A atual geração da Saveiro foi lançada em 2009. Depois de 14 anos de estrada (sim, um trocadilho intencional), a picape compacta recebe mais uma reestilização, mas dessa vez para viver mais alguns anos até a Volkswagen decidir qual será o seu destino: se continuará como uma picape compacta em nova geração ou se crescerá para a briga contra Chevrolet Montana e Fiat Toro.
Mas isso só irá acontecer em, pelo menos, 2026. Por enquanto, esta é a nova Saveiro, uma geração que nasceu em 2009 com uma grande vantagem diante da Fiat Strada, naquele momento bem defasada. Esse jogo virou e sua grande rival trocou de geração e entrou inclusive na moda do motor turbo com câmbio automático CVT, enquanto a Saveiro que se vê defasada, ainda com duas portas na cabine dupla, motor aspirado e apenas câmbio manual. Ainda vale a pena ter uma Saveiro?
Para esta linha 2024, a VW Saveiro ganhou um novo capô. Mais alto e com vincos mais marcados, passa a impressão de algo robusto. Falo do capô pois, em estamparia, é a peça mais nova da Saveiro, que recebeu também um parachoque dianteiro que melhorou o ângulo de entrada e deu maior destaque para a grade junto com novos faróis, ainda halógenos e com luz diurna. Novos apliques nas caixas de rodas e uma leve mudança no parachoque traseiro, que acompanha as lanternas com nova organização interna e máscara preta, também estão no pacote.
Por dentro, novos padronagens de tecidos e a faixa central do painel que pode ser escovada ou com o escrito Saveiro, dependendo da versão. Na Extreme, o grafismo do painel é novo, mas são mudanças cosméticas e leves, que não pedem tanto investimento de desenvolvimento.
Como versão topo, a Saveiro Extreme - que substitui a Saveiro Cross - tem equipamentos como controles de tração e estabilidade, banco do motorista com regulagem de altura, protetor de caçamba, bagageiro no teto, iluminação na caçamba e, diretamente de 2009, itens como a terceira luz de freio e desembaçador traseiro. Nas versões com cabine dupla, sem portas traseiras, aparece mais um equipamento, digamos, retrô: vidros traseiros com janelas de abertura basculante.
Entre as exclusividades da Saveiro Extreme estão espelhos com capa em preto brilhante, rodas de liga leve de 15" com acabamento diamantado, santantonio, capota marítima, central multimídia com tela de 6,5" com Android Auto e Apple Car Play por fios, volante multifuncional em couro, bancos em couro, regulagem de altura e profundidade da coluna de direção, monitor de pressão dos pneus, bloqueio eletrônico de diferencial, 4 alto-falantes e 2 tweeters e pedaleiras esportivas.
A unidade avaliada ainda estava equipada com o Pacote Tech, único opcional da versão Extreme. Ele custa R$ 2.160 e adiciona controle de descida com função off-road, controle de cruzeiro, retrovisor interno fotocrômico, acendimento automático de faróis e sensor de chuva. No final das contas, o preço fica em R$ 116.740.
Nas medidas, a Saveiro Extreme tem 4.493 mm de comprimento, 2.752 mm de entre-eixos, 1.721 mm de largura e 1.560 mm de altura. A versão de cabine dupla da picape da VW tem uma caçamba menor na comparação com as opções de entrada com cabine simples, mas ainda sim a Extreme tem 580 litros capacidade e 638 kg de capacidade de carga no compartimento.
Sob o capô permanece o veterano motor 1.6 16V MSI. Não tem turbo, não tem injeção direta e nada do que não era comum em 2014, quando ele passou a fazer parte da linha Saveiro. O máximo de tecnologia é um variador de fase no comando das válvulas de admissão. Com isso - por conta das novas regras de emissão - ele entrega até 116 cv de potência e 16,1 kgfm de torque quando abastecido com etanol.
Talvez a grande falta que será sentida na linha 2024 da Saveiro, principalmente na versão mais completa Extreme, é a transmissão automática. Gol e Voyage tiveram no passado uma unidade com 6 marchas com este mesmo propulsor, mas, para a picape, a Volkswagen optou por manter o modelo equipado somente com transmissão manual.
Já deu para perceber que não há grandes novidades na Saveiro 2024. A nova dianteira usou a receita do Polo Track para o parachoque, com novo desenho e um ângulo de ataque melhor para se manter fiel ao fardo de ser um carro de trabalho. Faróis, grade e o novo capô fazem o máximo possível para tentar trazer a picape para a linguagem visual atual da Volkswagen, daí o focinho de Nivus. As novas lanternas traseiras, com largos filetes pretos, lembram até o último up!. Visualmente, o resultado dessa nova reestilização é extremamente honesta: foi um facelift, mais uma da plataforma de 2009. E só.
Por dentro, a impressão é de ter voltado no tempo. Imaginem que a linha 2024 da Saveiro já tem vidros elétricos de série em todas as versões e, ainda assim, os painéis de porta trazem os círculos onde ficavam as antigas manivelas. Painéis de porta, inclusive, que são praticamente os mesmos de 2009 e que já não conversavam bem com o painel da linha 2015, quanto mais agora.
Enquanto ainda usa plásticos em abundância, ao menos a Volkswagen não descuidou da montagem, que continua boa como sempre foi na família Gol. A ergonomia também é bem acertada e você encontra os comandos de forma intuitiva. A questão é o banco traseiro. Em tese leva 3 pessoas e, na prática, leva apenas crianças ou adultos por trajetos curtíssimos. O espaço para os joelhos é muito restrito e o acesso aos bancos traseiros não é fácil.
Herança da decisão que a marca fez anos atrás de correr para ter uma Saveiro cabine dupla com apenas duas portas, enquanto a Strada veio com três e, na atual geração, quatro portas. Como o banco traseiro não tem portas e as janelas são pequenas, não há muito o que fazer com a ventilação. Os vidros traseiros não descem, apenas basculam para fora como um bom carro dos anos 1970 sem ar-condicionado.
A primeira impressão não é boa com a Saveiro Extreme 2024. A fórmula aventureira já está manjada e mudança de nome foi só para lembrar que a VW não usa Cross em seus carros há anos. Não ter turbo é até aceitável, mesmo porque a Strada turbo é bem mais cara, mas a Fiat oferece sua picape com transmissão CVT em conjunto com motor 1.3 aspirado. Isso sem contar que a Strada cabine dupla vem de série com 4 airbags e faróis de LED na versão Volcano 1.3 MT cabine dupla, que tem preço equivalente à Saveiro Extreme.
Ter muito tempo de mercado nem sempre é positivo para um veículo. Mas uma coisa é preciso dar o braço a torcer para a Saveiro: a plataforma é boa. A carroceria é firme e a suspensão traseira é bem comportada graças ao uso de molas helicoidais, não feixes como a Strada. A picape da VW não propensa a ficar quicando nos buracos e a Saveiro passa uma impressão de solidez ao guiar. Pode ser antiga e voltada para o trabalho, mas ainda é um Volkswagen que tem conforto de carro de passeio.
A direção hidráulica (sim, hidráulica) é mais pesada do que estamos acostumados com modelos mais recentes que tem sistema elétrico, mas é precisa e se comunica com o motorista. Em curvas, a Saveiro se comporta bem para uma picape compacta, sem dar medo no condutor em situações de limite de aderência e os controles de tração e estabilidade mal atuam. Crédito para o bom acerto de suspensão, mesmo com a necessidade de ter um ajuste que olhe para a parte de carga, seja vazia ou carregada.
Na estrada, parece carro maior. Mantém 120 km/h sem dificuldade alguma e está sempre na mão. O motor nessa velocidade opera a 3.200 rpm e o ruído invade um pouco a cabine, mas não tanto quanto o barulho dos pneus de uso misto. Mas, tirando isso, é uma picape bem tranquila de se usar na rodovia também. Em consumo, a picape registrou 7,1 km/litro na cidade e 10,8 km/litro na estrada, com etanol.
E aí precisamos falar do motor MSI. Pode ser antigo, mas ainda tem algumas vantagens. A primeira é em manutenção de longo prazo. Não há turbina para se preocupar, nem bomba de alta pressão para o sistema de injeção direta. A segunda é que o motor com aspiração natural é muito mais elástico na entrega de potência que um turbinado.
No trânsito, a Saveiro opera em rotações próximas à marcha lenta sem reclamar ou engasgar. Basta aplicar acelerador gradualmente e o carro responde sem demoras. E da mesma forma que entrega em baixa, o 1.6 16V continua entregando linearmente até o limite de rotações, algo que não acontece em carros com turbo voltados para eficiência. Neles, fora das rotações otimizadas para o turbo, o motor não responde em baixa e perde fôlego em alta.
Nos testes, a Saveiro Extreme mostrou que ainda tem fôlego. O 0 a 100 km/h em 10,8 segundos é bom para um carro aspirado, mas a transmissão, que comento mais abaixo, tem a relação alongada na quarta marcha para priorizar o consumo. Enquanto a retomada de 40 a 100 km/h, que testamos em terceira marcha, foi de 10,9 segundos, a 80 a 120 km/h é em 12,4 segundos, mostrando esse alongamento.
Em conforto, a embreagem da Saveiro é relativamente leve e, enquanto não tem um ponto de fricção bem definido, o motor tem torque o suficiente para compensar pequenas barbeiragens nas arrancadas. A caixa de câmbio manual MQ200, tão veterana quanto o motor (se não mais), ainda é a melhor não apenas na categoria da Saveiro, como também bateria de frente com alguns esportivos, caso houvesse algum ainda sem ser automático no Brasil. Os engates são curtos, precisos e há um contra-peso na alavanca para facilitar as trocas. Dá até gosto ficar trocando de marcha.
Mas quem aprecia isso atualmente? O mercado está virando fortemente de preferência em direção aos automáticos. O turbo vem se tornando a norma, principalmente para quem fica brincando de "Super-Trunfo" com os números de potência. Em algum momento, as regras de emissões vão eliminar a existência dos motores aspirados. Isso sem contar que a Strada Volcano MT 1.3 tem preço similar (R$ 114.990) e tem alguns equipamentos a mais que a Saveiro. Isso conta na hora da venda.
Mais para quem quer fazer o dinheiro render do que para quem se importa com um carro bem construído, mas ainda assim a lista de itens de série é relevante no processo de compra. A Strada ainda sai na frente com opção de câmbio automático não só com o motor 1.3 por R$ 120.990, mas também para as versões turbo.
Nessa faixa de preço, a diferença justifica levar o câmbio automático e a Saveiro Extreme apela para um público que praticamente não existe. Quem compra uma picape compacta completa pensando em prazer ao dirigir e boas características de construção? Nas versões de entrada, a Saveiro leva vantagem por ser mais equipada e barata que a Strada. No andar de cima, a Fiat lidera por um bom motivo, por mais que, pessoalmente, eu prefira a Saveiro.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com
VW Saveiro 1.6 CD
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