA 45S amarelo testado aqui no Motor1.com Brasil em dezembro, o motor do CLA 35 não fica devendo na ficha técnica. Seu motor é um quatro cilindros 2.0 turbo a gasolina, que entrega bons 306 cv de potência e 40,8 kgfm de torque.
Ao contrário do que muita gente imagina, este propulsor não é uma versão “amansada”, ou seja, de calibração mais leve do motor 2.0 turbo da família M139 que equipa o CLA 45S, mas sim outro motor 2.0 turbo da família M260. Vale dizer que o M139 lançado em 2019 é baseado no M260 (que surgiu em 2017), mas o motor de 306 cv tem em comum mesmo apenas o bloco e a capacidade cúbica de 1.991 cm3.
Podemos dizer que o motor do CLA 35 acaba sendo mais “comum” por ser um propulsor produzido em série, enquanto o 2.0 turbo M139 do CLA 45S é feito de maneira mais artesanal, ou seja, o M260 não é tão exclusivo assim. Aliás, este conjunto mecânico é o mesmo que está disponível no Brasil para o CLA sem grife AMG: o Mercedes-Benz CLA 250, cujo motor 2,0 litros turbo entrega 224 cv – ou 82 cv a menos do que o CLA 35. Com essa sopa de letrinhas, em resumo a gama do sedã-cupê comercializado fica nessa ordem: Mercedes CLA 250, AMG CLA 35 e AMG CLA 45S.
Mas falando do propulsor M260 do CLA 35, ele traz conjunto formado por um 2,0 litros dotado de uma turbina de duplo fluxo, o famoso twin-scroll ou pulsativo, que tem dois canais independentes para os gases de exaustão que vão para a turbina. O turbo twin-scroll é bastante útil em carros quatro cilindros como o CLA 35, onde os cilindros se movem em pares, assim cada canal do turbo é preenchido com os gases quentes de apenas dois cilindros. No mundo real, esse tipo de turbina reduz o famoso “turbolag” justamente por conta do turbo encher mais rápido.
No caso do CLA 35, a Mercedes-AMG garante que o turbo twin-scroll oferece um crescimento mais rápido do torque em baixas rotações e um aumento forte de potência em altas rotações. Na prática, foi isso realmente o que podemos atestar nos testes de arrancada e de retomadas, que contarei daqui a pouco.
No mais, o motor traz controle variável de válvulas e processo de polimento dos cilindros chamado de CONICSHAPE, que segundo a marca reduz o atrito interno dos pistões dentro dos cilindros. O cárter é de alumínio fundido para reduzir o peso do carro. Há também o sistema de escapamento esportivo AMG, que traz um flap de exaustão controlado automaticamente, cujo ronco muda dependendo do modo de condução escolhido.
Dando a partida
Dar a partida no CLA 35 seria como em um carro comum zero quilômetro hoje em dia, seria. Isso porque ao apertar um botão do lado do painel (tão habitual nos carros atuais), o motor 2.0 desperta com um ronco até encorpado, embora um pouco abafado por estar no modo Comfort, um dos quatro modos de condução do sedã junto do Sport, Sport+ e Individual, configurável, que mudam os parâmetros de resposta do motor, inclusive a sensibilidade do acelerador, além do câmbio e também da direção.
Ao longo dos dias que fiquei com o CLA 35 deu para notar o quanto esse 2.0 turbo é elástico e sempre preparado para aguentar desaforo. Não importa seu grau de maturidade quando se está atrás do volante do CLA, pois toda parada no farol vermelho e o tempo que decorre até o sinal verde abrir é motivo para usar o controle de largada Race Start. Logicamente no uso urbano não se pode desfrutar da arrancada em sua totalidade por motivos óbvios, mas a impulsão dada é tão contagiante quanto aquela de quem vai pela primeira vez em uma montanha-russa ou viaja de avião.
Em nossos testes, o CLA 35 acelerou de 0 a 100 km/h em 5 segundos, o que para os adoradores de Super Trunfo parece pouco frente aos 4,2 segundos do CLA 45S. A retomada de 80 km/h a 120 km/h ficou em apenas 3,4 segundos. Mas eu garanto: a sensação de aceleração nas arrancadas é das costas sendo pressionada contra o banco seguido por um leve frio na barriga.
Culpa do torque de quase 41 kgfm que vai de 3.000 rpm a 4.000 rpm, e também da transmissão automatizada de dupla embreagem de 7 velocidades, que joga uma marcha sobre a outra de forma muito rápida. Junto tudo isso a belos estampidos saindo da dupla saída de escape e pronto: as risadas vêm na em sequência.
Tem papel fundamental nessas sensações também a tração integral 4Matic, que consegue mandar para o chão todo a potência e o torque do motor, podendo chegar na proporção 50:50 neste caso. Não tem derrapada desnecessária aqui, por isso que o verdadeiro soco nas costas é tão intenso, principalmente na passagem de marcha de 1ª para 2ª e da 2ª para a 3ª marcha.
Não cheguei a dirigir por uma estrada tão divertida como a dos Romeiros como o Leo Fortunatti na ocasião do teste com o CLA 45S, mas em algumas estradas do ABC Paulista deu para curtir o comportamento bastante afiado do sedã nas curvas mais fechadas. Por mais que seja clichê, não tem como falar que o carro parece andar sobre trilhos, tamanha é a eficiência do sistema de tração integral. Divertido mesmo é que, por esse comportamento, foi possível ver a indicação da força G no painel digital. Uma das várias funções disponíveis que podem ser configuradas ao seu gosto no quadro de instrumentos. É praticamente a um video-game.
A direção até que é direta e mais pesada no modo Sport+, deixando o motorista mais a par do que acontece sob os pneus 235/35 R19, embora não chegue na mesma comunicabilidade de rivais como BMW. A suspensão é mais firme que a de um CLA 250, podendo ser até incômoda para quem não está habituado a dirigir um carro de proposta mais esportiva, mas nada que os outros pontos não recompensem o motorista. No modo Comfort, a direção fica um tanto mais leve, enquanto que o comportamento geral em si é mais amigável que o CLA 45S – o topo da cadeia alimentar da linha A da Mercedes ao lado do hatch A 45S.
O que você deve saber é, que assim como o CLA 45S, desviar de buracos das nossas vias lunares é um hábito, assim como a atenção redobrada com valetas e entradas de garagem. Se você passar muito rápido, corre o risco de raspar feio ou até quebrar o para-choque frontal. Mas como já disse, o sedã de 306 cv te recompensa e tudo isso faz parte da experiência de ter um esportivo em terras tupiniquins.
Aura esportiva no design
Até aqui você pôde conferir o quanto o motor 2.0 turbo de 360 cv do CLA 35 é um conjunto equilibrado, mas que mostra sua esportividade quando se pisa no pedal da direita. O que completa todo esse espírito esportivo do sedã-cupê, principalmente pela dianteira agressiva com para-choque dotada de amplas entradas de ar e da grade frontal coma e estrela de três pontas em destaque ladeada por um discreto logo AMG à esquerda. Os faróis full-LED são esguios, enquanto o capô tem dois vincos ressaltados na parte central, deixando o modelo com cara de poucos amigos.
Visto de lateral, destaque para as rodas de 19 polegadas pretas, as janelas estreitas e as portas sem molduras, que quando abertas destacam o CLA 35 na multidão. Não é exagero, notei que as portas sem molduras chamaram a atenção de curiosos nas idas ao supermercado e padaria. Logicamente a caída de teto em direção a tampa traseira é a cereja do bolo, juntamente das lanternas com bela assinatura visual em LED que invadem a tampa do porta-malas, bem como do difusor traseiro preto com as duas saídas de escape.
É um visual bem mais harmônico do que o CLA da geração anterior, que tinha um desenho mais caricato. Na opinião deste, é um dos modelos mais bonitos da atual gama da Mercedes. E na cabine não é diferente...
Ao abrir a porta do motorista, o felizardo proprietário dará de cara a bancos estilo concha com revestimento que combina couro e camurça na parte central, material que aparece também nos painéis das portas. O painel tem acabamento em couro perfurado com costuras vermelhas que se repetem no volante e bancos, dando o tom que a esportividade ali é levada à sério – até cintos de segurança vermelhos têm. O volante tem comados sensíveis ao toque e acabamento em alumínio escovado, também presentes no painel e portas e as saídas de ar tem pintura vermelha. É um belo salto de qualidade em relação a geração anterior do sedã.
Destaque também para o sistema MBUX formado por duas telas de 10,2 polegadas, sendo a primeira para o painel de instrumentos e a segunda para a central multimídia – esta no caso com mandos touch e também por meio do mousepad no console central. Para quem é fã de gadgets, no painel é possível configurar diversos modos de visualização: mostradores clássicos, clássico esportivo com tom amarelo, visual limpo e o Supersport, que deixa o conta-giros na parte central com dois gráficos nos lados. Mas ali dá para personalizar e deixar exibindo o boost do turbo, força g, temperatura do óleo, entre outras diversas informações.
Na outra tela do multimídia, é possível deixar as informações com gráficos de potência e torque, bem como temperatura do óleo do motor e da caixa de câmbio visíveis a todos ocupantes do carro. Não exagerei quando disse que era praticamente a customização de um video-game – que se estende até para o projetor de informações no para-brisa, o head-up display.
Na lista de equipamentos, soma bancos dianteiros elétricos com ajuste de lombar e memória, sistema Apple CarPlay e Android Auto para espelhamento de smartphones, câmera de ré com linhas guias, seletor de modos de condução, assistente de estacionamento automático, retrovisor do motorista e espelho interno fotocrômico, teto solar panorâmico, ar-condicionado de duas zonas com saídas de ar traseiras, sistema de som Burmester com subwoofer, função Hold e piloto automático adaptativo, frenagem automática e assistente de faixa. A chave é até presencial, mas somente para a partida, pois é preciso apertar o botão dela para destrancar as portas.
Com pacote de equipamentos com o necessário para um Mercedes-Benz e um comportamento esportivo mais equilibrado que o CLA 45S, o CLA 35 acaba se tornando uma opção mais racional dentro da linha AMG, não tão bruto quanto o 45S. Mas como racionalidade não é um critério muito lá importante para um esportivo, a recomendação é inteirar mais R$ 110 mil e pegar logo o CLA 45S de 421 cv com o quatro cilindros mais potente do mundo, suspensão ativa e motor assinado por algum engenheiro AMG. Agora vá ser feliz porque se o CLA 35 proporciona sorrisos, o CLA 45S te causará gargalhadas.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Galeria: Mercedes-AMG CLA 35
Mercedes-AMG CLA 35
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