É no convívio diário que você conhece realmente uma pessoa. Vê suas qualidades, seus defeitos e algumas características que não ficam aparentes quando o contato é rápido. Nossa relação com o novo Peugeot 208 foi mais ou menos assim, sendo primeiro na Argentina e, meses mais tarde, em uma volta em um autódromo já no Brasil.
Chegou a hora da verdade. Levamos o novo Peugeot 208 em sua versão topo, a Griffe, para as ruas e para nossa pista de testes para ver se tudo aquilo que percebemos em nossos rápidos contatos anteriores, seja na Argentina ou no Brasil, se confirmam - sejam aspectos positivos ou negativos.
O centro das atenções
O novo 208 se torna muito facilmente a sensação das ruas. Seu design se destaca na multidão e consegue apagar qualquer coisa que estiver por perto. Na versão topo, os faróis fullLEDs com a luz diurna em forma de "dente de sabre" impõe respeito em meio ao trânsito. Em termos de design, ele se posiciona anos diante de Chevrolet Onix e Volkswagen Polo, dois de seus principais concorrentes em terras brasileiras.
Seja uma parada para abastecer ou comer e um circulo de pessoas já se forma em volta do novo 208 - e não foi apenas uma vez. Enquanto muita gente nem sabe que o hatch ganhou esta geração e acha que eu que importei por conta própria ou que é algum outro modelo da Peugeot, outras já sabem de sua existência e questionam "mesmo com o motor 1.6, anda bem?". E aposto que você também quer saber isso.
Mas não será agora que vamos falar de desempenho. Seguindo com a parte boa do 208, o interior com certeza será uma parte onde o vendedor mais insistirá ao cliente. Acabamento e design estão também bem superiores aos do Polo e Onix. Quando tratamos do painel de instrumentos digital 3D então, o Peugeot parece pronto para conquistar o cliente que gosta de tecnologias - até mesmo um proprietário de Virtus Highline com a famosa tela da VW ficou encantado com esse feature do Peugeot.
Motor 1.6: suficiente, mas não merecedor
Por uma questão "de custos", a PSA manteve o 1.6 aspirado no 208. É um velho conhecido do brasileiro com algumas atualizações com o passar dos anos - nasceu com 110 cv apenas a gasolina e hoje possui 118 cv, com comando de admissão com variador, partida a frio sem tanque auxiliar e algumas mudanças em prol da eficiência e emissões.
Seu grande trunfo é a confiabilidade que o mercado já tem. Sobre o câmbio, enquanto o VW Polo fazia sua estreia em 2017, a Peugeot e Citroën adotavam o câmbio automático de 6 marchas fornecido pela Aisin em substituição ao antigo AT8 de 4 marchas. Este conjunto segue no novo 208, com uma nova calibração mais suave na transmissão, que segue com a opção de trocas manuais pela alavanca e modos Eco e Sport de atuação - ativados por dois botões no lado esquerdo do motorista.
No dia a dia, principalmente na cidade, o 1.6 faz seu trabalho no novo 208. Ajuda uma plataforma atual e moderna, com bom isolamento tanto acústico quanto de vibrações, o que torna o uso do Peugeot bem mais confortável principalmente em longos percursos. Seu desempenho é bom, já que consegue deixar boa parte dos 16,1 kgfm de torque já em baixas rotações - não como um motor turbo, mas bom para um aspirado.
Em números, o novo 208, mesmo mais leve, ficou mais lento que o anterior. No 0 a 100 km/h, foi de 12,3 para 12,5 segundos, mas a retomada 40 a 100 km/h foi de 9,7 para 9,4 segundos, enquanto a de 80 a 120 km/h foi de 9,0 s para 9,4 segundos. Se formos comparar com o Polo 1.6 automático, por exemplo, ele registrou 12,6 segundos na mesma prova - porém o 1.0 TSI já chega aos 100 km/h em 9,7 segundos, além dos 10,9 segundos do Onix turbo AT.
Mas sabem o motivo pelo qual falo que o motor 1.6 não é merecedor de estar no novo 208? Ele até pode fazer seu trabalho e ter um sentido para a Peugeot ter o colocado ali, principalmente quando falamos em futuro com a PSA, mas a plataforma CMP é tão superior que merecia algo melhor. Sua qualidade é demonstrada quando falamos em dirigibilidade e conforto, por exemplo.
Tudo bem, o novo 208 não tem um motor empolgante, mas a dirigibilidade dele é um dos seus pontos de destaque. A PSA Mercosul tem se destacado em calibração de suspensão há alguns anos, mesmo com os desafios que o piso precário da região coloca na engenharia. O novo 208, ao usar as rodas de 16" com pneus 195/55, ajuda todo o sistema de suspensão a filtrar o que chega aos ocupantes com maestria, sem final de curso ou uma ação barulhenta, algo que incomoda um pouco no novo Onix, por exemplo.
A direção elétrica tem bem mais comunicação com o motorista que a anterior, que já era boa. O volante herdado do 3008 acompanha o i-Cockpit 2 e dá uma sensação bem diferente dentro da categoria. Ele empolga e te desafia a procurar os limites nas curvas. E isso sem perder o conforto, e por isso que o Peugeot merece um motor melhor.
Quando design fala mais alto
Apesar de um belo carro, o Peugeot 208 sacrificou o espaço interno para manter uma harmonia das linhas. Enquanto vemos uma safra de hatches que estão crescendo, o 208 ficou 80 mm maior em comprimento, mas perdeu 3 mm no entreeixos e 20 litros no porta-malas, indo aos 285 litros. Se na parte da frente o conforto fala alto pelo ótimos bancos e bom espaço, os passageiros de trás precisam se apertar principalmente nas pernas e, se seu plano é levar três adultos, se prepare para reclamações: dois é o limite aceitável em termos de espaço para os ombros.
O Peugeot 208 Griffe tem um pacote de equipamentos exclusivos na categoria, como o alerta e correção de saída de faixa (o HB20 Diamond Plus possui apenas o alerta), alerta de colisão com frenagem automática e o leitor de placas de velocidade, além do famoso teto panorâmico. Mas cobra bem alto por isso, tabelado em R$ 94.990, enquanto o VW Polo Highline custa R$ 91.150, o Hyundai HB20 Diamond Plus custa R$ 77.990 e o Chevrolet Onix Premier II é vendido a R$ 81.890, sendo os três com alguns destaques em equipamentos e com motores turbo.
Conclusão, o Peugeot 208 pode não figurar entre os modelos mais vendidos, mas tem pontos de destaque que devem levar muita gente ao menos a conhecê-lo nas lojas. Quando pedimos um motor melhor, não é simplesmente pelos concorrentes, mas por ser um carro que merecia um conjunto propulsor condizente com design, plataforma e tecnologias disponíveis. Faltou praticamente só isso para ser um dos melhores hatches do nosso mercado.
Ficha técnica: Peugeot 208 Griffe 2021
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.587 cm3, comando variável na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 115/118 cv a 5.750; 15,5 kgfm a 4.750 rpm (E) 15,4 kgfm a 4.000 rpm (G) |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira, eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve aro 16" com pneus 195/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.178 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.055 mm, largura 1.738 mm, altura 1.453 mm, entre-eixos 2.538 mm |
CAPACIDADES | tanque 47 litros; porta-malas 265 litros |
PREÇO | R$ 94.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
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Peugeot 208 1.6 AT6 | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 6,0 s | |
0 a 80 km/h | 8,9 s | |
0 a 100 km/h | 12,5 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 9,2 s | |
80 a 120 km/h em D | 9,4 s | |
Frenagem (pista molhada) | ||
100 km/h a 0 | 45,2 m | |
80 km/h a 0 | 29,3 m | |
60 km/h a 0 | 16,5 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 7,5 km/litro | |
Ciclo estrada | 11,7 km/litro |