Em fevereiro deste ano, pouco se falava sobre a pandemia na América do Sul. Prova disso foi que a Peugeot levou um pequeno grupo de jornalistas brasileiros até Buenos Aires para conhecer o novo 208 "mercosul", que até aquele momento seria lançado em maio. Assim como no caso da Fiat Strada, o lançamento da PSA atrasou. Mas agora vai: haverá uma prévia da versão final para a imprensa no começo de agosto e a chegada às lojas acontecerá em setembro.
A Peugeot está bem empolgada com o novo 208 feito localmente. As unidades que rodamos na Argentina já eram as produzidas na planta de El Palomar em regime de pré-série, e carregavam muita coisa dos modelos definitivos, como a carroceria completa, boa parte do interior e também as calibrações de motor, câmbio, suspensão e direção.
Falando em motor, a primeira notícia que trago não é das mais animadoras: o novo Peugeot 208 argentino será lançado inicialmente com o conhecido motor 1.6 aspirado de até 118 cv e 16,1 kgfm de torque, frustrando a esperada estreia do PureTech 1.2 turbo. A explicação dos representantes da marca está nos custos (hoje, ele é produzido na Hungria), mas na Argentina fala-se sobre a produção local do 1.2T para ser usado no novo 2008 (que deve chegar em 2022) e no próprio 208. Vamos esperar para ver.
Em compensação, foi bom ver que pouco mudou do carro vendido na Europa em termos de estrutura, design e acabamento. A plataforma é a nova CMP com algumas adaptações locais, principalmente na suspensão, cerca de 10 mm elevada, e toda a calibração dos sistemas. O motor 1.6 EC5, mesmo sendo um velho conhecido, teve que ser modificado para caber no pequeno cofre do novo 208 - para se ter uma ideia, o 1.6 THP não cabe por conta da curvatura do capô -, com novos suportes e novo cárter de óleo. Lá fora ele usa o 1.2 de 3 cilindros, de menores dimensões.
No interior, a diferença mais notável em relação ao carro europeu está na alavanca do câmbio automático, que é a tradicional mecânica em vez da eletrônica herdada do 3008. No restante, apresenta um acabamento pronto para ser um dos destaques do carros, como os bancos com revestimento Alcantara original na versão de topo (utilizado em esportivos e modelos de luxo), sistema multimídia com Apple CarPlay e Android Auto e o painel de instrumentos digital 3D, uma evolução do i-Cockpit que estará já na versão intermediária do 208, segundo a Peugeot.
A Peugeot encara o novo 208 como o que foi o 206 no fim dos anos 1990. Ele marcará uma nova fase da marca, que já começou com a reestruturação da rede e do pós-vendas - sim, você deve ter visto a presidente da marca, Ana Theresa Borsari, em horário nobre na TV há alguns meses. Diversas clínicas com clientes em potencial foram feitas e, segundo a Peugeot, eles destacaram o design e tecnologias no carro e "não exigiram" o motor turbo. Além disso, eles defendem que a manutenção do motor turbo é mais complexa e cara, algo que a Chevrolet também comentou quando não adotou a injeção direta na família Onix.
Mecânica à parte, o novo Peugeot 208 quer ser o mais moderno de sua categoria. Das três versões (que deverão se chamar Allure, Allure Pack e Griffe), a topo terá faróis full-LEDs (todas terão luzes diurnas em LEDs), carregador de smartphones por indução, alerta de colisão com frenagem automática, alerta de saída de faixa, reconhecimento de placas e detector de fadiga. Entre outros itens, vale destacar os controles de tração e estabilidade, seis airbags, teto-solar panorâmico e o sistema multimídia com tela de 7" e espelhamento de celulares via Apple CarPlay e Android Auto.
Partida por botão e chave presencial também estão na lista, além de outros itens como o ar-condicionado digital, mas em fevereiro a marca ainda não tinha fechado os pacotes definitivos de equipamentos de cada versão. Naquele momento, a Peugeot também descartava qualquer versão com câmbio manual, algo que a empresa já fez com o SUV 2008 em sua reestilização e com o próprio 208 anterior quando deixou de oferecer o motor 1.2 aspirado (também importado e caro).
O antigo 208 sempre foi uma boa referência em dirigibilidade. A calibração da suspensão não era tão dura nem tão boba, enquanto a direção elétrica tinha boa comunicação com o motorista. O próprio i-Cockpit criava uma sensação diferente, com o painel elevado e o volante de diâmetro pequeno com a base achatada.
A boa notícia é que esse conjunto se manteve, e foi aprimorado. O novo volante e o painel 3D acompanham um ajuste de suspensão e direção específico para o mercado latino. Mesmo com a suspensão mais alta que a europeia, a estabilidade do novo 208 segue como um dos principais pontos positivos. Em asfalto ruim, não percebemos aqueles baques de fim de curso ou ruídos parasitas.
"Isso com o 1.2 turbo ficaria perfeito". Essa frase passou algumas vezes pela minha cabeça durante o roteiro por Buenos Aires. O 1.6 aspirado é suficiente paro novo 208, com o câmbio automático de 6 marchas mais suave nas mudanças (a caixa é uma Aisin), além de manter os modos Eco e Sport. Pensando em conforto, o conjunto atende, mas não espere o desempenho ou o consumo do VW Polo ou Chevrolet Onix.
Em fevereiro, a Peugeot disse que o e-208 (fotos abaixo) seria vendido no Brasil e estava trabalhando para o lançamento junto com o do modelo a combustão. A versão elétrica será importada da França e vendida como GT-Line, trazendo um kit visual esportivo. Um flagra do comercial do modelo no Brasil mostrou que o elétrico se chamará 208 e-GT, como uma forma de "compensar" a ausência do 1.2 turbo, e que o lançamento será simultâneo às demais versões. Mas o preço deverá o colocar numa faixa bem acima, na linha do Chevrolet Bolt, por exemplo.
Sobre os planos de manter o antigo 208 como uma versão mais acessível com o motor 1.2 de 3 cilindros, não deu certo justamente pelo preço do motor importado - a conta não fechou para fazer um "208 Joy". A produção em Porto Real (RJ) já foi encerrada e a fábrica fluminense está sendo adaptada para receber a plataforma CMP para uma nova linha compacta da Citroën.
Com o motor 1.6 aspirado, o atual Peugeot 208 custa de R$ 71.790 a R$ 79.990. O novo virá com mais tecnologias e uma nova plataforma, mas mantendo o motor antigo. Vamos conhecer os itens de cada versão nas próximas semanas, provavelmente com alguma perspectiva de preços - e isso, com certeza, será o principal fator para o sucesso (ou não) do novo Peugeot 208. Design e tecnologia podem compensar a falta de uma mecânica mais moderna? A resposta virá em breve.
Fotos: divulgação/Motor1.com
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