O ano de 2019 não foi exatamente tranquilo para a Nissan. Além de a empresa enfrentar dificuldades financeiras, ainda se viu às voltas com o escândalo de corrupção envolvendo o ex-CEO Carlos Ghosn. Mas a verdade é que a marca japonesa ainda desfruta de uma posição de destaque no mercado norte-americano. Os modelos Rogue, Altima e Sentra vão fechar o ano no top 20 de vendas dos EUA, sendo que o sedã médio, mesmo desatualizado, ainda emplacou mais de 173 mil unidades em apenas 10 meses. Agora temos um Sentra totalmente novo para 2020. Mas será ele a resposta aos atuais problemas da marca?
Em termos visuais, o Sentra de nova geração marca uma ruptura com o antecessor. É muito mais estiloso, tanto por fora quanto por dentro, e também recebeu algumas atualizações necessárias na parte de tecnologia. Traz ainda um novo motor. Porém, mesmo com essas grandes novidades, o Sentra ainda terá dificuldades quando comparado a seus principais concorrentes.
O novo Sentra lhe parece familiar? Não estranhe, ele aproveita a filosofia de de design já aplicada nos modelos Maxima, Altima e também no novo Versa. Na dianteira, está a tradicional assinatura da Nissan com a grade "V-Motion" e os faróis do tipo bumerangue. Na traseira, você encontrará a mesma linha de teto flutuante de outros modelos da marca, com a coluna C em preto - que pode ser combinada ao teto da mesma cor. As lanternas traseiras, embora exclusivas, parecem ter sido emprestadas do Mercedes Classe A Sedan. Já as linhas gerais lembram as do Honda Accord.
Como no Versa, o Sentra ficou mais largo que o antecessor. Dimensões maiores e atualizações estéticas contribuíram para a aparência mais atraente do modelo. E ele fica especialmente bonito nesta versão esportiva SR, com rodas aro 18" e apêndices aerodinâmicos. A versão de entrada S vem com aros 16", enquanto a intermediária SV veste aros 17".
Embora o exterior seja agradável, a cabine tem algumas falhas. Poderia haver mais variações de materiais, por exemplo. O couro preto, o acabamento imitando fibra de carbono e os detalhes cromados são "OK", mas é tudo virtualmente igual ao que encontramos no Versa mais barato. Da mesma forma, os bancos "Zero Gravity" e a central multimídia de 8" (com Apple CarPlay e Android Auto) vieram diretamente de outros Nissan.
Além disso, o Sentra é barulhento na estrada. O ruído de vento e de rodagem dos pneus supera o nível aceitável, dificultando a comunicação entre os ocupantes. Pelo menos o sedã oferece amplo espaço para os passageiros para compensar no acomodação. Os bancos dianteiros são extremamente espaçosos e o traseiro é grande o suficiente para agradar a este autor de 1,80 metro. As medidas de espaço para a cabeça e pernas rivalizam com os melhores da classe. Ou seja, apesar do acabamento melhorável, a cabine do Sentra é um lugar muito confortável de se estar.
Rápido o Sentra não é. A entrega de força é lenta e o CVT emite um gemido metálico ao esmagarmos o acelerador. Comparado aos rivais com motores turbo, o 2.0 aspirado do Sentra parece ultrapassado, com pouca potência e desempenho abaixo do esperado. As atualizações do CVT também não foram muito eficientes. Além de ruidosa, a caixa é preguiçosa e não responde às solicitações do acelerador em tempo hábil. Uma vez embalado, no entanto, o Sentra tem poder suficiente para ultrapassagens. E o consumo agrada.
As versões S e SV entregam 12,5 km/litro na cidade e 16,9 km/litro na estrada. O modelo esportivado SR, com rodas maiores e apêndices aerodinâmicos, é um pouco menos eficiente. Porém, nenhum desses dados é suficiente para fazer frente a concorrentes como Civic 1.5 turbo (13,8/18,2 km/litro) ou Elantra 1.6 turbo (13,8/17,3 km/litro, respectivamente).
Compartilhando uma plataforma totalmente nova com o Sylphy (versão chinesa), o Sentra agora recebeu suspensão traseira independente (no lugar do eixo de torção do modelo anterior) e uma configuração mais rápida para a direção elétrica. Os engenheiros da Nissan falam em "mais esportividade" e, dinamicamente falando, isso é verdade. O Sentra mostra agilidade e permanece bem assentado tanto nas retas quanto nas curvas. Mas a direção, embora mais ágil, continua entorpecida, impedindo que qualquer sensação real chegue às mãos do motorista.
Como no Versa, o Sentra ganhou sistema de frenagem automática de emergência para manobras em ré. Mas, enquanto no irmão menor o recurso só aparece no pacote Safety Shield 360 (opcional), no modelo médio o item é de série. O pacote inclui ainda monitor de ponto cego, alerta traseiro de tráfego cruzado, aviso de saída de faixa, farol alto automático e lembrete de objeto (ou pessoa) no banco traseiro ao desligar o carro. Ainda não foi desta vez, porém, que o Sentra trouxe o piloto automático adaptativo e o assistente de manutenção de faixa.
Considerando esse (bom) pacote de segurança padrão, o Sentra S básico parte de atraentes US$ 19.090 (cerca de R$ 78 mil). O modelo SV começa em US$ 20.270 (R$ 83.100), mas pede o pacote premium (opcional) para ficar mais interessante, com faróis de LED, teto-solar, rodas maiores e revestimento de couro, chegando a US$ 22.730 (R$ 93.200). Já o Sentra SR é o topo de linha, tabelado a US$ 21.430 (R$ 87.900) ou US$ 23.600 (R$ 96.700) com o pacote Premium.
O novo Sentra estabelece um novo patamar de estilo e conforto, melhor do que qualquer geração do modelo até hoje. Mas ele ainda fica aquém dos principais rivais em pontos-chave. É ruidoso, não muito refinado e também não é a opção mais eficiente ou acessível de sua classe, apesar dos novos recursos. Em um segmento dominado por nomes fortes como Corolla e Civic, o Sentra perde uma nova chance de se destacar.
A Nissan admite que são poucas as chances de vender o novo Sentra no país. O problema é que, além dos rivais de Toyota e Honda, o segmento em si está em baixa no mercado brasileiro. Por conta disso, a empresa vai preferir investir mais forte no novo Versa, numa categoria abaixo, e também num SUV médio para atuar acima do Kicks.
2020 Nissan Sentra SR
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