Primeiras impressões Ford Ka FreeStyle: Hora de crescer
Ka ganha novo motor 1.5 e câmbio automático para tomar de vez o lugar do Fiesta no posto de compacto da marca
O Ka começa o aquecimento para substituir de vez o Fiesta no mercado brasileiro. Com 440 mil unidades vendidas desde 2014, quando foi lançada a atual geração (somando hatch e sedã), o compacto empurrou o irmão mais velho para o canto das lojas e agora a Ford parece tomar o caminho da GM: investir num único modelo para disputar o segmento de entrada. A linha 2019 estreia com a inédita versão FreeStyle (que substitui Trail) como topo de linha, trazendo o motor 1.5 de 3 cilindros (mesmo do EcoSport) e novos câmbio manual (5 marchas) e automático (6 marchas), além da central multimídia Sync3 e 6 airbags como itens de série, entre outras novidades.
O que é?
Trata-se de uma atualização do atual Ka lançado quatro anos atrás, com leves mudanças visuais e significativas alterações na parte técnica - algo parecido com o que aconteceu com o EcoSport. A Ford passou a produzir no Brasil o motor 1.5 Ti-VCT de 3 cilindros e a nova caixa manual MX65, além de ofertar, pela primeira vez, o câmbio automático na linha Ka. É a mesma transmissão usada no EcoSport, com conversor de torque e 6 marchas, porém, com relações mais longas, pois o compacto é mais leve que o SUV e pode priorizar o consumo sem perder desempenho.
O motor tem praticamente o mesmo rendimento que no Eco (muda somente admissão), entregando 136/128 cv de potência e 16,1/15,6 kgfm de torque (etanol/gasolina) - números vistosos em relação ao atual 1.5 Sigma de 4 cilindros, de 111 cv e 14,9 kgfm de torque. Entre os destaques do novo propulsor, além do cilindro a menos, estão o duplo comando variável (admissão e escape), tuchos hidráulicos com balancins roletados (que o antigo Rocam tinha e o Sigma aboliu), coletor de escape integrado ao cabeçote, bomba de óleo de dois estágios (para altas e baixas rotações) e sistema de partida a frio por aquecimento do combustível, sem necessidade do tanquinho extra de gasolina.
Por sua vez, a transmissão automática 6F15 é aplicada pela primeira vez num hatch compacto da Ford, no lugar da famigerada Powershift de dupla embreagem do Fiesta. Mantém os recursos do EcoSport, como modo esportivo (posição S) e possibilidade de trocas manuais, mas somente em botões na alavanca (o Eco vem com borboletas no volante). Quando equipado com essa caixa, o FreeStyle também vem com controlador de velocidade de cruzeiro (piloto automático).
Ainda na parte mecânica, a Ford diz ter trabalhado na suspensão, direção e acústica do Ka aventureiro. Na parte de ruídos, houve melhora no isolamento do motor e caixas de roda. A suspensão foi elevada para um total de 188 mm de altura livre do solo, além de receber uma nova calibração de molas e amortecedores para maior suavidade em pisos ruins. Em compensação, para não afetar a estabilidade, as bitolas ficaram 30 mm mais largas, a barra estabilizadora dianteira ficou maior (23 mm de diâmetro) e o eixo traseiro foi enrijecido em 30%, reduzindo a rolagem da carroceria.
As rodas mantiveram o aro 15" (com design exclusivo), mas a direção elétrica foi recalibrada para ganhar firmeza em altas velocidades e curvas. Por fim, o controle de estabilidade passou a atuar não somente quando há perda de aderência nas rodas, mas também ao detectar uma aceleração lateral elevada, ou seja, inclinação acentuada numa curva.
Assim como o design foi pouco alterado (basicamente para-choques e grade), a reforma do interior poderia ter sido mais extensa. Nada muda no desenho do painel, quadro de instrumentos e laterais de porta, exceto pela parte central que agora serve de palco para a multimídia Sync 3. Com tela táctil de 6,5", o sistema fica em posição elevada e "flutuante", com fácil acesso. Possui comandos por voz, câmera de ré e conexões Android Auto e Apple CarPlay, além de duas entradas USB no console central, à frente do câmbio. Nesta versão FreeStyle, a parte superior do painel vem pintada de marrom (solução de gosto duvidoso) e os bancos são revestidos de couro e tecido, com detalhes também em marrom (embora a Ford diga que é "laranja queimado").
Importante modificação se deu na estrutura lateral da carroceria, de modo a apagar a nota zero no teste de impacto do Latin NCap. Foram aplicados reforços adicionais nas colunas B e no teto, além de aços de alta resistência nos pilares e reforços do assoalho, enquanto as peças tiveram a espessura aumentada em 1,2 mm. Também passam a fazer parte do pacote do Ka os airbags laterais e de cortina (6 bolsas no total), como item de série nas versões FreeStyle (só esperamos que não siga o exemplo do último EcoSport, que foi lançado com 6 airbags e depois os perdeu no ano seguinte).
Como anda?
Nosso primeiro contato com o Ka FreeStyle se resumiu a uma volta de cerca de 20 km dentro do Campo de Provas da Ford em Tatuí, no interior paulista. Pouco para explorar como se comporta o hatch com o novo conjunto mecânico, mas ao menos deu para notar a evolução da suspensão em trechos de piso acidentado e de terra.
Como no EcoSport, o novo 1.5 tricilíndrico é bem isolado em termos de vibração e ruídos. Não tem funcionamento tão "liso" quando o 1.5 Sigma de 4 cilindros, mas tem a vantagem dos coxins hidráulicos. Já em termos de desempenho, confesso que esperava um pouco mais. Talvez "amarrado" pela baixa quilometragem, ou pelo conversor de torque do câmbio automático, achei que o Ka com 136 cv e 16,1 kgfm de torque fosse ficar mais esperto.
Não me pareceu, ao menos no campo das sensações, ter o mesmo pique do HB20X 1.6, ainda que o coreano seja menos potente (128 cv). Embora tenha comando duplo variável para favorecer o torque em baixa (85% a 1.500 rpm), o Ford rende claramente melhor em altos giros. Não que seja ruim, vai andar mais que o Onix 1.4 Activ, mas prefiro esperar nosso teste completo para melhor conclusão - inclusive com a versão manual, que não foi oferecida para avaliação. A marca fala em aceleração de 0 a 100 km/h em 10,4 segundos na versão manual e 11,2 s na automática, com etanol. O consumo médio pelo Inmetro, com gasolina, é de 12,9 km/l no modelo MT e de 11,8 km/l no AT.
Se a performance poderia ser melhor, o câmbio automático mostrou sua razão de ser com trocas suaves e programação eficiente, fazendo as mudanças ascendentes e reduções nas horas certas. O modo esportivo também estica as marchas a contento (pena não ter a borboleta no volante, pois o botãozinho de trocas manuais na alavanca é ruim de acionar e desestimula o uso). A alavanca é a mesma do Powershift do Fiesta, mas basta sair com o carro para notar a diferença de funcionamento entre eles.
O melhor do FreeStyle, no entanto, é a suspensão. A Ford trabalhou bem no acerto para absorção de impactos, sem descuidar da estabilidade. Impressionou a suavidade com a qual o Ka passou pelas valetas do caminho, mesmo sem reduzir a velocidade. Também foi possível notar, especialmente no trecho de terra, o melhor isolamento acústico da cabine, com baixo nível de ruído interno apesar do piso de pedriscos.
Ao mesmo tempo, o FreeStyle manteve bons modos no asfalto. A suspensão mais macia que no atual Ka não significou perda na dirigibilidade, pelo contrário. O hatch segue com bom equilíbrio nas curvas e frenagens, ainda que a carroceria incline um pouco mais nesta versão aventureira, e é fácil de controlar mesmo quando próximo do limite. A direção também ficou mais precisa em velocidades de estrada, com um pouco mais de carga, mantendo a leveza nas manobras.
Quanto custa?
Mais do que combater Onix Activ e HB20X, o Ka Freestyle tem a missão de ser uma opção mais acessível ao EcoSport dentro da própria Ford. Oferecido em pacote fechado de equipamentos (sem opcionais), a nova versão traz ar-condicionado, vidros elétricos, computador de bordo, multimídia Sync 3 com câmera de ré, rodas de liga aro 15", sensor de estacionamento traseiro, 6 airbags, controle de estabilidade e tração com assistente de partida em rampa, retrovisores elétricos com seta embutida e bancos parcialmente revestidos de couro, entre outros itens. Os preços são de R$ 63.490 com câmbio manual e de R$ 67.990 com automático - praticamente o mesmo valor do Chevrolet, que tem motor inferior, e abaixo do Hyundai, sendo que ambos ficam bem atrás na oferta de equipamentos.
Para ajudar na pré-venda, que começa hoje (28), a Ford vai oferecer as três primeiras revisões gratuitas e financiamento em 24 vezes sem juros para o Ka FreeStyle, além de um bônus de R$ 2 mil no carro usado na troca. Ainda não sabemos se esses benefícios serão estendidos às demais versões.
Por enquanto, o FreeStyle é o único Ka 2019 mostrado pela Ford. Mas a marca já adiantou que a nova versão 1.0 S terá, além do redesenho e do novo câmbio manual, o acréscimo de itens como ajuste de altura do banco do motorista, computador de bordo, vidros elétricos na dianteira, 4 alto-falantes e iluminação do porta-luvas, com preço de R$ 45.490 - aumento de R$ 710.
Fotos: autor e divulgação
Ficha Técnica - Ford Ka FreeStyle AT
MOTOR | dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12 válvulas, 1.497 cm3, comando duplo variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
128/136 cv a 6.500; Torque: 15,6/16,1 kgfm a 4.750 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio automático de 6 marchas ; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | alumínio aro 15" com pneus 185/60 R15 |
FREIOS | discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
PESO | 1.135 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.886 mm, largura 1.695 mm, altura 1.542 mm, entre-eixos 2.491 mm |
CAPACIDADES | tanque 52 litros, porta-malas 255 litros |
PREÇO | R$ 67.990 |
Galeria: Avaliação Ford Ka Freestyle 2019
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