Não bastasse o prestígio de jogar no Barcelona, os craques do time catalão ainda têm uma mamata da Audi, patrocinadora da equipe: podem escolher um carro da marca - até determinado valor - para uso pessoal. Pois o atacante Neymar não deixou por menos e optou pelo novo RS7 Performance, um monstro de 605 cv, para ser seu companheiro de dia a dia, mesmo tendo de pagar um extra para isso. Longe de ter o talento do craque criado no Santos, e muito menos a conta bancária dele, tive de me contentar com uma tarde a bordo do bólido.
Fico imaginando quem foi o cara que achou que "faltava" potência aos Audi RS6 e RS7. Eles têm 560 cv gerados pelo motor de 4 litros V8 biturbo. A perua RS6, inclusive, já foi recordista em nosso teste de aceleração de 0 a 100 km/h, com 4 segundos cravados. Mas aí veio um insatisfeito e adicionou ainda mais pimenta na receita: os dois turbos tiveram a turbina alterada, a injeção foi remapeada e o intercooler aumentou, entre outras mudanças necessárias para superar os 300 km/h. A potência cresceu 45 cv, chegando a 605 cv, enquanto o torque subiu de 71,4 para 76,5 kgfm (modo overboost). O cupezão de 4 portas da Audi agora ganhou o sobrenome Performance e chega aos 100 km/h em 3,7 segundos. Ah, e passa a vir com a limitação eletrônica mais permissiva, que "corta" a 305 km/h. No RS7 "normal", a máxima é limitada a 280 km/h.
Na parte externa, você identifica o RS7 pelo novo desenho das rodas de aro 21" e pelos detalhes na cor titânio no spoiler dianteiro, tomadas de ar frontais, contorno das janelas, extrator traseiro e retrovisores. Por dentro, a novidade fica por conta de um pacote opcional (de R$ 12 mil) que adiciona revestimento de Alcantara nos bancos e portas, com costura em azul. Normalmente, o cupê vem com bancos convencionais de couro.
Não há o que falar em termos de qualidade de acabamento, materiais e finalização do RS7. É tudo de alto padrão, com um belo aplique de fibra de carbono revestindo o console central, painel e outros detalhes da cabine. O senão fica fica por conta do quadro de instrumentos. Não que os "relógios" analógicos do RS7 sejam sem graça, mas é que os mais "baratos" A4 e até o A3 Sedan nacional já estão com o Audi Virtual Cockpit, ou seja, trazem uma tela de 12,3" no lugar dos mostradores, com possibilidades diferentes de personalização. É uma coisa que o A7 e seus derivados (como S7 e RS7) só terão na próxima geração.
A gente costuma falar em aceleração de 0 a 100 km/h como demostração de desempenho. Mas, com o RS7, o negócio é falar de 0 a 200 km/h, porque é esse o número que você vai ver no painel depois de se recuperar do soco que tomou nas costas ao pressionar o acelerador até o fim. Ele leva apenas 12,1 segundos para superar os 200 km/h saindo da imobilidade. O problema é achar estrada para isso...
No caso, a gente tinha uma esticada pela Rodovia dos Bandeirantes até Itupeva, no interior de São Paulo. É uma excelente estrada, com várias pistas, asfalto impecável e... limite de 120 km/h. Não vou mentir que houve alguns momentos em que tive de arriscar alguns pontos na minha CNH para poder contar a vocês do que o RS7 é capaz. O motor V8 é uma fábrica de força desde os giros mais baixos, enquanto o câmbio automático de 8 marchas se esforça para entregar tudo sem muita truculência, com passagens rápidas, porém não bruscas. Transmissão de dupla embreagem? Não com um torque desses. A Audi optou pela convencional automática com conversor de torque, que funciona muito bem, obrigado.
Embora tenha poderio de foguete, o RS7 Performance é um gentleman. Não espere ouvir o V8 berrando a plenos pulmões na cabine nem pipocos nas reduções de marcha, pois a ideia deste Audi é ser rápido e refinado. É carro para atravessar a Alemanha pelas Autobahns de pé embaixo, e você não aguentaria ficar horas com um motor incomodando seus ouvidos na viagem. Mas, como estamos num rápido passeio no Brasil, confesso que gostaria de ouvir um pouco mais o trabalho da máquina.
Manter os 120 km/h legais é tão entediante que fiquei "brincando" de retomadas. Ou seja, ia para as pistas do canto direito, deixava a velocidade cair para uns 60 km/h e cravava o pé. Era piscar os olhos e o RS7 já tinha voltado à velocidade de cruzeiro. Na volta, meu colega de test-drive definiu bem: "Eu não poderia ter um carro desses. Onde você anda a 60 km/h num carro normal, é 120 km/h nele. Se está a 120 km/h num carro normal, é 240 km/h nele". É bem isso mesmo: o RS7 faz você perder a noção da velocidade.
E claro que não é só motor. Os freios, por exemplo, trazem discos de cerâmica capazes de arrancar dentaduras da boca do motorista nas alicatadas, de tão fortes. Já a suspensão, chamada de RS Plus, tem molas helicoidais comuns (contra molas pneumáticas do RS7 "comum"), mas vem com amortecedores conectados entre si mediante válvulas para reduzir o balanço da carroceria. Como só fizemos curvas abertas, vou ficar devendo uma avaliação mais precisa sobre a estabilidade. Mas, em todas as situações, mesmo em altas velocidades, o cupê transmite segurança absoluta. Méritos da suspensão e da tração integral Quattro, que pode enviar mais força para as rodas traseiras quando se anda forte.
Quando a ideia for passear, o RS7 Performance também terá seus trunfos. O motor V8 desativa 4 de seus cilindros, se não houver necessidade de tanta potência, para economizar combustível. E a suspensão fica até macia no modo Comfort de condução do Audi Drive Select, para enfrentar nossos buracos cotidianos. Mesmo assim é preciso tomar cuidado com as rodas de aro 21", que vestem pneus do tipo fita isolante (285/30 R21).
Para o Neymar, ter o RS7 Performance na garagem custou apenas a diferença entre o Audi que ele já teria de graça e esse, digamos, mais exclusivo. Mas quem quiser dar uma de Neymar no Brasil terá de desembolsar R$ 728.990 pelo brinquedo, ou cerca de R$ 100 mil a mais que o RS7 "normal" que a Audi brasileira deixou de importar. Faz sentido. Se não sabe brincar, nem desce pro play!
Fotos: divulgação
MOTOR | dianteiro, longitudinal, oito cilindros em V, 32 válvulas, 3.993 cm³, dois turbos e intercooler, comando variável de válvulas, injeção direta, gasolina |
POTÊNCIA/TORQUE | 605 cv entre 6.100 e 6.800 rpm / 76,5 kgfm de 2.500 a 5.500 rpm |
TRANSMISSÃO | automático de 8 marchas, tração integral |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e multilink na traseira |
RODAS E PNEUS | de alumínio aro 21" com pneus 285/30 R21 |
FREIOS | discos de cerâmica na dianteira e na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 2.005 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 5.012 mm, largura 1.911 mm, altura 1.419 mm e entre-eixos 2.915 mm |
CAPACIDADES | porta malas 535 litros, tanque 75 litros |
PREÇO | R$ 728.990 |
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