Perto do final de 2017, precisava escolher um carro para me acompanhar na correria de Natal e Ano Novo. Confesso, estava bem propenso a algum sedã ou hatch médio com motor turbo, já que estava previsto fazer algumas viagens curtas. Com isso, poderia ter bom desempenho e economia de combustível, algo importante quando a meta era bater os 1.000 km rodados no período.
Porém, havia um problema: precisava levar peças de meus carros para o interior, para poder seguir com a restauração em janeiro, além de outros compromissos em que ter uma caçamba e bom espaço interno seria bem-vindo. Assim, motor turbodiesel passou a ser outra exigência, para não passar sufoco mesmo carregado e ainda conseguir boas médias de consumo. Aproveitando o fato de ser uma novidade lançada em 2017, a Nissan Frontier atendia todas às exigências. Para melhorar, a marca japonesa havia acabado de lançar a versão mais barata, SE, que custa R$ 150.990, ou R$ 17.800 a menos que a topo LE.
Antes de contar sobre nossa convivência, vou apresentá-la para vocês. Para ficar mais barata, a Frontier SE perdeu alguns itens: faróis Full LED com luzes diurnas, central multimídia com base Android e os bancos de couro (com ajustes elétricos para o motorista). Os bancos passam a ser de tecido e o ar-condicionado automático dá lugar ao tradicional, manual.
A picape mantém o mesmo conjunto mecânico da versão mais cara, composto pelo novo motor 2.3 de 190 cv e 45,9 kgfm de torque, alimentado por dois turbos (um para as baixas e outro para altas rotações, com os dois trabalhando em faixas intermediárias). O câmbio é automático de 7 marchas e a tração 4x4 possui reduzida. Ponto de destaque é a suspensão traseira com o sistema multibraços e molas helicoidais no lugar do já arcaico (mas bastante robusto) feixe de molas. Apesar ter cinco pontos de apoio, não dá para chamá-la de independente, pois o o eixo ainda rígido ainda está lá. Entre os assistentes eletrônicos, há controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa e controle de descida, além do piloto automático tradicional. Airbags? Apenas os obrigatórios frontais.
Busquei a minha companheira no dia 20 de dezembro. Parecendo o trenó do Papai Noel, ela vestia uma cor vermelha na carroceria, o que combinou bem com os cromados das maçanetas, friso dos janelas e capa dos retrovisores, além do para-choque traseiro. Me trouxe boas recordações da última avaliação da Frontier e do comparativo com a concorrência, na época em que ainda era vendida apenas na versão mais cara. "Foi uma boa escolha", pensei comigo mesmo.
No primeiro dia, porém, já apareceu um dos (poucos) problemas que a Frontier SE me deu. Sem sensor de estacionamento ou câmera de ré, é complicado estacionar os 5,25 m da picape média em qualquer vaga de estacionamento, seja comercial ou no meu prédio. Tive que apelar ao pescoço para trás e confiar nas "anteninhas de vinil" da minha noção de espaço para não arrancar um farol do carro de trás ou partir a bicicleta do meu irmão mais novo em duas quando chegava em casa. Nem a falta da central multimídia com tela sensível ao toque me incomodou tanto quanto a ausência de qualquer ajuda ao estacionar.
No dia 23, meu primeiro dia de folga, a missão era ir a Santos, litoral de São Paulo, buscar meu avô para o Natal. Prevendo uma estrada movimentada justamente pelas festas, conectei o celular no Bluetooth, escolhi uma boa trilha sonora e comecei a viagem pela rodovia dos Imigrantes. Com pouco trânsito (por incrível que pareça!), a Frontier manteve os 120 km/h sem qualquer dificuldade, com trocas suaves de marchas e, quando exigida para ultrapassagens e retomadas, falou alto e impôs respeito diante de tantos SUVs compactos lotados e sofrendo para manter a velocidade de cruzeiro.
Na hora da serra, preferi a rodovia Anchieta, que por ser mais estreita e com mais caminhões, acaba afastando os motoristas de carros de lá. Mas, como cresci nessa estrada, já a conheço muito bem e até prefiro as clássicas curvas do trecho em vez da monotonia da Imigrantes. Com uma suspensão bem equilibrada, a Frontier tirou de letra esse trecho, sem qualquer susto, mesmo tendo me empolgado em alguns momentos. O comportamento é seguro e previsível, com a traseira desgarrando apenas quando abusamos do acelerador nas curvas. A dianteira, apesar de mole demais para meu gosto, segura a trajetória, só balançando quando passa em ondulações na via. O sistema de freios não teve nenhum sobreaquecimento ou redução da ação do pedal.
Chegamos a Santos com média de 16 km/l de diesel. Uma marca respeitável, mas que fica ainda melhor ao ver que o diesel S10 (aditivado, exigido para as picapes mais modernas) ainda é mais barato que a gasolina. Na volta, meu avô no banco traseiro (meu irmão foi me acompanhando na frente) foi acompanhado por um isopor de peixes, já que não levamos nenhum material para amarrá-lo (o isopor) na caçamba. Vacilo de iniciante!
Como bom caminhoneiro de estrada, meu avô gostou de relembrar as histórias da época. Contou sobre seu Scania, sobre nunca ter sofrido qualquer acidente e até falou sobre assaltos na estrada que já assombravam os motoristas nos anos 1970, 1980 e 1990. Foi um choque para ele saber que a picape em que estávamos era a diesel, já que não soltava fumaça preta e andava bem demais, além de ser silenciosa se comparada ao que ele conhecia de antigamente.
De fato, além do bom isolamento acústico da Frontier, o câmbio de 7 marchas reduz bastante a rotação em velocidade de cruzeiro. Mais surpreso ele ficou ao saber que aquela "jamanta" estava viajando a 120 km/h sem dificuldades, mesmo pesando 1.985 kg. São novos tempos, vô! De volta à capital paulista, fechamos o roteiro com 12 km/l e cerca de 350 km marcados no painel (eu já tinha acumulado alguns de cidade antes).
Para o Natal, a missão da Frontier foi ir ao mercado - algumas vezes - para a compra dos itens de ceia. Neste momento, já estava acostumado com seu tamanho na hora de estacionar, mas ir com uma picape média a locais cheios e apertados é uma tortura. Em algumas oportunidades, preferi ir com o meu carro, menor, do que com a Nissan. Quando se acha uma vaga, é pequena demais para ela. Quando cabe, a direção hidráulica é pesada para manobrar e exige força do motorista. É aceitável no começo, mas faça isso algumas vezes no dia e perceba o quanto faz falta a direção elétrica, que equipa as rivais S10 e Ranger.
Dia 26 foi dia de fazer trocas de presentes no shopping e dar uma volta com a família. Com 5 adultos, a Frontier comportou bem os ocupantes, porém as mulheres (minha namorada e, principalmente, minha mãe) reclamaram bastante da ausência de um estribo lateral para subir na Frontier. É vendido como acessório na concessionária, mas seria um bom item de série, assim como um protetor de caçamba e a capota marítima. Outra reclamação, dessa vez vinda exclusivamente dos passageiros do banco traseiro, foram o assoalho, alto demais, e o encosto do banco, reto demais, que causou desconforto e seria um problema em viagens mais longas. Ao menos, ouvi elogios para o tecido dos bancos, aveludado, e para a densidade da espuma.
Neste mesmo dia, precisei levar 10 mesas de um fornecedor para a loja da minha namorada. Neste momento, os ganchos de amarração da carga (e, dessa vez, com cordas em mãos) foram importantes para levar os itens para lá, mesmo com uma chuva que castigava a cidade de São Paulo. A tampa da caçamba é leve e há até uma tomada caso precisasse colocar algo refrigerado ali. A capacidade de carga total da Frontier é de 1.050 kg.
Dia 27, meu último dia de folga, precisava ir a Sorocaba (SP) visitar amigos e levar um capô de BMW E36. Além de grande, a peça exigia cuidados para não amassar no caminho. Neste momento, a proteção da caçamba fez falta, pois tivemos que ter mais cuidado com a Frontier que com o capô em si. Mais uma vez, a picape se destacou na estrada e no espaço interno, já que fomos em quatro pessoas. Ela oferece úteis porta-copos no painel, junto das saídas de ar-condicionado, e no piso traseiro, que também tem uma saída de ar. Voltando para a capital, chegamos aos 900 km rodados, sendo 500 km deles em estradas.
Até o dia 03 de janeiro, dia da devolução da Frontier, fiz basicamente caminhos urbanos, totalizando 1.031 km rodados. Mesmo tendo pego a picape depois e devolvido antes, consegui rodar mais que o Daniel Messeder e Fabio Trindade juntos com o Chevrolet Equinox, e gastando menos combustível. É a vantagem de ter uma picape a diesel na garagem.
Fotos: divulgação e autor
MOTOR | dianteiro, longitudinal, quatro cilindros, 16 válvulas, 2.298 cm3, duplo comando, biturbo, diesel |
POTÊNCIA/TORQUE | 190 cv a 3.750 rpm / 45,9 kgfm a 2.500 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de 7 marchas; tração 4x4 com reduzida |
SUSPENSÃO | independente de braço duplo na dianteira e semi-independente na traseira, com multilink, molas helicoidais e eixo rígido |
RODAS E PNEUS | alumínio de aro 16" com pneus 255/70 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.985 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 5.250 mm, largura 1.850 mm, altura 1.855 mm, entre-eixos 3.150 mm |
CAPACIDADES | tanque 80 litros; capacidade de carga 1.050 kg |
PREÇO | R$ 150.900 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Nissan Frontier 2.3 | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 4,9 s | |
0 a 80 km/h | 7,5 s | |
0 a 100 km/h | 11,0 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 10,3 s | |
80 a 120 km/h em D | 8,5 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 44,6 m | |
80 km/h a 0 | 27,9 m | |
60 km/h a 0 | 15,6 m | |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 9,6 km/l | |
Ciclo estrada | 12,5 km/l |
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