A Honda decidiu que o primeiro modelo eletrificado que venderá no Brasil será o sedã Accord - um dos três que a marca prometeu para nosso mercado até 2023. Durante a viagem de cobertura do Salão de Tóquio, pudemos conhecer as entranhas do inovador sistema híbrido da Honda e também dirigir o sedã híbrido topo de gama, que chega em 2020.
A geração atual do sedã grande da Honda evoluiu em estilo e dirigibilidade. Com visual e condução esportiva, o Accord agora será o responsável por inaugurar a sigla e:HEV no Brasil, a nova identificação dos modelos híbridos da Honda. Visualmente não muda nada em relação à versão Touring produzida nos Estados Unidos que já testamos no Brasil (veja aqui). As únicas mudanças estão no sistema de infotainment e no cluster de instrumentos, que passam a exibir informações do sistema híbrido, como fluxo de energia e uso dos motores.
Debaixo do capô está a grande novidade. O novo conjunto é formado por três motores. O primeiro é um 2.0 a gasolina de ciclo Atkinson que gera 145 cv a 6.200 rpm e torque de 17,8 kgfm a 3.500 rpm. O segundo é um motor elétrico de 184 cv e 32,1 kgfm. Mas é na transmissão E-CVT que está toda a mágica do sistema. Dentro dela há um terceiro motor, mas que atua exclusivamente como um gerador de energia, sem impulsionar o carro em momento algum.
O sistema e:HEV funciona em três modos. O primeiro é o EV Drive. Neste, toda movimentação inicial e em baixas velocidades serão feitas pelo primeiro motor elétrico. Para deixar claro a função de cada um, este primeiro motor elétrico é chamado de motor de propulsão.
O segundo modo é o Hybrid Drive. Nos sistemas híbridos convencionais, os motores a gasolina e elétrico trabalham juntos. Não é o caso do sistema da Honda. Nele, ao demandar mais força, o motor a combustão começa a funcionar apenas para transmitir a rotação para o segundo motor elétrico, chamado de motor de geração (basicamente o segundo é apenas um gerador de energia). Com a rotação, a geração de energia começa e então é enviada diretamente para o motor elétrico de propulsão e também para a recarga das baterias.
Engine Drive é o terceiro modo, no qual basicamente apenas o motor a gasolina está funcionando. Através de um acoplamento direto, é responsável por transmitir a potencia e o torque para as rodas. Em nenhum momento os motores a combustão e elétrico combinam potência para impulsionar o carro. No fim, o consumo combinado pode chegar a 20,4 km/litro.
Ao entrar no Accord, nenhuma novidade. O câmbio E-CVT possui 10 marchas simuladas, mas vamos falar disso adiante. Ao ligar o carro, a diferença é o fato de não emitir nenhum ruído de motor, pois toda a movimentação é feita pelo motor elétrico de propulsão. Bom torque disponível a zero de jogo torna a condução interessante, mas basta pisar com mais vontade no acelerador para o motor a gasolina entrar em ação e o “barulho” aparecer. Toda a transição entre os modos é feita automaticamente e sem nenhuma oscilação ou trancos.
Além do ruído, quando obviamente aparece ao afundar o pé, a única forma de visualizar qual motor se está usando é no painel de instrumentos: energia da bateria alimentando o motor elétrico, energia vinda do motor a combustão alimentando o motor elétrico ou apenas o motor a gasolina trabalhando.
A transmissão E-CVT também é diferente das continuamente variáveis tradicionais. As mudanças de marcha são feitas por meio de carga magnética enviada ao motor elétrico, o que torna tudo praticamente imperceptível. O ponto que mais interessa seriam as reduções, que podem ser feitas por paddle-shifts, mas, por ausência de conversão mecânica, tudo se torna suave e bem leve (a alteração de carga magnética não consegue reduzir drasticamente a tração como num câmbio CVT convencional). Assim, espere reduções muito sutis.
Como o percurso foi limitado em uma pista de testes e debaixo de muita chuva, não foi possível extrair o máximo do sistema. De acordo com o Engenheiro-responsável pelo projeto, este sistema permite extrair 100% do desempenho de cada modo, oferecendo o melhor desempenho possível tanto na condução elétrica quanto na combustão. Nos sistemas híbridos convencionais, a combinação das duas formas de propulsão precisam encontrar um ponto de equilíbrio, o que, de fato, não é o ponto ótimo de cada um.
Embora seja o primeiro passo em termos de eletrificação da marca no Brasil, a Honda não é exatamente uma novata no assunto. Seu primeiro veículo híbrido, o Insight, foi lançado em 2013. Desde então, já acumula mais de 2,6 milhões de unidades vendidas em todo o mundo.
O Accord híbrido ainda não tem data exata de estreia no Brasil, mas a previsão é 2020. O segundo, provavelmente, será o CR-V, SUV médio que fará frente ao rival RAV-4. O terceiro ainda é uma incógnita, mas o Vice-Presidente da Honda Brasil afirmou que também será importado. O Honda Insight, um modelo similar ao Civic, pode ser a aposta para fazer frente ao Corolla, embora com volume restrito por ser importado.
O que o Salão de Tóquio mostrou, em todas as montadoras, é que a eletrificação é um caminho que não pode ser ignorado. Se hoje as baterias ainda são o grande impeditivo, novas tecnologias criarão baterias menores, mais baratas e com capacidade mais rápida de recarga. É um passo praticamente sem volta.
Por Fábio Trindade, de Tóquio (Japão)
Viagem a convite da Anfavea
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