Meus pais começaram a trabalhar com transporte escolar em 1998. Eram tempos em que a VW Kombi acabara de receber o teto alto e a porta corrediça lateral para enfrentar a ameaça crescente de rivais como Asia Topic, Kia Besta e Hyundai H100. Mas entre todos os "perueiros" daquela época, a Mercedes-Benz Sprinter era o sonho de consumo pelo conforto e robustez do conjunto, apesar de fora do alcance por conta do preço.
Décadas passaram e os usos para uma Sprinter foram além de transportes convencionais, como correios ou de passageiros. Nos últimos dois anos, os aplicativos de entregas criaram um novo segmento que está atraindo mais profissionais. Por sua vez, a demanda por furgões grandes, mas ainda possíveis de se guiar com uma CNH de automóvel de passeio (B), cresceu também.
É aí que entra a linha Street da Sprinter. Com Peso Bruto Total (PBT) de 3,5 toneladas, pode ser guiada por pessoas habilitadas para conduzir automóveis de passeio e não tem restrições de circulação em grandes centros como veículos pesados. Mas hoje em dia, a concorrência é muito mais severa, abrangendo desde conhecidas rivais como a Fiat Ducato e a recém-renovada Renault Master até modelos que mais parecem caminhões em miniatura, como o Volkswagen Delivery Express e o Iveco Daily.
A nova geração da Mercedes-Benz Sprinter foi apresentada no final de 2019 com um novo visual e mais tecnologia embarcada. A van continua oferecendo um grande leque de opções e carroceria, com chassi cabine, furgão, furgão envidraçado e van de passageiros estando disponíveis. Há ainda três opções de entre-eixos, três de comprimento e mais duas de altura.
Desta vez andamos na Sprinter Street 314 CDI longa com teto alto, uma abaixo da maior configuração oferecida e que, conforme testada, custa nada menos que R$ 237.000 sem contar o ar-condicionado que é opcional nesta configuração. A concorrência está bem próxima, com a Fiat Ducato na configuração furgão longo com teto alto trazendo um pacote similar, apesar de ter tração dianteira, por R$ 215.190. Então será que a Sprinter Street ainda merece ser o sonho de consumo dos transportadores?
Apesar da vocação para o trabalho e dos para-choques pretos complementando o visual básico das rodas de ferro, a Sprinter Street esconde um pacote de equipamentos de série bastante recheado. Ela traz airbag para o motorista, controle de estabilidade, assistente de partida em rampa, trio elétrico, partida por botão, luzes diurnas, rádio com Bluetooth, pré-disposição para tacógrafo, alarme, faróis de neblina, estribo traseiro, piso naval com pontos de ancoragem, volante com ajuste de profundidade e altura e até frenagem autônoma de emergência.
Na lista de opcionais, o Pacote Comfort agrega ar-condicionado, enquanto o pacote Hi-Tech traz ainda sistema multimídia com inteligência artificial MBUX (a mesma dos carros de luxo da Mercedes), câmera de ré, piloto automático e volante multifuncional.
Mas e a parte prática? Nesse quesito, a configuração testada é uma das melhores opções para quem trabalha com transporte. No total, sua área de carga oferece 10,5 m³ de volume útil, tendo uma capacidade para levar até 1.217 kg de peso. Para isso, a Sprinter Street precisa ter medidas generosas também. O peso em ordem de marcha do veículo em si é de 2.283 kg
Com entre-eixos longo e teto alto, o modelo avaliado tem 5,93 m de comprimento, 2,62 m de altura, 2,34 m de largura (contando espelhos) e 3,66 m de entre-eixos. Olhando mais para área de carga, onde realmente a Sprinter faz dinheiro, são 2 metros de altura e 1,79 m de largura. Com isso, é possível ficar em pé no "salão". Além de mais cômodo para quem vai trabalhar, oferece um volume maior de carga - tanto que é uma das versões mais escolhidas por empresas especializadas na conversão de furgões em motorhomes.
Para dar conta de levar mais de 1 tonelada de carga, a Sprinter Street utiliza um propulsor 2.2 diesel biturbo de quatro cilindros. Ele é capaz de entregar 143 cv de potência, mas, como em todo motor a diesel, o que interessa é o torque: 33,7 kgfm disponíveis a partir de 1.200 rpm. A transmissão é mecânica de 6 velocidades e força é enviada para o eixo traseiro.
Falando no eixo traseiro, ainda é rígido e suportado por feixes de mola. É uma solução antiga, mas comprovada e que aguenta as condições de trabalho que este tipo de veículo é submetido. Na frente, a suspensão já é independente. No entanto, o eixo rígido traseiro impacta na altura do assoalho, medida importante para calcular o esforço de carregamento. Na Sprinter Street avaliada, essa altura é 626 mm.
Ainda sobre medidas úteis para as cargas, a Sprinter tem duas portas para acesso à traseira, ambas com 270º de abertura. O vão de acesso por lá tem ainda 1,84 m de altura e 1,55 m de largura. Já a porta corrediça lateral oferece 1,81 m de altura e 1,26 m de largura.
Mais alta do que larga, a Sprinter Street não inspira muita confiança numa primeira olhada. O visual, por outro lado, é bonito, com os faróis afilados e a grande estrela de três pontas da Mercedes-Benz ao centro da grade arrematando um porte imponente. Entrando na área de carga, não se assuste com a falta de acabamento. Isto é a realidade do segmento.
Porém, a abertura das portas e o acesso são bem tranquilos. Na traseira, com o assoalho mais alto por conta do eixo traseiro, há um degrau para facilitar a subida. Lá dentro há espaço para levar tranquilamente 4 motos pequenas. Independente da carga, só de não ter que ficar andando com a cabeça abaixada lá dentro já é um alívio pra quem vai subir e descer da área de carga várias vezes ao dia.
Falando em facilidade de acesso, a grande abertura das portas traseiras também ajuda na hora de subir e descer as cargas. Totalmente abertas, ficam praticamente voltadas para as laterais. Isso é útil num carregamento de rua, por exemplo, pois é possível abrir todas as portas sem que elas fiquem no caminho dos veículos passando na via. No entanto, não é nenhuma exclusividade da Sprinter, pois a Ducato oferece os mesmos 270º de abertura das portas traseiras.
Entrando na cabine do motorista, a sensação que fica é de se entrar em um Classe C básico, como aqueles que a Mercedes oferece para táxi na Alemanha. Acabamento em plástico rígido, mas muito bem montado e encaixado. Está mais para robusto do que para "pelado". Além disso, todos os comandos trazem a mesma sensação de qualidade vista nos carros de luxo, além de estarem dispostos de forma lógica e ergonômica.
Acima do enorme para-brisa, grandes nichos abertos oferecem espaço mais que suficiente para papelada, documentos, pranchetas e outras tralhas do trabalho. Na frente do painel, um bom número de porta-copos e um porta trecos central também ajudam a vencer a labuta diária.
Para dirigir, uma vez que você se acostuma com a posição bem elevada e o volante mais deitado, é a operação de um carro normal. Apesar das grandes dimensões e da ausência de janelas traseiras, os grandes espelhos laterais ajudam a posicionar melhor a Sprinter nas apertadas faixa da região central de São Paulo (SP). Mas, para estacionar, um sensor de ré faz falta, pois é um veículo muito mais comprido que um automóvel convencional.
Claro, não foi possível andar com a Sprinter carregada, mas, minha convivência com vans e furgões diz que esse tipo de veículo se comporta pior quando está vazio. Então, se alguma coisa negativa pudesse aparecer seria dessa forma. E de fato aparece um pouco. A Sprinter sacoleja bastante de um lado para o outro nos buracos por conta da altura elevada, tanto que uma das funções do controle de estabilidade é um auxílio de vento lateral.
Mas é a única situação que quebra o conforto de automóvel ao guiar a Sprinter. Mesmo sem experiência não é complicada para manobrar e o mais importante: não cansa o motorista mesmo em tráfego pesado. Por ser categorizada como uma caminhoneta, não é alvo de restrições de circulação, podendo até rodar na mesma velocidades dos carros nas estradas. Então a ideia da Sprinter é rodar o máximo de tempo possível. E podem perguntar para qualquer dono de transportadora: motorista cansado produz menos.
Cara, mas muito bem feita e equipada. Esse é o resumo curto da Mercedes-Benz Sprinter Street 314 CDI. Quem optar por ela estará pagando a mais pela robustez e a fama da marca e dificilmente se arrependerá. A questão é que, quando o assunto é trabalho, custo de aquisição tem peso extra na hora da compra. No entanto, a Sprinter ainda tem todos os predicados que elevaram a van da Mercedes ao status de sonho de consumo para quem trabalha com transporte.
Motor | 2.2 diesel, 4 cilindros, biturbo, 143 cv (a 3.800 rpm), 33,7 kgfm (entre 1.200 e 2.400 rpm) |
Transmissão | Manual, 6 marchas, tração traseira |
Suspensão dianteira | Independente com molas transversais parabólicas, barra estabilizadora |
Suspensão traseira | Eixo rígido, molas parabólicas, barra estabilizadora |
Comprimento x Altura x Largura (com espelhos) x Entre-eixos | 5.932 mm x 2.620 mm x 2.345 mm x 3.665 mm |
Peso em ordem de marcha x Carga útil | 2.283 kg x 1.217 kg |
Altura do compartimento de carga | 2.009 mm |
Largura do compartimento de carga | 1.797 mm |
Largura entre as caixas de roda traseiras | 1.350 mm |
Volume da área de carga | 10,5 m³ |
Preço (*sem o Pacote Comfort opcional) | R$ 237.000 |
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