Existiu um momento no Brasil em que as montadoras aqui instaladas não precisavam se preocupar com modelos tecnologicamente mais avançados e seguros produzidos em outros países. Se não fosse a abertura do mercado interno para veículos importados nos anos 1990, o país não teria o parque industrial de hoje com algumas dezenas de fabricantes.

Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira, 11, a Abeifa (Associação Brasileira de Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores) foi firme ao afirmar que é totalmente contra o pleito por mais impostos para veículos importados. 

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“Nos encontramos na iminência de ter um grave retrocesso do setor automotivo brasileiro”, alerta Marcelo de Godoy, presidente da Abeifa, para quem “medidas protecionistas ou barreiras alfandegárias artificiais são sempre ineficazes. A médio e longo prazos, são prejudiciais a toda a cadeia automotiva e em especial ao Brasil. As importações, além de regular o mercado interno por meio da competitividade de tecnologias e de preços, desafiam as montadoras locais a melhorar seus próprios produtos e ao aumento efetivo das exportações, o que vale dizer que a competitividade coloca em xeque a indústria local”.

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Importações representam menos de 5% do mercado

Em junho último, com 7.979 unidades licenciadas (importados + produção nacional), a participação das associadas à Abeifa foi de 3,94% do mercado total de autos e comerciais leves (202.474 unidades). Importante destacar que neste volume não estão computados os números da GWM. Assim, consideradas somente as 7.830 unidades importadas, as associadas à entidade responderam por apenas 3,86% do mercado interno brasileiro, enquanto as unidades nacionais, com 149 veículos, significaram marketshare de 0,07%.

No acumulado dos seis primeiros meses deste ano, foram emplacadas 45.766 unidades, número que representa marketshare de 4,25% do total de 1.077.062 unidades do mercado interno brasileiro.

Para Marcelo Godoy, entre 10 e 15% é um volume de participação de mercado aceitável para qualquer país. "Se uma indústria local não consegue brigar com 10% do todo, ela precisa repensar seu negócio e a forma como fazer seus veículos", afirmou Godoy. Tudo isso sem levar em consideração os diversos incentivos concedidos pelo governo à várias montadoras instaladas no Brasil.

Exportações da produção nacional estão "derretendo"

A Abeifa sempre vai bater na tecla de que é importante que as suas associadas tragam para o Brasil "inovação e novas tecnologias". Sem modelos importados aqui que mostrem novas tecnologias para o consumidor, as montadoras seguirão oferecendo carros desatualizados em relação a outros mercados.

O que parece um problema interno, já começa a mostrar seus reflexos também nas exportações. Praticamente todos os mercados que o Brasil exporta passaram a importar mais modelos eletrificados - que não são produzidos no Brasil. O resultado já apareceu: as exportações do Brasil para todos os mercados que atende já caiu. E vai continuar caindo.

Godoy fez uma pontuação importante sobre esse tema: "Será que os clientes não estão querendo outros veículos? Com outras tecnologias, com mais segurança? O produto que estamos produzindo é o produto que o cliente quer?".

"Quando falamos de super taxar os importados, não estamos falando só de carros chineses", completou o executivo.

Aumento de impostos afeta a credibilidade do Brasil

Mudar a regra do jogo com ele rolando é uma mensagem extremamente negativa para o país, e não apenas para a indústria automobilística. Godoy pontuou que um eventual aumento de impostos foge do que a indústria sempre pleiteou: previsibilidade. Uma vez que um investidor (de qualquer área) entende que aqui não é um país sério, ele coloca seu dinheiro em outro lugar. "Um país para sair do radar de investimento, custa pouco, e claro que não é isso que nós queremos", afirmou Godoy.

Abeifa também se posiciona contra o Imposto Seletivo para eletrificados

Outro tema que a Abeifa se manifesta contrária é em relação à inclusão dos veículos elétricos no imposto seletivo da reforma tributária, em tramitação, e à exclusão desses modelos na isenção do IPVA, privilegiando somente os veículos híbridos abastecidos com hidrogênio ou etanol no Estado de São Paulo. Vale lembrar que não existe nenhum veículo de passeio à venda no país que possa ser abastecido com hidrogênio.

“Os veículos elétricos são mundialmente reconhecidos como uma das principais soluções para a redução das emissões de gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade do ar e o combate às mudanças climáticas”, argumenta Godoy, ”ignorar essa categoria de veículos no incentivo fiscal demonstra falta de alinhamento com as tendências globais e com os compromissos ambientais assumidos pelo Brasil.

Além disso, a exclusão dos veículos elétricos da isenção do IPVA desestimula a adoção de uma tecnologia limpa e eficiente, dificultando o avanço do mercado de veículos elétricos no país. Essa decisão contraria os interesses dos consumidores que buscam alternativas mais sustentáveis e dos fabricantes que investem em inovação e sustentabilidade”.

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