Impressões Ducati Multistrada V4 Rally: esportiva sem medo de terra
São 170 cv e conjunto de pista. Seja ela asfaltada ou não
O segmento das grandes aventureiras é um dos mais importantes do segmento de motos no Brasil. Apesar de os volumes serem menores, são modelos que facilmente demandam mais de R$ 100 mil e o público é cativo e exigente. Em uma categoria dominada pela BMW R 1300 GS, quem quer concorrer tem que trazer um diferencial e a Ducati sabe disso.
A marca começou a vender no Brasil a Multistrada V4 Rally Adventure, a versão mais aventureira de sua linha. E a marca despejou toda a tecnologia que tinha em mãos na sua moto. Sabendo que precisava ter um algo a mais, deixou sua herança nas pistas de corrida bem clara, apenas vestiu sua novidade com botas de trilha. Mas como ela anda em relação aos R$ 149.990 cobrados?
A Ducati Multistrada V4 Rally Adventure
Derivada da Multistrada V4 S, a Rally Adventure é mais focada para grandes viagens. Uma das diferenças fundamentais é o tanque. Na V4 S leva 20 litros de combustível. Na Rally Adventure a capacidade sobe para 30 litros. Na configuração mais cara, a moto ainda conta com os bauletos de alumínio laterais de série. Sem eles e sem os 30 litros de gasolina, ela já pesa 227 kg.
A Multistrada V4 Rally Adventure não nega ser uma Ducati. A linguagem visual está, incluindo as belas curvas que disfarçam o gigantesco tanque. Nas medidas, a marca curiosamente só divulgou o entre-eixos, que é de 1.572 mm, relativamente curto para uma big trail. A altura do assento de fábrica varia entre 870 e 890 mm dependendo da regulagem. Há opção de banco mais alto (885 mm a 905 mm), mais baixo (855-875 mm), ainda mais baixo (825-845 mm) e ainda mais baixo com suspensão também mais baixa, variando entre 805 mm e 825 mm.
Falando em suspensão, é onde começa o tour de tecnologia da Multistrada V4 Rally Adventure. Ela é eletrônica e adaptativa. É o sistema Skyhook da Ducati, que varia conforme o modo de condução selecionado, leva em consideração o peso de malas, garupa ou ambos e ainda dá uma leve baixadinha quando o descanso lateral está em uso pra ajudar a subir e descer da moto. Aliás, é de grande ajuda. Tentar passar a perna por cima dos baús e do banco é coisa pra contorcionista e ainda mais difícil para o garupa, mas nada muito diferente de outras aventureiras no mercado.
A suspensão dianteira tem garfo invertido com 200 mm de curso, enquanto a traseira tem amortecedor único com balança de braço também único e outros 200 mm de curso. A moto usa rodas raiadas de 19" na dianteira e de 17" na traseira. Como os raios são apoiados nas beiradas dos raios, os pneus são do tipo sem câmara. Falando neles, são Pirelli Scorpion Trail II de medidas 120/70 e 170/60, respectivamente.
Aí precisamos falar do motor. É um quadriclíndrico, mas em V. Ele é capaz de entregar até 170 cv de potência a astronômicos 10.750 rpm e 12,3 kgfm de torque a 8.750 rpm. Nada mau para um motor de 1.158 cm3. A transmissão é mecânica de seis velocidades com embreagem de acionamento hidráulico e quickshifter bidirecional. A transmissão final é feita por corrente.
Para frear tudo isso, a Ducati Multistrada V4 Rally Adventure usa freios Brembo, com dois discos na roda dianteira e 330 mm de diâmetro cada e pinças de 4 pistões. A traseira tem disco único de 265 mm com pinça de 2 pistões. Vale lembrar que a moto tem função Hold. Basta dar uma boa apertada no freio dianteiro e a moto fica parada no lugar. Para soltar, duas bombadas no manete soltam o freio. O pedal de freio traseiro ainda tem um mecanismo que o deixa mais alto ou baixo, para ficar mais fácil de pilotar a moto em pé.
Entre os itens de série, a moto traz iluminação completa por lâmpadas de LED, luz diurna de condução, acendimento automático dos faróis, modos de condução, pré-seleção de carga para os amortecedores, chave presencial, comandos retroiluminados, parabrisa ajustável, painel de instrumentos com tela TFT de 6,5" e espelhamento de smartphones via aplicativo dedicado da Ducati. Entre os diversos sistemas de segurança, vale destacar controle de tração, controle de empinada, desativação dos cilindros traseiros em condução mais leve e controle de intensidade de freio motor.
A Multistrada V4 Rally Adventure é trazida ao Brasil sempre com o pacote Adventure Travel & Radar. O opcional na Europa que vem de série aqui inclui os maleiros de alumínio laterais, manoplas aquecidas e assentos aquecidos com controle individual para condutor e garupa. O mais interessante é que o pacote inclui os radares para os sistemas de controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma de emergência e monitor de ponto cego.
E se tiver mais que uma pedra no caminho?
Sejamos sinceros: não são todos os donos de big trail que vão cruzar o Deserto do Saara com frequência. A maioria faz viagens longas e predominantemente no asfalto. Mas o Brasil é grande e asfalto não é algo que se vê com tanta frequência. Claro, uma BMW R 1300 GS vai chegar no Atacama por qualquer caminho, mesmo os que não existem, mas limita o que moto pode fazer dinamicamente em outras situações.
Se você é do tipo que vai para uma grande aventureira buscando conforto no uso normal, quer de vez em quando deixar o asfalto pra trás sem duvidar da moto e, por algum motivo maluco, quer que essa moto tenha um desempenho digno de esportiva italiana, a Multistrada é para você, seja lá quem for.
Pode ser qualquer um mesmo. Com meus 1,72 m e perninhas curtas, dei sorte de andar na Ducati com o kit mais baixo possível para o banco. Deu para apoiar as duas pontas dos pés no chão, ou plantar um com firmeza no chão. Mas vale o toque: quanto mais baixo o assento, mais seu joelho pode ficar dobrado na hora de tocar a moto. Numa viagem mais longa, pode ser algo a se considerar.
Com um tanque de 30 litros cheio, não tem o que fazer: haja perna pra tirar a Multistrada do pezinho lateral. Depois, o peso dissolve nas suas mãos. Mesmo para fazer corredor com largos maleiros (o da esquerda cabe um capacete integral, inclusive), situação bem tensa para motos grandes e pesadas, a Ducati tirou de letra. Estava usando o modo Urban, que limita a potência e deixa a resposta do acelerador menos nervosa. A embreagem hidráulica também ajuda.
E fica mais um toque: qualquer situação de baixa velocidade eu recomendo usar esse modo mais suave. Nos Sport e Touring, com potência total, o motor com alma de esportiva não gosta muito de ficar abaixo das 3.000 rpm.
Saindo pela Rodovia Castelo Branco, a Multistrada mostra seu lado Touring. Confortável com a suspensão adaptativa, faz 120 km/h parecer algo corriqueiro. Não sair rasgando dos pedágios é uma tentação perigosa. Com o quickshifter, as trocas são rápidas e o motor vai a quase 11.000 rpm com facilidade. E o quatro cilindros ronca bonito, parece câmera On-Board da Moto GP. Inclusive, fica o convite para ouvirem o Pódio Cast, o Podcast sobre a competição de duas rodas em parceria com a Yamaha.
Mas e se os últimos quilômetros de seu rolê incluírem terra, não tem problema. De rápida na estrada, bastam alguns cliques nos menus para a Multistrada entender que saiu do asfalto. Usei o modo Urban novamente pra encarar 4 km de uma estrada de terra próxima à Estrada dos Romeiros e comuniquei para a moto que estava sozinho, mas com malas. A moto ficou menos firme para absorver as imperfeições e estava tudo indo muito bem.
Até que as semanas sem chuvas no estado de São Paulo mostraram a cara em forma de estradas de terra, que estava tão fina e seca que levantava grandes nuvens de pó. Parecia mais areia que terra. Engatei primeira, segurei o acelerador numa posição constante, fiquei em pé e torci pelo melhor. E a moto foi, mais pela qualidade técnica de sua eletrônica do que fé ou minha habilidade. Uma sambadinha pra cá com a traseira, outra pra cá e o que parecia improvável aconteceu com facilidade: uma Ducati subiu o morro.
Continuando a volta pela Estrada dos Romeiros, com curvas fechadas e pistas estreitas, aproveitei para testar o modo Sport. Estava acompanhando o comboio, fiquei meio desligado do velocímetro. Quando dei por mim, já estava contornando curvas fechadas a velocidades que o jurídico do Motor1.com Brasil me recomendou não divulgar. Eu não sou piloto e ainda assim, quando vi as fotos das pedaleiras a centímetros do chão, fiquei impressionado.
A Ducati Multistrada V4 Rally Adventure é isso: uma moto mais inteligente que você. Qualquer um consegue subir nela e andar bem, seja no asfalto ou na terra. É um produto para o nicho do nicho, para quem quer uma big trail pela praticidade, mas não quer abrir mão nem de dar aquela esticadinha com os coleguinhas de esportivas, nem ficar com medo da estradinha de sítio eventual. Claro, para ter tudo há um custo: R$ 150 mil. Mas, se você tem o dinheiro e não sabe lidar com não ter tudo o que quer, uma Multistrada vai te atender e deixar os donos de GS com um pouquinho de inveja.
Galeria: Primeiras impressões - Ducati Multistrada V4 Rally Adventure
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