Oito anos é bastante tempo quando falamos sobre automóveis. Muita coisa acontece neste tempo, como a chegada de novas tecnologias, novos concorrentes, atualizações mecânicas e visuais, ou mesmo mudanças nas tendências de mercado. Em 2010, quando a Mitsubishi lançou o ASX, por exemplo, os SUVs eram bem menos representativos do que hoje.
O ASX mudou pouco neste tempo. Tornou-se produto nacional em 2013, teve duas leves atualizações visuais (a última foi apresentada no Salão do Automóvel 2016) e o motor 2.0 virou flex há cerca de um ano. Ainda assim, existe uma legião de compradores que valoriza suas qualidades - mesmo com as vendas bem longe do que foram no passado. A Mitsubishi começará a vender o Eclipse Cross por aqui a partir de setembro. Teoricamente, o Eclipse substituiria o ASX, mas a marca garante que há lugar para convivência pacífica entre eles - como acontece nos EUA. Mas será que o SUV veterano ainda tem lenha para queimar? É o que veremos neste teste da linha 2018, avaliada no modelo intermediário com tração 4x4 e câmbio CVT.
Em termos de posicionamento de mercado, o ASX é um SUV médio. Há quem questione, pois, com 4,36 metros de comprimento, o Mitsubishi está entre o Honda HR-V (4.294 mm) e o Jeep Compass (4.416 mm), mas sua largura e altura se aproximam bem mais do Jeep, além de possuir entre-eixos maior, com 2.670 mm - valor na faixa dos novos Honda CR-V e Peugeot 3008. Isso dá a ele uma boa acomodação interna e porta-malas de 415 litros, ou 5 litros a mais que o Compass. Há quem o prefira justamente por ser mais curto, melhorando o uso em grandes (e apertados) centros, sem abrir mão do espaço.
Nascido há oito anos, lógico que o ASX envelheceu. Não há como brigar com o tempo, mas mesmo assim o SUV carrega bom acabamento, com peças suaves ao toque em diversas partes e que ao mesmo tempo aparentam boa qualidade e solidez. A questão é que o desenho entrega sua idade, com mais "rugas" que a parte de fora. Outros pontos que denunciam seus oito anos são a ausência de iluminação nos botões de vidros, travas e retrovisores na porta do motorista. Por outro lado, o painel de instrumentos é de fácil visualização, com uma tela colorida ao centro para funções de computador de bordo. O volante foi "reestilizado" em 2016. A central multimídia também foi atualizada, vindo agora com tela de 7" e espelhamento de smartphones. Mas parece acessório instalado em loja de som.
Ao volante, o ASX é uma mistura de sensações. A posição é elevada (como o público de SUVs gosta), com bom alinhamento entre coluna de direção (regulável em altura e profundidade) e pedais, algo positivo pensando que, neste ponto, fica próximo dos concorrentes mais recentes. A ergonomia também é elogiável, com os principais comandos posicionados ao alcance das mãos, inclusive o botão de acionamento da tração 4x4 no console central. Chave de seta e a alavanca do câmbio são mais duros do que normalmente encontramos em novos modelos, e isso chamou a atenção negativamente.
O motor 2.0 (código 4B11) tem duplo comando de válvulas variável (o MIVEC), com corrente para a sincronização. Abastecido com etanol, chega a 170 cv e 23 kgfm de torque a 4.250 rpm, com boa entrega de força desde as rotações mais baixas. Já tive a oportunidade de dirigir o ASX com câmbio manual e é surpreendente o quanto ele responde bem, mesmo pesando mais de 1.400 kg. Com o CVT, porém, há uma incômoda demora da transmissão nas saídas, algo que as novas caixas resolveram em carros mais modernos. A transmissão da Mitsubishi tem simulação de 6 marchas com trocas por aletas de alumínio na coluna de direção, como no saudoso Lancer Evo X, mas não chega nem perto de empolgar. E, quando abastecido com etanol, o motor apagou algumas vezes na fase fria quando se exigia mais dele, como para sair da ladeira da garagem do prédio.
Na pista de testes, o ASX teve bons números. Como comparação, sua aceleração de 0 a 100 km/h em 10,6 segundos foi mais rápida que a do Jeep Compass 2.0 flex (11,6 s). E como o câmbio CVT faz o motor trabalhar em sua faixa de potência máxima, as retomadas 40 a 100 km/h e 80 a 120 km/h foram feitas em bons 7,3 e 6,9 segundos, respectivamente, tempos próximos do Peugeot 3008 e seu 1.6 turbo (7,1/6,8) e do VW Tiguan AllSpace 1.4T (7,2/7,0). Mas na hora de parar, mesmo com disco nas quatro rodas, o ASX cravou 45,1 metros, mais que os 44,8 metros do Compass, que também não deve se orgulhar disso. Outro ponto fraco é o consumo: com médias de 6,0 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada, só foi melhor que o...Jeep Compass, com 5,7 e 8,0 km/l, na ordem.
A dinâmica do ASX agradou mais do que alguns SUVs mais novos. Com suspensão independente nas quatro rodas (multibraços na traseira), segura a carroceria mesmo quando provocado. Apesar da suspensão com propensão ao conforto e boa dose de amortecimento de impactos, seu balanço é facilmente controlável, só incomodando o quanto a traseira oscila ao passar por ondulações em altas velocidade. Antes de olhar a ficha técnica, eu jurava que o ASX usava assistência hidráulica para a direção, justamente pelo peso nas manobras e o quanto transmite dos buracos para as mãos do motorista. Mas é uma caixa elétrica, que merece recalibração para ficar mais leve em baixas velocidades, apesar de gostar do quanto ela comunica na estrada.
O grande diferencial do ASX é o sistema de tração 4x4 que pode rodar no modo 4x2 (dianteira), 4x4 automática (que distribui a força automaticamente entre os eixos quando percebe alguma situação de perda de tração) e 4x4 lock (com distribuição igualitária entre os eixos). Funciona a contento, como já pudemos testar em oportunidades de trilhas e no asfalto, onde também pode ser selecionada a função Auto, por exemplo, em dias de chuva.
O Mitsubishi ASX é vendido em três versões. A 2WD CVT custa R$ 103.990 e traz itens como central multimídia, piloto automático, assistente de partida em rampas, o mesmo conjunto de motor 2.0 e câmbio CVT aqui retratado, central multimídia, ar-condicionado automático, conjunto elétrico, Isofix, duplo airbag, câmera de ré e sensor de estacionamento.
A versão testada, a 4WD, passa a R$ 120.990 e adiciona retrovisores com rebatimento elétrico, abertura de portas e partida com chave presencial, acendimento automático dos faróis, bancos dianteiros com aquecimento e elétrico para o motorista, sete airbags (dianteiros, laterais, de cortina e de joelho para motorista) e controles de tração e estabilidade. Por fim, a chamada 4WD TOP sai por R$ 129.990 e adiciona teto-solar panorâmico e faróis de xenônio com lavador.
Para um carro veterano e com tantos rivais de peso, o ASX não é nada barato A 4WD, se fosse cerca de R$ 10 mil mais barata, competiria com, por exemplo, por compradores do Jeep Renegade 2.0 turbodiesel, de R$ 108.990 na versão Custom.
Vamos ter que esperar o Eclipse Cross para ver o que acontecerá com o ASX. Ele tem um pouco de lenha ainda para queimar, mas precisa atualizar alguns detalhes e, principalmente, ficar mais atraente para o bolso. Afinal, as rugas já estão bem visíveis.
Fotos: autor/Motor1.com
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.998 cc, 16 válvulas, duplo comando variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
160/170 cv a 6.000 rpm; 22/23 kgfm a 4.250 rpm |
TRANSMISSÃO | CVT com simulação de 6 marchas, tração 4x4, com 4x2 dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e multibraços na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 18" com pneus 225/55 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS |
PESO | 1.480 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.360 mm, largura 1.810 mm, altura 1.635 mm, entre-eixos 2.670 mm |
CAPACIDADES | tanque 60 litros, porta-malas 415 litros |
PREÇOS | R$ 120.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Mitsubishi ASX 4WD 2.0 Flex CVT | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,7 s | |
0 a 80 km/h | 7,3 s | |
0 a 100 km/h | 10,6 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 7,3 s | |
80 a 120 km/h em D | 6,9 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 45,1 m | |
80 km/h a 0 | 29,2 m | |
60 km/h a 0 | 16,7 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 6,0 km/l | |
Ciclo estrada | 9,2 km/l |
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