A melhor forma de analisar o comportamento do consumidor é a venda no varejo. Aqui, estão os emplacamentos de quem foi numa concessionária, escolheu e comprou seu carro como uma pessoa, não empresa ou frotas, onde o Hyundai Creta é o rei. E agora ele mudou bastante, com direito a novo motor 1.6 turbo e visual menos polêmico, para seguir assim nos próximos anos.
Este é o Hyundai Creta Ultimate 2025, a versão topo e única com o 1.6 turbo e um polêmico câmbio automatizado de dupla embreagem. Custa R$ 189.990, preço que o já aproxima dos SUVs médios, e é a grande aposta da marca entre os concorrentes, principalmente pelo pacote de equipamentos e assistência de condução, além de ser o SUV compacto mais potente do mercado, com 193 cv. Vida longa ao rei das lojas?
Eu sei que você já criticou o visual do Creta anterior. De fato, não era o carro mais bonito, mas olha como vende e isso deu carta branca para esta renovação tão ampla. Tanto dinheiro que ganhou, o Creta trocou praticamente todas as peças de interior, dianteira e traseira, sem dó, para realmente se enquadrar como novo. Quer quer rir, tem que fazer rir...
E isso funcionou. Há tempo que não ouço tantos "bonito, hein" nas ruas, e não falavam de mim, obviamente. Na parte superior, as luzes diurnas se destacam e, com os faróis ligados, recebem uma faixa em LEDs as interligando. Mais abaixo, o farol em si, com a parábola baixa e alta, escondido por uma máscara-negra. É mais tradicional, mas não tão careta, e harmonioso com a grade e o para-choque por completo.
Na traseira, despediu-se das lanternas estranhas e adotou peças afiladas, também com uma barra interligando os dois lados - que apesar de existir um brake-light superior, acende por completa quando se pisa no freio, não apenas com os faróis ligados. A luz de ré é central, única, e fica uma crítica ao para-choque, rente à tampa do porta-malas, protegendo pouco contra pequenos impactos do dia a dia. Nas laterais, apenas novas rodas de 18" nesta versão.
O interior mudou bastante. Os bancos já eram bons e ganharam novas cores, enquanto o do motorista recebeu regulagem elétrica de encosto e assento, mas a altura segue manual. O console central também não muda, mas acima dele as peças são todas novas, um pacote mais moderno, bem acabado e bonito, sem perder a usabilidade de comandos físicos para o ar-condicionado e boas telas para as informações e sistema multimídia.
Faz tempo que se fala sobre um motor para substituir o 2.0 aspirado no Creta. A chegada de novas normas de emissões colocaram na versão topo do SUV um 1.6 turbo, mas não exatamente o mesmo que está no Tucson. No SUV maior, é um motor da família Gamma, chamado G4FJ, com injeção direta, turbo de duplo fluxo e variador de fase nos comandos de admissão e escape, que gera 177 cv e 27 kgfm.
O Creta usa um Smartstream, G4FP, uma evolução do G4FJ. Seu maior diferencial é um variador diferente de tempo de abertura das válvulas, chamado CVVD, que amplia a variação para atender diversos tipos de condução e situações de direção. É um dos motivos pelos quais esse motor no Creta chega aos 193 cv, com os mesmos 27 kgfm de torque.
A grande polêmica dessa vez é o câmbio usado com esse 1.6 turbo. É um automatizado de dupla embreagem, com 7 marchas e embreagens a seco, uma tecnologia com histórico de problemas no Brasil em diversas marcas. A Hyundai garante que fez muitos testes de resistência e não terá problemas, mas o que de fato vai acontecer, só o tempo realmente vai dizer - o Tucson tem alguns relatos pela internet, o que despertou essa polêmica, mas é outra geração da caixa.
A não ser esse certo mistério, é um bom conjunto. O Creta foi de 157 cv e 19,2 kgfm (com gasolina no finado 2.0 aspirado) para 193 cv e 27 kgfm, mas o mais importante é a faixa que isso aparece. Com o turbo, o torque vem desde 1.600 até 4.500 rpm, enquanto o 2.0 tinha o pico a 4.700 rpm, o que melhora bastante o uso do Creta principalmente em ciclo urbano e em retomadas, onde foi de uma faixa dos 7 segundos (quando o 2.0 foi testado com etanol) para abaixo dos 5 segundos tanto na retomada de 40 a 100 km/h quanto na de 80 a 120 km/h.
O seletor de modos de condução segue com as programações Eco, Normal e Sport, atuando nas respostas do acelerador, motor e transmissão. No Eco, o câmbio aproveita melhor a faixa baixa do 1.6 turbo, esticando menos as marchas e ainda assim entregando o torque necessário, seguidos de trocas rápidas e suaves. Em situações de baixa velocidade, algumas vezes a programação se perdeu entre primeira a segunda marchas, principalmente em garagens com rampas ou estacionamentos. Melhora no Normal, onde ele não precisa se comprometer tanto com o consumo.
Só que mesmo assim o Creta 1.6 turbo não é o mais econômico. Na cidade, chegamos aos 8,9 km/litro, um número próximo ao que o T-Cross 1.4 turbo faz...com etanol. É mais potente, mas nem mesmo o star-stop conseguiu segurar a sede do Creta, e na estrada, nem o câmbio de sete marchas elevou o consumo muito além dos 13,9 km/litro, mas uma vez, um número não muito além do que seu principal concorrente consegue usando o etanol, mais barato.
Com 193 cv, o Creta não seria lento. Com 7,7 segundos, seu 0 a 100 km/h é o mais baixo entre os SUVs compactos e 0,2 segundo mais lento que um Pulse Abarth de 185 cv, menor e com ajuste esportivo. Mas não é esse o perfil de um comprador dessa categoria, que aqui tem as mesmas qualidades do Creta de sempre, tanto em conforto quanto espaço interno.
Ao volante, segue um SUV confortável, bem equilibrado. As rodas de 18" com pneus 215/55 tiram um pouco do conforto em ruas mais esburacadas, mas compensa pela boa dirigibilidade e respostas ao volante, além da estética. Longe do perfil esportivo, o Creta Ultimate é um familiar para aproveitar uma viagem, ainda mais com o espaço generoso no banco traseiro e porta-malas de 422 litros - o Creta cresceu apenas 30 mm no comprimento pelos novos para-choques, mantendo as demais dimensões intactas, como os 2.610 mm de entre-eixos.
Para conquistar quem não o conhece, o novo Creta tem um interior bem montado, ainda que use bastante plástico rígido, jogando com cores e texturas para um ambiente agradável, sem aposentar comandos físicos na mistura com as duas telas integradas. O ar-condicionado agora é de duas zonas, enquanto o pacote de itens de segurança e conforto incluem piloto automático adaptativo, alerta e centralização de faixas, alerta de ponto-cego com câmeras laterais auxiliares, câmeras 360, alerta de tráfego cruzado e alerta de colisão com frenagem automática.
Ou seja, você pode mexer no time que está ganhando, mas não precisa alterar onde ele já funciona muito bem. No caso do Creta, em espaço interno e boa dirigibilidade, mas tirou o visual que tanto deu comentários por aí por algo realmente mais bonito e harmonioso, com um jeito de carro mais caro e refinado. Só resta saber como o mercado reagirá a um motor 1.6 turbo apenas a gasolina e um câmbio DCT onde esse tipo de tecnologia não é bem vista. Uma certeza temos: seguirá líder por um bom tempo, mesmo assim.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Hyundai Creta 1.6T DCT7
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