Após Ka e Gol fazerem companhia a Onix e Etios, agora é o Sandero o mais novo hatch compacto a ganhar opção de câmbio automático - desta vez uma caixa CVT bem mais moderna que a transmissão de 4 marchas que equipava o modelo no começo de sua carreira. O preço, porém, ficou um pouco acima do patamar dos automáticos mais baratos do mercado, que custam menos de R$ 60 mil, colocando-o num pelotão intermediário do segmento. Ou seja, acima desta turma citada no começo, mas abaixo de Polo e Yaris, por exemplo.
Vejamos: tabelado a R$ 65.490, o Sandero CVT Intense vai direto ao encontro do Argo Precision, que agora na linha 2020 é vendido exclusivamente com câmbio automático, por R$ 63.990 (menos do que custava no lançamento em 2017, mas isso tem uma explicação). Hora então de colocá-los lado a lado, nas ruas e na pista de testes, para ver quem se dá melhor.
O desafiante Sandero tem novidades de conforto que vão além do câmbio CVT. A Renault alterou os bancos tanto na estrutura quanto no tecido, deixando-os bem mais cômodos. Passei bastante tempo no trânsito e posso afirmar que o assento ficou mais confortável que o do Argo. O revestimento também é mais agradável ao tato, com uma mistura de couro e tecido que lembra camurça. A ergonomia também ficou melhor com os botões dos quatro vidros elétricos na porta do motorista (antes os traseiros ficavam no painel).
O novo volante do Sandero veio do Clio europeu, e é uma peça bonita e com boa pegada. Pena que a Renault brasileira não aproveitou todos os seus recursos e deixou os comandos do som naquele velho apêndice na coluna de direção, ao mesmo tempo em que há teclas vazias no volante. Algo me diz que a turma dos cortes de custo ganhou essa parada, da mesma forma que no botão de acionamento do piloto automático, que se manteve no painel.
De resto, o hatch da Renault segue com amplo espaço interno e o maior porta-malas do segmento, com 320 litros. O Argo também oferece bom espaço para seu porte, mas ainda assim está num nível abaixo do rival. Fora isso, o Fiat tem incômodos como o puxador de porta muito saltado na porta dianteira, que resvala na perna do motorista, e a falta de mais espaços para pequenos objetos - há apenas um porta-trecos pequeno à frente do câmbio e um raso espaço sob o freio de mão.
Os dois oferecem boa posição para dirigir, a despeito da falta de regulagem de profundidade do volante do Sandero. A coluna do Fiat tem ajuste duplo, mas o banco do motorista é excessivamente alto. Fora isso, seus pedais são mais próximos e a caixa de roda adentra mais a área dos pés, o que não acontece no Renault. No Sandero o motorista viaja mais folgado e tem a sensação de estar num carro maior.
Vantagem: Sandero CVT
Nascido a partir do Logan, o Sandero nunca escondeu seu projeto simples. Esta segunda geração evoluiu, mas continuou a fazer farto uso de plásticos rígidos e monocromáticos no painel e laterais de porta. A reestilização da linha 2020 não melhora muito a sensação de simplicidade, apenas com um novo tecido na área de apoio do cotovelo nas portas, além dos já citados novos bancos. Novidade, a alavanca do câmbio automático não possui nenhum tipo de iluminação, deixando o motorista meio "perdido" à noite.
O Fiat agrada mais neste aspecto. O interior também usa plásticos rígidos, mas há maior variedade de cores e texturas, além de um quadro de instrumentos bem mais vistoso, com uma tela LCD central que concentra diversas informações - incluindo velocímetro digital. Também é do Argo a maior lista de equipamentos, embora a maioria seja opcional. Vale lembrar que a Fiat retirou alguns itens desta versão Precision recentemente para deixá-la mais barata.
Ficou assim: a central multimídia Uconnect de 7" agora sai por R$ 2.100, enquanto a câmera de ré passou para um pacote que inclui sensor de estacionamento traseiro, rodas de liga aro 15" (as 16" do carro testado não são mais ofertadas) e retrovisores elétricos, entre outros itens, por R$ 3.490. Se quiser ainda equipamentos que o Sandero não oferece, como ar digital, retrovisor eletrocrômico e sensores de chuva e luz, separe mais R$ 3.050.
Já a Renault optou por não oferecer opcionais, entregando os equipamentos de acordo com a versão. Ou seja, tudo que você vê neste Sandero Intense é de série, como ar-condicionado automático (não digital), multimídia de 7" com Apple Carplay e Android Auto, câmera de ré com sensor de estacionamento e rodas de liga aro 16". Como no Fiat, os controles de tração e estabilidade com assistente de partida em rampa são item padrão. Mas só o Renault vem com os airbags laterais, que deixaram de ser oferecidos no Fiat (antes eram opcionais).
Em resumo, o Argo tem interior mais bem cuidado e pode ficar mais equipado que o Sandero quando completo, no entanto, seu conteúdo de série é raso. Para ter o Fiat com nível semelhante de equipamentos é preciso gastar R$ 69.580, ou R$ 4.090 a mais que o Renault.
Vantagem: Empate
A união do motor 1.6 SCe ao câmbio CVT não é novidade na Renault brasileira (já equipa os SUVs Duster e Captur), mas serviu melhor ao Sandero. Isso porque o hatch é leve, pesando 1.140 kg nesta versão - cerca de 120 kg a menos que o Argo. Após uma certa hesitação inicial (que acontece em alguns CVT), o Sandero acelera de forma agradável e não fica sem fôlego nas ultrapassagens. A transmissão agrada pelo funcionamento naturalmente isento de trancos e, para não ficar monótono, há simulação de 6 marchas mesmo em Drive. Se preferir, é possível fazer mudanças manuais pela alavanca, no sentido "correto": trocas ascendentes para trás e reduções para frente.
Nos testes de desempenho, o Sandero mostrou números compatíveis com o que sentimos nas ruas. Com 118 cv e 16 kgfm à disposição, ele andou próximo do Argo, que, com seu motor 1.8, conta com 139 cv e 19,3 kgfm. A aceleração de 0 a 100 km/h levou 11,7 segundos no Renault, contra 11,2 s do Fiat, enquanto a retomada de 80 a 120 km/h foi cumprida em 9,4 s pelo Sandero e em 8,1 s pelo Argo - neste caso com o Fiat fazendo valer sua maior força.
Acontece que a conversa entre motor e câmbio não é tão amigável no Fiat quanto no Renault. Para tentar reduzir o consumo, a Fiat programou a transmissão de 6 marchas para fazer trocas muito cedo, valendo-se do bom torque do 1.8. Acontece que muitas vezes ela faz mudanças ascendentes exageradas e, quando o acelerador é mais exigido, demora para responder ou acaba reduzindo marcha demais. Também não há opção de modo esportivo. Se quiser evitar esse comportamento, o jeito é comandar as trocas você mesmo na alavanca (ou pelas borboletas no volante opcionais).
Na prática, parece que você está sempre usando um modo econômico que compromete a real capacidade do motor, e mesmo assim o consumo é alto na cidade: 7,6 km/litro contra 8,3 km/litro do Sandero. Na estrada, no entanto, esperávamos mais do CVT. Mesmo mantendo o giro do motor ao redor das 2 mil rpm a 120 km/h (2,5 mil no Argo em sexta), o Renault registrou 11,1 km/litro contra 12,1 km/litro do Fiat.
O que desaponta no Sandero é a ausência da direção elétrica. Contrariando todas as previsões, já que até o pequenino Kwid possui o recurso, a Renault manteve o sistema eletro-hidráulico - que tem um motor elétrico para acionar a bomba hidráulica, mas é tão pesada quanto uma direção hidráulica comum. Essa característica reduz não só o conforto nas manobras como também prejudica a agilidade no trânsito, pois, além de mais pesado, o sistema é lento. Em comparação, o Argo tem o direção bem acertada, com leveza nas manobras e peso suficiente em velocidades de estrada.
Também na suspensão o Fiat leva vantagem. O Argo é macio e absorve bem as imperfeições sem ser molenga nas curvas. O Sandero normalmente tem comportamento parecido, mas, nesta versão automática, a Renault precisou elevar a suspensão em 40 mm para livrar a caixa CVT de sofrer algum impacto contra o solo em obstáculos. Para compensar esse incremento, a suspensão ficou mais firme e perdeu um pouco de conforto, ao mesmo tempo em que a maior altura ampliou a inclinação da carroceria nas curvas. Resultado: o Argo roda melhor e é mais estável, além de ser mais silencioso na estrada. Em compensação, o Sandero freia em menores espaços, por boa margem.
Vantagem: Argo AT
Como vimos anteriormente, o Argo começa mais barato, no entanto, fica mais caro quando colocado em pé de igualdade com o Sandero em termos de equipamentos. Já no pós-venda, a garantia dos dois é a mesma (3 anos) e os preços das três primeiras revisões é muito semelhante, com a diferença de que a Renault cobra o mesmo valor nas três manutenções, enquanto na Fiat varia de uma para outra. Vale dizer, no entanto, que os preços do Sandero se referem ao modelo 2019 com câmbio manual, pois a Renault ainda não divulgou a tabela de manutenção da linha 2020. Não deve, porém, haver alteração significativa.
1ª REVISÃO | 2ª REVISÃO | 3ª REVISÃO | TOTAL | |
Fiat Argo 1.8 AT | R$ 304,00 | R$ 544,00 | R$ 468,00 | R$ 1.316,00 |
Renault Sandero CVT | R$ 459,00 | R$ 459,00 | R$ 459,00 | R$ 1.377,00 |
Em termos de qualidade no pós-venda, tanto a Fiat quanto a Renault precisam melhorar. Foram as duas mais mal avaliadas pela mais recente pesquisa da J.D. Power entre as marcas generalistas.
Vantagem: Empate
A Renault poderia ter ido mais além da reestilização do Sandero e resolvido falhas como a ausência da direção elétrica e alguns detalhes de acabamento e ergonomia. No entanto, o entendimento entre o motor 1.6 e o câmbio CVT se mostrou favorável ao hatch francês, em especial no ambiente urbano, com bom desempenho e consumo baixo. Além disso, sua altura do solo elevada permite enfrentar com tranquilidade toda a sorte de obstáculos da cidade, como valetas, quebra-molas e entradas de garagem.
Pelo lado da Fiat, a redução de preço do Argo 1.8 com câmbio automático trouxe o modelo para uma nova realidade, meio que aceitando que não dava para brigar com o Polo 1.0 TSI. Perdeu itens, é verdade, mas ainda é um carro superior ao Sandero em acabamento e dirigibilidade, em que pese o ajuste de câmbio muito conservador.
Se a decisão for tomada pela relação custo-benefício, o Renault fica com a vitória. Já se o preço não for um fator preponderante, o Fiat tem mais encantos.
Você também pode acompanhar as novidades no Instagram do Motor1.com Brasil.
Fotos: autor
Fichas técnicas
Fiat Argo 1.8 AT | Renault Sandero 1.6 CVT | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.747 cm3, comando simples variável, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.597 cm³, duplo comando com variador na admissão, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 135/139 cv a 5.750 rpm / 18,8/19,3 kgfm a 3.750 rpm | 115/118 cv a 5.500 rpm / 16,0 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 6 marchas; tração dianteira | câmbio automático CVT com simulação de 6 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 16" com pneus 195/60 R16 (opc.) | liga leve de 16" com pneus 205/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e ESP |
PESO | 1.264 kg em ordem de marcha | 1.140 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.998 mm, largura 1.724 mm, altura 1.507 mm, entre-eixos 2.521 mm | comprimento 4.070 mm, largura 1.730 mm, altura 1.570 mm, entre-eixos 2.590 mm |
CAPACIDADES | tanque 48 litros; porta-malas 300 litros | tanque 50 litros; porta-malas 320 litros |
PREÇO |
R$ 63.990 |
R$ 65.490 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
Argo 1.8 AT | Sandero 1.6 CVT | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h |
4,9 s |
4,9 s | |
0 a 80 km/h | 7,6 s |
7,8 s |
|
0 a 100 km/h | 11,2 s | 11,7 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em D | 8,4 s | 9,3 s | |
80 a 120 km/h em D | 8,1 s | 9,4 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 41,7 m | 38,7 m | |
80 km/h a 0 | 26,1 m | 24,2 m | |
60 km/h a 0 |
14,7 m |
13,5 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 7,6 km/l | 8,3 km/l | |
Ciclo estrada | 12,1 km/l |
11,1 km/l |
RECOMENDADO PARA VOCÊ
Fora de linha no Brasil, Renault Sandero chega à linha 2023 na Argentina
Jaguar revela novo logotipo e sinaliza como será 'recomeço elétrico'
Sandero terá nova geração em 2027 com design robusto e versão elétrica
Black Friday GM: Onix e Tracker têm R$ 13 mil de desconto e taxa 0%
Sandero volta a liderar vendas de carros na Europa em abril
"Vinte porcento das pessoas que experimentam a Amarok a compram"
Carros mais vendidos na Europa em fevereiro: Tesla duela com Sandero