Quando o total de hatchbacks médios vendidos em um ano é menor do que o alcançado por uma única minivan (sim, minivan!), é hora de acender o sinal vermelho. E foi justamente isso que aconteceu no Brasil de 2016, mercado que viu a Chevrolet Spin vender mais do que a soma de todos os hatches médios juntos - 22.982 contra 22.519 unidades. Não é à toa que especialistas do setor apontam este segmento como a próxima vítima da onda SUV que se abateu sobre o mundo.
Contra tudo e todos, porém, a Chevrolet lança a nova geração do Cruze Sport6 investindo no estilo e na esportividade, sem falar na farta lista de equipamentos de série. A primeira volta já é suficiente para gostarmos do hatch, mais até do que do sedã, que tem acerto um tanto anestesiado para o meu gosto. Mas, além de ser ameaçado pelos SUVs, um hatch médio novato tem que enfrentar dois rivais pra lá de consagrados: VW Golf e Ford Focus. A Ford alegou não ter uma unidade para participar do nosso teste na data marcada. Já o Golf veio na versão Highline 1.4 TSI, na medida para enfrentar o Cruze Sport6 LTZ.
Para combater o Golf, o novo Cruze igualou uma arma importante: o motor 1.4 com injeção direta e turbo, que substitui o antigo 1.8 16V com mais potência e muito mais torque. São 153 cv e 24,5 kgfm entregues logo a 2.000 rpm. O câmbio é o mesmo automático de 6 marchas de antes, porém em nova geração e com trocas mais ágeis. Em relação ao Cruze sedã, o Sport6 ganhou "peso" na direção elétrica, eixo traseiro 10% mais rígido e molas e amortecedores mais firmes, para valorizar o handling.
Quando ainda era importado, o Golf tinha mais argumentos. O câmbio era o DSG de dupla embreagem e 7 marchas, enquanto a suspensão traseira tinha configuração multilink. Na nacionalização, o modelo recebeu transmissão Tiptronic automática de seis marchas e eixo traseiro de torção - um conjunto mais simples do ponto de vista da engenharia, mas basicamente a mesma receita do Cruze. O motor 1.4 TSI passou a ser flex e, com isso, chegou a 150 cv (10 cv extras) e manteve os 25,5 kgfm a meras 1.500 rpm.
O novo Cruze chegou muito mais perto do Golf como produto, de um jeito que o antigo Sport6 jamais conseguiu. Peca nos detalhes, mas, em compensação, se defende no preço
Desenvolvido sobre a nova plataforma D2xx, o Cruze Sport6 emagreceu cerca de 100 kg e ganhou maior rigidez torcional, graças ao uso de aços de alta resistência. Também ficou mais curto do que antes, para valorizar o design e a dinâmica, embora tenha mantido o entreeixos de 2,70 m do sedã. Entre perdas e ganhos, o Sport6 despacha fácil o Golf em espaço interno, especialmente no banco traseiro, mas perde do VW no porta-malas: 313 litros contra 290 litros do GM. É uma grande redução, se lembramos que o antigo Cruze hatch levava ótimos 402 litros, liderando a categoria neste quesito.
Hatches médios costumam vender pelo estilo e dirigibilidade. Nestes pontos, o novo Cruze fica bem na foto. A traseira tem personalidade bem distinta da apresentada pelo sedã, com lanternas que adentram a tampa, enquanto a dianteira traz desenho também exclusivo, inspirada na versão esportiva RS norte-americana. O Sport6 ficou mais estiloso que o Golf, com seu jogo seguro de formas que não inovam para não correr o risco de desagradar aos fãs. É bonito, mas óbvio, e ainda é facilmente confundido com outros modelos da VW.
Em termos de acabamento e construção, no entanto, ainda é o Golf que dá as cartas. Ele agrada em cheio por dentro, com o painel de espuma injetada, bem como as laterais de porta, além das colunas dianteiras forradas e os porta-objetos com feltro nas portas. O Cruze, ao contrário, parece ter regredido na escolha de materiais e na montagem, apresentando gaps maiores entre as peças internas e plásticos de aspecto menos nobre que os do VW, sem falar no forro de teto um tanto simples. Uma boa sacada da GM foi oferecer o interior claro nesta versão LTZ, em oposição ao acabamento todo preto da LT, para sair da mesmice. O Golf mescla preto com cinza, podendo ter os bancos na cor creme como opção ao preto.
Ao dirigir, é interessante ver como eles são diferentes, apesar da ficha técnica parecida. O Golf é sempre mais nervoso, com respostas mais diretas da direção, suspensão mais firme e câmbio pronto para reduções, além dos bancos que seguram mais o corpo. Já o Cruze roda com suavidade, passando mais macio em buracos e pisos ruins, sendo mais silencioso e oferecendo bancos de abas abertas, mais cômodos.
Quando chamado pelo acelerador, porém, o Cruze deixa a comodidade de lado e puxa com vontade, chegando aos 100 km/h em bons 8,7 segundos. Foi praticamente um empate técnico com o Golf, que cumpriu a prova em 8,6 segundos - mais rápido que o DSG, que havia cravado 9 s, mas tinha 10 cv a menos. Muita gente criticou a volta do Tiptronic na VW (me incluo aí), mas o fato é que ele se mostrou mais eficiente que a caixa da GM, com trocas mais rápidas e aceitando reduções no modo manual com o giro elevado. Uma falta sentida no Cruze é não dispor das borboletas para trocas de marcha no volante, o que dá um tempero extra à tocada do Golf.
Não que o Chevrolet fique para trás nas curvas. O Golf é muito bem postado na estrada e quase não reclama das mudanças de direção bruscas, mas o Cruze surpreende por conseguir um comportamento parecido mesmo sendo mais macio. A carroceria até inclina um pouco mais do que a do rival em curvas acentuadas, mas segue firme na trajetória imposta pelo motorista. Já a direção não tem a mesma "conversa" do VW, mas agrada mais que o volante "bobo" do Cruze sedã. Por fim, os dois hatches mostraram freios fortes, com vantagem para o Golf.
Ao descer dos carros, sentimos que o novo Cruze chegou muito mais perto do Golf como produto, de um jeito que o antigo Sport6 jamais conseguiu. Peca nos detalhes, mas, em compensação, se defende no preço. Ele oferece uma versão LT de R$ 91.790 que já tem o motor 1.4 turbo e uma série de itens desejados, como ar digital, central multimídia, rodas de aro 17", 6 airbags, sistema de monitoramento/concierge OnStar e bancos de couro. Já o Golf só está disponível com o motor 1.4 TSI na versão Highline, que já parte de R$ 106.950.
Falando das versões aqui comparadas, o Cruze LTZ começa em R$ 103.290 e adiciona interior claro, rodas com pintura escurecida, multimídia com tela maior (8"), teto solar, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, computador de bordo com tela colorida e chave presencial, entre outros itens. Como opcional, o pacote LTZ2 leva o hatch a R$ 113.740, incluindo monitor de pontos cegos, alerta de colisão frontal com indicador de distância do carro à frente, assistente de permanência em faixa (que puxa o volante sozinho), farol alto adaptativo e sistema de estacionamento automático.
No caso do Golf, a conta fica ainda mais salgada. Tudo bem que o VW traz equipamentos mais sofisticados, como o piloto automático adaptativo (que freia sozinho) e os faróis bixenônio direcionais, mas será difícil encontrar alguém disposto a desembolsar R$ 140.153 (!) num Golf 1.4 com o pacote Premium e o teto solar. Melhor ficar com o pacote Elegance, que totaliza R$ 113.099 e adiciona rodas de aro 17", seletor de modo de condução, multimídia com tela de 6,5" e chave presencial com partida por botão.
Então ficamos assim: o Golf ainda é mais carro, mas o Cruze é melhor negócio. Vai do seu gosto. Ou bolso.
Fotos: Rafael Munhoz
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.395 cm³, turbo e injeção direta, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 150/153 cv a 5.600/5.200 rpm / 24/24,5 kgfm a 2.100/2.000 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de seis marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 17" com pneus 215/50 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.336 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.448 mm, largura 1.807 mm, altura 1.484 mm, entre-eixos 2.700 mm |
PORTA-MALAS | 290 litros |
PREÇO | R$ 103.290 |
MOTOR | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, 1.395 cm³, turbo e injeção direta, flex |
POTÊNCIA/TORQUE | 150 cv a 4.500 rpm / 25,5 kgfm a 1.500 rpm |
TRANSMISSÃO | automática de seis marchas, tração dianteira |
SUSPENSÃO | independente McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
RODAS E PNEUS | liga leve de aro 17" com pneus 225/45 R17 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com ABS e ESP |
PESO | 1.238 kg em ordem de marcha |
DIMENSÕES | comprimento 4.255 mm, largura 1.799 mm, altura 1.468 mm, entre-eixos 2.630 mm |
PORTA-MALAS | 313 litros |
PREÇO | R$ 106.950 |
MEDIÇÕES MOTOR 1 BR | |||
---|---|---|---|
Cruze Sport6 LTZ | Golf 1.4 TSI | ||
Aceleração | |||
0 a 60 km/h | 4,0 s | 3,9 s | |
0 a 80 km/h | 6,2 s | 5,8 s | |
0 a 100 km/h | 8,7 s | 8,6 s | |
Retomada | |||
40 a 100 km/h em S | 6,3 s | 6,8 s | |
80 a 120 km/h em S | 6,0 s | 5,8 s | |
Frenagem | |||
100 km/h a 0 | 38,4 m | 35,4 m | |
80 km/h a 0 | 24,5 m | 22,3 m | |
60 km/h a 0 | 13,9 m | 12,5 m | |
Consumo | |||
Ciclo cidade | 8,2 km/l | 8,5 km/l | |
Ciclo estrada | 11,3 km/l | 11,1 km/l |
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