Teste instrumentado - Ford Ka Trail é aventureiro parrudo, mas perde desempenho
Compacto recebe modificações na suspensão e pneus parrudos por R$ 47.690, mas perde desempenho
Falar que o segmento de utilitários esportivos é a bola da vez é chover no molhado. Oferecer um modelo no segmento é praticamente uma obrigação, mas o problema é que para levar um SUV para casa é preciso desembolsar uma bela grana. Para quem quer dar os primeiros passos com um carro, digamos, mais robusto, a Ford lança o novo Ka Trail por R$ 47.690. Mas será que ele realmente aguenta um caminho mais hostil? Confira agora o nosso teste instrumentado do novo aventureiro compacto do pedaço.
Terceiro modelo mais vendido no Brasil, o Ka “normal” na versão SE serviu como base para o desenvolvimento do aventureiro. Começando pelo que se vê, o estilo mateiro foi dado pelos apliques nos para-choques dianteiro e traseiro, molduras aplicadas nas caixas de roda, rack no teto com acabamento em alumínio, rodas de liga leve aro 15" com pintura na cor grafite, lanternas traseiras com acabamento fumê, faróis dianteiros com máscara negra, acabamento exclusivo dos faróis de neblina (com o detalhe da versão Trail em relevo) e os adesivos espalhados nas laterais e tampa do porta-malas. Mas, ainda bem, nada de estepe pendurado.
Por dentro, o acabamento do painel foi preservado, mantendo o aspecto da versão SE para não cansar. Todas as personalizações estão aplicadas nos bancos que, além de receberem tratamento que repele sujeira (mas não são impermeáveis), trazem acabamento que mescla couro sintético com tecido, faixas e costuras aparentes nas cores laranja e mais dois tons de verde. Há também sobretapetes de borracha, soleiras com o logo da versão e pedais com acabamento em alumínio. Todo o restante é idêntico ao Ka convencional.
Já sobrenome Trail é justificado por mudanças significativas na suspensão. As molas ficaram mais firmes, os amortecedores são maiores (e com curva específica para o modelo), a barra estabilizadora é maior e o eixo traseiro ficou mais rígido. Os pneus são de uso misto, Pirelli Scorpion ATR 185/65 R15 (50% estrada e 50% off-road). O resultado deste novo conjunto é o aumento na altura em 31 mm, o que confere 200 mm de vão livre do solo. A Ford também incluiu coxim hidráulico para o motor e aplicou melhorias no isolamento acústico, necessário para reduzir o nível de ruído causado pelos novos pneus.
Testamos o modelo equipado com o motor 1.0 3 cilindros associado ao câmbio manual de cinco marchas. Sem alterações no conjunto, entrega os mesmos 80 cv e 10,2 kgfm com gasolina e 85 cv e 10,7 kgfm com etanol.
Ao volante, há ganhos e perdas. Apesar da familiaridade de ergonomia, dirigir o Ka Trail é diferente do que dirigir o Ka normal. A começar pela sensibilidade da direção elétrica, que recebeu ajuste específico, e se mostra levemente mais pesada. Os pneus de uso misto cobram seu preço na qualidade de rodagem na cidade, amarrando mais o carro nas acelerações e também nas manobras. Junte isso ao fato de o Ka ter ficado 26 kg mais pesado. E mais alto, que o influencia na aerodinâmica. No lado positivo, é um carro que transmite mais confiança para avançar sobre valetas e buracos (o real off-road da cidade). Na terra e lama leve, o Ka Trail vai bem. Lama leve. Não adianta procurar aquele lamaçal porque você vai acabar atolando. Mas encarar aquelas estradas de terra, cascalho e até ruas feitas de pedras, como nas cidades históricas de Minas Gerais, se torna tarefa confortável e você roda sem medos.
O preço pela robustez, que vai além dos adesivos, é pago no desempenho. Para acelerar de 0 a 100 km/h foram precisos longos 16,7 segundos, ou seja, 3 s a mais que o Ka 1.0 SE em nossos testes. O reflexo da aventura também é visto na retomada de 40 a 100 km/h feita em 15,4 segundos, contra os 13,4 s do modelo normal. Já na medição de retomada 80 a 120 km/h, o aspirante a fora de estrada se esforçou em quarta marcha para registrar 18,7 s. Muito tempo se comparado aos 13,8 s obtidos pelo SE.
A interferência do estilo também aparece nas frenagens. São precisos 43,1 metros até a parada completa quando se está a 100 km/h. O compacto civil, com pneus de uso 100% no asfalto, precisa de 39,3 m, diferença considerável. Os números mostram que de fato as mudanças foram aplicadas, tendo como reflexo as mesmas peculiaridades de um SUV, como maior robustez e menos desempenho.
Em relação ao consumo, um ponto polêmico. O Inmetro classifica o Ka Trail como um utilitário esportivo compacto. É isso mesmo. A justificativa que temos, até o momento, é de que os 20 mm de vão livre do solo e outras características (não detalhadas pelo instituto) o enquadram neste segmento. Assim, o Ka Trail obteve a nota máxima A no Conpet/Inmetro, com consumo de 7,5 km/l (etanol) e 10,8 km/l (gasolina) na cidade e 9,0 km/l (etanol) e 13,2 km/l (gasolina) na estrada.
Como a base é a versão SE, o Ka Trail vem bem equipado. Entre os principais itens de série estão o ar-condicionado, direção elétrica, vidros dianteiros elétricos, travas elétricas, abertura elétrica do porta-malas, ajuste de altura da coluna de direção, sistema My Connection com comando de voz e suporte para smartphone, banco traseiro bipartido 60/40, apoios de cabeça e cintos de 3 pontos para todos os ocupantes.
Para levar o Ford Ka Trail 1.0 para casa é preciso desembolsar R$ 47.690. Para quem quiser o motor 1.5, a conta aumenta R$ 4.300, passando ao preço final de R$ 51.900. Entre as opções disponíveis na concorrência, levando em conta os que possuem modificações ao menos na suspensão, os mais baratos estão na Fiat. O primeiro é o Mobi Way, por R$ 40.690, embora seja classificado como sub-compacto. Também há o Uno Way 1.0 por R$ 43.930. Na Chevrolet, a opção mais acessível é Onix Activ 1.4 manual que custa R$ 58.490 enquanto a Hyundai oferece o HB20X 1.6 Style por R$ 59.645. A cifra passa dos R$ 60 mil na Renault, com o Sandero Stepway 1.6 por R$ 60.700 e na Toyota com Etios 1.5 Cross, que custa R$ 64.290, mas apenas com câmbio automático.
Vale a compra? Olhando para os concorrentes mais baratos, o Ka Trail é o que recebeu as modificações mais profundas para encarar ambientes mais difíceis, o que inclui os parrudos pneus Scorpion ATR. A vantagem do Ka está no conjunto mecânico moderno e na lista de equipamentos completa. A única ausência é dos sistemas de controle de tração e estabilidade, que são oferecidos na versão SEL do Ka. Para quem realmente encara vias mais complicadas, o Ka Trail é uma opção robusta e confortável para entrada no mundo dos aventureiros.
Ficha Técnica - Ford Ka 1.0 Trail 2017
MOTOR |
dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, 997 cm3, comando duplo variável na admissão e escape, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | Potência: 80/85 cv a 6.300 rpm (G/E); Torque: 10,2/10,7 kgfm a 3.500/4.500 rpm (G/E) |
TRANSMISSÃO | manual cinco marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
DIREÇÃO | elétrica com assistência variável |
RODAS E PNEUS | liga-leve aro 15, com pneus 185/65 R15 Scorpion ATR |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS |
PESO |
1.047 kg |
DIMENSÕES | comprimento 3.896 mm, largura 1.695 mm, altura 1.568 mm, entre-eixos 2.491 mm |
PORTA-MALAS | 257 litros |
PREÇO | R$ 47.690 |
TESTE INSTRUMENTO MOTOR1.COM BRASIL | |||
---|---|---|---|
Ford Ka 1.0 Trail | Ford Ka 1.0 SE | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 6,6 s | 5,7 s | |
0 a 80 km/h | 10,7 s | 9,0 s | |
0 a 100 km/h | 16,7 s | 13,7 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 15,4 s | 13,4 s | |
80 a 120 km/h em S | 18,7 s | 13,8 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 43,1 m | 39,3 m | |
80 km/h a 0 | 27,2 m | 24,9 m | |
60 km/h a 0 | 15,1 s | 14,0 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 7,5 km/l (Inmetro) | 9,2 km/l | |
Ciclo estrada | 9,0 km/l (Inmetro) | 13,0 km/l |
Galeria: Ford Ka Trail 1.0 2017
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