São tempos difíceis para as marcas importadas, que ainda sofrem com o IPI elevado e cotas. A JAC Motors corre para segurar as pontas enquanto o Inovar-Auto não chega ao fim e aposta forte nos crossovers. Depois da boa acolhida do T5, partiu para o T40, modelo menor e mais barato, que chega às concessionárias em duas versões, a partir de R$ 56.990.
A JAC pretende matar, aos poucos, todos os seus carros que não sejam crossovers (haverá também uma futura picape). Assim, o T40 será o modelo mais barato da marca por algum tempo – pelo menos, até a chegada do futuro T2, uma variante aventureira do J2.
Segundo Sergio Habib, presidente da JAC Motors do Brasil, o T40 é uma ideia brasileira que nasceu em 2011. “Fui para Turim (Itália), no estúdio de design da JAC, para iniciar o projeto”, revela o executivo. Os desenhos iniciais eram de um hatchback que, aos poucos, foi ganhando forma como um crossover. Conta com 18 centímetros de altura livre em relação ao solo, o suficiente para que o Inmetro o classifique como SUV.
Uma das exigências de Habib na concepção do crossover é que ele fosse grande. Não tanto em comprimento, mas com largura o suficiente para ganhar espaço interno. Mede 4,13 m de comprimento, 1,75 m de largura e 1,57 m de altura, com 2,49 m de entre-eixos. É um pouco maior que o EcoSport, se desconsiderarmos o estepe externo do Ford. Ao vivo, parece maior do que realmente é. O porta-malas leva 450 litros e a área interna é bem espaçosa. Três adultos conseguem se sentar no banco traseiro sem problemas.
É o melhor JAC vendido no país em termos de design e acabamento. Ao contrário dos outros modelos da marca, o T40 não causa tanto aquele efeito de “já vi esse SUV antes”. Acabamos encontrando elementos em comum com carros de ouras marcas, mas nada tão gritante quanto antes. A cabine combina plástico rígido e couro de forma inteligente, passando a impressão de que são poucas superfícies duras. O couro é de boa qualidade e reveste a maior parte do painel, assim como algumas peças da porta.
Refinamento, ou melhor, a falta dele, é a palavra-chave que define os problemas do T40. O painel de instrumentos perde espaço com duas peças grandes que servem de contorno para os mostradores. O computador de bordo funciona com uma minúscula tela de poucas funções: mostra consumo, temperatura, combustível e quilometragem. Para piorar, a iluminação dela estava tão baixa que o próprio Habib admitiu que não conseguia ler e pediu que a equipe ajustasse isso na segunda metade do teste (o ajuste é feito direto no sistema do veículo). E faltou o computador poder se controlado pelo volante, ao invés de obrigar o motorista a enfiar a mão entre o volante para apertar os botões.
Como a maioria dos chineses, vem bem equipado. Traz controle de estabilidade e tração, oferecido como opcional em outros carros do segmento (alguns nem assim), faróis com sensor crepuscular, retrovisores com ajuste elétrico, travas e vidros elétricos, sensor de estacionamento traseiro e outros itens. Um dos destaques é a câmera integrada ao retrovisor interno, que filma o carro em movimento, muito útil para servir de prova em caso de acidente.
Poderíamos destacar também a central multimídia com tela de 8 polegadas sensível ao toque. É mais rápida do que a do T5 e menos irritante (nada de som de código morse ao trocar de rádio), porém, ela travou três vezes durante o test-drive em situações diferentes. Nada de GPS. “Eu nunca usei o GPS do meu Land Rover e nem tenho interesse. Sempre ligo no Waze”, explica Habib. A solução era simples, permitindo o uso de Android Auto, que agora tem integração com o navegador. Não aconteceu no T40.
Tinha esperanças que o T40 fosse mais esperto do que o T5, por ser mais leve – são 1.155 kg, contra os 1.220 do crossover maior. Ambos usam o mesmo motor 1.5 VVT JetFlex de 127 cv a 6.000 rpm e 15,7 kgfm de torque a 4.000 rpm. No T40, está combinado ao câmbio manual de 5 marchas. Para a cidade, ele tem pique suficiente. Começa a mostrar-se deficiente na estrada, exigindo uma esticada de cada marcha para melhorar a aceleração – o dado de fábrica diz que vai de 0 a 100 km/h em muito otimistas 9,8 segundos, valor que tiraremos a limpo em breve num teste completo.
O novo chinês usa suspensão McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, com bom ajuste. Faz curvas com certo ânimo e aciona o controle de estabilidade apenas quando forçado. Andamos por um trecho de terra, porém a estradinha era tão lisa que tinha menos buraco do que muita rua asfaltada por aí. Nestes momentos, o crossover absorveu bem as irregularidades.
Então, qual o problema? Como disse antes, falta refinamento. Ou, neste caso, ajuste. Toda vez que parava, o motor ficava oscilando, aumentando e diminuindo o giro entre 800 rpm e 1.200 rpm. Se não acelerasse um pouco mais antes de soltar a embreagem, acabava morrendo, como aconteceu com vários dos jornalistas durante o evento.
Outra falha está no acelerador. O pedal parece ter uma mola na parte de trás, sempre forçando de volta para a posição inicial, atrapalhando a dosagem de aceleração. Pior ainda: bastava pisar novamente para sentir um tranco forte. Isso acontecia independentemente da velocidade ou marcha, seja a 40 km/h ou a 120 km/h. Depois de um tempo dirigindo, começa a irritar. Ponto negativo para quem está no anda e para de um congestionamento.
Na posição mais baixa entre os crossovers da JAC, o T40 é vendido por R$ 56.990 praticamente completo. Fica de fora apenas a câmera frontal, a câmera de ré e a central multimídia de 8”, inclusos na versão chamada Pack 3, por R$ 58.990, a única disponível pelos próximos dois meses. Conta com opção de teto colorido, que pode ser preto para o modelo laranja ou prata para o carro vermelho, por mais R$ 1.990.
Mesmo na configuração mais completa, o chinês é consideravelmente mais barato do que muitos carros com a mesma proposta. Entre os hatches de roupagem off-road, apenas os Fiat Mobi Way e Uno Way são mais baratos, por R$ 41.260 e R$ 51.850, respectivamente. O Chevrolet Onix Activ custa R$ 59.950 e o Renault Sandero Stepway sai por R$ 61.300. Bom para a JAC, que terá mais espaço para posicionar o T40 com câmbio CVT no futuro. A marca espera emplacar 300 unidades por mês neste ano e mais que dobrar esse volume em 2018.
Apostar em crossovers e SUVs é a forma de a JAC sobreviver até o fim do Inovar-Auto, e deu certo com o T5. O T40 pode elevar as vendas da marca, desde que corrijam os problemas de ajuste do carro. Feito isso, o crossover será uma boa opção para quem quer andar com um carro mais imponente e não tem condições de gastar mais de R$ 60 mil.
Fotos: Nicolas Tavares / Divulgação
MOTOR | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.499 cm3, comando variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 125/137 cv a 6.000 rpm / 15,5/15,7 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | manual de cinco marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 16" com pneus 205/55 R16 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira com ABS e EBD |
PESO | 1.155 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.135 mm, largura 1.750 mm, altura 1.568 mm, entre-eixos 2.490 mm |
CAPACIDADES | tanque 42 litros; porta-malas 450 litros |
PREÇOS | R$ 56.990 a R$ 58.990 |
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