Teve um breve momento em que a minha mente desligou enquanto o pace car na minha frente largava. Eu pisei na embreagem, engatei a primeira e as rodas de 19 polegadas com pneus 235/35 Pirelli P-Zero começaram a girar, me levando para a pista mais desafiadora do mundo: a alemã Nürburgring Nordschleife.
Quase imediatamente já estava passando para a segunda marcha, então para a terceira e para a quarta. Tirei o pé do acelerador antes de reduzir a marcha após a chicane Hohenrain e o interior logo se encheu com estouros do escapamento. Não é um Mercedes-AMG ou um Aston Martin fazendo este som, é um Hyundai. Mais especificamente, o segundo carro de alto desempenho da Hyundai, feito por sua divisão esportiva: o Veloster N.
Na Europa, a Hyundai N começou sua carreira com o i30 N, bem recebido por ser um hatch médio no mesmo patamar de nomes conhecidos como Ford Focus ST e Volkswagen Golf GTI. E o Veloster N? O que faz com que seja tão diferente do i30 além do fato de ter três portas? Por que resolveram criar esta versão?
Há sete ano, em 2011, o Hyundai Veloster foi lançado. Era um hatch de três portas e tração dianteira que chamou a atenção por seu design bem promissor. Apostava nas mesmas fichas que os outros carros importados da Hyundai: cheio de equipamentos e com linhas chamativas. Só que decepcionou no desempenho - principalmente no Brasil, onde recebeu um motor 1.6 com injeção indireta, o mesmo que depois equipou o hatch de entrada HB20.
Tempos depois lançaram o Veloster Turbo, com um 1.6 turbo de 204 cv, que foi prometido pela CAOA mas que nunca chegou ao Brasil além de poucas unidades de homologação. Tinha suspensão melhorada e novo ajuste do conjunto, além de uma transmissão manual de 6 marchas. Este sim merecia mais destaque, pois seu motor era fantástico, embora a dinâmica pudesse ser melhor, já que ficava devendo frente ao Volkswagen Golf GTI e estava muito longe dos hatches mais esportivos, como o Ford Focus RS.
Anos depois, estou aqui, voando pela Flugplatz (reta famosa por subir e, logo em seguida, virar uma descida que termina em duas curvas para a direita), tão focado em enfrentar Nürburgring que não consegui mexer nos cinco modos de condução do Veloster N. Isso ficou para o dia seguinte, nas ruas ao redor do Inferno Verde. E não conseguia tirar uma coisa da cabeça: estava me divertindo muito com um Hyundai de tração dianteira que anda muito bem.
Apesar do motor 2.0 turbo de 280 cv com o pacote Performance, o Veloster N não é tão rápido assim, mas tem o suficiente para divertir muito. Utiliza uma transmissão manual de 6 marchas, outra boa notícia para os entusiastas, apesar da marca estar trabalhando em um CVT que simula 8 marchas. A Hyundai diz que ele chega aos 100 km/h em 6,1 segundos, usando a função de controle de largada - sim, ele tem um.
Pela primeira vez, um carro da Hyundai não tem medo de curvas.
Talvez o mais importante, pela primeira vez um carro da Hyundai que não tem medo de curvas. Sai muito pouco de dianteira e há uma bela sensação ao devorar cada uma das curvas, graças aos ajustes na central eletrônica. Albert Biermann, o ex-chefe de engenharia da BMW M e atual vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Hyundai, disse que é de propósito.
Biermann me disse que, embora o nome da divisão venha de Namyang - a casa do centro de pesquisa e desenvolvimento da Hyundai na Coreia do Sul - também é de Nürburgring, pois todos os carros da Hyundai N terão que encarar a pista para fazer os últimos ajustes. O "N" do logo, supostamente, deveria lembrar uma chicane. Pode ser conversa de marketing, mas é inegável que realmente trabalharam na dinâmica e que podemos considerar o que ele disse como verdade.
Outro fato interessante é que a Hyundai descartou os freios Brembo, preferindo desenvolver seus próprios freios em parceria com uma empresa coreana.
"Poderia ter sido equipado com os freios da Brembo, mas o custo iria aumentar. Queremos que tenha um preço acessível e iremos oferecer os freios da Brembo nos modelos mais caros," disse Biermann.
O Kia Stinger e o Genesis G70 são dois exemplos, ambos com freios Brembo nas versões com motor 3.3 turbo e com freios da própria Hyundai nas configurações 2.0 turbo. Biermann insistiu que eu tirasse minhas próprias conclusões, mas ele acha que o trabalho feito com as fornecedoras coreanas deram bom resultado.
O Veloster N adota os mesmos freios a disco de 13,6 polegadas do Kia Optima, com pinças de dois pistões, e freios traseiros de 12,4 polegadas com somente um pistão. Comecei a usar os freios bem cedo e com frequência em Nürburgring, onde frear com competência é muito mais importante do que acelerar. O veredito? Passaram no teste. Na verdade, são impressionantes, tanto na efetividade quanto nas sensações. Os engenheiros que desenvolveram o sistema de freios podem ficar orgulhosos.
No dia seguinte, tive a chance de aproveitar mais o Veloster N e senti-lo de verdade. Embora pude notar muitas coisas ao dar duas voltas em Nürburgring, queria andar nele no meu próprio ritmo e testar todos os modelos de condução em condições diferentes. Isso me ajudaria a entender melhor o carro quando não está correndo.
Os engenheiros que desenvolveram o sistema de freios podem ficar orgulhosos.
Também me permitiu olhar melhor seu visual. Os modelos de teste estavam pintados em um azul claro chamado Performance Blue, que é uma cor única e bem atraente, com detalhes em vermelho - é o mesmo esquema de cores utilizado na apresentação do Veloster N.
Tem uma grade colmeia, luzes diurnas em LED bem afiadas, entradas de ar que ajudam a refrigerar os freios, uma saia lateral bem chamativa, uma pequena asa traseira que praticamente vira parte do teto, e lanternas em LED que chamam muito a atenção. Na parte de baixo da traseira estão duas saídas de escapamento, uma em cada ponta, o que ajuda a enfatizar sua largura - isso segundo Thomas Bürkle, chefe do centro europeu de design da Hyundai. Imagino que também serve para distinguir o Veloster N das versões normais.
No interior, como muitos carros da Hyundai, tem acabamento luxuoso e bem coeso, incluindo uma atraente tela sensível ao toque de 8 polegadas com grafismo exclusivo, um volante próprio com seletor de modo de condução, alavanca de câmbio esportiva - que é bem gostosa de usar, com engates curtos e precisos - e bancos esportivos que te abraçam sem ser desconfortáveis. Os assentos traseiros são úteis, com espaço suficiente para adultos.
Comecei a andar pelas ruas ao redor do circuito e pude brincar com os modos de condução. Tem três modos que podem ser escolhidos pelo botão na parte esquerda do volante: Eco, Normal e Sport. Os outros dois modos "N" são selecionados pelo botão do lado direito. Um é o "N Custom", que permite que o motorista crie seus próprios ajustes, enquanto o "N Mode" normal é o mais agressivo, ajustando o volante, acelerador, suspensão e escape para o máximo. E ainda tem uma função anti-lag (que enche o turbo mesmo parado) programada que deixar o carro ainda mais rápido, porém aumentando o consumo.
Ao contrário dos outros carros da Hyundai, aqui os modos de direção realmente tem algumas diferenças.
Ao contrário dos outros carros da Hyundai, aqui os modos de direção realmente tem algumas diferenças. Como não tinha muito tempo, não usei muito o modo Eco, mas dirigi muito no Normal. É o suficiente para sobreviver pela cidade. Não é especialmente esportiva, pois o acelerador não é tão responsivo, é bem mais quieto e o volante é mais leve. O modo Sport é o melhor. Deixa tudo mais firme, aumenta o volume do motor, o carro fica mais rápido e mais esportivo.
Enquanto o N Mode é quem produz o melhor som e faz com que fique mais rápido, também fez com ficasse pulando dentro do carro. O ajuste da suspensão neste modo é mais voltado para a pista, longe de ser o ideal para as ruas em que estava. Ele é equipado com McPherson na frente e multi-link na traseira. Pode ser aqui que o modo Custom mostre suas qualidades, com o ajuste de suspensão do Sport e o som, acelerador e resposta do volante do N.
Meu tempo com o carro foi curto, mas o suficiente para entender que a Hyundai fez algo digno de nota. A empresa anunciou a criação da Hyundai N no Salão de Frankfurt de 2015 e logo começou a trazer as pessoas necessárias para dar vida à sua divisão esportiva.
O resultado é o Veloster N, um dos carros mais divertidos já feitos pela Hyundai e outro sinal - ao lado do Stinger e do G70 - é que o Grupo Hyundai está melhorando no quesito dirigibilidade de forma agressiva. O mais importante aqui talvez seja o quanto a Hyundai vá cobrar pelo Veloster N. Se ele custar o mesmo que os concorrentes, como VW Golf GTI e Honda Civic Type R, então será um começo promissor para a divisão de alta performance da marca coreana. Só faltava incluir o Brasil nos planos.
2019 Hyundai Veloster N
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