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Jeep Cherokee XJ (1984-2001): o 4x4 raiz que ajudou a lançar moda dos SUVs

Criado pela AMC e Renault, modelo tornou-se um clássico jamais superado

Jeep Cherokee Sport (XJ) 1988–1996
Foto de: Jason Vogel

Até o início da Segunda Guerra Mundial, a Willys-Overland (fundada em 1908) era uma tradicional marca norte-americana dedicada aos carros de passeio. Durante o conflito, porém, toda sua linha de produção foi convertida para fabricar o Jeep MB, que fez história nas frentes de combate. 

Terminada a guerra, em 1945, a Willys só tinha o Jeep em produção. A companhia não demorou a perceber o potencial de seu 4x4 para o uso civil e, com poucas modificações, transformou o modelo militar em uma ferramenta agrícola para o trabalho duro em sítios e fazendas. Nascia a linha CJ, sigla de Civilian Jeep.

Willys Station Wagon 1949, o começo de tudo
Foto de: Jason Vogel

Willys Station Wagon 1949, o começo de tudo

Para conquistar de vez os chacareiros, a fábrica desenvolveu em 1946 um utilitário fechado a partir da mecânica do Jeep convencional. Robusta, a Willys Station Wagon foi a primeira caminhonete americana toda de aço (até então, usavam-se estruturas de madeira). Tinha versões com tração 4x2, 4x4, carrocerias de passeio ou tipo furgão e picape. Mais tarde, o utilitário seria feito no Brasil (rebatizado de Rural-Willys) e na Argentina.

A Willys foi anexada ao grupo Kaiser em 1954. E foi com a marca Kaiser-Jeep que nasceu, em 1963, o Jeep Wagoneer. Mais baixo, mais longo e mais confortável que a Willys Station Wagon, o modelo de quatro portas foi o primeiro 4x4 a ganhar itens de luxo antes restritos aos sedãs. Era um passo inicial para os veículos hoje conhecidos como utilitários esportivos.

Jeep Wagoneer 1963
Foto de: Jason Vogel

Jeep Wagoneer 1963

Em 1970, a Kaiser-Jeep passou ao controle da American Motors Corporation (AMC, herdeira da Nash e da Hudson) e o Wagoneer continuou em linha. Em 1973, a AMC lançou o Jeep Cherokee SJ — nada além de uma versão de duas portas do Wagoneer, com vidros laterais traseiros inteiriços e colunas C mais largas. Só 11 anos depois é que o Cherokee seria todo modificado, ganhando uma linha independente. 

Americano com ascendência francesa


Em 1977, a AMC fechou uma parceria para desenvolvimento e comercialização de produtos com a francesa Renault. E foi justamente nessa época que um novo Cherokee começou a ser projetado. Alçado a chefe da equipe de desenvolvimento de produtos da AMC, François Castaing, engenheiro da Renault, fez o projeto da plataforma.

Jeep Cherokee (SJ) 1973, o primeiro Cherokee
Foto de: Jason Vogel

Jeep Cherokee (SJ) 1973, o primeiro Cherokee

Como o planeta estava entrando na segunda crise do petróleo e havia planos de vender esse novo Jeep na Europa, era preciso que o Cherokee (geração XJ) fosse bem mais enxuto e eficiente que seu antecessor.

Assim, o Cherokee XJ era 61 cm mais curto, 15 cm mais estreito e 10 cm mais baixo que o Cherokee SJ. Mesmo assim, mantinha 90% do volume interno da cabine, graças à construção tipo monobloco e a componentes como a tampa traseira de fibra de vidro e os bancos dianteiros emprestados pelos modelos Renault 9 e 11. 

Suas linhas quadradas e limpas, francamente utilitárias, eram obra de Dick Teague, um veterano designer que começara sua vida profissional na General Motors e na Packard, e já havia desenhado para a AMC os polêmicos compactos Gremlin e Pacer.

Jeep Cherokee duas portas 1984 (XJ)
Foto de: Jason Vogel

Jeep Cherokee duas portas 1984 (XJ)

Teague descreveu a aparência prática do novo 4x4: “Não queríamos perder o estilo dos Jeep mais antigos... Queríamos que parecesse algo que você gostaria de levar para terrenos difíceis”. O principal é que o novo Cherokee pesava aproximadamente 1,5 tonelada — cerca de 500 quilos a menos que seu antecessor. O monobloco era tão bem projetado que mantinha uma excelente rigidez do conjunto.

Graças à redução de peso, o desempenho era bom (para um 4x4) mesmo com o menor motor disponível, um quatro-em-linha de 2,5 litros, da AMC. Entre outros propulsores, a linha incluía um Renault quatro cilindros turbodiesel, de 2,1 litros e o robusto AMC seis-em-linha de 4 litros, de 179 cv, com que o Cherokee chegaria ao Brasil nos anos 1990.

Jeep Cherokee - a mecânica
Foto de: Jason Vogel

Jeep Cherokee - a mecânica

As suspensões continuavam a ser por eixo rígido na dianteira e na traseira. Suas articulações, porém, eram superiores às do velho SJ, assim como a altura livre do solo, além dos ângulos de ataque, saída e transposição de obstáculos. Esses fatores, juntamente com o perfil mais compacto, tornavam o XJ melhor tanto fora de estrada quanto no asfalto.

Assim, o Cherokee XJ não demorou a ser descoberto pelos yuppies que não podiam pagar por um Range Rover. Antes voltados para uso na roça, os utilitários passaram a rodar principalmente nas cidades e bem longe da lama. Tinham estilo agressivo, espaço interno e impunham respeito aos táxis de Manhattan. Havia versões de duas ou quatro portas, com opções de câmbio manual ou automático e tração traseira ou 4x4. Havia até uma versão picape, a Comanche. Depois de uma década de crise, o preço do petróleo voltava a cair e os americanos retomavam o gosto por carros grandes. 

1984–87 Jeep Cherokee Pioneer (XJ) painel
Foto de: Jason Vogel

1984–87 Jeep Cherokee Pioneer (XJ) painel

Com o tempo, vieram versões cada vez mais luxuosas, com vidros e travas com acionamento elétrico (de série), vistosas rodas de alumínio e forrações caprichadas. Estava lançada a moda dos SUVs (Sport Utility Vehicles, ou utilitários esportivos) que seria copiada por todos os fabricantes e iria revolucionar o panorama automotivo mundial nas próximas décadas.

Beijing-Jeep Cherokee XJ (BJ2021) - o início da produção na China, em 1985
Foto de: Jason Vogel

Beijing-Jeep Cherokee XJ (BJ2021) - o início da produção na China, em 1985

Pioneiro na China e clonado no Brasil

A febre do novo Jeep espalhou-se pelo mundo. Além de ser feito na lendária fábrica da Jeep em Toledo, Ohio (EUA), o Cherokee XJ também foi montado em países como Venezuela, Argentina, Egito e Indonésia. Na Europa, o modelo era vendido em concessionárias Renault.

Assim como o VW Santana, o Cherokee foi um dos primeiros modelos ocidentais feitos na China, graças a um acordo da AMC com a Beijing Motor (BAIC), em 1984. A produção do XJ no país asiático se estendeu até 2014, com diferentes fabricantes, motores e modificações estéticas. Houve ainda incontáveis cópias não-autorizadas.

Envemo Camper - o clone brasileiro lançado em 1988
Foto de: Jason Vogel

Envemo Camper - o clone brasileiro lançado em 1988

No Brasil, o modelo ganhou um clone feito de fibra de vidro e motores de Chevrolet Opala: era o Envemo Camper, lançado em 1988, quando nossas fronteiras ainda estavam fechadas aos carros importados. Com a reabertura dos portos, em 1990, os Cherokee XJ “de verdade” tornaram-se uma febre por aqui, inicialmente trazidos por importadores independentes. Mesmo assim, os Envemo Camper continuaram em linha até 1994, com um total aproximado de 650 unidades produzidas.

Cherokee Renault
Foto de: Jason Vogel

Cherokee Renault

Assassinato na Renault… entra a Chrysler

Enquanto a AMC brilhava com seu Jeep, a sócia Renault amargava seguidos prejuízos na Europa. Quando George Besse, presidente da estatal francesa, anunciou planos de fechar fábricas e demitir 21 mil trabalhadores, as críticas aos investimentos da companhia nos Estados Unidos se intensificaram. 

Em novembro de 1986, Besse foi assassinado em Paris por militantes do grupo anarquista Action Directe. Foi um ponto de virada para a Renault que, em 1988, vendeu seus 47% de ações da AMC para o grupo Chrysler.

Cherokee XJ como parte da linha Renault na Europa
Foto de: Jason Vogel

Cherokee XJ como parte da linha Renault na Europa

Cherokee XJ como parte da linha Renault na França
Foto de: Jason Vogel

Cherokee XJ como parte da linha Renault na França

Em 1989, já sob nova direção, foram fabricadas 207 mil unidades do Cherokee XJ — representando mais de ⅓ dos lucros da Chrysler. A nova acionista incorporou não só o engenheiro François Castaing, como boa parte do quadro de executivos da American Motors Corporation. A partir daí, a marca Jeep tomaria o lugar da sigla AMC e ganharia cada vez mais importância, mesmo após as fusões da Chrysler com a Daimler-Benz (1998-2007), com o grupo Fiat (2014-2021), e a formação da Stellantis (em 2021).

Jeep Concept 1 (1989) - o protótipo do Grand Cherokee
Foto de: Jason Vogel

Jeep Concept 1 (1989) - o protótipo do Grand Cherokee

Os sucessores

Quando a Chrysler comprou a AMC, levou junto o projeto do que seria, ao mesmo tempo, um sucessor do Cherokee XJ e do velho Jeep Wagoneer (modelo de 1963 que continuava em produção). O primeiro protótipo foi mostrado em 1989: era o Jeep Concept 1. A versão de produção chegou ao mercado em 1993, com o nome Jeep Grand Cherokee (geração ZJ). 

Mesmo após o lançamento do irmão mais luxuoso, o clássico Cherokee XJ “quadradinho” continuou sua trajetória. Era, afinal, simples, barato e bom de trilha.

Jeep Cherokee Sport (XJ) 1997–2001 - a nova frente
Foto de: Jason Vogel

Jeep Cherokee Sport (XJ) 1997–2001 - a nova frente

No início dos anos 1990, o modelo XJ já se aproximava de uma década no mercado, mas suas vendas continuavam firmes, passando das 150 mil unidades anuais. Para a Chrysler, não havia urgência em tirar de linha um 4x4 que ainda tinha boa aceitação e ajudava a amortizar a compra da AMC.

Em 1997, as linhas do Cherokee XJ foram ligeiramente modernizadas, com para-choques e proteções laterais redesenhados, grade com sete barras (em vez de oito), entre outros detalhes.

Jeep Liberty (Cherokee KJ) 2001–2004 - o sucessor do XJ nunca teve o mesmo êxito
Foto de: Jason Vogel

Jeep Liberty (Cherokee KJ) 2001–2004 - o sucessor do XJ nunca teve o mesmo êxito

O interior foi atualizado com um novo painel, que passou a trazer airbags para o motorista e o passageiro. As vendas saltaram para 258 mil unidades.

No Brasil, o modelo “quadradinho” passou a ser oferecido simplesmente como Cherokee Sport, convivendo com o Grand Cherokee.

Galeria: História Automotiva Cherokee XJ

O XJ continuou em produção nos Estados Unidos até 2001, com pequenas modificações anuais e, principalmente, edições especiais. Em 2002, a Jeep lançou o Liberty — ou Cherokee KJ — um modelo de faróis redondos e carroceria disforme, que jamais alcançou o êxito de seu clássico antecessor. 

O jornalista automotivo Robert Cumberford, editor da revista norte-americana “Automobile”, considerou o Jeep Cherokee XJ de um dos 20 melhores carros da História — por seu desenho e por ser “possivelmente o melhor formato de SUV de todos os tempos, um modelo paradigmático ao qual outros designers aspiraram desde então.”

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