Teste: Fiat Toro Ultra é o "sedã grande" que a marca nunca emplacou no Brasil
Versão de topo da picape tem "porta-malão" e muitos equipamentos, mas preço e reestilização próxima são empecilhos
A Toro fez o que Tempra, Marea e Linea não conseguiram: colocou a Fiat bem posicionada numa faixa superior de mercado, com porte (e principalmente preço) acima dos compactos aos quais a marca estava acostumada a fazer sucesso. A recepção da Toro pelo mercado foi tão positiva que atualmente ela é o segundo modelo mais vendido da Fiat - e só perde para outra picape, a Strada.
Já se foi o tempo que o Palio (hoje na figura do Argo) era a galinha dos ovos de ouro da casa italiana. Agora que as picapes estão na crista da onda, é hora subir o nível, refinar e colocar novos equipamentos para incentivar o consumidor a gastar mais (e aumentar a margem de lucro). Nasceu assim a Toro Ultra.
Versão topo de linha da picape, a Ultra oficializa o que muita gente já fazia informalmente: coloca uma cobertura rígida sobre a caçamba e a transforma num porta-malão de 937 litros - algo que lembra as picapes transformadas dos anos 1980. E a ideia de aproximá-la de um sedã vai além disso, porque a própria cobertura incorpora um santantônio com o desenho de uma "janela espia" na lateral, como se continuasse a linha das janelas da Toro - imitando as linhas de um tradicional sedã.
Chamada de Dynamic Cover pela Fiat, a tampa é sustentada por duas amortecedores a gás, suporta até 100 kg em cima e pode ser aberta em até 40 graus - ou completamente retirada se a ideia for levar objetos altos. Quando fechada, ela impede a entrada de água e outros detritos, o que pudemos comprovar durante uma chuva de verão na semana de avaliação da picape.
Para além do porta-malas, a Toro Ultra ainda vem com uma "mala" de caçamba vendida pela Mopar como acessório, que protege ainda mais a bagagem de intempéries - ela pode ser usada em outras versões da picape mesmo sem a cobertura plástica. A capacidade de carga da Toro a diesel segue em 1 tonelada, mas, como novidade da linha 2021, a luz da caçamba mudou de lugar para, segundo a Fiat, melhorar a iluminação com a capota fechada. Solução prática, a tampa do porta-m, digo, caçamba em duas folhas laterais permanece inalterada.
Atendendo à uma antiga reivindicação, a Fiat equipou as versões mais caras da Toro 2021 (essa Ultra e a "fazendeira" Ranch) com 5 airbags extras além dos frontais obrigatórios. Agora temos bolsas infláveis laterais, de cortina e uma exclusiva para os joelhos do motorista, como esperado num modelo desta faixa de preço.
Por fora, a Toro Ultra pode ser identificada, além da cobertura traseira, pelos logotipos todos escurecidos e o suporte para reboque no para-choque traseiro. As rodas são aro 18" com acabamento escurecido e pneus 225/60, o mesmo calçado da versão Volcano.
Por dentro, a Ultra traz tudo que a Toro tem direito, incluindo banco do motorista com ajustes elétricos, painel com tela central TFT de 7" para o computador de bordo, revestimento de couro, sensores de luz e chuva, e a nova central multimídia UConnect de 7" que estreou na Strada. Trata de um sistema de fácil utilização e que oferece conexão Apple Carplay e Android Auto sem fio, via Bluettooth. É novidade e agrada no uso, mas logo dará lugar a uma central com tela maior e na vertical, como nas RAM, na Toro reestilizada que chega no segundo semestre.
Nada muda na Toro Ultra em termos de dinâmica e sensações ao volante. Apenas notamos uma certa perda no desempenho, o que pode ser explicado em parte pelo maior peso desta versão (1.950 kg), com cerca de 80 kg a mais em relação à Freedom testada por nós pela última vez.
A diferença ficou clara nas nossas medições instrumentadas, nas quais a Ultra foi mais lenta principalmente nas retomadas (80 a 120 km/h em 9,5 s contra 8,1 s), enquanto a aceleração de 0 a 100 km/h ficou em 11,6 s, ou 0,4 pior que a Freedom. O peso extra também influenciou nas frenagens, com parada em 45,5 metros quando vindo a 100 km/h, contra 42,8 m da versão mais leve. Já o consumo se manteve nos (bons) patamares da Toro 2.0 (veja ficha de testes ao final da reportagem).
Embora a novidade mais esperada da Toro 2022 seja o motor 1.3 turboflex, o 2.0 Multijet turbodiesel não deve perder seu posto de "queridinho" na picape. Com 170 cv e 35,7 kgfm, ele entrega boa força em baixos giros e, nesta versão, parece ainda mais bem isolado em termos de ruído e vibrações na cabine (na estrada nem parece diesel).
Mas, se formos comparar com os sedãs, a Toro a diesel não oferece o mesmo desempenho de um Civic ou Corolla 2.0 aspirados, por exemplo. Por outro lado, a transmissão de 9 marchas com a 1ª reduzida e a tração 4x4 automática (que pode ser bloqueada para 50% do torque em cada eixo) dão à picape uma versatilidade não oferecida em nenhum sedã.
Na tocada, a Toro faz valer sua estrutura monobloco e se comporta praticamente como um Jeep Compass, seu irmão de plataforma. A suspensão absorve invejavelmente as imperfeições do piso, as trocas de marcha são suaves, a direção tem respostas ágeis e a carroceria se mantém equilibrada mesmo em curvas fechadas e frenagens fortes, entregando uma dirigibilidade muito mais próxima de um sedã que de uma picape de chassi (como Hilux, Ranger, L200, etc). Só não espere um "carro de passeio" na hora de estacionar, pois a Toro esterça pouco e exige muitas manobras em locais apertados.
Para justificar os R$ 181.490 cobrados pela Fiat, no entanto, a Toro Ultra precisava ir além em acabamento (o interior é todo de plástico rígido) e equipamentos - você não espera encontrar a mesma multimídia de um carro que custa a metade do preço, certo? É por isso que, exceto por um descontão na hora de fechar negócio, é melhor esperar a Toro 2022.
Além do novo visual na dianteira, a nova Ultra terá faróis em LED, multimídia com telão vertical, painel 100% digital, piloto automático adaptativo, alerta de colisão frontal com frenagem de emergência e enfim um porta-objetos decente no console central - uma falha incômoda da atual Toro, seja ela avaliada como picape ou como "sedã grande".
Fotos: autor/Motor1.com
Ficha Técnica - Fiat Toro Ultra 2.0 AT9
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.956 cm3, turbo e intercooler, diesel |
POTÊNCIA/TORQUE |
170 cv a 3.750 rpm; 35,7 kgfm a 1.750 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 9 marchas, tração 4x4 automática |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 18" com pneus 225/60 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
PESO | 1.950 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.944 mm, largura 1.844 mm, altura 1.685 mm, entre-eixos 2.990 mm |
CAPACIDADES | "porta-malas": 937 litros, carga útil 1.000 kg, tanque 60 litros |
PREÇO | R$ 181.490 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Fiat Toro Ultra 2.0TD | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,5 s | |
0 a 80 km/h | 7,4 s | |
0 a 100 km/h | 11,6 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 9,7 s | |
80 a 120 km/h em D | 9,5 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 45,5 m | |
80 km/h a 0 | 28,3 m | |
60 km/h a 0 | 15,8 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,5 km/l | |
Ciclo estrada | 15,0 km/l |
Ouça o podcast do Motor1.com:
Galeria: Fiat Toro Ultra 2021 (Teste BR)
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