Volta e meia as pessoas dizem que os carros estão ficando todos iguais, especialmente aquelas não muito ligadas ao mundo automotivo. O pior é que muitas vezes, infelizmente, elas têm razão. São casos de "family face", nos quais os modelos de uma mesma marca se parecem, e também o pior cenário, no qual uma fabricante aproveita elementos de estilo de uma outra marca. Ainda bem que temos exceções, como os novos BMW X2 e Volvo XC40 que comparamos nesta reportagem. Com desenhos cheios de personalidade, cada um a seu modo, eles chegam praticamente juntos ao Brasil para se destacarem no mar de SUVs que invadiu nossas ruas. Um tem pegada mais esportiva, o outro investe no conforto. E ambos são muito bons de dirigir. Qual deles é o melhor?
Encare o X2 como um hatch médio bombado. Derivado do X1, compartilha a plataforma UKL de tração dianteira vinda dos Mini, tendo medidas um pouco menores que as do irmão. É mais curto e baixo, se diferenciando justamente no design que remete aos cupês, com o teto curvo e a coluna C larga - tão grossa que a BMW resolveu colocar o logotipo da marca lá, relembrando os modelos BMW 2000 CS e BMW 3.0 CSL. O mais legal é que o poder de atração do X2 não fica restrito à aparência.
Como esperado, o SUV-cupê alemão perde do X1 no espaço. Na frente é amplo e confortável, mas atrás ele é mais justo por conta do caimento do teto. Leva dois adultos com até 1,80 metro, mas além disso vai haver aperto - tanto para as pernas quanto para a cabeça. Um eventual terceiro ocupante ainda terá um encosto duro, mas o negócio desse carro não é levar a família - para isso existe o X1. Já o porta-malas de 470 litros não compromete, pelo contrário, supera o do Volvo em 10 litros.
Com formato mais "jipinho", o XC40 tem plataforma dedicada (CMA, que dará origem a outros modelos compactos da marca e da sua proprietária Geely), com linhas mais quadradinhas e teto elevado. Aposta também numa coluna C larga, além de investir na moda da pintura bi-tom, com teto em cor diferente (sempre preto nesta versão R-Design). Só de olhar por fora já imaginamos que a acomodação é melhor no Volvo. De fato, ele tem mais área para a cabeça dos ocupantes no banco traseiro, além de a cabine ser mais larga, mas o espaço para as pernas é semelhante ao do X2 e o encosto é um tanto vertical. O porta-malas de 460 litros possui um compartimento abaixo do piso, útil para pequenos objetos. Mas tem um ponto a rever: a placa fica muito exposta quando se abre a tampa traseira, correndo-se o risco de danificar a placa com alguma bagagem ou, pior, machucar a mão no metal.
As colunas traseiras largas comprometem a visibilidade nos dois carros. O caso do BMW, porém, é mais sentido porque os vidros laterais e traseiro são pequenos, limitando a visão em manobras de ré. No Volvo as janelas são grandes e o vidro traseiro é maior, com o corte da tampa bem reto. Sueco e alemão também se diferenciam na posição de dirigir. O X2 segue lembrando um hatch, com banco mais baixo e firme, além de ter o acelerador incrustado no assoalho, em sintonia com sua proposta esportiva. O XC40 vem com belos bancos esportivos nesta versão R-Design, incluindo revestimento em Alcantara, mas sua posição é mais comum aos demais SUVs: elevada e com visão ampla do trânsito, embora possa ser ajustada para não ficar muito alta.
Quem conhece o X1 vai se surpreender com o X2 por dentro. Embora o desenho do painel seja semelhante, o novo rebento transmite sensação de qualidade superior. Para começar, todo o painel é de material macio e forrado de couro com costuras aparentes, solução de bom gosto que combina com as placas metalizadas colocadas no acabamento das portas, sendo que nestas ainda há uma bela iluminação noturna em LEDs. O volante é o mesmo usado em versões esportivas dos carros da BMW, diferente do X1, enquanto o quadro de instrumentos mantém os relógios analógicos e a iluminação laranja típica da marca.
Destaque do X2 está no novo sistema multimídia BMW ConnectedDrive, que usa um chip 4G para conectar o carro à internet por meio de diversos aplicativos. Assim, você conta com GPS com trânsito ao vivo (que substitui o Waze) e tem à disposição APPs de clima e de notícias, entre outras funções. Mais uma evolução se deu no acesso ao sistema, que agora pode ser feito com toques na própria tela de 8,8", além de manter os botões de atalho no console central, como existia no iDrive. Para complementar o velocímetro analógico, um head-up display reproduz no para-brisas a velocidade digital e as indicações do GPS.
Afora os itens já citados, esta versão M Sport ainda vem com bancos esportivos de ajustes elétricos, teto solar panorâmico, ar digital de duas zonas, chave presencial e partida por botão, retrovisores rebatíveis e com aquecimento, sistema de modos de condução e câmera de ré. As rodas são aro 19".
Se o X2 remete a um X1 mais refinado, o XC40 segue a receita interna do irmãos maiores XC60 e XC90. Claro que o acabamento é um pouco mais simples, com uso de alguns plásticos rígidos na parte inferior do painel e console central (embora com textura agradável ao toque). Neste R-Design há elementos metalizados e um grafismo que combina com as telinhas dos tweeters do sistema de som Harman/Kardon nas portas. Falando do áudio, uma curiosidade: neste carro não há os falantes tradicionais na parte inferior das portas, com o som fluindo pelas saídas de ar. Interessante também é a forração de feltro nas portas, que vem desde o porta-mapas.
O sistema multimídia do Volvo segue o padrão da marca, com uma tela vertical tipo tablet de 9" que concentra praticamente todas as funções do carro. É intuitiva e fácil de usar, mas sinto de falta de um comando físico para o ar-condicionado, pois para mudar a temperatura, por exemplo, é preciso acionar primeiro a função de climatização para depois alterar o número - o que tira um pouco da atenção do trânsito. Também digital é o quadro de instrumentos, com uma tela TFT de 12,3", porém muda apenas uma função, mostrando ora o computador de bordo, ora o mapa do GPS. Ao menos dá para trocar o grafismo e cor dos instrumentos.
Em relação ao X2, o XC40 fica devendo somente o head-up display. Mas em compensação oferece um pacote de segurança bem mais completo, incluindo piloto automático adaptativo (que freia e move o volante sozinho conforme a necessidade), frenagem automática de emergência, alerta de mudança de faixa, sensor de ponto cego e leitor de placas. Além disso, também vem com aquecimento dos assentos traseiros e rodas aro 20". Como no BMW, temos teto-solar panorâmico, bancos dianteiros com ajustes elétricos, retrovisores rebatíveis, sistema de modos de condução e tampa do porta-malas com acionamento elétrico.
Cada um faz valer sua proposta. O BMW é sempre mais esportivo, com uma direção mais precisa e firme, adjetivo que também pode ser usado para definir a suspensão. Apesar disso, não achei o X2 tão "seco" quanto o X1 em pisos ruins, absorvendo as irregularidades até que com certa competência. Para quem achava que a marca alemã iria perder seu DNA de prazer ao dirigir ao adotar tração dianteira e motor transversal, esse carro é uma bela resposta. Muito equilibrado, dá gosto tacá-lo nas curvas em velocidade e sentir a carroceria pouco inclinar, com um trem dianteiro bastante obediente - parece, de novo, um hot hatch. Claro que sentimos os efeitos das rodas dianteiras tracionando o carro, como uma leve puxada no volante em acelerações fortes e uma saída de frente no limite da aderência. Mas isso não significa que o carro não seja divertido.
Quando a BMW disse que o X2 iria ter apenas a versão de 192 cv do motor 2.0 turbo, enquanto o X1 oferece também a de 231 cv, achei um tanto estranho - afinal, ele é o esportivo da linha. A explicação veio agora, ao testar a novidade. Além de ser menor e mais leve, o X2 vem equipado com a nova transmissão DCT de dupla embreagem e 7 marchas, que mostrou funcionamento exemplar. Além das trocas bastante rápidas, como é de costume nesse tipo de câmbio, a surpresa ficou por conta da suavidade em baixas velocidades, como em manobras e saídas de semáforo. Não há aquele breve "patinamento" que notamos nos DSG da VW e até nos PDK da Porsche, parecendo se tratar de uma caixa automática convencional, com conversor de torque. Ou seja, temos o melhor dos dois mundos, incluindo o controle de largada, que ajusta as embreagens para a arrancada mais rápida possível. Com o sistema, medimos a aceleração de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos - curiosamente a mesma marca do X1 de 231 cv, que usa câmbio automático de 8 marchas.
Pela aptidão para andar rápido e fome de curvas, não duvide de que um X2 M esteja nos planos da BMW para breve...
Por outro lado, o XC40 é partidário do conforto mesmo nesta versão esportiva, que vem com suspensão enrijecida. Embora calçado com rodas aro 20", o SUV sueco desliza macio sobre o asfalto e lida bem com as imperfeições. Ao optar pelo modo Dynamic de condução, a diferença é sutil: a direção continua leve e a rodagem segue suave. Não que o Volvo não seja divertido de dirigir, ele é apenas menos preciso que o BMW em altas velocidades. Principalmente se o piso for ondulado, pois aí a suspensão macia deixa a carroceria oscilar mais. Já a direção tem mais comunicação que a do XC90, mas parece um tanto "sonsa" se comparada à do X2.
Uma vantagem do XC40, no entanto, é incontestável. Ele vem com tração integral, que garante maior aderência em pisos escorregadios (faz diferença na chuva, por exemplo) e ainda permite alguma aventura fora do asfalto, naquela estradinha enlameada do sítio ou da casa de praia. Outro ponto a favor está no motor, que apesar de ter a mesma configuração do BMW (2.0 turbo com injeção direta), rende bem mais: são 254 cv de potência e 35,7 kgfm de torque, números suficientes para pular na frente do X2 nas arrancadas (fez 0 a 100 km/h em 7 segundos cravados), mesmo sendo cerca de 220 kg mais pesado e não ter controle de largada. Nas retomadas, entretanto, a rapidez da caixa de dupla embreagem do alemão fez diferença e garantiu tempos mais baixos. Por fim, ambos mostraram muita segurança nas frenagens, com espaços próximos de parada.
Bem casada ao motor, a transmissão de 8 marchas do Volvo tem passagens suaves e não compromete no uso mais, digamos, animado, pelas borboletas no volante. Mas, apesar da alavanca compacta e estilosa, há uma pequena chatice: ela sempre passa pelo Neutro nas mudanças de Parking para Drive ou de Drive para Ré, e vice-versa. Ou seja, nas manobras é preciso sempre dar dois toques na alavanca, o que requer um período de adaptação.
No geral, tanto o X2 quanto o XC40 deixam o motorista feliz. Compactos, são ágeis na cidade e divertidos em estradas de serra, além de terem motor de sobra para ultrapassagens. Mais eficiente, o BMW ainda surpreendeu pelo baixo consumo, com médias de 10 km/l no ciclo urbano e de 15,6 km/l no rodoviário. O Volvo não chega a ser gastão, mas fica distante do rival em economia: obteve médias de 7,8 km/l e 12,0 km/l, respectivamente.
Chegado o momento da decisão, temos duas vertentes distintas. O X2 é um SUV para quem gosta de hatches e deseja algo mais descolado, mantendo a dirigibilidade esportiva. Também se destaca pelo acabamento e pela excelente central multimídia, mas é menos confortável e equipado, além de custar bem mais: R$ 246.950.
Já o XC40 é a pedida certa para uma família jovem (e bem nascida), equilibrando diversão e agilidade com conforto e segurança. É mais versátil que o BMW pela tração integral e ainda tem itens exclusivos, como o piloto automático adaptativo, que tem funcionamento brilhante e ajuda a reduzir o cansaço em viagens. Por fim, mesmo sendo atraente, ele chama bem menos atenção que o X2, o que pode ser uma boa nesses tempos de insegurança. Mas o que decreta a vitória do Volvo é mesmo o preço de R$ 214.950. Num comparativo tão equilibrado, a diferença de R$ 32 mil é tentadora a favor do XC40.
Fotos: Christian Castanho
BMW X2 20i | Volvo XC40 | |
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.998 cm3, turbo e injeção direta, gasolina | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.969 cm3, turbo e injeção direta, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 192 cv a 5.000 rpm; 28,6 kgfm de 1.350 a 4.600 rpm | 254 cv a 5.500 rpm; 35,7 kgfm de 1.800 a 4.800 rpm |
TRANSMISSÃO | Automatizado de dupla embreagem e 7 marchas, tração dianteira | Automático de 8 marchas, tração integral |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e multibraço na traseira |
independente McPherson dianteira e multibraço na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 19" com pneus 225/45 R19 | alumínio aro 20" com pneus 245/45 R20 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.532 kg em ordem de marcha | 1.755 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.360 mm, largura 1.824 mm, altura 1.526 mm, entre-eixos 2.760 mm | comprimento 4.426 mm, largura 1.863 mm, altura 1.652 mm, entre-eixos 2.702 mm |
CAPACIDADES | tanque 51 litros; porta-malas 470 litros | tanque 54 litros; porta-malas 460 litros |
PREÇO |
R$ 246.950 |
R$ 214.950 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | |||
---|---|---|---|
BMW X2 | Volvo XC40 | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 3,6 s | 3,2 s | |
0 a 80 km/h | 5,3 s | 4,8 s | |
0 a 100 km/h | 7,6 s | 7,0 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em 3ª | 5,4 s | 5,7 s | |
80 a 120 km/h em 4ª | 4,9 s | 5,2 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 37,2 m | 38,7 m | |
80 km/h a 0 | 23,3 m | 23,7 m | |
60 km/h a 0 | 13,2 m | 13,4 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 10,0 km/l | 7,8 km/l | |
Ciclo estrada | 15,6 km/l | 12,0 km/l |
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