Desde o início do projeto HB, em 2010, a Hyundai já tinha intenção de produzir um SUV na então futura fábrica de Piracicaba (SP): além do HB20 hatch e do sedã, um crossover compacto chegou a ser mostrado em clínicas com potenciais clientes. Mas, no fim, a marca optou pelo mais simples (e barato) HB20X, a versão aventureira do hatch.
O sucesso do trio nos anos seguintes ao lançamento, no entanto, encorajou a Hyundai a voltar a pensar no SUV compacto, aproveitando também o boom desta categoria tanto no Brasil quanto mundo afora. Só que, em vez de desenvolver um modelo local, como fez com a linha HB, a marca coreana foi buscar o global Creta para nosso mercado – um modelo que, embora de dimensões compactas, usa plataforma de carro médio, o Elantra. Não pense então que o Creta que estreia agora entre nós deriva do HB20. Ele saiu melhor do que a encomenda.
Oferecido em cinco versões, o Creta brasileiro começa a ser vendido na segunda quinzena de janeiro com preços entre R$ 72.990 e R$ 99.490. A versão de entrada Attitude 1.6 é a única sem controle de estabilidade, item de série nas demais, e disponível somente com câmbio manual. Já a intermediária Pulse pode ter câmbios manual ou automático, com motor 1.6, e automático com motor 2.0. A versão de topo é a Prestige, sempre com motor 2.0 e câmbio automático, tendo como exclusividades os seis airbags, o banco do motorista ventilado, central multimídia com tela de 7" sensível ao toque e revestimento interno de couro marrom, entre outros equipamentos - veja lista no fim de reportagem.
Num mar de rivais que abrange desde o Ford EcoSport até o Jeep Renegade, o Creta se assemelha mais aos seus rivais de origem asiática, como o Honda HR-V e o Nissan Kicks. Sem ousadias de estilo, o novo competidor é basicamente o que se espera de um SUV compacto da Hyundai: as linhas mesclam um pouco de Santa Fe com toques de HB20. Para a versão local, a Hyundai Brasil resolveu dar mais requinte ao carro, adotando para-choques e grade frontal exclusivos. O visual não arrebata, mas é bonito e realmente mais interessante que o da versão chinesa. Diferentemente do HB20, que tem rodas de aro 15”, no máximo, o Creta se apoia em rodas de aro 16” ou 17”, que ajudam na percepção de imponência.
Medindo 4,27 metros de comprimento por 1,78 m de largura e 1,63 m de altura, o Creta dispõe de 2,59 m de entre-eixos e conta com 190 mm de altura livre do solo. Apesar de compacto, o novo Hyundai aproveita muito bem suas medidas, ficando entre os mais espaçosos do segmento. Os ocupantes do banco traseiro contam com bom apoio para as coxas, além de um grande espaço para as pernas e a cabeça. Nas versões 2.0, há saídas de ar-condicionado exclusivas para os passageiros de trás. Na frente, o espaço lateral e para a cabeça é excelente, enquanto o banco oferece bom apoio e a coluna de direção tem ajuste em altura e profundidade.
A posição de dirigir me agradou bastante, principalmente por não ser desnecessariamente elevada como em alguns rivais. Mesmo quando optamos pela altura mais baixa do assento. Na versão top, o banco traz ainda ventiladores internos com três velocidades, uma exclusividade no segmento. Já em termos de porta-malas, o SUV da Hyundai está novamente entre os maiores da categoria, com 431 litros.
Por que não ix25? Segundo a Hyundai, o nome Creta tem inspiração na maior ilha da Grécia, e segue a linha da marca de homenagear localidades, assim como os SUVs Tucson, Santa Fe e Vera Cruz
Além da plataforma, o Creta pegou emprestado do Elantra também o motor 2.0 16V Flex, de até 166 cv de potência e 20,5 kgfm de torque, aliado ao câmbio automático de seis marchas. Com isso, passa a ser um dos mais potentes do segmento, batendo até mesmo o Chevrolet Tracker 1.4 turbo, de 153 cv, embora perca no torque por boa margem. As versões de entrada são equipadas com o conhecido motor 1.6 16V Flex do HB20, mas acrescido de duplo comando variável (admissão e escape) e coletor de admissão variável, totalizando 130 cv e 16,5 kgfm, sendo ofertado com câmbio manual ou automático, sempre de seis marchas. A tração é somente dianteira em todas as versões.
Para este primeiro contato com o Creta, a Hyundai providenciou um test-drive com as versões Pulse 1.6 automática, Pulse 2.0 e Prestige 2.0 pelas ruas de Florianópolis (SC) - a 1.6 manual ainda não foi produzida, de acordo com a marca. Apesar do trajeto curto e quase todo urbano, o novo SUV deixou boa impressão geral.
Começamos pela versão 2.0 e, como esperado, o desempenho é interessante. Embora sem vocação esportiva, o Creta com esse motor ganha velocidade facilmente e tem uma boa reserva de força para ultrapassagens. Na estrada, viaja silenciosamente a 120 km/h a apenas 2.500 rpm. Só achei que o ruído do motor incomoda em altos giros, especialmente em condições de kick-down - quando pisamos fundo para a retomada. O câmbio de seis marchas tem passagens sempre suaves, mesmo no modo manual, mas não há borboletas para trocas no volante - mimo que Renegade e HR-V oferecem. Outra falta sentida é de freios a disco na traseira, além de uma "mordida" mais forte nesta versão 2 litros. A Hyundai fala em 9,7 segundos de aceleração de 0 a 100 km/h e máxima de 188 km/h, com consumo de 6,9 km/l na cidade e 8,2 km/l na estrada, usando etanol. Com gasolina, as médias passam a 10 km/l e 11,4 km/l, respectivamente, pelos dados do Inmetro.
Trocando-o pelo 1.6 automático, a surpresa: a perda de desempenho, ao menos em trajetos urbanos, é discreta. Claro que o 2.0 tem mais fôlego para pegar estrada, principalmente com o carro carregado, mas, para quem for rodar principalmente na cidade, o 1.6 já dá conta do recado. E com a vantagem de gritar um pouco menos na cabine quando exigido. O câmbio estica um pouco mais as marchas do que no 2.0, mas mantém a suavidade nas passagens. Pelos números de fábrica, vai aos 100 km/h em 12 segundos e chega a 172 km/h. No consumo, registra 7,1 km/l na cidade e 8,2 km/l na estrada, com etanol. Na gasolina, faz 10,1 e 11,3 km/l, na ordem.
Em ambas as versões, destaca-se o comportamento dinâmico superior ao do HB20, fruto da plataforma do Elantra. O Creta tem praticamente o dobro da rigidez torcional do hatch, além de bitolas mais largas e rodas maiores. O resultado é um rodar mais refinado, com melhor isolamento da cabine e boa absorção de impactos. Ao mesmo tempo, revela pouca inclinação da carroceria nas curvas, embora a dianteira tenha tendência a alargar a trajetória em velocidades maiores. Para completar, a direção é elétrica em todas versões: leve nas manobras e com boa firmeza na estrada, sem aquela leveza excessiva dos HB.
Outro ponto de destaque fica por conta do sistema stop/start, aqui chamado de Stop&Go. Geralmente me incomoda o desligar e ligar do motor nas paradas de semáforo, fazendo com que eu desative o dispositivo. Mas confesso que me passou batido que o Creta estivesse fazendo isso. Foi preciso prestar atenção no funcionamento do sistema para notá-lo, o que para mim é o maior elogio que se pode fazer a um stop/start. Outro recurso, este somente das versões 2.0, é o farol com luz extra para curvas, que acende quando o volante é girado para a respectiva direção. Ele também é o único a dispor de DRL (luzes diurnas de LED).
A parte não tão boa do Creta está no painel, que tem desenho um tanto sem graça e parece ter o mesmo nível do usado no HB20. Ou seja, os plásticos (todos rígidos) são de boa qualidade e estão bem montados, mas a aparência é simples e a tonalidade toda preta da peça (a não ser na versão top) não ajuda a emprestar requinte para um carro que pode encostar nos R$ 100 mil. Também incomoda a estratégia da Hyundai de deixar os equipamentos mais interessantes somente para o modelo mais caro. É o caso da central multimídia com conexão Apple Car Play e Android Auto e do ar-condicionado digital, que só vêm no Creta Prestige - nos demais, há um simples rádio com Bluetooth. Por fim, faltam coisas simples, como retrovisor eletrocrômico.
Dito isso, o Creta se mostra apto a repetir o sucesso dos demais modelos da Hyundai Brasil. Os preços estão competitivos para a média do segmento, a Hyundai oferece garantia de cinco anos e a oferta de dois motores deverá atender um grande leque de consumidores. Pelas expectativas da marca, as vendas deverão ficar entre 3,5 mil e 4 mil unidades por mês, o que significa brigar pela liderança contra HR-V e Renegade. É dor de cabeça na certa para Honda e FCA.
PRÓS
CONTRAS
Creta Attitude 1.6 manual – R$ 72.990
Creta Attiute 1.6 automático – R$ 69.990 (exclusivo para PNE)
Itens: direção elétrica, rodas de 16″, airbag duplo, ISOFIX, monitoramento de pressão de pneus, alarme, sistema stop/start, ar-condicionado manual, conjunto elétrico, coluna de direção ajustável em altura e profundidade, chave canivete e som com Bluetooth e USB com tela de 3,8″;
Creta Pulse 1.6 manual – R$ 78.290
Creta Pulse 1.6 automático R$ 85.240
Creta Pulse 2.0 automático – R$ 92.490
Itens: os mesmos da Attitude mais controles de tração e estabilidade e assistente de partida em rampas e sensor de estacionamento;
Creta Prestige 2.0 automático – R$ 99.490
Itens: adiciona seis airbags, ar-condicionado digital, banco ventilado e sistema multimídia com GPS.
Por Daniel Messeder, de Florianópolis (SC)
Viagem a convite da Hyundai
Fotos: divulgação/Daniel Messeder
FICHA TÉCNICA | ||
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Creta Pulse 1.6 AT | Creta Prestige 2.0 | |
Motor | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, comando duplo variável na admissão e no escape, flex | dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, comando duplo variável na admissão e no escape, flex |
Cilindrada | 1.591 cm3 | 1.999 cm3 |
Potência | 123/130 cv a 6.000 rpm | 166/156 cv a 6.200 rpm |
Torque | 16,0/16,5 kgfm a 4.500 rpm | 20,0/20,5 kgfm a 4.700 rpm |
Transmissão | automática de 6 marchas | automática de 6 marchas |
Tração | dianteira | dianteira |
Direção | elétrica com relação variável | elétrica com relação variável |
Suspensão | McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira | McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira |
Freios | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira com ABS e EBD | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira com ABS e EBD |
Rodas | liga leve aro 17" com pneus 215/60 R17 | liga leve aro 17" com pneus 215/50 R17 |
Peso | 1.359 kg | 1.399 kg |
Porta-malas | 431 litros | 431 litros |
Tanque | 55 litros | 55 litros |
Comprimento | 4.270 mm | 4.270 mm |
Largura | 1.780 mm | 1.780 mm |
Altura | 1.635 mm | 1.635 mm |
Entreeixos | 2.590 mm | 2.590 mm |
Preço | R$ 85.240 | R$ 99.490 |
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