O lançamento do Basalt no Brasil, na semana passada, animou Pierre Leclercq, diretor mundial de design da Citroën, a publicar em sua página pessoal do Instagram quatro estudos que revelam o estilo do carro antes de chegar à forma final.
“Curtam esses belos esboços do nosso Novo Citroën Basalt! Esta nova silhueta no segmento B-SUV foi lançada hoje no Brasil, após ter estreado na Índia em agosto. O design do Novo Citroën Basalt mistura a elegância dos cupês com a robustez dos SUVs”, escreveu o executivo, que assumiu a o departamento de design da marca em novembro de 2018.
Rendering do Citroën Basalt (2)
O atual C3 (CC21) para a Índia e América Latina nasceu de um projeto que a extinta PSA Peugeot Citroën encomendou à indiana Tata Consulting. Já o pessoal da Stellantis jura que o Basalt, mais novo fruto dessa família, a C-Cubed, foi inteiramente desenvolvido no Brasil (apesar de ter sido lançado primeiro na Índia). Os desenhos, por sua vez, indicam que o centro de estilo da Citroën em Vélizy, na Grande Paris, também teve importante participação nos trabalhos.
Antes de mais nada, vale uma explicação sobre alguns termos usados em design: “rough” ou “rafe” é a primeira ideia, o desenho no guardanapo; “sketch” já é um desenho com as características definidas, mas ainda bem livre.
Por fim, temos o “rendering”, que é uma imagem 2D já digna de apresentação. A palavra pode ser traduzida literalmente como “interpretação” mas, na era da computação gráfica, ganhou até uma derivada em português: “renderização”. Esses desenhos podem ser feitos a mão livre no computador, por meio de uma caneta digital. Cada ângulo mostrado necessita de um desenho diferente.
No Instagram, Leclercq só publicou um sketch, de fundo branco, que mostra três visões do Basalt em cores diferentes. São desenhos mais primários, de quando foram fixadas as ideias a serem desenvolvidas para o novo modelo.
Mais interessantes são os três renderings com fundo vermelho, já bem mais avançados - talvez para uma apresentação interna na empresa.
“Esses desenhos podem até ter sido feitos depois do carro pronto. As características já são muito parecidas com as do Basalt de produção, mas enfatizadas nos detalhes”, diz o designer de produtos Bernardo Senna, que nos deu uma consultoria para esta matéria.
De modo geral, o rendering traz o que o designer quer enfatizar no caráter do carro - no caso, robustez e esportividade. Além disso, ajuda a marcar as diferenças do novo projeto em relação aos modelos em que ele é baseado e compartilha grande parte da carroceria. Daí que há um certo exagero na forma de retratar frente, lanternas, traseira, caixas de rodas.
Sketch do Citroën Basalt
Quase todos os desenhos desse tipo mostram o carro com rodas grandes e o perfil dos vidros laterais bem mais estreitos que no mundo real.
Nos renderings, o Basalt tem um desenho mais esportivo, afilado e com laterais bem marcadas por vincos. Os faróis parecem de LEDs e bem finos, quase um detalhe de joalheria de precisão. Na vida real, contudo, isso mudou, pois existem outras demandas e o carro chegou aqui com faróis halógenos (na Índia são de LED com projetor).
“A grade também é maior no rendering, para sugerir agressividade. Precisa de engolir bastante ar para alimentar um motor superpotente. Ao menos foi essa ideia que o designer quis passar”, brinca Senna.
Ainda não foi desta vez que a Citroën pôs seu novo logo em um modelo nacional, certamente para manter a coerência com os demais integrantes da família C-Cubed fabricada aqui (apesar de as concessionárias e o site já terem adotado a identidade visual renovada).
Na Europa, o ë-C3 foi o primeiro modelo de série a trazer a novidade - aliás, nem tão novidade assim, já que o double chevron dentro de um escudo oval é uma reedição do logo usado pela marca na época de sua fundação, 1919. Curiosamente, essa volta ao passado remoto aponta para o futuro.
Citroën Oli EV - conceito de 2022 (1)
“Muitos fabricantes, como BMW, VW e Renault, estão abandonando os logos curvos, dinâmicos e tridimensionais, bem anos 2000, em troca dessa coisa mais gráfica, simples e técnica, que tem a ver com mudança digital, leds e eletrificação. A ideia é ficar mais simples, voltar ao básico pois o excesso de recursos visuais está cansando. As marcas querem retornar à essência”, explica Senna.
Falando em simplicidade, que é a ordem do dia na Citroën, notam-se no Basalt alguns elementos do conceito Oli (2022), como as janelas laterais afiladas na parte de trás, o caimento do teto e das colunas C, os arcos dos para-lamas e até o relevo na parte inferior das portas, que remete aos encaixes do borrachão do Oli.
Citroën C3 Aircross em versão europeia (2024)
Belga de 52 anos, o atual diretor de design da Citroën não tem muito tempo na empresa, mas passou toda a sua infância a bordo de carros da marca: seus pais e avós dirigiam modelos como Dyane, 2CV, CX, DS e GS. Cursou desenho industrial na Bélgica e foi para a Califórnia especializar-se em design de mobilidade.
Começou a carreira profissional como estagiário na BMW, em 1998. Passou um breve período na Ghia, onde desenhou o interior do conceito conversível Ford Street Ka. De volta à BMW, trabalhou com Chris Bangle nos projetos dos X5 (geração E70, 2006-2013) e X6 (E71). Também participou da criação do Mini Countryman de primeira geração (2010-2017). Chegou a chefe de design da linha BMW M, cargo que ocupou até 2013.
Convocado pelos chineses, esteve à frente de uma equipe de 300 designers da GWM, projetando mais de 40 modelos. Em 2017, foi convidado a assumir a diretoria de estilo da Kia, às vésperas da aposentadoria de Peter Schreyer. Pouco depois, veio o chamado da Citroën (ainda nos tempos da PSA), onde comandou os projetos de design dos C4X e Ami, bem como dos C3 e C3 Aircross, tanto europeus quanto indo-brasileiros.
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