Minha mãe chama de "kit menopausa". Cansada de trocar marchas após anos de volante, hoje um carro para ela tem que vir com câmbio automático, direção elétrica, ar-condicionado, conjunto elétrico e um sistema de som com Bluetooth. Assim como ela, milhares de pessoas que moram nas grandes cidades brasileiras também estão aderindo a esse "kit" - mesmo as que estão longe da faixa dos 50-60 anos. E já que a grana anda curta, convocamos aqui dois carros capazes de entregar esses "mimos" por cerca de R$ 50 mil: o recém-lançado Fiat Mobi GSR e o recém-renovado Toyota Etios X AT. Também convidamos o novo VW up! I-Motion para a reportagem, mas a marca não tinha o modelo disponível na data do teste.
Ficamos, então, com duas opções distintas. O Mobi é um subcompacto com motor 1.0 de 3 cilindros e câmbio automatizado, no qual um robô faz o papel de acionar a embreagem para você - há somente os pedais de acelerador e freio. Ele mantém as 5 marchas da versão manual e as mesmas relações delas, além de vir de série com borboletas no volante para trocas de marcha manuais, caso você queira comandá-las. Por 44.780, o Mobi Drive GSR é o carro mais barato do mercado para dar descanso ao pé esquerdo.
Por outro lado, o Etios X AT é o carro automático mais barato do Brasil - automático de verdade, já que sua caixa de 4 marchas é uma convencional com conversor de torque, basicamente a mesma usada na geração anterior do Corolla. Além disso, o compacto da Toyota vem com motor 1.3 16V de 4 cilindros e tem porte superior ao do Mobi, tanto na cabine quanto no porta-malas. Mas, tabelado R$ 50.990, ele é significativamente mais caro - o que permite levar o Mobi mais equipado ou pagar o IPVA e o seguro do Fiat e ainda guardar uma grana.
Feitas as apresentações, qual o melhor para o seu dia a dia?
O novo Mobi GSR (sigla de Gear Smart Ride) surpreendeu desde o nosso primeiro contato pela melhora na qualidade das trocas de marcha. Quem já dirigiu um Fiat com a transmissão Dualogic sabe que os solavancos eram constantes, fazendo com que tivéssemos de aliviar o acelerador durante as trocas para não haver trancos (ou conviver com eles).
Pois bem, o GSR é uma evolução do Dualogic. Continua sendo fabricado pela Magneti Marelli, mas ganhou um kit hidráulico para atuar sobre o sistema de engrenagens, de modo a deixar os engates mais rápidos e precisos. Fora isso, o software do câmbio também é novo e trabalha em conjunto com sensores de inclinação para detecção de subidas e descidas. Por fim, mas não menos importante, uma novidade na manutenção: a Marelli "fatiou" o câmbio, permitindo assim trocar componentes individuais para reduzir o custo de reparos. "No Dualogic, era preciso trocar a caixa toda em caso de problema", diz Thiago Salvador, especialista de treinamento da FCA.
Como no Uno, o Mobi GSR tem os comandos da transmissão por meio de botões no console central - incluindo o modo Sport. É preciso algum costume no começo, especialmente nas manobras (pra variar entre Drive e Ré), mas o sistema funciona bem e as borboletas no volante (item inexistente no Etios) garantem até certa diversão. Em movimento, o melhor elogio que podemos fazer ao GSR é que ele é o câmbio automatizado mais próximo de um automático de verdade em termos de funcionamento. Então quer dizer que os solavancos sumiram? Não totalmente, mas estão bem mais suaves. Rodando em baixas velocidades, chegam a ser quase imperceptíveis.
Também fica clara a maior inteligência da transmissão. Basta começar uma subida para que a caixa faça reduções, mesmo sem o motorista aplicar mais pressão no acelerador, já que o sistema percebe a inclinação. Outra situação em que o GSR responde a contento é nas ultrapassagens, onde ele entende que você precisa de potência ao acelerar tudo e não só reduz como segura a marcha por mais tempo para aproveitar o máximo do motor. O único incômodo é a falta de um assistente de subida, pois o recurso creeping (que faz o carro se movimentar em Drive mesmo sem o motorista acelerar) não tem força suficiente para vencer uma rampa e o carro acaba voltando para trás nas saídas em ladeiras. Nesse caso, é preciso usar pé esquerdo no freio ou o freio de estacionamento.
Mas o novo Mobi não é só sobre o GSR. Como já dissemos em outras oportunidades, o motor 1.0 Firefly mudou a vida do carrinho. Com alto torque para um 1.0 aspirado (10,9 kgfm a 3.250 rpm), o propulsor conversa bem com a transmissão, que no modo normal faz as trocas em rotações um tanto baixas, para valorizar o consumo. A 50 km/h, o carro já está em quinta marcha! Isso ajuda a explicar a excelente média de 10,5 km/l de etanol no consumo urbano.
Quando exigido, no modo Sport, o Mobi também não fez feio. Acelerou de 0 a 100 km/h em 15,8 segundos (número melhor que o do Mobi Like 1.0 Fire manual) e retomou de 80 a 120 km/h em 13,3 segundos, o que é apenas 1,1 s pior que a marca do Etios, com motor mais forte. Ou seja, o Mobi GSR tem performance adequada para o dia a dia na cidade e encara uma estrada sem medo. E ainda brinda o motorista com um consumo de 15,2 km/l de etanol na média rodoviária - resultado que fez dele o carro mais econômico já testado por nós, destronando o irmão Mobi Drive com câmbio manual.
Para quem desejar um pouco mais de conforto, a Fiat oferece como opcional um pacote de R$ 3.770 que adiciona ajuste de altura para o banco do motorista, retrovisores com regulagem elétrica e seta embutida, faróis de neblina, chave canivete, tecidos melhores nos bancos com porta-revistas e rodas de liga, entre outros itens. Por mais R$ 1.530, leva-se também o LiveOn, sistema que transforma seu smartphone no computador de bordo do carro e permite usar o telefone como uma espécie de central multimídia (veja o vídeo de como funciona).
Nesta versão, o Mobi enfim parece ter encontrado seu formato ideal: um city-car com motor moderno e econômico, que não requer trocas de marcha, com suspensão macia e ainda com uma direção elétrica leve e esperta (que pode ficar ainda 50% mais leve no modo City acionado por um botão). Ele não cansa no trânsito diário, é fácil de manobrar e cabe em qualquer vaga. Se você não faz questão de espaço no banco traseiro e nem no porta-malas, não precisa gastar mais no Etios. O Mobi GSR resolve a questão.
Por R$ 51 mil, quase o mesmo que o Mobi GSR completo (R$ 50.080), o compacto da Toyota entrega mais em termos de porte, desempenho e conforto. E, ao contrário do Corolla, ele é um Toyota que NÃO cobra R$ 10 mil a mais que os rivais por conta da marca.
Quando chegou por aqui, em 2012, o Etios trouxe muita coisa do projeto original indiano que não agradou. Com o tempo, porém, a Toyota do Brasil foi acertando um detalhe ali, outro aqui e o carro foi emplacando no mercado. Essa linha 2018 é, sem dúvida, a mais atraente que o modelo já teve. A nova grade frontal deixou o visual um pouco mais simpático, enquanto o painel digital com tela de TFT enfim resolveu os problemas de leitura dos mostradores, além de dar uma certa modernidade ao interior.
Falta coisa ainda? Sim, é preciso se esticar até o painel para alterar seus visores e mexer no computador de bordo, bem como procurar o botão de trava-destrava das portas (porque elas não travam sozinhas em movimento) e o comando dos retrovisores elétricos, escondidos do lado esquerdo do motorista, no canto do painel. Também permanece a estranha alavanca de abertura do capô, que mais parece um afogador, e a ausência de ajuste de altura dos cintos de segurança dianteiros.
Essas pequenas falhas, no entanto, são compensadas quando colocamos o Etios em movimento. Ele faz tudo certinho, como típico carro japonês: acelera e freia bem, tem suspensão firme sem ser dura, é silencioso no trato com os buracos e é razoavelmente econômico. Digo razoável porque, perdendo energia para o conversor de torque, o bom motor 1.3 16V passar a exigir mais combustível em situações de trânsito pesado. No fim, a média de consumo urbano com etanol ficou em 8,1 km/l, o que não é ruim, mas fica longe da economia do Mobi.
Em compensação, o Fiat não consegue igualar a suavidade das trocas de marcha do Toyota. A caixa do Etios não é a última palavra em modernidade, com apenas 4 marchas e sem modo esportivo, mas funciona "redondinha". Não oferece modo manual, mas permite, pelo trilho da alavanca, optar por todas as marchas disponíveis (L que equivale à primeira, 2, 3 e D). Claro que, com um "buraco" sensível entre as marchas, ela tira um pouco do pique do motor 1.3 nas trocas de marcha, pois o giro cai muito. Mas o propulsor responde bem desde baixas rotações (tem comando variável para entregar seus 13,1 kgfm de torque) e agrada pela performance em alta (rende bons 98 cv contra 77 cv do Mobi).
Esperto na cidade, o Etios não reclama nas subidas e sai do semáforo verde com agilidade. Ele também encara viagens numa boa. Só perde um pouco do pique nos aclives, pois a quarta marcha longa não segura a onda e faz o câmbio reduzir para terceira. Mas, no geral, o Etios é melhor para pegar estrada que o Mobi. Tem bitolas mais largas e suspensão mais firme, que transmite maior seguranças em velocidade e nas curvas, sem falar na potência extra para ultrapassagens.
Dinamicamente, o Etios encontra-se entre os melhores compactos do mercado, especialmente após as mudanças da linha 2016, quando ele ganhou motor melhorado e suspensão recalibrada. Para o tanto que o motor 1.3 rende, o conjunto do hatch dá e sobra. Veja, por exemplo, o resultado das provas de frenagem, nas quais o Etios estancou em menos de 40 metros quando vindo a 100 km/h. Pena a direção elétrica ser um tanto lenta, não "conversando" muito bem com a suspensão. Ao menos o raio de giro é excelente e ajuda nas manobras.
Se seu orçamento permite passar um pouco dos R$ 50 mil, o Etios X AT se revela um carro mais completo que o Mobi - não estou falando de equipamentos. Ele é mais espaçoso para o motorista e leva sem problemas dois adultos no banco traseiro, além de ter o porta-malas maior (270 contra 215 litros) e motor mais forte. Só separe mais um trocado para colocar um sistema de som com Bluetooth (ou até a central multimídia oferecida como acessório), pois, para ficar com preço agressivo, a versão X não vem nem com rádio. É o preço do conforto.
Fotos: Mario Villaescusa
Fiat Mobi GSR | Toyota Etios X AT | |
MOTOR | dianteiro, transversal, três cilindros, 6 válvulas, 999 cm³, comando variável de válvulas, flex | dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.329 cm3, duplo comando variável, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 72/77 cv a 6.250 rpm/ 10,4/10,9 kgfm a 3.250 rpm | 88/98 cv a 5.600 rpm / 12,5/13,1 kgfm a 4.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automatizada de 5 marchas, tração dianteira | automática de 4 marchas; tração dianteira |
SUSPENSÃO |
independente McPherson dianteira e eixo de torção na traseira |
independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | aço de aro 14" com pneus 175/65 R14 | aço de aro 14" com pneus 175/65 R14 |
FREIOS | discos sólidos na dianteira e tambores na traseira, com ABS e ESP | discos ventilados na dianteira e tambor na traseira com ABS e EBD |
PESO | 965 kg em ordem de marcha | 955 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento de 3.566 mm, largura de 1.633 mm, altura de 1.502 mm e entre-eixos 2.305 mm | comprimento 3.777 mm, largura 1.695 mm, altura 1.510 mm, entre-eixos 2.460 mm |
CAPACIDADES | tanque 47 litros; porta-malas 215 litros | tanque 45 litros; porta-malas 270 litros |
PREÇO |
R$ 44.780 (inicial), R$ 49.920 (testado)
|
R$ 50.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | |||
---|---|---|---|
Fiat Mobi GSR | Toyota Etios X AT | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 6,5 s | 5,9 s | |
0 a 80 km/h | 10,9 s | 9,0 s | |
0 a 100 km/h |
15,8 s |
13,6 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em D | 12,0 s | 11,0 s | |
80 a 120 km/h em D | 13,3 s | 12,2 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 |
41,5 m |
39,6 m | |
80 km/h a 0 | 25,4 m | 25,2 m | |
60 km/h a 0 | 14,3 m | 14,2 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 10,5 km/l | 8,1 km/l | |
Ciclo estrada | 15,2 km/l | 11,7 km/l |
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