Ao etiquetar o HR-V Touring em R$ 139.990, a Honda colocou seu SUV compacto numa enrascada. Nesta seara, ele terá de enfrentar modelos de porte superior, como Jeep Compass, Peugeot 3008 e Mitsubishi Eclipse Cross, entre outros. Desses, o que mais se assemelha ao modelo da Honda é justamente o Eclipse: origem japonesa, motor 1.5 turbo, câmbio CVT e ainda o estilo meio cupê, com o teto inclinado. Na falta de alguém do tamanho do HR-V para a briga, escalamos o novo crossover Mit para o primeiro comparativo do Honda turbinado aqui no Motor1.com.
Nota: os testes instrumentados e impressões ao dirigir foram feitos com o Eclipse Cross AWD, pois é o único disponível na frota da marca. Nos preços, porém, consideramos a versão 2WD.
O HR-V sempre se destacou entre os SUVs compactos por seu aproveitamento de espaço ímpar. Aproveitando a base do Fit, o SUV tem o tanque instalado sob os bancos dianteiros (normalmente os projetos colocam o reservatório sob o banco traseiro), o que abre um belo espaço embaixo do assento traseiro. Hoje a Honda chama isso de Magic Seat, e ainda é um dos argumentos de vendas do modelo.
Espaçoso, o HR-V não passou vergonha ao lado do Eclipse Cross, mesmo com o Mit sendo maior em todas as dimensões. Aliás, o Eclipse Cross parece mais focado no design que no espaço, já que soluções como seu teto rebaixado roubam alguns centímetros da acomodação interna. Se na dianteira ambos oferecem espaço parecido e um console central alto, o HR-V é bem mais aconchegante para os passageiros de trás. O mesmo acontece no porta-malas, sendo que o Mitsubishi é bastante prejudicado por trazer um estepe integral, enquanto o HR-V Touring perde 44 litros por conta de um assoalho elevado para acomodar o abafador exclusivo da motorização turbo, com duas saídas de escape.
Ainda falando sobre espaço, o HR-V oferece mais porta-trecos. Quase escondidas embaixo do painel, as portas USB são acompanhadas de um nicho para abrigar o smartphone. Com console central alto, ambos têm um belo porta-objetos e porta-copos. No Eclipse, a porta USB e o local para o celular ficam logo abaixo dos comandos do ar-condicionado.
Os dois japoneses parecem compartilhar até mesmo algumas falhas. Para mudar as funções do computador de bordo, os botões estão instalados ou no painel de instrumentos ou logo abaixo dele, uma solução nada ergonômica e nada prática, já que exige muito tempo de distração para mudar as informações exibidas.
Vantagem: Honda HR-V
Aos que se impressionam pelo estilo, o Eclipse Cross é mais atraente. Tanto por fora quanto por dentro, o Mit é mais ousado e chamativo que o HR-V, mesmo que esta versão Touring use couro claro no interior (exclusividade dos modelos nas cores branca, azul e cinza). O Mitsubishi aposta no preto brilhante e prata no interior, além da central multimídia em posição de destaque.
Apesar de ser mais sóbrio, o HR-V investe em materiais macios no painel e nas portas, mas desanima o consumidor ao ter praticamente o mesmo visual das versões mais baratas, que custam bem menos. Nos EUA ele ganhou, por exemplo, um painel quase todo digital.
É nos equipamentos, aliás, que o Eclipse Cross mostra seu valor. Se esperávamos que o HR-V Touring traria o Honda Sensing do Accord, o Mitsubishi tem recurso semelhante como item de série. Na lista de assistentes de condução, há piloto automático adaptativo, detector de ponto-cego, alerta de frenagem de emergência com frenagem automática, prevenção de aceleração involuntária (impede que o acelerador seja acionado em uma situação que o carro percebe que é por acidente) e alerta de mudança de faixa, além dos controles de tração e estabilidade com assistente de partida em rampas. Ainda em termos de segurança, o Mit vem com 7 airbags (frontais, laterais, cortina e de joelho para o motorista).
Já o Honda HR-V Touring não tem nada de exclusivo em relação ao Eclipse Cross. Estamos falando de faróis full-LED (inclusive o Eclipse traz o farol alto automático), sendo que as luzes de neblina do Honda também são em LED, lanternas em LED, partida e abertura de portas com chave presencial, sistema multimídia com tela de 7" e espelhamento de smartphones, piloto automático, teto-solar duplo, 6 airbags e freio de estacionamento elétrico com função autohold. O Mitsubishi ainda traz o aquecimento dos bancos dianteiros e regulagem elétrica para o motorista, sem falar no head-up display.
Vantagem: Mitsubishi Eclipse Cross
Andar com os dois SUVs deixa claro que, apesar das similaridades, eles têm destinos diferentes. A Honda trabalhou o HR-V Touring como uma opção mais refinada e "esportiva" do HR-V. Pra isso, a engenharia dedicou tempo para recalibrar a suspensão e o câmbio CVT (uma caixa diferente do modelo 1.8 aspirado) para conversarem com o motor 1.5 turbo de 173 cv e 22,4 kgfm de torque. Coloque na lista amortecedores, molas e até barra estabilizadora exclusivos.
Isso realmente funcionou no Honda. Apesar de não ser firme ao ponto de bater seco como era antes da reestilização, é perceptível que o Touring ficou diferente das versões 1.8. A carroceria inclina bem menos e, com a ajuda do vetorizador de torque, contorna curvas de forma condizente com sua nova potência. Não é um Civic, mas permite ao motorista se empolgar um pouco mais e ter uma dose leve de emoção na condução.
O Eclipse não esquece que é um Mitsubishi, com vocação para o conforto e foco no uso em pisos ruins. É mais alto, sem partes que raspam em qualquer valeta (o Honda tem, além de um lip dianteiro baixo, um abafador central maior e bem aparente pela lateral do carro). Se o Eclipse perdoa mais os ocupantes nos buracos, balança bem mais em velocidades e a carroceria balança mais nas curvas, além da direção elétrica ter pouca comunicação com o motorista - compensa na hora da manobra, mais leve.
Mais potente e mais leve, o HR-V anda na frente. O Eclipse compensa com mais torque e um câmbio CVT que responde mais rápido principalmente na saída (baste ver o empate técnico entre eles até os 40 km/h), mas os 165 cv não são suficientes para acompanhar o Honda. Apesar disso, o câmbio aproveita melhor o torque do motor, não subindo tanto as rotações. O HR-V simula marchas mesmo quando não acionado o modo manual, mas prefere trabalhar acima das 2.000 rpm. Como curiosidade, as aletas para troca de marchas do Eclipse foram herdadas do Lancer Evolution X, feitas em alumínio.
Ambos são bem suaves, com isolamento acústico eficiente mesmo em velocidades mais altas. Por questão do peso, o Mitsubishi bebe mais gasolina (ambos não são flex) que o Honda. Na cidade, marcou 8,0 contra 10,2 km/litro do HR-V, números abaixo do esperado para um motor turbo a gasolina nos dois casos. A melhor explicação fica para a aerodinâmica não muito eficiente de um SUV, pior que um sedã. Na estrada, a diferença foi um pouco maior: 12 vs. 13,6 km/litro.
Vantagem: Honda HR-V Touring
Por R$ 10 mil extras, o Eclipse Cross é mais bem servido de equipamentos, principalmente em itens de segurança. Em compensação, a hora da revisão é mais salgada no Mitsubishi. Enquanto as duas primeiras revisões do HR-V custam R$ 754,61 no total, cada uma do Mit sai por R$ 1.684, ou R$ 842 cada uma. Se quiser levar o Eclipse com sistema de tração integral, separe R$ 8 mil a mais.
Vantagem: empate
A diferença de preço entre os dois, de R$ 10 mil, é justificada pelo pacote de equipamentos do Mitsubishi, mais antenado ao que o comprador procura na faixa de R$ 140 mil a R$ 150 mil. Mas o Eclipse é mais caro de manter e consome mais, além de ter uma dinâmica menos equilibrada. O Honda HR-V atende melhor ao público urbano e que busca mais "esportividade". Vence o comparativo, mas com ressalvas pela ausência do Honda Sensing e por custar mais que o Civic Touring, um carro superior em técnica, performance e eficiência. Essa briga dos SUVs japoneses ficará mais interessante quando o Mitsubishi for nacionalizado e tiver versões mais baratas, ainda que menos equipadas.
Fotos: Paulo Henrique Trindade
Honda HR-V Touring | Mitsubishi Eclipse Cross | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 16 válvulas, 1.498 cm3, injeção direta, comando duplo variável, gasolina | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.499 cc, 16 válvulas, duplo comando variável, injeção direta e indireta, turbo, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 173 cv a 5.500 rpm; 22,4 kgfm de 1.700 a 5.000 rpm | 165 cv a 5.500 rpm; 25,5 kgfm de 2.000 a 3.500 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático CVT com simulação de 7 marchas, tração dianteira | câmbio automático CVT com simulação de 8 marchas, tração integral automática |
SUSPENSÃO |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e independente multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 17" com pneus 215/55 R17 | alumínio aro 18" com pneus 225/55 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira, com ABS |
PESO | 1.380 kg em ordem de marcha | 1.605 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.329 mm, largura 1.772 mm, altura 1.650 mm, entre-eixos 2.610 mm | comprimento 4.405 mm, largura 1.805 mm, altura 1.685 mm, entre-eixos 2.670 mm |
CAPACIDADES | porta-malas 393 litros, tanque 51 litros | tanque 60 litros, porta-malas 341 litros |
PREÇO |
R$ 139.900 |
R$ 157.990 (AWD) ou R$ 149.990 (2WD) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
HR-V 1.5T | Eclipse Cross 1.5T | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h |
4,2 s |
4,3 s | |
0 a 80 km/h | 6,0 s |
6,6 s |
|
0 a 100 km/h | 8,5 s | 9,6 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em D | 6,4 s | 7,2 s | |
80 a 120 km/h em D | 6,0 s | 7,0 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 39,6 m | 40,2 m | |
80 km/h a 0 | 25,7 m | 24,7 m | |
60 km/h a 0 |
14,6 m |
13,9 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 10,2 km/l | 8,0 km/l | |
Ciclo estrada | 13,6 km/l |
12,0 km/l |
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