Aposto que você, mentalmente, já apostou que chegaria ao seu destino antes do horário que seu aplicativo de navegação indica. Não vou te condenar por isso, pois já perdi as contas de quantas vezes o fiz. Uma forma de conseguir algo no dia a dia com alguma dose de esportividade é com essa dupla, Fiat Pulse Abarth e VW Polo GTS.
Eles não são esportivos puros. São modelos de produção que receberam pequenas mudanças para um melhor desempenho e dirigibilidade, além de um visual mais marcante. Também não são os mais vendidos de suas marcas, mas com certeza trazem um certo sentimento de desejo aos que vão nas concessionárias em busca de suas versões comuns. E, infelizmente, são as formas mais baratas de se ter algo esportivo na garagem, por R$ 150 mil.
Em comum, Polo GTS e Pulse Abarth nascem de dois compactos que começam em versões mais baratas e simples, como o Polo Track e seu 1.0 aspirado e o Pulse Drive com motor 1.3 também aspirado. Novos motores mais potentes, uma certa preparação de suspensão e direção, um tempo na área de design, e estão prontos.
O Polo GTS é mais antigo nesse sentido. A Volkswagen colocou o conhecido 1.4 turbo de 150 cv e 25,5 kgfm de torque, calibrou o software do câmbio automático de 6 marchas para trocas mais rápidas e colocou um conjunto de molas, amortecedores, barras estabilizadoras e eixo traseiro específicos para melhorar o handling sem prejudicar o conforto e o uso.
A receita do Pulse Abarth é bem parecida. O motor é mais moderno, o 1.3 turbo com sistema de variação de abertura das válvulas de admissão que rendem até 185 cv e 27,5 kgfm de torque. Também recalibraram o câmbio automático de 6 marchas (curiosamente do mesmo fornecedor do Polo, a japonesa Aisin), suspensão mais firme e 10 mm mais baixa, eixo traseiro específico e uma nova calibração da direção elétrica. A Fiat foi mais longe, com um sistema de escape trabalhado, com um ronco mais encorpado, enquanto o VW colocou um emulador no interior.
Visualmente que vão em caminhos bem diferentes. O Polo GTS é mais discreto, com os faróis em LEDs Matrix do Polo GTI europeu, assim como o parachoque dianteiro, em conjunto com as rodas de 18” diamantadas e um aplique traseiro com a discreta saída dupla de escape, além dos escritos GTS nos para-lamas e na tampa traseira, que substitui o escrito Polo ao centro. Por dentro, bancos mais envolventes, detalhes vermelhos em alguns pontos e o grafismo exclusivo no painel digital. Eu prefiro assim.
O Pulse Abarth é mais, digamos, escandaloso. Nas laterais, faixas vermelhas que acompanham as rodas de 17” em preto – a linha 2024 recebeu as rodas de 18” como opcionais. As caixas de rodas recebem os apliques com algumas mudanças e deixam o carro mais largo. Tem mais vermelho na capa dos retrovisores, assim como o escorpião da Abarth nos para-lamas e na grade dianteira colmeia, que está no parachoque do Fastback, que acompanha um extrator traseiro maior com a dupla saída de escape e o escrito Abarth na tampa. Por dentro, mais vermelho, bancos em couro preto e também um grafismo exclusivo no painel de instrumentos, aqui com 7”.
Ambas nasceram de dois bons carros compactos. Por não terem mudanças tão pesadas, mantém as qualidades de uso diário de seus originários, com o “brinde” da potência e torque extras. O Polo GTS é um hatch e o Pulse é um crossover que bem que poderia ser o próximo Argo pelas melhorias feitas nele para essa evolução. Se você abrir mão de um SUV compacto de R$ 150 mil, ainda terá um bom uso.
O Polo GTS tem o seletor de modos de condução. Tem o Eco, que vai trabalhar o câmbio automático e as respostas do motor para a maior eficiência, como as saídas em segunda marcha e as trocas em rotações bem baixas, aproveitando o torque disponível a partir dos 1.500 rpm. A direção elétrica fica leve para as manobras e se comporta como um Polo comum, sem nada especial além da suavidade deste tão conhecido 1.4 turbo 4-cilindros. O modo Normal equilibra o conjunto, além do Individual, que pode ser configurado.
O Pulse Abarth é um pouco menos discreto. Não há um seletor de modos além do Poison no volante, que joga tudo para o mais esportivo. O ronco do escape é presente em todos os momentos, e o comportamento do câmbio é mais arisco, com reduções quando você não precisaria disso. Ele parece ser mais afobado que o Polo GTS quando você não precisa.
Por outro lado, apesar das suspensões mais firmes e rodas com pneus de perfis mais baixos (215/50 R17 no Pulse e 205/45 R18 no Polo), são bem tranquilos de usar. Ao optar por prejudicar o visual de um carro mais baixo, ambas as montadoras conseguiram mantê-los bem afastados de valetas e lombadas – e eles estão bem próximos quando olhamos os parachoques dianteiros. Em conforto, são pouca coisa mais firmes que suas versões normais e estão bem longe de incomodar. Basta cuidado para não danificar os pneus.
Com uma boa dose de força em baixas rotações, ambos se comportam bem no dia a dia. O consumo ficou parecido, com 8,3 km/litro no Pulse e 8,4 km/litro no Polo (etanol, cidade), números bons para a potência. Na estrada, a diferença é de 0,5 km/litro a favor do Pulse, que se beneficia de um motor mais moderno com o sistema MultiAir diante do 1.4 TSI da Volkswagen, já com mais idade nas costas.
A usabilidade não é comprometida, outro ponto importante. No Polo GTS, bom espaço no banco traseiro, enquanto o Pulse também oferece uma boa acomodação e os dois com porta-malas na faixa dos 300 litros. Em comum, ambos chegam com saídas de ar-condicionado para o banco traseiro, comodidade exigida nos dias de hoje, além de confortos como o ar-condicionado automático, chave presencial com partida por botão e multimídia com espelhamentos sem fios acompanhadadas de um carregador por indução.
GTS e Abarth são nomes importantes. Por isso Polo GTS e Pulse Abarth vão um pouco além de uma roupinha muito louca. São bons no dia a dia, mas vão conseguir acelerar seu ritmo em alguns momentos, com suas doses leves de esportividade. Não são canhões de rua ou carros semi-pistas, mas vão bem.
Começo pelo Pulse Abarth, uma boa novidade que a Fiat apresentou em 2022. É estranho pensar que ele faz o que faz tão bem. O motor 1.3 turbo é mais potente que o 1.4 turbo do GTS, além do torque extra. Apesar de ser um motor que conhecemos nos Jeep Compass e Renegade e na picape Toro, a calibração trouxe um comportamento mais esperto para a acelerador, mesmo fora do modo Poison.
No Poison em si, ele fica ainda mais arisco. O ronco invade mais a cabine e até se dá ao direito de alguns pipocos no escape nas reduções e trocas de marchas, que são bem mais rápidas nesta programação do câmbio que nos demais modelos da Stellantis com este conjunto. No 0 a 100 km/h, cravou 7,5 segundos, um número de respeito – como referência, o Civic Type R, com 297 cv e câmbio manual, fez o mesmo em 6,3 segundos, com a proteção da transmissão que não permite baixar isso.
A direção elétrica ganha mais peso para trabalhar com a suspensão toda reconfigurada que não deixa a carroceria rolar, algo relativamente surpreendente para um carro que nasceu para ser vendido como um SUV. O Abarth recebeu a suspensão 10 mm mais baixa, mas como as rodas mais largas e o conjunto contorna e entra e sai de curvas é muito bom, além do vetorizador de torque puxar o carro para dentro nas mais fechadas.
O Polo GTS vem de uma base um pouco mais refinada que a do Pulse Abarth. A MQB-A0 é uma plataforma que já sabemos que tem uma boa rigidez torcional, que colabora no trabalho da suspensão e direção. E mesmo menos potente que o Pulse, não faz feio e tem até algumas vantagens.
Naturalmente mais dinâmico em sua base de nascença, o GTS passa isso ao condutor. Posição de dirigir mais baixa e a direção elétrica é menos artificial na conversa com o motorista que em seu oponente. No modo Sport, o emulador de ronco faz o parabrisa vibrar conforme a rotação para dar a impressão de um ronco mais encorpado – bem que a VW poderia seguir a Fiat e fazer algo mais natural -, mas o que importa são as respostas do acelerado e câmbio.
O 1.4 turbo entrega força mais cedo. O câmbio sabe disso e não faz tantas trocas quanto o do Pulse Abarth. Na aceleração, 8,5 segundos no 0 a 100 km/h, o esperado para um carro com menos potência que seu oponente. E por ser um câmbio mais manso, em situações de médias rotações o Polo GTS é mais equilibrado.
Na dinâmica, o pedal de freio do Polo é mais modulável, enquanto o do Pulse Abarth pede costume para ele não agarrar demais e desequilibrar o conjunto em uma entrada de curva, por exemplo. O vetorizador de torque do GTS é mais presente, com uma carroceria que rola um pouco mais que a do Abarth, apesar de um comportamento mais neutro quando chega mais perto do seu extremo.
Ambos não são baratos, já que Polo GTS e Pulse Abarth custam R$ 149.990. Nenhum deles é racional, ja que se pode comprar um SUV compacto maior e mais usável, por assim dizer, neste valor. Se optar por um deles nesse ponto racional, a diferença de equipamentos leva o Pulse ao favor, com freio de estacionamento automático com autohold, partida remota, alerta de saída de faixas e o alerta de colisão com frenagem automática. O Polo GTS fica devendo nessa parte de segurança ativa, e ambos têm apenas 4 airbags, além dos básicos controles de tração e estabilidade. Ao favor do GTS, o painel de instrumentos maior e o farol inteligente, só.
Mas ao lado emocional, a briga é bem boa. O Pulse Abarth anda mais e tem mais trabalho de engenharia para o tornar um esportivo. O ronco do escape é natural, mas o exagero visual acaba vindo junto. O Polo GTS é melhor construído como um carro, perceptível em como ele se comporta, e mais discreto no dia a dia. Ao mesmo tempo que não tem tantas mudanças, poderia ter mais semelhanças com um GTI, por exemplo, como um escape ou visual ainda mais diferenciado, sem ser exagerado.
A vitória do Pulse Abarth é apertada. O Polo GTS passa uma sensação de melhor construção como um carro e um projeto mais moderno, mas o Abarth é mais potente e completo, algo que fará a diferença em quem procura um esportivo. Nenhum deles é racional, mas nem sempre a vida é assim, principalmente na corrida contra o tempo do seu aplicativo de navegação.
Fotos: Mario Villaescusa (para o Motor1.com)
Fiat Pulse Abarth 1.3T | VW Polo GTS 1.4T | |
MOTOR |
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.332 cm3, comando simples com variador no escape e MultiAir na admissão, injeção direta, turbo, flex
|
dianteiro, transversal, 4 cilindros, 16 válvulas, 1.395 cm3, duplo comando de válvulas com variador na admissão e escape, injeção direta, turbo, flex
|
POTÊNCIA/TORQUE |
180/185 cv a 5.750 rpm; 27,5 kgfm a 1.750 rpm
|
150 cv de 4.500 a 5.000 rpm (E)/ 5.000 a 5.250 rpm (G); 25,5 kgfm de 1.500 a 4.000 rpm (E)/ 1.500 a 3.800 rpm (G)
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TRANSMISSÃO |
automática de 6 marchas; tração dianteira
|
automática de 6 marchas; tração dianteira
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SUSPENSÃO E RODAS |
McPherson na dianteira; eixo de torção na traseira; rodas de 17" com pneus 215/50 R17
|
McPherson na dianteira; eixo de torção na traseira; rodas de 18" com pneus 205/45 R18 |
FREIOS | discos ventilados na dianteira e tambores na traseira | discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira |
PESO | 1.281 kg em ordem de marcha |
1.220 kg em ordem de marcha
|
DIMENSÕES | comprimento 4.115 mm, largura 1.777 mm, altura 1.544 mm, entre-eixos 2.532 mm; | comprimento 4.074 mm, largura 1.751 mm, altura 1.481 mm, entre-eixos 2.566 mm |
CAPACIDADES | tanque 47 litros; porta-malas 370 litros (líquidos) | tanque 49 litros; porta-malas 300 litros (VDA) |
PREÇO | R$ 149.990 | R$ 149.990 |
MEDIÇÕES MOTOR1 BR (etanol) | ||
---|---|---|
Fiat Pulse Abarth | VW Polo GTS 1.4T | |
Aceleração | ||
0 a 60 km/h | 3,5 s | 3,8 s |
0 a 80 km/h | 5,2 s | 5,7 s |
0 a 100 km/h | 7,5 s | 8,5 s |
Retomada | ||
40 a 100 km/h em S | 5,7 s | 6,0 s |
80 a 120 km/h em S | 5,0 s | 5,6 s |
Consumo | ||
Ciclo cidade | 8,3 km/l | 8,4 km/l |
Ciclo estrada | 11,5 km/l | 11,0 km/l |
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