Teste BMW 320i M Sport 2021: Não se engane pelos números
Apesar de "apenas" 184 cv, o BMW mais vendido do Brasil ainda é referência em dirigibilidade, equipamentos e conforto
Se a BMW é o que é no mercado brasileiro, deve agradecer muito ao Série 3. Em meados dos anos 1990, a geração E36 se tornou o sonho de consumo da alta sociedade e não é raro cruzar com alguma unidade dessa época ainda rodando e com preços em valorização. Em 2014, o sedã ganhou cidadania brasileira com a produção em Araquari, Santa Catarina, na geração F30.
A atual geração é a G20, a sétima desta linhagem, e tem muito do Brasil em sua vida. Este é o BMW 320i Flex M Sport, que é produzido em Santa Catarina, tem motor que aceita etanol e gasolina e pode ser aberto e ligado pelo iPhone ou Apple Watch em um sistema que envolveu engenharia brasileira na jogada. Mais do que um belo corpo, aparentemente ele tem orgulho de nascer por aqui.
Um Série 3 sempre será um Série 3. Mesmo com a onda de SUVs, o sedã é o importado mais vendido do Brasil e abre uma boa vantagem até dentro do seu segmento que tem concorrentes fortes como o Audi A4, Mercedes-Benz Classe C e Volvo S60. Nesta geração, a plataforma CLAR deu uma base melhor ainda e que explica esse sucesso todo, mesmo falando de uma versão "de entrada" com menos potência.
Apesar de todo esse visual do pacote M Sport, com direito a rodas de 19" e um bodykit mais esportivo, o motor 2.0 turbo (B48B20) mantém os 184 cv e 30,6 kgfm de torque dos demais 320i - é inclusive uma versão bastante parecida com a do a combustão que está no híbrido 330e, que muda o ciclo de combustão de Otto para Miller para ser mais eficiente. Pode não parecer muito pra um 2.0 turbo, mas está longe de fazer o 320i perder o brilho, trabalhando bem com o câmbio automático de 8 marchas e a tão apreciada tração traseira.
Galeria: BMW 320i M Sport 2021 (Teste BR)
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O 320i é o BMW "mais barato" em nosso mercado. Até mesmo os Série 1, Série 2 e X1 são mais caros em suas versões de entrada. Mesmo assim, não é pouco dinheiro, já que o 320i GP 2022 hoje custa R$ 267.950 (única versão com ano/modelo 2022), enquanto a M Sport, como testada, já chega aos R$ 274.950. Isso até ajuda a explicar como o Série 3 é o modelo mais vendido da marca no Brasil.
Mas outros aspectos também ajudam. Por fora, o design chama a atenção pelo tradicional estilo e requinte que um Série 3 tem desde sempre. Faróis fullLED, a grade "duplo rim" em tamanho aceitável (viu, M3...) e estilo reforçado pelo kit M Sport, com as rodas de 19" de talas diferentes na dianteira e traseira e parachoques maiores, além da dupla saída de escape na traseira. É mais charmoso que o Audi A4, mais sóbrio, e mais atual que o Mercedes-Benz Classe C, que esperamos em sua nova geração ainda este ano por aqui. Eu o colocaria ao lado de um Volvo S60 neste quesito com o estilo sueco marcante.
Mas é por dentro que o Série 3 marca sua presença. Seguindo como um BMW, os materiais são bons tanto ao toque quanto ao olhar, desde a alavanca de câmbio eletrônica, os comandos do sistema multimídia tanto pelo joystick quanto pelos comandos na tela ou por voz, ou o que a BMW chama de Live Cockpit Professional, com a tela multimídia de 10,3" e um painel de instrumentos em tela de 12,3" que muda seu visual conforme o modo de condução selecionado - que vai de Eco Pro, Comfort até Sport e Sport Plus. Olhe para o teto e, além do teto-solar, iluminação toda em LEDs e acabamento escurecido dão um toque esportivo.
Mas é na posição de dirigir que o 320i não nega as origens. Os bancos, com ajustes elétricos até nas abas do assento e do encosto, te abraçam e te deixam em uma posição baixa (ou mais alta, depende da sua regulagem), com o volante e os pedais alinhados, com o acelerador instalado no piso, algo cada vez mais raro. A ergonomia é digna da engenharia alemã, afiada e com tudo na sua área de visão ou das mãos. Até mesmo os comandos do ar-condicionado de 3 zonas ficam em um lugar de fácil acesso e sem necessidade de deslocar o olhar. Bancos, volante e cintos de segurança são assinados pela M.
Parece pouco, mas não é!
Quem vê todo esse visual do BMW 320i M Sport até fica decepcionado ao ouvir que o 2.0 turbo tem apenas 184 cv. Afinal, é um motor moderno com direito a duplo comando variável, variador de abertura das válvulas (Valvetronic) na admissão e turbo de duplo fluxo, com menos potência que, por exemplo, o novo 1.3 turbo da Stellantis e seus 185 cv com etanol.
O grande truque aparece nos 30,6 kgfm de torque e no câmbio de 8 marchas. O 320i tem força em baixas rotações e até faz esquecer a potência nas saídas de semáforo. É um motor com fôlego claramente limitado em baixas e programado para privilegiar a força, inclusive pela programação do câmbio, ajustado para trocas logo cedo e, nos modos Eco Pro e Comfort, imperceptíveis e quietas.
Não podemos chamar um sedã que faz de 0 a 100 km/h em 7,7 segundos de lento. Pelo contrário, o BMW 320i tem quase o mesmo desempenho do Honda Civic Touring (173 cv no 1.5 turbo) e seus 7,6 segundos, porém lógico que perde para o 330i, versão que foi aposentada pelo 330e, e seus 258 cv e 40,8 kgfm de torque no motor 2.0 turbo com diversas mudanças e 6,1 segundos para chegar aos 100 km/h. O 320i até muda bastante seu comportamento no modo Sport Plus, com direito a trancos nas trocas de marchas e uma direção mais firme, junto com o acelerador consideravelmente mais sensível.
Até que o fato do 320i ter menos potência ajuda explorar mais os limites do carro e do motorista. Equipado com a suspensão M Sport, 10 mm mais baixa e mais firme, faz curvas como nenhum concorrente consegue fazer e, sem precisar se preocupar com muita potência despejada no eixo traseiro, passa mais confiança para explorar a plataforma e, por exemplo, entrar mais rápido em uma curva para compensar a retomada mais lenta. O eixo dianteiro é afiado e responde a qualquer solicitação feita ao volante com uma precisão como um bom Série 3. É como se sobrasse carro pro motor.
Quer ver onde mais o 2.0 turbo vai bem? Apesar de ser flex, testamos o 320i com gasolina para ter base de comparação com seus concorrentes principais e chegamos a 11,7 km/l na cidade e 17,6 km/l na estrada, médias surpreendentes para um carro desse porte. Trabalhando "manso", ele também agrada pelo silêncio a bordo e ótimo isolamento acústico.
Nem mesmo a suspensão esportiva M e as rodas de 19" com pneus de perfil baixo atrapalham o 320i M Sport. O sedã anda confortável e em poucos momentos deixa perceber que é um pouco mais firme que as demais versões, mas sem ser aquele carro chato para motorista e ocupantes. Só atenção para não raspar a frente nas valetas maiores ou rasgar um pneu de 19" nos imperdoáveis buracos das cidades.
Outro ponto de atenção é o espaço. O BMW 320i tem bom espaço para os 4 ocupantes principais, com direito a zona de ar-condicionado exclusiva para o banco traseiro, mas um 5º passageiro não tem conforto pela parte mais alta do banco e pelo túnel e o porta-malas, com a instalação do estepe para o mercado brasileiro, vai de 480 litros na Europa para apenas 365 litros e com uma altura bem baixa - ao menos a tampa tem acionamento elétrico, mas o espaço é menor que de muito SUV compacto.
Bom brasileiro?
É compreensível os motivos pelos quais o BMW Série 3 vende tão bem. Na versão M Sport, tem som assinado pela Harman Kardon, partida e abertura de portas com chave virtual (para usuários de iPhone, que funciona muito bem), piloto automático adaptativo com alerta de saída de faixas, sensor de ponto-cego e o charme de um sedã vestido com o kit M Sport sem a grade exagerada dos novos M3.
Também mantém uma dirigibilidade afiada mesmo não tendo o motor mais potente do segmento, que te dá em troca um bom consumo de combustível e muito conforto. É muito melhor que qualquer SUV na sua faixa de preços e ainda é um objeto de desejo principalmente aos que preferem os sedãs. Pena que não é mais tão "acessível" como já foi, mas ao menos evoluiu e parece ter orgulho de ser brasileiro.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com Brasil)
BMW 320i Flex 2.0T M Sport
MOTOR | dianteiro, longitudinal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.998 cm3, duplo comando com variador na admissão e escape e Valvetronic na admissão, injeção direta, turbo, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
184 cv de 5.000 a 6.500 rpm; Torque: 30,6 kgfm de 1.350 rpm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática com 8 marchas, tração traseira |
SUSPENSÃO | McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 19" com pneus 225/40 (D) e 255/35 (T) R19 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.460 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.709 mm, largura 1.827 mm, altura 1.435 mm, entre-eixos 2.851 mm; |
CAPACIDADES | tanque 59 litros; porta-malas 365 litros |
PREÇO | R$ 253.950 (R$ 274.950 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (gasolina) | ||
---|---|---|
BMW 320i | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h |
3,4 s |
|
0 a 80 km/h | 5,4 s | |
0 a 100 km/h | 7,7 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 5,5 s | |
80 a 120 km/h em S | 4,9 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 36,7 m | |
80 km/h a 0 | 23,6 m | |
60 km/h a 0 | 13,2 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 11,7 km/l | |
Ciclo estrada | 17,6 km/l |
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