Quando a linha Argo foi revelada, surpreendeu a opção de motor 1.0 na entrada da gama. Afinal, ele é um modelo maior, substituto do Punto, com uma proposta de estar acima de, por exemplo, Uno e Palio. Mas é essa versão que segura a etiqueta de R$ 46.800, responsável por atrair os compradores para as concessionárias e, quem sabe, levar uma versão mais cara (ou não). Mas para quem quer ficar na versão de entrada, é um bom negócio?
Mesmo sendo uma versão de entrada, o Argo Drive carrega as qualidades das versões mais caras, e isso inclui a boa qualidade construtiva na renovada fábrica de Betim (MG), com muitas soluções vindas dos modelos feitos na fábrica de Goiana (PE). Ou seja, temos no hatch o esmero de modelos como a picape Toro e os Jeep Renegade e Compass. Dos irmãos maiores, também vem a arquitetura eletrônica, como o painel e o sistema de ar-condicionado.
Com o 1.0 de 3 cilindros Firefly sob o capô, sobra espaço num cofre que abriga até o 1.8 Etorq com câmbio automático de 6 marchas. O grande trunfo deste motor é o torque em baixas rotações, já que usa um cabeçote de 2 válvulas por cilindros e comando único com variador. Além disso, o Argo recebe uma programação de acelerador mais rápida, que abre mais a borboleta com menos ação no pedal, para melhorar a resposta e compensar o peso a mais que ele tem. São 1.105 kg, o que não é pouco para um carro 1.0.
A plataforma MP1 é baseada na do Punto. Ou seja, o Argo trouxe muitas coisas (boas e ruins) do seu antecessor e em muitos momentos remete a ele na hora de guiar Sabe um sucessor espiritual? É mais ou menos por aí.
Ao olhar os dados técnicos do Argo 1.0, foi impossível não lembrar do Renault Sandero 1.0, que há pouco tempo passou por minhas mãos e avaliação. Ambos são carros com bom espaço interno, mas que usam motor "mil" para serem econômicos, principalmente em uso urbano. O Argo consegue ser consideravelmente mais pesado (1.105 kg contra 1.011 kg), algo que nem seu torque maior consegue compensar. Na pista de testes, veio a comprovação desta teoria: longos 15,9 segundos para ir de 0 a 100 km/h, sendo 6,3 segundos para chegar aos 60 km/h. O Renault marcou 14,5 e 5,8 s, respectivamente
Mas no dia a dia, o Argo não demonstra esse "negativismo" da pista de testes. Com as respostas em baixas rotações, desenvolve bem no trânsito e, em troca, devolve bom consumo: 9 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada. Diferentemente do Sandero, seu câmbio não é tão curto, o que ao mesmo tempo ajuda nos números de consumo, mas pede mais reduções dependendo da velocidade ou, por exemplo, em ultrapassagens. Para ajudar no uso urbano há o sistema start-stop, uma exclusividade no segmento dos 1.0.
Outro ponto em que o Argo se destaca é o conforto. Ao adotar a mesma qualidade de versões mais caras, o Drive agrada aos olhos, com bom acabamento (mesmo usando plástico rígido) e isolamento acústico bem eficiente. Naquele grande cofre há coxins para segurar a vibração do motor de 3 cilindros, e só lembramos que ele está lá em altas rotações, com aquele som característico de "meio V6". Os bancos são os mesmos do Uno na dianteira, bons e com regulagem de altura para o motorista. Na traseira, há amplo espaço para pernas e ombros, além de cinto de 3 pontos e encosto de cabeça para três e sistema Isofix nas pontas.
O mesmo vale para o acerto de suspensão e freios. A conversa entre suspensão e direção elétrica é boa. As rodas de aro 14", mesmo "estranhas e pequenas" para o perfil do Argo, ajudam a filtrar o que chega ao interior e ao volante. É o mais confortável dos Argo, mas é o menos "esportivo", apesar da direção elétrica ganhar peso em altas velocidades, ter boa resposta e tentar empolgar o motorista. Ele tem até uma marcação no alto do volante, lembrando os carros de corrida. Mas fica só na tentativa. Na frenagem, apesar da metragem nada espetacular, o Argo mantém a trajetória firme, sem necessidade de correções. É um carro pesado com pneus finos, então não dá para esperar os mesmos 40,9 m do Sandero e suas rodas de 15" com pneus 185/65.
E lembra que eu falei sobre o Punto? Então, o Argo herdou a boa posição de dirigir e ergonomia de botões e ajustes, mas trouxe junto a caixa de roda que invade o interior e deixa pouco espaço para descansar o pé esquerdo. Mas, pelo menos, evoluiu no trambulador do câmbio, leve e preciso, apesar de ainda ser longo. Há coisas que não mudam na Fiat.
Aqui que o bicho pega. O Argo Drive 1.0 é tabelado em iniciais R$ 46.800. Mas não ache que ele vem como este que testamos. A central multimídia é um opcional (apenas nesta versão) e custa R$ 1.990. Já falamos sobre ela: uma interface fácil de operar e de boa resolução, além de rápida, e já com sistema Apple CarPlay e Android Auto. É um dos grandes charmes do Argo e deveria ser um item de série. E nem pense que o Argo tem, ao menos "um radinho". O kit Connect, com som com entrada USB e Bluetooth, custa salgados R$ 1.300... Retrovisores elétricos e vidros traseiros elétricos? Coloque mais R$ 1.200 na conta. Câmera de ré e sensor? Abra a carteira e coloque mais R$ 1.200 na mesa. Ao final, ele chega a R$ 51.190!
Por este preço, o Argo 1.3 começa a fazer mais sentido, certo? Vamos com calma. Com a central multimídia de série, custa R$ 53.900, além de ter mais potência (101/109 cv) para quem irá usar o Argo em estrada e na cidade com mais de um passageiro, por exemplo. Mas também não traz os retrovisores elétricos, vidros traseiros elétricos e kit de assistência de estacionamento. Considerando a central no Drive 1.0, a diferença é de R$ 5.110. Pesado, né?!
Então o Argo Drive 1.0, ao contrário do que se pode pensar, é consideravelmente mais barato que o 1.3. Diante da concorrência, o Chevrolet Onix LT 1.0, por exemplo, custa R$ 47.550 quando equipado com o MyLink, contra R$ 48.700 do Argo na mesma configuração. E o Argo leva vantagem no espaço interno. O que ditará o sucesso? Só quando o Fiat tiver descontos como o Chevrolet tem nas concessionárias. Ele é um bom produto, só falta ser reconhecido como tal e ser mais competitivo na "vida real"
Por Leo Fortunatti
Fotos: divulgação e arquivo Motor1.com Brasil
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 6 válvulas, 999 cm3, comando simples variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE |
72/77 cv a 6.250 rpm; Torque: 10,4/10,9 kgfm a 3.250 rpm |
TRANSMISSÃO | câmbio manual de 5 marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço aro 14" com pneus 175/65 R14 |
FREIOS | discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
PESO | 1.105 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 3.998 mm, largura 1.724 mm, altura 1.503 mm, entreeixos 2.521 mm |
CAPACIDADES | tanque 48 litros, porta-malas 300 litros |
PREÇO | R$ 46.800 (R$ 51.190 como testado) |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR | ||
---|---|---|
Fiat Argo Drive 1.0 | ||
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 6,3 s | |
0 a 80 km/h | 10,7 s | |
0 a 100 km/h | 15,9 s | |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em D | 13,8 s | |
80 a 120 km/h em D | 15,8 s | |
Frenagem | ||
100 km/h a 0 | 43,9 m | |
80 km/h a 0 | 27,5 m | |
60 km/h a 0 | 15,4 m | |
Consumo (etanol) | ||
Ciclo cidade | 9,0 km/l | |
Ciclo estrada | 13,2 km/l |
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