Teste: Nissan Versa Sense 1.6 manual entrega o básico com dignidade
Ele tem itens raros numa versão de entrada, mantém o bom acabamento e ainda acelera mais rápido que o CVT
A Nissan não estava blefando quando disse que o novo Versa viria com tudo para o Brasil. Mesmo sendo importado do México, ele se vale do acordo comercial para chegar aqui livre do IPI de 35%. E, assim, a marca cumpriu sua promessa de trazer diversas versões da nova geração, incluindo até uma inesperada variante básica manual, que faz o preço começar em R$ 74.490 - era R$ 72.990, mas já passou por seu 1º aumento enquanto finalizávamos este teste.
Contrariando uma prática comum das fabricantes, a Nissan também fez a saudável prática de oferecer toda a gama do Versa 2021 para testes de imprensa, não se restringindo somente às versões topo de linha - que, por serem mais caras, acabam não sendo as mais vendidas, principalmente depois que passa o "frisson" do lançamento. Então, após o teste do Versa Exclusive com tudo a que o modelo tem direito, agora é hora de ver o ele oferece no básico, aquele que mais se aproxima da antiga geração em termos de preço - lembrando que ela segue no mercado com o nome de Versa V-Drive.
O novo Versa Sense 2021 não esconde sua aparência simplificada em relação aos demais, principalmente por conta das rodas aro 15" cobertas com calotas - as mais caras trazem rodas de liga aro 16" (Advance) e 17" (Exclusive). Também fica devendo os faróis de neblina, enquanto os faróis principais usam lâmpadas halógenas (LEDs só na versão top). Mas ao menos o sedã de entrada mantém os retrovisores e maçanetas na cor da carroceria, bem como o detalhe em preto na coluna C que cria um charme ao ligar as janelas laterais ao vidro traseiro.
É por dentro, porém, que o Versa "básico" surpreende. Para começar, ele já traz o sistema de chave presencial que dispensa o uso dela - basta mantê-la no bolso e apertar o botãozinho na maçaneta para destravar o carro. O mesmo vale para dar a partida no motor, por meio de um botão no console central. Já o acabamento chama a atenção pela composição de cores, com uma faixa bege no painel e em detalhes nos bancos de tecido, sem aquele cinza monocromático que costuma tomar conta das versões de entrada. Não chega a ter a parte central macia ao toque como no modelo topo de linha, mas certamente impressiona bem.
O Versa também agrada na qualidade dos materiais empregados e na atenção aos detalhes. Os plásticos são rígidos como é padrão na categoria, mas eles são claramente superiores aos dos rivais, sem ser daquele tipo que risca só de olhar e com encaixes justos e bem-feitos. Os comandos são sólidos e transmitem impressão de longa durabilidade. As maçanetas internas são cromadas como nas versões superiores, sem apelar para o plástico preto. E a Nissan também teve o cuidado de colar um adesivo preto nas portas traseiras para que a chapa da carroceria não aparecesse na cabine - coisa que vemos em carros mais caros.
Para uma versão de entrada tão caprichada, a falta da central multimídia é maior falha desta versão Sense - o rádio que vem no lugar é o mesmo da versão básica do Kicks, com botões grandes e Bluetooth. Também senti falta de um pomo mais legal na alavanca de câmbio, pois os números das marchas grafados no plástico preto quase somem. Mas isso é pelo em ovo... No que mais importa, os itens de segurança, estão lá os 6 airbags (frontais, laterais e de cortina) e o controle de estabilidade com assistente de partida em rampa - item que ganha ainda mais relevância nesta versão com câmbio manual.
Por falar em câmbio, a Nissan manteve a estratégia do Kicks e trouxe o modelo inicial do novo Versa com a transmissão manual de 5 marchas. Os engates são bons, embora um pouco longos, e a embreagem é macia o suficiente para não cansar no trânsito. As marchas são bem escalonadas, de modo que não há "buraco" evidente entre elas, e as primeiras têm força suficiente para não precisar exigir muito do motor 1.6 nas saídas.
Você pode trocar de marchas abaixo de 3 mil rpm que o Versa embala sem reclamação. Embora não tenha aquele torque logo cedo dos rivais turbinados, não sentimos que os 114 cv e 15,5 kgfm sejam insuficientes, até porque o carro é leve (1.074 kg nesta versão) - uma boa premissa da primeira geração que foi mantida.
Na estrada, porém, uma 6ª marcha seria bem-vinda, principalmente para reduzir o consumo. Isso porque, em 5ª a 120 km/h, o motor gira a elevadas 3.400 rpm e não repete a boa economia da versão com câmbio CVT. Em nossas medições, o Versa manual fez 11,6 km/litro no consumo rodoviário, contra 12,2 km/litro do CVT. Na cidade a diferença foi pequena, com vantagem de apenas 0,2 km/litro para o modelo automático. Em compensação, o MT5 foi mais rápido nas acelerações, cravando 11 segundos na prova de 0 a 100 km/h, 0,5 s antes do CVT.
Comentei do giro um pouco elevado na estrada, mas também é preciso dizer que o ruído do motor é muito bem contido pelo isolamento acústico do Versa. Aliás, se tem um ponto que mais que separa o novo Versa do antigo V-Drive é o conforto - até mais que o design! Enquanto o modelo anterior não tinha quase filtros, o novo parece um carro de categoria superior, tanto em termos de ruídos e vibrações quanto no rodar mais refinado e estável.
Se a versão Exclusive com rodas aro 17" e pneus de perfil mais baixo já absorve bem os impactos do piso, esta Sense com aros 15" e pneus 195/65 R15 faz isso ainda melhor - e sem abrir mão da estabilidade, pois os movimentos da carroceria são muito bem contidos pela suspensão. É sem dúvida o melhor "chão" da categoria, e ainda acompanhado de uma direção bem calibrada, leve nas manobras e firme na estrada.
Aos motoristas de aplicativo fãs da geração anterior (não foram poucos os que me fizeram perguntas durante esta avaliação), o espaço no banco traseiro continua muito bom, ainda que não seja mais aquele "salão" para as pernas. Mas os bancos mais espessos são muito mais confortáveis que antes, tanto os de trás quanto os da frente. Pena que esta versão de entrada perca o encosto traseiro bi-partido, que reduz a versatilidade do sedã.
Para piorar, a Nissan aplicou uma placa que impede o rebatimento do encosto e reduz a capacidade do porta-malas - daí a diferença de capacidade de bagagem de 466 litros nesta versão Sense para os 482 litros das demais.
No fim, o novo Versa deixa boa impressão novamente e mostra que a versão de entrada não é apenas uma "pegadinha" para atrair consumidores para os modelos mais caros. Só é preciso ponderar bem a escolha pelo câmbio manual levando em consideração que o CVT oferece mais conforto e melhor consumo por R$ 5.100 extras (R$ 79.590). E esta diferença será facilmente recuperada na hora da revenda, visto que o mercado para carros com câmbio manual está cada vez mais restrito nesta faixa de preço.
Fotos: autor/divulgação
Ficha Técnica - Nissan Versa Sense 1.6 MT
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.598 cm3, comando duplo variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
114 cv a 5.600 rpm / 15,5 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio manual de 5 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço aro 15" com pneus 195/65 R15 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira com ABS e ESP |
PESO | 1.074 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.495 mm, largura 1.740 mm, altura 1.475 mm, entre-eixos 2.620 mm |
CAPACIDADES | tanque 41 litros; porta-malas 466 litros |
PREÇO | R$ 74.490 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
---|---|---|
Nissan Versa 1.6 MT | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,8 s | |
0 a 80 km/h | 7,2 s | |
0 a 100 km/h | 11,0 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em 3ª | 10,6 s | |
80 a 120 km/h em 4ª | 10,9 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 39,2 m | |
80 km/h a 0 | 24,0 m | |
60 km/h a 0 | 13,0 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 7,8 km/litro | |
Ciclo estrada | 11,6 km/litro |
Galeria: Nissan Versa Sense 1.6 MT 2020 (Teste)
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